NÃO SE ILUDA - Em comunidades como essas, reacionários podem fingir que "são contra" o reacionarismo.
O Brasil tende a se tornar um país ultraconservador. Depois de uma relativa e frágil euforia ao relativo progressismo da Era Lula, que envolvia até mesmo reacionários enrustidos que se fingiam de esquerdistas para agradar amigos ou impressionar qualquer pessoa, o reacionarismo explícito volta à moda nas chamadas redes sociais da Internet.
A "patrulha do estabelecido" age desde que a Internet ensaiou um esboço de popularização, em 2001. Eles defendem desde instituições políticas e midiáticas até valores trazidos pelo entretenimento dominante, sem falar que valores antissociais, como o racismo, chegam a ser defendidos por uma "panela" (grupo pequeno e específico) de internautas.
A completa ignorância da realidade e o desprezo aos questionamentos é um costume dessas pessoas, e, no caso dos racistas, é até chocante que eles ignorem que possam ser presos por formação de quadrilha e racismo, podendo serem presos em regime fechado.
Mas, neste caso, talvez para pessoas assim, insensíveis e fora da realidade, isso não lhes faça a menor diferença, desde que a vida nas prisões lhes permita usar o telefone celular e divulgar seus pontos de vista retrógrados nas páginas e na chamada "linha do tempo" do Facebook ou nas curtas frases do Twitter.
A onda de reacionarismo e ultraconservadorismo nas mídias sociais, em que, até mesmo no âmbito do Entretenimento, Comunicação ou mesmo Transportes, surjam "patrulhas" do "estabelecido", geralmente defendendo visões vindas "de cima", lançadas por autoridades, tecnocratas, celebridades e jornalistas dotados de grande visibilidade e poder.
Num país em que mentira é como terra, como diz o jargão gaúcho, existe de montão, as pessoas justificam seus egoísmos com alegações de pretenso altruísmo. Tenta-se justificar o pior com as melhores palavras, com os melhores argumentos. Cada um julga a "verdade" conforme seus umbigos.
As manifestações de rancor nas mídias sociais, algumas expressando intolerância social, outras defendendo corporações e valores estabelecidos, preocupa bastante e já existem declarações vingativas, odiosas, jocosas e humilhantes em diversos sentidos.
É verdade que essas reações também têm seu grau de imprudência. O violento humilhador de hoje pode ser a "vidraça" de amanhã, e quantas vezes, num mesmo grupo que provoca uma campanha depreciatória contra um internauta que discorda do "estabelecido", um dos membros torna-se inimigo do líder só porque lhe roubou a namorada ou o mais exaltado encrenqueiro é baleado por alguém que nunca viu na vida, por conta de "certos exageros"?
Evidentemente, os impulsos que a liberdade de expressão permite na Internet faz com que, paradoxalmente, pessoas com intenções antidemocráticas reajam de toda forma, O internauta reacionário, em primeira instância, torna-se ameaçador, mas ele mesmo também recebe respostas violentas e, no fim, acaba sempre contraindo alguma encrenca contra si.
Mas, independente do desfecho que o reacionário de plantão possa ter na Internet - ainda que ele esteja pouco preocupado com seu próprio prejuízo, acreditando sempre que "pode se virar em qualquer enrascada" - , é preocupante que existam manifestações desse tipo, que são efeito do medo de uma parcela da sociedade perder o conforto da "normalidade forçada" de 20 anos atrás.
Por isso notam-se os manifestos esnobes, rancorosos, vingativos e ameaçadores. Em muitos casos, os internautas reacionários ou ultraconservadores não têm medo de esconder suas identidades e, isolados no mundo virtual das mídias sociais, nos quais eles têm em mãos, na maioria das vezes, um mero telefone celular dotado de múltiplas funções, esquecem ou ignoram o risco que sofrem.
O Brasil até passa por profundas transformações. Mas elas não acontecem da maneira que os "espíritas" imaginam, até porque os fatos mostram que eles estão em desvantagem, vendo suas perspectivas criadas sob o prisma do moralismo religioso serem desmentidas pela realidade.
Da mesma forma, essas transformações deixam muitos internautas inseguros, abordagens realistas vão de encontro com suas fantasias, que esses internautas dotados de conservadorismo extremo acreditam ser "a sua realidade", mesmo que ela venha de visões utópicas de escritórios empresariais, gabinetes políticos ou departamentos de marketing de algum veículo de Comunicação.
O problema é como analisar essas transformações. O conservadorismo extremo só age em prol de seus interesses de algumas elites que se acham detentoras da verdade, e, na sua plena ignorância, acham que podem julgar a sociedade e a vida cotidiana conforme suas convicções pessoais não raro injustas, preconceituosas ou elitistas.
Fica difícil lidar com um país assim, mas o certo é que, se é recomendada a cautela dos mais coerentes, deve-se também levar em conta a vulnerabilidade dos encrenqueiros, já que, em muitos casos, a chamada "lei do retorno" não marca hora nem dia para chegar. É como diz o ditado, "cabeça quente, pé frio".
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