terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Osvaldo Polidoro e a fraude do suposto "Allan Kardec reencarnado"

OSVALDO POLIDORO se beneficiou da picaretagem de se autoproclamar o "Allan Kardec reencarnado".

O Espiritolicismo se aventurou em tantas correntes místicas e mitificadoras que volta e meia gera correntes que causam discórdias até mesmo entre os próprios espiritólicos, na medida em que alguns oportunistas levam às últimas consequências seus delírios místicos que rompem até mesmo com o que há de verossímil e "equilibrado" na religião espiritólica.

Jean Baptiste Roustaing, o advogado francês que inspirou a fundação da Federação "Espírita" Brasileira - o "partido político" do "espiritismo à brasileira" - , já havia causado mal-estar por conta de teses surreais como o mito do "Jesus fluídico" e da reencarnação de humanos em forma de animais, plantas ou vermes.

Vieram outras correntes, mas nenhuma delas teve a pretensão sensacionalista do divinismo do escritor Osvaldo Polidoro, que no seu misticismo exageradamente religioso, usou a pessoa de Allan Kardec para dizer que era ele "reencarnado".

Nascido em 1910 e falecido no Natal de 2000, Osvaldo Polidoro ainda teve a coragem de dizer que teve diversas reencarnações "ilustres": havia sido Rama, Crisna, Zoroastro, Orfeu, Hermes, Pitágoras, Platão, Enoque, Moisés, Elias, Ezequiel, João Batista, Francisco de Assis, João Huss, José de Anchieta, Voltaire e Kardec.

Em outras palavras, ele, em sua vaidade reencarnacionista, enumerava de filósofos a personalidades religiosas para ilustrar sua elegante galeria de figuras que supostamente teria sido em outras vidas, havendo muitas dúvidas se qualquer uma dessas personalidades havia sido outra numa outra encarnação.

Polidoro, cercado dessa aura de pretensa superioridade, uma prática bastante sutil de espíritos de sua natureza, ainda bastante inferior e dotadas do dom de enganar as pessoas, se beneficia sobretudo da fraude de se achar o "Allan Kardec reencarnado", dado que supostamente havia "recebido dos espíritos" aos 15 anos de idade.

A pretensão o fez criar uma religião, o Divinismo, uma doutrina "espiritualista" de forte acento católico, mas acrescido de delírios esotéricos. Seu princípio maior é anunciar a "volta de Jesus" para o "cumprimento de sua missão encarnacional" e atingir a "deificação". A "volta" é atribuída ao século XXI. Então tá.

Mas a farsa vai mais longe. Osvaldo Polidoro é tido como "mais evoluído" que Jesus, uma vez que este depende de voltar à Terra para atingir a "deificação", enquanto Polidoro, que veio "completar a obra" que supostamente havia feito como "Allan Kardec", já atingiu essa condição de "perfeição".

CONTRADIÇÕES

Polidoro, que havia sido um dos fundadores da Federação Espírita do Estado de São Paulo (FEESP) e teve livros editados pela LAKE (Livraria Allan Kardec Editora, que edita vários livros espiritólicos, apesar de publicar também a melhor tradução das obras de Kardec, feitas por José Herculano Pires), rompeu depois com o espiritolicismo para criar o Divinismo.

Sua pretensão apresenta graves contradições com a discreta intelectualidade de Allan Kardec, apresentando um misticismo religioso bastante exagerado e surreal, o que seguramente faz inconcebível a hipótese de Polidoro ter sido o mestre lionês.

Polidoro havia recebido uma mensagem desta natureza, que supostamente anunciou sua "missão", e que segundo ele teria sido "recebida" no plano espiritual, antes dele nascer em São Paulo, em 05 de junho de 1910 (dois meses e dois dias após Chico Xavier):

 "Filho Elias, arregimente a turma servidora e parta para a Terra do Cruzeiro do Sul. Porque lá, na Atlântida Redescoberta, onde entregaram a Bíblia mãe com o nome de POPOL BUGG, entregarão a última, que se chamará O EVANGELHO ETERNO, prometido no Apocalipse, capítulo 14, versos de 1 a 6".

Segundo o mito que se cerca em torno de Osvaldo Polidoro, ele havia sido José de Anchieta e teria contribuído para o surgimento da cidade de São Paulo, que teria abrigado a Civilização Atlante, remotamente destruída, com o objetivo de restaurar esse "povo antigo".

Seus livros mostram o tom místico-religioso exagerado e fortemente "catolicizante" já nos próprios títulos: Que Fizeste do Batismo do Espírito Santo?, Evangelho Eterno e Orações Prodigiosas. No texto sobre ele no portal Divinismo, ainda é citado o termo "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho", corroborando o constrangedor best seller espiritólico.

CINISMO PURO - Osvaldo Polidoro imitando a pose de Allan Kardec registrada em estátua feito em homenagem ao professor francês.

A contradição se dá logo quando confrontamos a presunção religiosa do delirante Osvaldo Polidoro com o caráter firme, discreto e racional de Allan Kardec, que nunca teve pretensão alguma de criar religião e havia sido tão somente um educador e cientista preocupado com os fenômenos da vida espiritual.

Polidoro ostenta sua vaidade, seu orgulho de ter sido várias personalidades ilustres, o que não o faz um espírito superior, e sim um espírito inferior, enganador, dos mais fraudulentos. Seu misticismo por demais dogmático e exageradamente religioso à primeira vista é contrária à personalidade discreta mas firme de Allan Kardec.

Em seus livros, Kardec não se mostrava um místico doentio, nem um pretenso profeta. Era mais um questionador e um divulgador de ideias, ele mesmo preferia acreditar que ainda estava aprendendo as coisas. Era um pedagogo lançando propostas para a educação pública infantil na França, e que buscava CIENTIFICAMENTE entender os fenômenos espirituais. Nada mais.

Já Polidoro com seu orgulho extremamente vaidoso de ter sido "tanta gente boa", sobretudo Kardec, como indica a arrogante pose da imagem acima, que imita a postura aparentemente sisuda do professor lionês (num tempo em que os fotógrafos sempre exigiam que as pessoas posassem com expressões sérias) registrada em sua estátua.

A expressão arrogante de Osvaldo Polidoro, seu pretensiosismo pregador, sua verborragia mistificadora, seus delírios esotéricos, e a pretensão descarada de se julgar "espírito perfeito", querendo que fosse considerado "deificado" depois de sua morte (que aconteceu em 35 de dezembro de 2000), algo que vai contra a natureza dos verdadeiros espíritos puros.

Com presunção, ostentação e vaidade, Osvaldo Polidoro não poderia ter sido Allan Kardec. Até porque se baseou em imagens distorcidas do mestre lionês, e escreveu seus livros que se aproximam mais de um "catolicismo astrológico", supostamente profético, que contradizem violentamente com a simplicidade precisa das ideias de Allan Kardec.

Portanto, conclui-se que Polidoro nunca teria sido Allan Kardec. O próprio Kardec aponta dúvidas sobre quem teria sido em encarnações anteriores. É um processo ainda duvidoso e até supérfluo para as nossas missões espirituais.

E Kardec não deixou em seus depoimentos que havia sido Platão, João Batista, José de Anchieta e nem Voltaire. O professor Rivail, como era realmente conhecido, se limitou a dizer que provavelmente teria sido um homem chamado Allan Kardec, pseudônimo que usou para não afetar sua reputação de autor de livros pedagógicos.

Isso é, por vezes, bastante nocivo, porque saber que foi um ilustre figurão em outra encarnação pode estimular vaidades e paixões que prejudicam gravemente o progresso espiritual, comprometendo sua missão evolutiva através dos efeitos incômodos ou exagerados que a lembrança "ilustre" fezem sua vida e em sua consciência.

Osvaldo Polidoro prejudicou a si mesmo, na medida em que o envaidecimento extremo e seu caráter fraudulento o fizeram não um ser "deificado", mas um pobre mortal que ainda reencarnará muitos séculos para aprender (com todas as desilusões que ferirão sua vaidade) que não se faz um espírito superior da forma como ele tentou ser.

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