FOTO DE JEAN MANZON, PUBLICADA NA REVISTA O CRUZEIRO, EM 1944, MOSTRA CHICO XAVIER POSSIVELMENTE LENDO JORNAIS E LIVROS ENQUANTO ESCREVE, PARECENDO ESTAR COPIANDO ALGUMA COISA.
Misterioso o repentino desaparecimento de Amauri Pena Xavier, o sobrinho de Francisco Cândido Xavier (filho de Maria Xavier, irmã do anti-médium) que havia dito que o anti-médium mineiro não havia psicografado seus livros, e que Parnaso de Além-Túmulo não seria mais do que uma seleção de textos apócrifos em cuja sexta edição contou com a ajuda do jovem denunciante.
Aparentemente viciado em álcool, Amauri Xavier teria falecido em 1961, antes de completar 28 anos de idade, um desfecho repentino e muito estranho, porque, para pessoas com esse vício, esperaria que o falecimento, ainda que prematuro, se desse em torno dos 45 aos 50 anos de idade. Oficialmente, sua morte está ligada a uma hepatite contraída quando estava internato em um sanatório.
No entanto, o falecimento se deu de forma estranha, no calor das denúncias, criando um mistério que até hoje ronda os bastidores do "espiritismo" brasileiro e enche de aspectos sombrios a figura aparentemente intocável de Chico Xavier, que tem suas dóceis frases divulgadas por comunidades e internautas nas mídias sociais.
Amauri afirmava: "Aquilo que tenho escrito foi criado pela minha própria imaginação, sem interferência do outro mundo ou de qualquer outro fenômeno miraculoso. Assim como tio Chico, tenho enorme facilidade para fazer versos, imitando qualquer estilo de grandes autores. Como ele, descobri isso muito cedo. Tio Chico é inteligente, lê muito e, com ou sem auxílio do outro mundo, vai continuar escrevendo seus versos e seus livros."
A afirmação se deu no Diário de Minas, em 15 de julho de 1958, três anos após ter sido lançada a edição "definitiva" de Parnaso de Além-Túmulo, a enigmática obra de 1932 que sofreu bruscas mudanças, com inclusão e exclusão de poemas e supostos autores, por cinco vezes e ao longo de 23 anos.
O Globo chegou a estampar manchete sobre o desmascaramento de Chico Xavier pelo sobrinho. Mas aos poucos a reportagem teria sido abafada quando um repórter do Diário da Tarde, de Belo Horizonte, tentando procurar Amauri Pena, só pôde encontrar um delegado, Agostinho Couto, que definiu Amauri como "um desordeiro", bebedor inveterado e acusado de roubo.
Pode ser que Amauri tenha tido problemas com o álcool e era atormentado. Mas os relatos sobre seu drama pessoal parecem exagerados, parecendo uma campanha difamatória, uma vez que Amauri parecia também possuir informações sobre as irregularidades da aparente psicografia de seu tio.
CHICO XAVIER COPIANDO
Numa reportagem da revista O Cruzeiro, em 12 de agosto de 1944, o repórter David Nasser e seu parceiro, o fotógrafo francês Jean Manzon, desmitificaram o mito de Chico Xavier no ano em que ele havia saído incólume de um processo judicial movido por herdeiros de Humberto de Campos, que terminou em empate.
Um dos principais pontos da reportagem, intitulada "Um detetive do além", era de que Chico Xavier não era iletrado, mas um leitor ávido de livros, como Amauri confirmaria depois, e oferece indícios de que a psicografia associada a Chico seria uma farsa.
Uma foto dá uma boa pista de que Chico copiava livros, que é a que vemos no alto deste texto. Jean Manzon fotografou Chico em seu quarto, onde há uma estante de livros e uma mochila em sua cama, enquanto o mineiro aparece fazendo anotações com a mesa cheia de jornais, revistas e um livro que aparece aberto à direita dele.
A foto dá um forte indício de que Chico adaptava trechos, copiando trechos de obras literárias apenas fazendo troca de palavras e frases, às vezes substituindo nomes. Por isso seus trabalhos seriam relativamente rápidos, ele não seria o "Speed Racer da mediunidade" para escrever em poucas horas livros ditados pela turma do além.
A cópia de livros, por exercer menor esforço de raciocínio, já que praticamente se encontra uma ideia feita, permite maior rapidez na escrita, E o hábito de leitura de Chico Xavier e sua razoável compreensão dos movimentos literários dos autores de língua portuguesa são conhecidos, tendo havido uma produção poética de autoria do próprio Chico publicada em periódicos locais.
ESTRANHO DESFECHO
Amauri teria sido somente um bebedor inveterado? Ou será que ele não poderia ter momentos de ampla lucidez? A imagem de Amauri como um doente mental, ladrão e alcoólatra não seria um meio da Federação "Espírita" Brasileira desqualificar alguém que tinha muitos segredos a respeito das atividades de Chico Xavier?
Quando Amauri divulgou as denúncias, criaram-se rumores que o sobrinho de Xavier denunciou o tio porque estava a fim de uma moça católica por quem se apaixonara, ou que havia sido subornado por um padre local para desqualificar Xavier.
De repente Amauri passou a ser desmoralizado e cada drama pessoal que ele vivia era exageradamente abordado pela mídia espiritólica regional, que espalhava a imagem negativa de Amauri para o resto do país. Sem ser devidamente ouvido ou investigado, Amauri sofreu campanha difamatória em vez de suas denúncias serem devidamente investigadas.
As denúncias eram diluídas numa polêmica, gradualmente abafadas pela FEB e pelas lideranças mineiras ligadas a Xavier, e de repente Amauri Xavier Pena foi mandado para ser internado num sanatório "espírita" intitulado Sanatório Bezerra de Menezes, distante de Minas Gerais e localizado na cidade de Espírito Santo do Pinhal, no interior paulista.
Aparentemente, em 26 de junho 1961, Amauri sofreu os efeitos de uma hepatite aguda e faleceu ainda com 27 anos de idade. Da noite para o dia, o jovem que revelaria os bastidores do fenômeno Chico Xavier foi desqualificado e entregue ao declínio fatal, sem que fosse considerado para qualquer investigação a respeito.
Tudo se reduziu a um escândalo abafado pelos chefes "espíritas", enquanto Chico Xavier fazia suas declarações dóceis em público, enquanto em carta ao presidente da FEB, Antônio Wantuil de Freitas, ele mostrava-se preocupado com um "familiar deliberadamente vendido aos adversários implacáveis da nossa causa".
O anti-médium que rogava à "Nossa Mãe Santíssima" para "continuar cumprindo honestamente o meu dever de médium espírita sem julgar ou ferir quem quer que seja", anos depois, em 1966, usando o nome de Humberto de Campos, julgou e feriu as vítimas da tragédia de um circo em Niterói, acusando-as de "romanos sanguinários".
Quanto a Amauri, pode ter havido uma "queima de arquivo", tese ainda não comprovada e que precisa de exame cuidadoso. Mesmo assim, já é estranho que um rapaz portador de denúncias graves, em vez de ser considerado para investigação ou mesmo para contraprovas sérias, foi desqualificado, desmoralizado e supostamente entregue a autodestruição. Isso é muito estranho.
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