terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

"Memória curta", jeitinho brasileiro e fábrica de consenso beneficiaram "médiuns espíritas"


É muito perigoso o ato de manipular o discurso, transformando pessoas traiçoeiras ou levianas em pretensas unanimidades, produzindo uma narrativa que é coerente na aparência e que só apaga os fatos originais sombrios da vida de alguém, promovendo sua imagem à semelhança de um mocinho de contos de fadas, forçando a unanimidade e o consenso popular.

A combinação de "memória curta", do jeitinho brasileiro e das técnicas de fabricação de consenso na opinião pública protegem os "médiuns espíritas", divulgadores de um suposto espiritismo deturpado e igrejeiro. A blindagem foi tanta que havia a esperança de recuperação doutrinária dos postulados espíritas originais sob a liderança dos próprios deturpadores, como a eterna esperança de que somente as raposas têm a missão de reconstruir o galinheiro que destruíram.

É muito perigoso isso, porque figuras bastante levianas podem se tornar, em questão de décadas, pretensas unanimidades contra as quais há muita dificuldade de se agir. A ampla aliança de diversos setores da sociedade garante a blindagem e a impunidade e mesmo os piores abusos podem ser justificados por atenuantes ou por outras desculpas, mesmo que seja sob o preço de sacrificar a ética, a lógica, o bom senso e a moral.

Isso fez com que o "espiritismo" brasileiro se transformasse num grande nó de marinheiro, difícil de ser desamarrado. Não foi por falta de empenho, pois, desde os primórdios do "movimento espírita" se combateu os germes do igrejismo roustanguista, que atualmente persiste sob o disfarce de "kardecismo autêntico", uma farsa que mais parece um confuso "roustanguismo com Kardec".

Desde as ações de Afonso Angeli Torteroli, há cem anos, se combateu o igrejismo no "movimento espírita". Infelizmente, o igrejismo prevaleceu, a ponto do contemporâneo de Torteroli, Adolfo Bezerra de Menezes, o "dr. Bezerra", ter hoje uma biografia adocicada, quase um conto de fadas.

Isso é lamentável, se considerarmos que mesmo figuras admiráveis que viveram na mesma época que Bezerra, como os escritores Machado de Assis, Rui Barbosa e Joaquim Nabuco, também têm aspectos sombrios em suas biografias. Bezerra, que teria sido temperamental, corrupto e demagogo, passou para a posteridade quase como se fosse a versão brasileira do Papai Noel (?!).


OS "MÉDIUNS ESPÍRITAS" E SUA BLINDAGEM

A maioria das pessoas se esqueceu que os "médiuns espíritas", tão alvos de adoração extrema, a níveis da fascinação obsessiva e da subjugação e movidas pelo perigoso apelo emocional do "bombardeio de amor", são severos deturpadores dos ensinamentos espíritas originais, que foram rebaixados a um mero receituário igrejista de um moralismo conservador e medieval.

Espécie de "sacerdotes medievais" à paisana, os "médiuns espíritas" são beneficiados por essa tripla estratégia, na qual se combina a memória curta, esquecendo os pontos sombrios que eles tiveram no início da carreira, criando o jeitinho brasileiro de desenvolver um aparato de caridade e amor ao próximo, com um forte tom persuasivo que conseguiu fabricar consenso e pegou muita gente desprevenida.

As pessoas foram vítimas de pegadinha. Passaram a acreditar em "médiuns espíritas" pela suposta caridade e pela pretensa superioridade moral, fazendo ampliar a deturpação do Espiritismo e levar à ruína o legado trabalhoso de Allan Kardec.

Essa pegadinha não é difícil de ser diagnosticada, porque os "médiuns espíritas", a partir de Francisco Cândido Xavier e Divaldo Franco, apresentam muitos pontos sombrios e, no começo da carreira, foram denunciados como oportunistas, usurpadores da Doutrina Espírita e plagiadores e escritores de obras de valor literário muito duvidoso, embora de apelo religioso bastante atraente para muitos.

Os dois arrivistas cresceram tanto através do jeitinho brasileiro da promoção publicitária da FEB, com a ajuda midiática da TV Tupi e, depois, da Rede Globo de Televisão. Criou-se nos dois deturpadores do Espiritismo uma imagem de pretensos filantropos, criando uma narrativa que chegou ao nível da pieguice e da promoção do culto à personalidade, e que mais parecia enredo de novela do que alguma realidade concreta e objetiva.

Foi uma publicidade tão engenhosa e tão sofisticada em suas técnicas que, durante anos, muita gente boa passou a acreditar que os "médiuns espíritas" eram pessoas realmente iluminadas e batalhadoras. Alguns, idiotizados, acreditavam que eles só deturparam o Espiritismo por acidente, "empolgados demais" com a origem católica, e que por isso creem tolamente que os próprios "médiuns" deturpadores podem recuperar as bases espíritas originais, o que é impossível.

Isso fez camuflar os dados sombrios originais. Chico Xavier, um plagiador e pastichador de obras literárias que atuava sob a colaboração de uma equipe de editores e consultores literários, sob a coordenação de Antônio Wantuil de Freitas. Divaldo Franco, um verborrágico mercador das palavras, um palestrante pavoneador a se exibir para ricos e poderosos e que começou as carreiras plagiando livros do já plagiador Chico Xavier.

A memória curta apagou isso e os dois venderam uma imagem pretensamente adocicada que acobertou esses dados sombrios, que continuaram acontecendo, como se observa em muitas obras e em muitas posições reacionárias que os "médiuns" transmitiam em suas entrevistas. Os dois defendiam ideias medievais que se baseavam na aceitação submissa e masoquista do sofrimento humano, sendo Chico mais explícito com isso, pois ele falava até em "sofrer calado, sem queixumes".

NEM A CARIDADE SALVA OS "MÉDIUNS ESPÍRITAS"

Do contrário do que se pensa, os "médiuns espíritas" não têm na caridade seu atenuante. Costuma-se dizer que eles "deturpam, sim, o Espiritismo" ou que "eles são realmente conservadores", mas se argumenta que "pelo menos temos que aceitá-los porque eles praticam a caridade". Só que esse mito de caridade, um dogma transmitido sem provas consistentes, como que uma versão invertida da "corrupção do ex-presidente Lula", não trouxe resultado algum para o Brasil nem para o mundo.

A "caridade espírita", embora denominada oficialmente Assistência Social, é mero Assistencialismo. A Assistência Social é a caridade que transforma a sociedade a ponto de ameaçar os privilégios abusivos dos mais ricos. Só que o "espiritismo" brasileiro nunca realizou essa transformação. O que o "espiritismo" fez foi Assistencialismo, a "caridade paliativa" que só trouxe efeitos pontuais, superficiais e medíocres, e isso se comprova com fatos que escapam da publicidade "espírita".

Se essa "caridade" que blinda os "médiuns espíritas" - mais blindados que os políticos do PSDB, denominados "tucanos" - realmente desse certo, o Brasil teria atingido elevados padrões de vida. Isso não tem como escapar.

Não adianta dizer que "caridade" não é obrigada a trazer qualidade de vida, como enrolam, em confusas desculpas, os seguidores dos "médiuns" que, sob o pretexto de desvincular política e religião, veem "progresso" na "caridade espírita" até quando o Brasil mostra piora nos quadros de pobreza e miséria.

Outro dado a considerar é que a "maior caridade" de Chico Xavier foi, na verdade, um ato de crueldade e leviandade. As "cartas mediúnicas", atribuídas aos parentes mortos de pessoas comuns, revelaram uma série de irregularidades: fraudes psicográficas, exploração leviana das tragédias familiares, estímulo ao sensacionalismo midiático, espetacularização da perda dos entes queridos, promoção pessoal do "médium", catarse emocional a níveis de morbidez e obsessão pelos mortos.

Os "médiuns espíritas" também estão associados a juízos de valor perversos contra pessoas humildes, um dado a ser levado em conta devido à imagem de pretensa humildade associada a esses ídolos religiosos.

Chico Xavier, em 1966, acusou as vítimas do incêndio no Gran Circo Norte-Americano, em Niterói, no final de 1961, de terem sido "gauleses sanguinários" no século II. Por acusação semelhante, em 2009, o médico e "médium" Woyne Figner Sacchetin, que acusou as vítimas do acidente com um avião da TAM em 2007 de terem sido "gauleses sanguinários" no século II, foi processado por danos morais e teve que retirar o livro que contém essa acusação das livrarias.

Em ambos os casos, os "médiuns" tentaram atribuir o dedo acusatório a espíritos desencarnados. No caso de Chico Xavier, através do livro Cartas & Crônicas, de 1966, atribuiu a sórdida acusação ao espírito de Irmão X, um pseudônimo que Chico arrumou para manter sua apropriação do nome do escritor maranhense Humberto de Campos. Woyne, no livro O Voo da Esperança, de 2009, fez a mesma atribuição com o nome do "pai da Aviação" Alberto Santos Dumont.

Divaldo Franco fez acusações igualmente severas contra refugiados do Oriente Médio. Numa entrevista dada a um veículo de imprensa português após o fim de um evento "espírita" na Espanha, acusou os refugiados de terem sido "colonizadores sanguinários", o que se subentende que Divaldo se sente horrorizado em ver pessoas saindo de países como a Síria e a Nigéria para viverem na Itália em busca de paz.

Divaldo, com isso, contradiz sua fama de "pacifista", como contradisse sua fama de "humanista" apoiando um estranho composto alimentar do prefeito de São Paulo, João Dória Jr., justamente no evento Você e a Paz. O alimento foi considerado por várias entidades ligadas aos movimentos sociais (que envolvem gente humilde) uma "ofensa à dignidade humana". O composto, chamado de "farinata" ou "ração humana", foi descartado por Dória após repercussão negativa.

Com esses aspectos sombrios, não há como usar a "caridade" como atenuante para as irregularidades dos "médiuns espíritas", erros tão graves para serem compensados por filantropias tão frouxas e tão tendenciosas. Ainda mais se observarmos que os locais "protegidos" pelos "médiuns", como Uberaba e o bairro de Pau da Lima, em Salvador, são cenários de muita violência e miséria extrema. Chega de tanta carteirada blindando os "médiuns espíritas"!

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