sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Como teria surgido o "roustainguismo light"?


"Amigos, amigos, negócios à parte". O famoso ditado popular deve ser observado também quando, no círculo social das lideranças espíritas, autênticas ou não, existem até relações de amizade que, no entanto, são maculadas pelos interesses mesquinhos da deturpação de suas práticas.

Nota-se que a campanha de união do "movimento espírita" sempre priorizou o lado religioso, e as crises que a FEB sofreu ao longo do tempo resultaram em pressões diversas que não fizeram com que se aproxime à fidelidade aos conhecimentos da Doutrina Espírita, mas na criação de um "espiritismo" supostamente de meio-termo que continua muito distante de Allan Kardec.

Consta-se que as pressões ocorridas contrariamente ao roustanguismo da FEB teriam tido seu auge entre 1973 e 1985, com a intensa reação contra os escândalos trazidos pelas deturpações do "movimento espírita".

Houve de tudo, até mesmo uma nova tradução que deturpasse cada vez mais o texto de Allan Kardec. Mas o certo é que o desgaste do roustanguismo e de sua tese neo-docetista do "Jesus fluídico" tivesse influenciado uma revisão de posturas.

A cúpula da FEB, a partir de figuras como Francisco Thiesen e Luciano dos Anjos, resistia a atender os interesses das federações regionais. O poder concentrado da FEB, em sua sede em Brasília e, quando muito, aos dirigentes da filial do Rio de Janeiro - antiga cidade-sede da instituição - , pode ter posto a perder a postura radical e assumidamente vinculada ao misticismo de Roustaing.

Foram fatores diversos que poderiam ter feito desgastar a reputação da obra de Jean-Baptiste Roustaing no "movimento espírita", com escândalos que repercutiram negativamente na imprensa e que expuseram, nos meios ditos espíritas, uma série de conflitos de interesses e brigas violentas. Houve quem tivesse sido ameaçado de represálias por recusar a apoiar o roustanguismo.

O docetismo renovado de Jean-Baptiste Roustaing, que transformava Jesus num fantasma, num espectro que não sentia as dores humanas, a pretexto de Jesus ter sido uma "criatura excepcional", revoltou até mesmo setores conservadores do "movimento espírita" e até de setores católicos, pelo fato de que Jesus teria sido um ser sobrenatural e não um humano.

Daí que o roustanguismo descrito nas ideias contidas nos volumes de Os Quatro Evangelhos - três, no original francês, quatro na edição brasileira da FEB - foi visto como uma ideologia radical e surreal, enquanto se projetavam visões humanistas contrárias a ele, trazidas por nomes como Deolindo Amorim, Carlos Imbassahy e José Herculano Pires.

PRESSÕES FORÇARAM O "MOVIMENTO ESPÍRITA" A SE REESTRUTURAR

Enquanto se ascendiam os movimentos pela volta às bases doutrinárias de Allan Kardec no Brasil, desgastando a corrente roustanguista pelo isolacionismo da cúpula da FEB, antigos astros do "movimento espírita" teriam, de forma tendenciosa, passado a "defender Kardec" vendo que o barco da corrente roustanguista estava se afundando.

Chico Xavier e Divaldo Franco, por exemplo, sempre tiveram a mesma orientação espiritólica que norteou os roustanguistas. O primeiro dos dois já havia colaborado com a defesa de Roustaing, enquanto o segundo não tinha uma posição explícita a respeito. Por outro lado, eles eram também amigos de líderes espíritas autênticos, e decidiram adotar uma postura "diferente" da anterior.

A cúpula da FEB dos idos de 1973-1975 se isolou e o falecimento, em 1974, de Antônio Wantuil de Freitas complicou as coisas. As denúncias e os escândalos naqueles tempos muito tensos - é bom deixar claro que vivia-se o apogeu da ditadura militar, com as revoltas humanas sufocadas pelo cenário político - fizeram com que o "movimento espírita" tivesse que se reestruturar.

Dessa forma, as teses mais delirantes - como o "Jesus fluídico", os "criptógamos carnudos" e o retrocesso do espírito na reencarnação - puseram abaixo todo aquele posicionamento claramente roustanguista, enquanto se planejava uma aparente mudança de orientação do "movimento espírita".

Tudo levava a crer que Roustaing seria "sepultado" e que o "movimento espírita" teria resolvido seus piores problemas, passando a assumir uma fidelidade maior às ideias de Allan Kardec e a abraçar suas teses racionais por definitivo. Mas não foi bem assim que isso aconteceu.

O PROBLEMA NÃO SE RESOLVEU E ATÉ PIOROU

O que se nota é que o problema do antigo desprezo a Allan Kardec em prol de Roustaing não foi resolvido. A suposta fidelidade ao Codificador não se efetivou realmente, e o que aconteceu foi que o "movimento espírita" acabou adotando uma versão light do roustanguismo, com algumas mudanças estratégicas.

Jean-Baptiste Roustaing passaria a ser visto como uma figura incômoda condenada ao desprezo. Mas o religiosismo de Os Quatro Evangelhos seria preservado, tirando apenas as teses mais delirantes, acima citadas.  Mas aí a FEB já publicou obras brasileiras que já absorveram o "melhor" de Os Quatro Evangelhos, sem precisar recorrer ao original.

Isso permitiu que o roustanguismo fosse, em tese, rompido, mas seu legado mantido em sua essência. Criou-se um "neo-catolicismo" no "movimento espírita" sem que precise recorrer diretamente ao advogado de Bordeaux. As obras de Chico Xavier já substituíram Roustaing nesse norteamento do "catolicismo espírita".

A partir dessa manobra, dava para assumir uma aparente defesa a Allan Kardec, também "amenizado" pelas traduções catolicizantes a partir da de Guillon Ribeiro, e adotar um religiosismo camuflado num pseudo-cientificismo.

Daí que o problema não se resolveu e até piorou. Pois, antes, o roustanguismo pelo menos tinha sua cara, hoje adotou uma máscara. Criou-se uma gororoba ideológica, em que se misturam moralismo científico, misticismo esotérico e pseudo-cientificismo, criando uma doutrina cada vez mais piegas e igualmente distanciada dos ensinamentos de Allan Kardec.

Ele reforçou ainda mais as deturpações sofridas pela Doutrina Espírita no Brasil, estabilizando-se o que já era feito nos tempos do roustanguismo assumido. E se Roustaing era a figura mais incômoda no seu proselitismo religioso, hoje são as ideias associadas a Chico Xavier, Emmanuel, André Luiz, Divaldo Franco e outros que passaram a valer mais.

Além disso, as fraudes não terminaram, como se nota nas falsas mensagens mediúnicas que envolvem quadros falsificados, plágios literários, falsetes e proselitismo religioso mal-disfarçado em mensagens apócrifas atribuídas a celebridades mortas. E fala-se mais, da maneira mais piegas possível, de ideias como "fraternidade", "luz", "amor" e "caridade" sem despertar algo realmente novo e edificante.

Com isso, o que se nota é que o Espiritismo no Brasil se transformou num engodo pior ainda. Roustaing está repousando nos sótãos do "movimento espírita" com seus "criptógamos" e seu "Jesus fluídico". Mas, de resto, ele segue firme e forte através das adaptações de Chico Xavier e companhia, o que faz que a tal "fidelidade a Allan Kardec" não passasse de conversa para boi dormir.

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Espírito de Erasto havia advertido sobre deturpação do Espiritismo, nos tempos de Kardec


Como foi escrito, tão cedo a Doutrina Espírita recebia a advertência de futuras deturpações. Ainda quando Allan Kardec era vivo, já existiam alertas graves de que os piores inimigos da Doutrina Espírita não se encontravam fora da doutrina, mas dentro dela.

São pessoas e espíritos desencarnados que, usando um discurso envolvente, dócil e falsamente amoroso, criava mistificações e deturpações sérias dos conhecimentos espíritas, de forma a provocar escândalos e polêmicas desnecessárias, desviando da rota segura do cientificismo kardeciano.

O espírito Erasto, parceiro de Paulo de Tarso naqueles tempos posteriores ao falecimento de Jesus, enviou através de um médium, em Paris, no ano de 1862 - quando Allan Kardec ainda estava na ascensão de suas pesquisas espíritas - , um alerta sobre o que poderia ser feito, e acabou sendo, na trajetória do Espiritismo, através de supostos adeptos que, em verdade, eram traidores traiçoeiros.

Hoje vemos que o Brasil tornou-se um terreno fértil para tais manobras, e no país sul-americano foi criada uma "versão" da Doutrina Espírita que não era exatamente a doutrina de Kardec adaptada ao contexto brasileiro, mas antes uma doutrina confusa de moldes católicos, que desviou completamente das pesquisas seguras do pedagogo francês, em prol de um religiosismo arcaico e esotérico.

Pois os avisos vieram em primeira hora, e a mensagem de Erasto continua atualíssima, diante do grave quadro em que se encontra o Espiritismo brasileiro, mesmo no seu atual "roustanguismo light", em que se faz o jogo duplo da suposta fidelidade a Allan Kardec e a clara expressão de um retrógrado religiosismo místico. Segue a mensagem:

"Os falsos profetas não existem apenas entre os encarnados, mas também, e muito mais numerosos, entre os Espíritos orgulhosos que, fingindo amor e caridade, semeiam a desunião e retardam o trabalho de emancipação da Humanidade, impingindo-lhe os seus sistemas absurdos, através dos médiuns que os servem. Esses falsos profetas, para melhor fascinar os que desejam enganar, e para dar maior importâncias às suas teorias, disfarçam-se inescrupulosamente com nomes que os homens só pronunciam com respeito.

São eles que semeiam os germes das discórdias entre os grupos que os levam isolar-se uns dos outros e a se olharem com prevenções. Bastaria isso para os desmascarar. Porque, assim agindo, eles mesmos oferecem o mais completo desmentido ao que dizem ser. Cegos, portanto, são os homens que se deixam enganar de maneira tão grosseira.

Mas há ainda muitos outros meios de os reconhecer. Os Espíritos da ordem a que eles dizem pertencer, devem ser não somente muito bons, mas também eminentemente racionais. Pois bem: passai os seus sistemas pelo crivo da razão e do bom-senso, e vereis o que restará. Então concordareis comigo em que, sempre que um Espírito indicar, como remédio para os males da Humanidade, ou como meios de realizar a sua transformação, medidas utópicas e impraticáveis, pueris e ridículas, ou quando formula um sistema contraditado pelas mais corriqueiras noções científicas, só pode ser um Espírito ignorante e mentiroso.

Lembrai-vos, ainda, de que, quando uma verdade deve ser revelada à Humanidade, ela é comunicada, por assim dizer, instantaneamente, a todos os grupos sérios que possuem médiuns sérios, e não a este ou aquele, com exclusão dos outros. Ninguém é médium perfeito, se estiver obsedado, e há obsessão evidente quando um médium só recebe comunicações de um determinado Espírito, por mais elevado que este pretenda ser. Em conseqüência, todo médium e todo grupo que se julguem privilegiados, em virtude de comunicações que só eles podem receber, e que, além disso, se sujeitam a práticas supersticiosas, encontram-se indubitavelmente sob uma obsessão bem caracterizada. Sobretudo quando o Espírito dominante se vangloria de um nome que todos, Espíritos e encarnados, devemos honrar e respeitar, não deixando que seja comprometido a todo instante.

É incontestável que, submetendo-se ao cadinho da razão e da lógica toda a observação sobre os Espíritos e todas as suas comunicações, será fácil rejeitar o absurdo e o erro. Um médium pode ser fascinado e um grupo enganado; mas, o controle severo dos outros grupos, com o auxílio do conhecimento adquirido, e a elevada autoridade moral dos dirigentes de grupos, as comunicações dos principais médiuns, marcadas pelo cunho da lógica e da autenticidade dos Espíritos mais sérios, rapidamente farão desmascarar esses ditados mentirosos e astuciosos, procedentes de uma turba de Espíritos mistificadores ou malfazejos.

ERASTO

Discípulo de São Paulo

Paris, 1862

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

José Herculano Pires havia advertido sobre os mitos dos médiuns brasileiros


Não foi por falta de aviso que a Doutrina Espírita no Brasil permitiu toda sorte de deturpação e irregularidades. Desde quando Allan Kardec estava vivo, havia avisos de toda sorte de deturpações e distorções que a doutrina poderia sofrer no decorrer dos tempos.

Aqui vamos colocar o caso brasileiro, pois o Brasil tornou-se o caso mais típico e o mais aberrante das deturpações que atingem e ferem de morte - apesar da falta de percepção de muitos - o Espiritismo no Brasil, reduzido a uma espécie de catolicismo alucinante e fantasioso.

José Herculano Pires, que havia completado 100 anos de nascimento no dia 25 de setembro passado, é o mais fiel tradutor de Allan Kardec, além de ter escrito livros que procuravam orientar os espíritas brasileiros a manter a maior fidelidade possível às ideias do professor lionês, mesmo dentro do contexto brasileiro, bastante diverso do francês.

Preocupado com os descaminhos do "movimento espírita" e combatendo os abusos cometidos pela Federação "Espírita" Brasileira, Herculano não cansava de escrever textos fazendo críticas enérgicas aos deturpadores e aos desvios cometidos.

Um desses desvios é a forma com que se projetam os médiuns brasileiros, distanciados da função intermediadora da comunicação entre mortos e vivos, na medida em que se tornam "estrelas", viram centro das atenções e se tornam dublês de pensadores ao produzirem frases prontas para confortar seus adeptos.

Herculano Pires havia escrito, no livro Curso Dinâmico de Espiritismo, uma advertência sobre a quebra da função meramente intermediadora dos médiuns, através da pressão pelas consultas pessoais e das mensagens religiosas. Diz o trecho referente ao assunto:

"A exploração inconsciente e consciente dos médiuns pelos próprios adeptos da doutrina é um dos fatores mais negativos para o desenvolvimento do Espiritismo em nosso país e no mundo. A contribuição que eles poderiam dar para a execução das metas doutrinárias perde-se na miudalha das consultas pessoais e nas mensagens cotidianas de sentido religioso-confessional, mais tocadas de emoção embaladora do que de raciocínio e esclarecimento. E isso o que todos pedem, como crianças choramingas acostumadas a dormir ao embalo das cantigas de ninar".

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Suposta previsão de André Luiz, em 1952, evoca ufanismo mineiro

ILUSTRAÇÃO DO SUPOSTO ESPÍRITO ANDRÉ LUIZ E SEU VERDADEIRO CRIADOR, O EX-PARCEIRO DE CHICO XAVIER, WALDO VIEIRA. ENTRE ELES, O LIVRO CONDUTA ESPÍRITA, LANÇADO EM 1960.

Em época eleitoral, anda circulando pelas mídias sociais ou mesmo em diversos espaços na Internet uma suposta profecia atribuída ao espírito André Luiz, na verdade um alter-ego do ex-parceiro de Chico Xavier, Waldo Vieira.

Antes de detalharmos essa suposta previsão, deixamos claro que a constatação de que André Luiz não teria sido Carlos Chagas, Osvaldo Cruz nem Faustino Esporel mas tão somente um personagem fictício de Waldo Vieira procede, na medida em que as ideias "científicas" do suposto André Luiz coincidem perfeitamente com as de Waldo na sua nova seita, a Conscienciologia.

A suposta previsão teria sido dada por Francisco Cândido Xavier durante uma reunião no "centro espírita" Jesus de Nazareno, em Congonhas (MG), em 23 de dezembro de 1952. Consta-se que a reunião possui registro na Câmara de Vereadores daquela cidade, conhecida pelo catolicismo do artista plástico Aleijadinho.

Aparentemente, a previsão indica fatos "acertados", como a eleição de Juscelino Kubitschek, a construção de Brasília e a eleição de Tancredo Neves, cuja posse foi impedida pela doença que o levou a morte.

Mas até que ponto tais previsões são "acertadas"? Há quem diga que essa suposta previsão não foi mais que uma invenção de tempo posterior, bem típica dos relatos biográficos dos seguidores de Chico Xavier. Inventaram até que ele voava sobre as águas, assim como inventaram que Bezerra de Menezes se materializava até para dirigir caminhão!

Aqui está a suposta profecia, que mistura misticismo esotérico com pregação religiosa, sem no entanto investir abertamente nos jargões dessas duas áreas:

"No meio à crise virá um homem da terra do mártir Tiradentes e, apesar das pressões, muito fará pelo Brasil, inclusive, que será o criador de uma cidade jardim tal qual o Éden, diferente de todas as cidades.

Tempos depois, quando as trevas do calabouço autoritário se dissipar, a ele se seguirá um outro mineiro, que projetará a esperança, conquistará o povo trazendo uma nova onda de patriotismo para o país. Mas que não tomará posse. Morrerá antes.

Será substituído por outro que muita confusão irá criar e, na sua saída, vai deixar a nação abalada; e deste abalo vai começar o período crítico, por anos e anos.

Até que, na segunda década de um novo milênio, o homem de patriotismo, vindo também da terra de Tiradentes, irá cercar-se de outros e vão derrubar a viga mestra da confusão. E então muita coisa nova vai acontecer. Muitas nações passarão a dar crédito e respeito ao Brasil".

Com uma narrativa "diferente" do discurso emmanueliano, a suposta profecia merece alguns questionamentos, cada um referente a cada parágrafo do referido texto de 1952. O único aspecto de religiosismo claramente descrito no texto se refere à citação do Éden, que é uma alegoria do paraíso católico.

Neste primeiro parágrafo, o texto nem de longe é profético. Afinal, ele claramente se refere a Juscelino Kubitschek. Se levarmos em conta o contexto de 1952, observa-se que Juscelino, então governador de Minas Gerais, desejava ser presidente da República na época, e a construção de Brasília era um dispositivo previsto na Constituição de 1946, vigente então.

O segundo parágrafo, que contradiz à defesa que Chico Xavier ("porta-voz" da mensagem) fez à ditadura militar durante entrevista ao Pinga-Fogo (programa da TV Tupi de São Paulo), em 1971, supostamente descreve a trajetória de Tancredo Neves.

Pois, se levarmos fé nessa declaração, fica estranho Chico Xavier mencionar o "calabouço autoritário" quando, no auge dos "anos de chumbo", ele afirmava que os generais estavam preparando o "reino de luz" dos tempos futuros.

O terceiro parágrafo supostamente se refere a José Sarney, mas dentro de uma abordagem mais típica de 1989 - ano do qual atribui o primeiro relato dessa "profecia" - , quando o governo, marcado antes pelo otimismo do Plano Cruzado, atravessava uma crise aguda, gerando a "hiperinflação".

No mesmo parágrafo é também anunciado o longo "período crítico", simbolizado pela Era Collor, que no entanto era defendida com gosto por Chico Xavier, que na época da campanha do dito "caçador de marajás", defendia este candidato, alegando que era a "reencarnação" do primeiro presidente da República, o marechal Deodoro da Fonseca.

No quarto parágrafo, surge então o anúncio de "um mineiro", "homem de patriotismo", iria derrubar a "viga mestra da confusão" na segunda década "de um novo milênio". Bom, no começo da referida década foi eleita uma mulher, a mineira Dilma Rousseff, nascida em Belo Horizonte, e a confusão não foi derrubada, só se agravando.

Na segunda interpretação, o "homem de patriotismo" seria Aécio Neves, que, apesar de ser neto de Tancredo Neves, também não parece ser o homem que irá derrubar a "viga mestra da confusão", antes a agravasse também, porque o contexto do Brasil ainda é de muita confusão e crise.

O texto lido por Chico Xavier mais parece um palpite de seu então parceiro Waldo Vieira, ou então algum relato dado por terceiros. E o tal registro da mensagem "mediúnica"? O que se sabe é que, com uma análise muito cuidadosa dos fatos históricos, fora a coincidência da morte de Tancredo Neves antes de chegar ao poder, a suposta previsão soa confusa e contraditória.

Se as supostas previsões do pretenso André Luiz fossem como as apostas da Mega-Sena, André, ou melhor, Waldo Vieira não teria ganho o prêmio principal e nem chegado à quadra ou a quina. Teria perdido com apenas um palpite acertado, já que não vale apostar em 1952 nas já previsíveis ideias de Juscelino presidente e Brasília como nova capital do país, projetos já plausíveis na época.

domingo, 26 de outubro de 2014

Kardequizar ou Catequizar?

DIVALDO FRANCO TENTOU SER "SIMPÁTICO" À CAUSA ANTI-ROUSTANGUISTA DE RECUPERAR AS BASES DE ALLAN KARDEC.

Torna-se um enigma aparente o fato de que o establishment do "movimento espírita" brasileiro ter adotado, nos últimos anos, a postura da "fidelidade a Allan Kardec" mesmo mantendo princípios lançados por Jean-Baptiste Roustaing, dando a crer que o roustanguismo é "fase superada" da história do "espiritismo" brasileiro.

Porém, as ideias de Roustaing estão muito mais vivas, só sendo descartados os pontos polêmicos de Os Quatro Evangelhos: o Jesus "fluídico", os "criptógamos carnudos" (reencarnação de humanos faltosos em micróbios e invertebrados) e a retrogradação do espírito na reencarnação, que contrariava as leis lógicas do progresso espiritual.

O que fez o "espiritismo" brasileiro adotar uma postura "fiel a Allan Kardec", mesmo mantendo quase todo o religiosismo de Roustaing só pode ser explicado pelos episódios ocorridos entre as décadas de 1970 e 1980, época dos falecimentos tanto do lado roustanguista (Antônio Wantuil de Freitas) quanto do lado kardecista (Herculano Pires e Deolindo Amorim).

Nessa época, as pressões contra a supremacia roustanguista da Federação "Espírita" Brasileira tornaram-se mais intensas, e provavelmente a gestão de Francisco Thiesen serviu de cenário para a intensificação desses conflitos.

Ainda estamos averiguando qual o episódio que tenha impulsionado as lideranças "espíritas" a adotarem um "roustanguismo light com Kardec", que é o que se vê hoje em quase todos os "centros espíritas" do Brasil, em que até mesmo Chico Xavier, que alegremente foi durante anos subordinado à orientação de Roustaing, e Divaldo Franco, membro da cúpula da FEB, passaram a "apoiar" os kardecistas.

No entanto, um episódio que se deve levar em consideração é, além das lutas das federações regionais contra o roustanguismo dos sucessivos comandantes da FEB, as supostas "aparições" de Adolfo Bezerra de Menezes, ex-presidente da entidade, clamando pela "fidelidade a Allan Kardec".

As supostas mensagens teriam como objetivo "reparar" até mesmo a inicial apropriação que os roustanguistas da FEB fizeram com Kardec, na fase "conciliatória" da entidade, antes de sua primeira crise (já com Afonso Angeli Torteroli se contrapondo a Bezerra de Menezes).

Essa fase "conciliatória" já tinha divulgado falsas mensagens de um patético "espírito Allan Kardec", inseguro e místico, falando como se fosse um padre de uma paróquia do interior, e com uma diferença de um século houve uma cisão em que surgiu uma corrente "kardecista" ainda dotada de ranço católico, não muito diferente do inseguro "Kardec" das profundezas das trevas roustanguistas:

"Rogo-voz, como verdadeiro amigo, me interrogueis sobre os pontos que por ventura não puderdes aceitar, para que eu, com os elementos de que disponha no vosso médium, me faça melhor compreender, ou seja por vós esclarecido".

Ou então, submetendo a razão apenas aos "desígnios" do Deus católico:

"A caridade que exclui a razão, a prudência e o bom-senso - a verdadeira caridade - é instintiva! Assim, pois, o bem deve ser feito indistintamente, seja qual for o terreno em que houvermos de o praticar. Mas, nem o próprio bem pode excluir a nossa razão, quando, tratando-se da justiça de Deus, pretendemos contrariá-la".

Essa mensagem, que destoa violentamente da honestidade intelectual de Allan Kardec, deturpa até mesmo sua objetividade e simplicidade. Afinal, o verdadeiro Kardec admitia que poderia ser até contestado, mas exigia coerência de argumentos e firmeza da lógica, dentro de um debate em que o raciocínio questionador não dava margens às mistificações.

O pseudo-Kardec dessa mensagem, dada na Sociedade Espírita Fraternidade pelo suposto médium Frederico Júnior entre 1888 e 1889, portanto nos primórdios da FEB, mostra-se não só inseguro mas defensor do "anjo" Ismael - associado à introdução das ideias roustanguistas no Brasil - e que preferia Os Quatro Evangelhos a sua própria obra de Codificação.

"DR. BEZERRA"

O médico, militar e político Adolfo Bezerra de Menezes (1831-1900) foi presidente da FEB entre 1889 e 1890 e entre 1895 até o momento de seu falecimento, por conta de um derrame (hoje se conhece como acidente vascular cerebral, AVC).

De formação católica, Bezerra conheceu a Doutrina Espírita através do atalho errado de Roustaing, mais confortável para dissidentes católicos do que o cientificismo de Allan Kardec que lhes é complicado e desagradável. Ele havia defendido Roustaing em vida, e de suas palavras são ilustrativas, como registra Vida e Obra de Bezerra de Menezes, de Sylvio Brito Soares (Ed. FEB):

"...Eis aí que já apareceu Roustaing, o mais moderno missionário da lei, que em muitos pontos vai além de Allan Kardec, porque é inspirado como este, mas teve por missão dizer o que este não podia, em razão do atraso da Humanidade...Roustaing conforma o que ensina Allan Kardec, porém, adianta mais que este, pela razão que já foi exposta acima. É, pois, um livro precioso e sagrado, o de Roustaing".

Evidentemente, seus argumentos acerca do livro de Roustaing, autoproclamado, em seu pretensioso subtítulo, "A Revelação da Revelação", são extremamente ridículos, mas constam dos estatutos da FEB que determina a leitura obrigatória de Os Quatro Evangelhos.

Mas eis que, desde os anos 1960 e 1984, mensagens psicografadas atribuídas a Bezerra de Menezes, divulgadas por Chico Xavier, Divaldo Franco e pelo capixaba Júlio Cezar Grandi Ribeiro (único, dos três, a se declarar não-roustanguista), "recomendavam" a "fidelidade" a Allan Kardec, em que pese o leve tom religiosista de seus argumentos.

Uma das primeiras mensagens nesse sentido se intitula "Unificação", que teria sido divulgada por Francisco Cândido Xavier em 20 de abril de 1963, e que supostamente soa como uma ruptura do anti-médium mineiro com o roustanguismo:

"O serviço de unificação em nossas fileiras é urgente mas não apressado. (...) É urgente porque define objetivos a que devemos todos visar; mas não apressado, porquanto não nos compete violentar consciência alguma. Mantenhamos o propósito de irmanar, aproximar, confraternizar e compreender e, se possível, estabeleçamos em cada lugar, onde o nome do Espiritismo apareça por legenda de luz, um grupo de estudo, ainda que reduzido, da Obra Kardequiana, à luz do Cristo de Deus.

(...)

Seja Allan Kardec, não apenas crido ou sentido, apregoado ou manifestado, a nossa bandeira, mas suficientemente vivido, sofrido, chorado e realizado em nossas próprias vidas. Sem essa base é difícil forjar o caráter espírita-cristão que o mundo conturbado espera de nós pela unificação.

É indispensável manter o Espiritismo, qual foi entregue pelos Mensageiros Divinos a Allan Kardec, sem compromissos políticos, sem profissionalismo religioso, sem personalismos deprimentes, sem pruridos de conquista e poderes terrestres transitórios".

Já outra mensagem, também carregada de retórica tipicamente religiosa, própria do Catolicismo, foi divulgada por Divaldo Franco na inauguração da Campanha de Estudo Sistemático da Doutrina na Federação Espírita Brasileira, em 27 de novembro de 1983:

"É instante de definição de tarefas. Estudemos o Espiritismo e melhor viveremos o Cristianismo. Penetremo-nos do conhecimento Kardequiano para melhor sentirmos a palavra viva de Jesus.

E como Allan Kardec prossegue, hoje como ontem o mesmo que será amanhã, já que foram apresentadas as sete notas musicais da divina sinfonia da vida, ao homem cabe utilizar-se delas no campo da Doutrina Espírita para compor as melodias que enriquecem a Terra de beleza, promovendo o espírito humano.

Segui, adiante, conscientes das vossas responsabilidades com Cristo e Kardec, no cérebro e no coração, edificando pelas vossas mãos a Humanidade melhor, num mundo mais feliz por que todos anelamos.

Cristo e Kardec estão erguendo o homem do caos em que jaz para os píncaros da imortalidade.

Saudamos neste esforço, quando a Federação Espírita Brasileira se prepara para celebrar o seu primeiro Centenário de tarefas com o Cristo e Kardec (...)".

O discurso é carregado de expressões eruditas e sentimentalistas de tal forma que não é difícil desconfiar das intenções de Divaldo e Chico, tão entusiastas das ideias de Roustaing, de repente virarem a casaca e defenderem uma "fidelidade a Allan Kardec" sem no entanto romper com o religiosismo espiritólico.

"Kardequizar é a legenda de agora" tornou-se o aparente princípio dessa corrente, mas nota-se até mesmo o jargão católico "Cristo de Deus". Kardec é defendido mais como líder religioso, e as apelações mais parecem de caráter sentimentalista que, na prática, nada contribuem para a verdadeira recuperação das bases doutrinárias do pedagogo de Lyon.

Não seria Kardequizar uma corruptela de Catequizar? E que propósito vieram os antigos roustanguistas a defender a "volta às bases de Kardec", se nada disseram a respeito da preocupação com seus ensinamentos, antes descrevendo vagamente as qualidades do professor francês?

Até que ponto eles defendem o "kardecismo"? Seria uma reação ao poder centralizado da FEB roustanguista? Seria para tentar agradar amigos divergentes como Herculano Pires e Carlos Imbassahy? Seria porque Roustaing pegou pesado demais na tese do Jesus "fluídico" que trai até mesmo muitas correntes católicas, sobretudo com relação ao martírio do mestre judeu?

A "adesão" de Divaldo Franco e Chico Xavier, entre outros, à "campanha por Kardec" parece mais tendenciosa que espontânea. O tal "O Amor de Jesus e a Verdade de Kardec" não parecem sugerir uma revalorização das teses espíritas originais, mas antes a apropriação de Allan Kardec e a ocultação de Jean-Baptiste Roustaing para adotar um roustanguismo light.

Ainda estamos estudando qual o fator definitivo disso, mas temos pistas que foram aqui descritas. A própria FEB já recomendava o estudo de Allan Kardec, desde que não confrontasse com a "essência" de Roustaing.

Com o tempo, apenas os pontos mais graves da ideologia roustanguista foram abandonados, mas a essência de Os Quatro Evangelhos foi preservada até hoje e o livro continua sendo publicado inteiramente, apenas deixando os "pontos polêmicos" inteiros mas sem qualquer apologia a respeito.

Atualmente, o "espiritismo" brasileiro se configura num roustanguismo moderado, em que o nome de Jean-Baptiste Roustaing é quase sempre evitado, dando a impressão de sua ideologia ser um caso superado.

Atribui-se as ideias roustanguistas, hoje, às adaptações feitas a partir de Chico Xavier e, tendenciosamente, às interpretações "moderadas" de Allan Kardec feitas através de traduções da FEB. Na essência, todo o catolicismo surreal de Roustaing foi mantido, sem os pontos escandalosos, mas fundamentados no misticismo sobrenatural e no moralismo religioso aliados a um grosseiro pedantismo pseudo-científico.

sábado, 25 de outubro de 2014

Suposto Humberto de Campos "fala" como Chico Xavier em livro 'Crônicas do Além-Túmulo'

A FEB NÃO TERIA GOSTADO DAS CRÍTICAS DE HUMBERTO DE CAMPOS A PARNASO DE ALÉM-TÚMULO E REAGIU SE APROPRIANDO DO NOME DELE, ATRAVÉS DE CHICO XAVIER.

Observando os aspectos ocultos do "movimento espírita", suas atividades e seus totens, nota-se que há muita coisa grave por trás desse turbilhão de palavras bonitas e do religiosismo exacerbado que desviou o Espiritismo que é feito no Brasil da rota segura de Allan Kardec.

A questão da espiritualidade foi deturpada, distorcida ou mesmo negligenciada em prol de um propagandismo religioso, em que palavras como "amor", "fraternidade" e "luz" são tão frequente quanto levianamente pronunciadas. É Evangelho demais e pesquisas sobre a vida espiritual de menos.

Lendo o livro Crônicas de Além-Túmulo, de 1937, um dos primeiros atribuídos ao autor de O Brasil Anedótico e cartão de visitas para o dito autor de Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, obra lançada no ano seguinte, nota-se que o ranço dos textos do "espírito Humberto de Campos" na verdade guardam um "sotaque" mesclado entre o carioquês febiano e o mineiro chiquista.

Só a partir do prefácio, intitulado "Ao Leitor", e alguns de seus primeiros capítulos, a começar pelo tendenciosamente intitulado "De um casarão de outro mundo", dá para perceber que, embora a primeira impressão de alguns apreciadores vagos da obra de Humberto de Campos aponte alguma semelhança da obra "mediúnica" em relação à original, uma observação cautelosa a desfaz.

Toda imitação busca semelhança em relação à fonte original. A intenção da imitação é de se passar pela fonte, o que, até certo ponto, se identificam semelhanças entre o falso e o verdadeiro que, em certos casos, convencem tranquilamente. O que não significa que o falso, por parecer com o verdadeiro em certos aspectos, possa ser, por isso mesmo, realmente verdadeiro.

Nota-se, de um lado, argumentos típicos das palestras e depoimentos deixados por Francisco Cândido Xavier, e, de outro, alguma erudição a mais que pode ter sido fruto de uma colaboração dos doutos editores da Federação "Espírita" Brasileira.

Os textos são muito sisudos e religiosos demais para o estilo que Humberto de Campos deixou em vida. E, no préfácio, alegando a tese de que poucos intelectuais na Terra podem admitir que escritores possam lançar livros depois de "mortos" e que ele mesmo era cético quanto a isso, o suposto autor espiritual compara a espiritualidade com a audácia dos navegadores portugueses.

Ele cita o caso de Medeiros e Albuquerque e Coelho Neto, famosos escritores da época e contemporâneos de Humberto, que teriam aderido à apreciação da espiritualidade como os antigos navegadores portugueses ao "descobrimento" do Brasil, antecipando a euforia ufanista de Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho:

"Apegando-me ao resignado materialismo dos meus últimos tempos, desalentado em face dos problemas transcendentes do além-túmulo, não tive coragem de enfrentá-los, como, um dia, fizeram Medeiros e Albuquerque e Coelho Neto, receoso do fracasso de que deram testemunho, como marinheiros inquietos e imprudentes, regressando ao porto árido dos preconceitos humanos, mal se haviam feito de vela ao grande oceano das expressões fenomênicas da Doutrina, no qual os espíritas sinceros, desassombrados e incompreendidos, são aqueles arrojados e rudes navegadores da Escola de Sagres que, à força de sacrifícios e abnegações, acabaram suas atividades descobrindo um novo continente para o mundo, dilatando as suas esperanças e santificando os seus trabalhos".

Em seguida, o suposto Humberto de Campos, a pretexto de se desfazer das dúvidas que teve em vida com o livro Parnaso de Além-Túmulo - a obra de "pureza originária" que foi remendada cinco vezes em duas décadas - , alegou ser um livro que "prova" a identidade com os estilos que os supostos poetas expressavam em vida:

"Em 1932, um dos meus companheiros da Academia (Brasileira) de Letras solicitou minha atenção para o texto do Parnaso de Além-Túmulo. As rimas do outro mundo enfileiravam-se com a sua pureza originária nessa antologia dos mortos, por meio da mediunidade de Francisco Cândido Xavier, o caixeiro humilde de Pedro Leopoldo (MG), impressionando os conhecedores das expressões estilísticas da língua portuguesa. Por minha vez, procurei ouvir a palavra de Augusto de Lima, a respeito do fato insólito, mas o grande amigo se esquivou ao assunto, afirmando: 'Certamente, entre as novidades de minha terra, Pedro Leopoldo concorre com um novo barão de Münchausen'".

Note-se que, na conversa com o escritor e colega na ABL, Antônio Augusto de Lima, o suposto espírito descreve um suposto comentário de comparação entre Chico Xavier e o conhecido aventureiro alemão Karl Friedrich Münchausen, o Barão de Münchausen, conhecido pelos seus relatos que misturavam detalhes reais com outros bastante fantasiosos, biografia que inspirou uma produção cinematográfica nos anos 80.

No decorrer do livro, o suposto Humberto, carregado de muito religiosismo, numa das primeiras campanhas de proselitismo religioso em larga escala do "espiritismo" da FEB, descreve a aparente despretensão nas questões de registro autoral, além de realçar a aparente humildade de Chico Xavier, dentro da perspectiva conformista das "renúncias e abnegações santificadoras".

Note-se também que o suposto Humberto não pretendia enviar os textos para a livraria do amigo José Olympio (a histórica José Olympio Editora), para evitar "incômodos", que até ocorreram, como o caso do processo judicial movido pelos herdeiros do escritor contra Chico Xavier. Os comentários do suposto Humberto seriam repetidos depois em mensagem publicada pelo livro A Psicografia ante os Tribunais, de Miguel Timponi, advogado da FEB:

"Desta vez, não tenho a necessidade de mandar os originais de minha produção literária a determinada casa editora, obedecendo a dispositivos contratuais, ressalvando-se a minha estima sincera pelo meu grande amigo José Olympio. A lei já não cogita mais da minha existência, pois, do contrário, as atividades e os possíveis direitos dos mortos representariam séria ameaça à tranquilidade dos vivos".

 Evidentemente, a "ameaça à tranquilidade" descrita seriam os debates e questionamentos quanto à veracidade dos textos ditos mediúnicos produzidos no Brasil, quase todos dotados de proselitismo religioso por meio do qual podem destoar até da natureza da personalidade de cada falecido, desde que mantenham os tais "recados fraternais".

Daí que, na chamada mediunidade brasileira, vale tudo, até mesmo o roqueiro Chorão mandando mensagem escrevendo que nem vigário de igreja do interior, em clara contradição com o estilo rebelde que marcou a vida do finado cantor do Charlie Brown Jr.

Humberto de Campos teria sido usado pelos dirigentes da FEB, por intermédio de Chico Xavier, porque a cúpula da federação não gostou dos comentários um tanto céticos e irônicos que o escritor de O Brasil Anedótico, no final da vida, havia feito da discutível antologia poética "espiritual", que do contrário que descreveu "o espírito de Humberto", não era muito bem visto pelos renomados estudiosos literários.

Pelo contrário, mesmo comentários menos negativos como os de Agripino Grieco e Monteiro Lobato sobre Parnaso de Além-Túmulo, erroneamente vistos pela FEB como "comprovações" da mediunidade de Xavier, eram na verdade relatos de dúvidas que, só por não negarem uma tese, não quer dizer que necessariamente afirmem seu contrário, alvo de igual ceticismo.

Os escritores simplesmente estavam em dúvida quanto à obra de Xavier. Não negavam nem afirmavam, daí que, por não negarem, não significa que eles houvessem afirmado, já que em relação à tese da veracidade mediúnica eles eram igualmente céticos. A própria lei, que em 1944  julgou "improcedentes" as ações judiciais dos herdeiros de Campos, foi na mesma postura.

O ceticismo, no entanto, se volta para a tese contrária, já que a obra do "espírito Humberto de Campos" é carregada de igrejismo piegas e fantasias infantis e sentimentaloides que o escritor maranhense nunca tinha nem teria escrito em vida, e que se assemelha em muitas partes com o discurso de Xavier em seus depoimentos, apenas "aperfeiçoado" pelos editores da FEB.

O Barão de Münchausen teria sido bem mais realista.

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

O oportunismo de Chico Xavier e Divaldo Franco


Divaldo Franco e Chico Xavier são dois exemplos típicos de anti-médiuns, que usaram de suas limitadíssimas habilidades mediúnicas - praticamente só se comunicavam com antigos militantes católicos (tendo sido Emmanuel o antigo Padre Nóbrega, mas Joana de Angelis não teria sido Joana Angélica) - para estabelecer seu estrelismo que prejudicou seriamente a Doutrina Espírita.

Só o que os dois fizeram de nocivo à Doutrina Espírita, subvertendo de maneira negativa a função discretíssima e meramente serviçal do verdadeiro médium, a ponto de se tornarem dublês de pensadores com suas "filosofias" baratas, é algo que deveria deixar qualquer um estarrecido e apavorado. Mas não deixa. Por quê?

Porque no Brasil existe aquela mania chamada condescendência. Se o sujeito é farsante, mas é dotado de uma fala envolvente e um carisma incrível, ele é visto como honesto. Nem mesmo as ações judiciais se voltam contra ele. Na política, nota-se a facilidade com que políticos corruptos, como Fernando Collor e Beto Richa, atraem votos nas urnas e saem vitoriosos.

Até nas práticas de bullying nas escolas, a condescendência era quase total. Os valentões atraíram muitos aliados e seguidores, e os tristes espetáculos de humilhações contra jovens inocentes mas pouco inclinados às convenções sociais mais rijas, infelizmente, eram respaldados por gente de perfil neutro, mas que se divertia com tais "brincadeiras", rindo junto com o valentão.

Se não tivessem sido as ocorrências policiais, em que vítimas de bullying se suicidavam ou provocavam chacinas por vingança contra as humilhações recebidas antes, essa prática teria continuado nas mesmas humilhações graves respaldadas por plateias desavisadas que riam muito sem ter noção do "espetáculo" a que assistiram.

No Brasil, a mentira tem pernas curtas, mas usa muletas longas. Pessoas que cometem crueldades diversas,das docilmente maliciosas às mais abertas agressões, chegam a ficar anos e anos com êxito, e se não fossem os traidores ou traídos que aparecem no caminho das disputas por privilégios maiores, eles não seriam denunciados ou desmoralizados por antigos parceiros que se sentiram lesados.

No caso religioso, nota-se que nos EUA é mais fácil banir o charlatanismo religioso do que no Brasil. Ou então no Reino Unido, onde se chegou a barrar o expansionismo da Igreja Universal do Reino de Deus proibindo a instituição de adquirir certos prédios ou casas históricas.

No Brasil em que Ricardo Teixeira não pode ser investigado pela Justiça nacional, faz sentido que as fraudes e irregularidades em torno do "espiritismo" brasileiro sejam vistas com relativismo e condescendência por seus adeptos, que ainda se acham ao luxo de dizer que se sentem "apavorados" quando se acusa seus ídolos de cometerem charlatanismo.

Nota-se que Divaldo e Chico obtiveram uma espécie de reputação pétrea, aparentemente inabalada por denúncias de seus erros graves, mesmo quando se sabe que os dois foram os que mais prejudicaram a Doutrina Espírita, porque emprestavam seus carismas a uma série de irregularidades e desvios doutrinários diversos.

Como é que os dois, formados numa cartilha roustanguista - apesar de Divaldo alegar que "nunca leu" ou "não teve tempo" para ler Os Quatro Evangelhos de Jean-Baptiste Roustaing - , teriam, no auge da crise da FEB, largado o barco para pegar carona nos que reivindicavam o retorno às bases de Allan Kardec?

Que vantagens pessoais não estariam em jogo por trás dessas duas figuras que, lá pelos anos 80, vendo o barco roustanguista da FEB perfurado por crises sucessivas, tentaram agradar os militantes que cobravam a maior proximidade possível da federação com o pensamento de Allan Kardec?

Católicos, Divaldo e Chico nunca se inclinaram genuinamente para as ideias de Kardec. Desvirtuaram até mesmo o sentido de médium, que era o intermediário, o "canal" entre a pessoa falecida e o mundo dos vivos, não o "astro principal" para o qual nem os recados dos entes mais saudosos têm mais serventia, pois basta qualquer um se passar pelo morto da vez e mandar uma "mensagem de amor".

Eles são apenas embelezadores de palavras, as palavras desencarnadas tão doces quanto o delicioso bombom na boca de um diabético, com uma doçura tão nociva que mata. Por trás dessas lindas palavras, faladas de forma mansa e tenra, desvia-se das ideias mais elementares que o pedagogo de Lyon, com seus sacrifícios individuais, tão duramente pôde analisar e desenvolver.

Divaldo e Chico foram péssimos alunos do professor Kardec, ótimos oradores que no entanto desconheciam até do mais básico das obras básicas. Recheavam seu vazio de ideias kardecistas com todo uma retórica igrejista, moralista, um pretenso eruditismo, uma falsa simplicidade de gestos, um respaldo direto ou indireto nos atos menos honestos.

A eles se associam plágios literários ou falsetes pseudo-psicofônicos, não bastassem os desvios drásticos do caminho da Codificação kardeciana. Eles se perderam no caminho das ideias de Kardec, e não havia como crer que eles estivessem empenhados sinceramente na campanha pela fidelidade à Doutrina Espírita.

Eles foram beneficiados pelas manobras feitas no auge da crise do roustanguismo na FEB, nos anos 70, em que o "movimento espírita" passou a ser desenhado - ainda falta descobrir definitivamente como isso se deu - para ser um "roustanguismo light com Kardec".

Com isso, permaneceu o igrejismo de Roustaing mas sem a evocação de seu nome - que virou tabu na Igreja Espírita - , enquanto Allan Kardec passava a ser alvo de bajulações e todo o religiosismo espiritólico era camuflado com falsas apreciações de assuntos científicos, não raro misturados com esoterismo de terceira categoria.

Sabe-se, portanto, que Xavier e Franco foram espertos o suficiente para driblarem os efeitos da crise roustanguista sobre eles, passando a defender uma suposta proximidade a Allan Kardec, mas dentro de seus limites ideológicos igrejistas dissimulados pelo pedantismo pseudo-científico.

Com isso, os dois dificultaram completamente a ampliação e popularização dos estudos originais de Allan Kardec, que foi deturpado sem piedade por conceitos católicos retrógrados, vindos do jesuitismo, que nem a Igreja Católica hoje tem a coragem de assumir e apreciar de forma convicta.

Perdemos muito com o Espiritolicismo, e os dois anti-médiuns fizeram todo o trabalho errado, apesar de sua aparente "filantropia", e os estudos das descobertas divulgadas por Kardec, que poderiam se expandir nas pesquisas científicas, se estagnaram no moralismo religioso e no misticismo, não trazendo benefícios reais para a população.

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Pistas sobre a "decadência" de Roustaing no "movimento espírita" brasileiro


Diante das eventuais campanhas de botar na conta de Allan Kardec todo o religiosismo viscoso do "movimento espírita" brasileiro, ficamos perguntando por que Jean-Baptiste Roustaing, o deturpador da Doutrina Espírita tão querido pela FEB, de repente passou a ser descartado como se tivesse sido hostilizado pelos seus antigos e apaixonados defensores.

O estranho viracasaquismo de alguns dirigentes - e não se fala de Luciano dos Anjos, roustanguista radical que teve a coragem de mudar de lado - e a suposta defesa da fidelidade a Allan Kardec, sem abrir mão no entanto das convicções religiosas, requer uma investigação bastante cuidadosa.

Antes que possamos levar adiante a nossa investigação sobre esses bastidores, vale aqui trazer ao público algumas pistas do que poderia ter sido a crise do roustanguismo, que teria atingido o ponto limite entre 1973 e 1975, época dentro da qual faleceu o antigo presidente da FEB, Antônio Wantuil de Freitas, que havia sido um dos chefões da entidade.

PODER CONCENTRADO DA FEB

Durante muito tempo a Federação "Espírita" Brasileira esteve surda aos interesses e direitos das entidades "espíritas" regionais, estabelecendo suas decisões de caráter nacional sem consultar as lideranças estaduais e sem dar a elas sequer um direito de voto.

Talvez esse poder concentrado e centralizado da FEB, que detinha a supremacia de sua orientação ideológica, baseada na defesa radical de Roustaing, pudesse ter provocado uma crise e uma série de conflitos de interesses de lideranças regionais contra as lideranças nacionais.

PONTOS EXTREMAMENTE POLÊMICOS DE ROUSTAING

Provavelmente, o que também pode ter provocado a crise é a antiga polêmica extrema trazida pelos volumes de Os Quatro Evangelhos, em que Roustaing defende três pontos absurdos que vão contra a lógica mais elementar da realidade espiritual.

Primeiro, é a tese do Jesus "fluídico", que não teria tido corpo físico, teria nascido da "virgindade" de Maria e não teria sofrido as dores de seu martírio na cruz. Embora ainda haja defensores dessa tese, ela provocou uma séria crise quando a tese é confrontada com as análises de Kardec, que desmentem a hipótese de Roustaing.

Segundo, é a tese do retrocesso do espírito. Se um espírito falhou em uma encarnação, ele regride na encarnação seguinte. É uma interpretação equivocada da necessidade de espíritos que reencarnam experimentarem condições sociais atrasadas para desenvolver progresso espiritual, pois neste caso o espírito não regride, apenas reforça seu aprendizado conhecendo situações de atraso.

Terceiro, é a tese dos insólitos "criptógamos carnudos", que é a "possibilidade" dos espíritos humanos reencarnarem até mesmo como lesmas ou micróbios, ou talvez até mesmo como glóbulo branco no sangue do seu inimigo. A tese torna-se absurda, na medida em que, sendo animais racionais, humanos não poderiam reencarnar em seres irracionais ou mesmo em invertebrados ou micróbios.

HESITAÇÕES E OUTROS PROBLEMAS DO ASTRO CHICO XAVIER

O que pesou também é em relação ao maior astro do "espiritismo" brasileiro, o anti-médium Francisco Cândido Xavier, que se envolveu em sérios problemas que quase puseram a perder a reputação do "movimento espírita", tamanhos os escândalos e controvérsias.

Xavier havia aderido ao roustanguismo, mas sujeitou-se à exploração da FEB, o que, diante de sua popularidade e fama, o fez hesitar diante de pressões contraditórias de amigos de vários lados, seja José Herculano Pires ou Antônio Wantuil de Freitas.

Isso fez com que o já muito contraditório Chico Xavier - contraditório demais para ser considerado líder de qualquer coisa - hesitasse muitas vezes na sua postura roustanguista, embora sabemos que, na prática, ele sempre foi fiel às ideias de Roustaing, talvez só ficando um tanto temeroso em se assumir admirador do advogado de Bordeaux.

Ele era mineiro, vindo portanto de um outro Estado brasileiro, o que poderia ter sido uma espécie de vitrine para as entidades espiritólicas regionais, mas era também símbolo do poder nacional da FEB e seu principal propagandista.

Em várias obras, Chico Xavier ora endeusava Roustaing ou, ao menos, exaltava suas ideias, mas em outras, ele tentava cortejar Allan Kardec, como se prometesse fidelidade a este, mas expressando um religiosismo impróprio do professor lionês.

NECESSIDADE DE INVESTIGAÇÃO

Portanto, a crise do roustanguismo é um tema que deveria voltar à tona. Afinal, o problema não se resolveu quando, aparentemente, Roustaing foi deixado de lado. Pelo contrário, ele se agravou quando a suposta reabilitação de Allan Kardec tornou-se pretexto para manter o religiosismo sem que fosse preciso recorrer à figura do autor de Os Quatro Evangelhos.

Os jogos de interesses, as intrigas e os escândalos necessitam de maior análise e pesquisa, recorrendo a fatos antigos que, embora aparentemente superados, podem explicar por que o roustanguismo foi teoricamente deixado de lado, mas na prática mantido em quase toda sua essência.

terça-feira, 21 de outubro de 2014

A dependência psicológica dos espíritas críticos a Chico Xavier e Divaldo Franco

CHICO XAVIER E DIVALDO FRANCO, DURANTE UM EVENTO "ESPÍRITA".

Há uma preocupante situação, mesmo nos setores mais críticos dos espíritas, aqueles que se mobilizam para manter a maior fidelidade possível às ideias de Allan Kardec, que tendem a uma postura condescendente às figuras dos anti-médiuns Chico Xavier e Divaldo Franco.

Juntos, os dois fizeram mais do que Jean-Baptiste Roustaing na deturpação da Doutrina Espírita e no afastamento das lições originais de Allan Kardec, de tal forma que soa muito estranho que haja setores do Espiritismo que preguem a fidelidade ao professor lionês e a apreciação dos dois anti-médiuns.

Carregados de religiosismo conservador, Chico e Divaldo transformaram o Espiritismo num espetáculo, num mero entretenimento a adoçar a emotividade das pessoas, enquanto se diziam pedir maior respeito à doutrina de Kardec, eles que são os primeiros a desrespeitá-la.

Através dos dois, o Espiritismo do Brasil foi distorcido e adulterado de tal forma que hoje as pesquisas em torno das comunicações espirituais foram paralisadas, porque não há um incentivo grande. Outras pessoas, a partir dos exemplos dos dois senhores - ultimamente, de apenas um deles - , brincam de se comunicar com espíritos, usando suas fantasias igrejistas.

Muito se fala em favor da ciência, muitas vezes interpretando seus ramos de conhecimento de forma confusa e delirante, ou de forma pedante e superficial. É muito fácil ilustrar textos de periódicos e anúncios de seminários ditos "espíritas" com figuras da anatomia humana ou de cenários cósmicos.

O maior problema que existe no Brasil, e não é exclusivo do "espiritismo" que é feito aqui é uma visão viciada que confunde desinformação com originalidade. Tornamo-nos não portadores de uma leitural local, quando distorcemos as novidades de fora e desviamos de sua essência original. Estamos nos tornando, sim, provincianos.

Sempre somos tentados a aceitar penetras em uma festa. O cara não foi convidado e não quis ir, mas depois que a festa acontece ele vai, se infiltra em algum acesso, e quando damos conta, ele está dentro do ambiente e, de tanto chamar a atenção, torna-se o "dono da festa".

E aí, quando queremos recuperar o sentido original das coisas, aceitamos manter diluidores que ainda gozam de alta reputação. Temos medo de contestá-los, primeiro pela alta popularidade que possuem, segundo porque eles diluem com algum senso de esperteza, de tal forma que eles tentam vincular suas imagens à causa original, que eles foram os primeiros a se afastarem de sua essência.

Daí esse medo, que tem muito com o temor da perda de alguma visibilidade, prestígio ou mesmo dinheiro. Medo de desagradar as pessoas. Medo de perder vantagens pessoais. Daí a mania brasileira de diluir as novidades, as novas causas, num suposto "meio-termo" entre o velho e o novo, num equilíbrio de aparência que mostra desequilíbrio na essência.

Isso cria consequências ruins. Se queremos resolver a deturpação de uma causa nova, mas mantivemos os maiores diluidores imunes a críticas e repulsas pesadas, mantendo-os na esperança de nos ajudarem a recuperar a causa na sua essência original, o efeito soa exatamente o contrário.

A causa original apenas é precariamente recuperada, com alguma brecha aqui e ali, alguma promessa de melhorias futuras, e uma certa condescendência conciliatória, em que mestres pioneiros e diluidores mais prestigiados se "aguentam" em prol de uma aliança que pretende "equilibrar" a situação diminuindo o grau de diluição e assimilando um pouco mais a essência original.

Ele não ocorre sem tensões. Afinal, os diluidores mantém-se de pé, e o interesse deles é que a causa original seja mesmo deturpada. As tentativas de recuperação ficam comprometidas, sendo elas superficiais, confusas, contraditórias.

No "espiritismo" brasileiro, é o que se nota quando os científicos, que são a corrente que prega a fidelidade máxima às ideias de Allan Kardec (o que não impede uma adaptação brasileira dentro dessas condições), parecem complacentes com as atitudes de Chico Xavier e Divaldo Franco.

Eles continuam prevalecendo, com todo seu religiosismo, tudo porque eles personificam estereótipos que reúnem aspectos díspares porém convergentes como velhice, experiência, humildade e erudição. Ninguém quer tirá-los de seus pedestais, mesmo admitindo que eles "até erraram muito".

Mas aí o grave prejuízo é que, em vez de recuperarmos as bases doutrinárias, criamos um "roustanguismo sem Roustaing" e um "kardecismo com Chico Xavier", fazendo do Espiritismo que é feito no Brasil uma doutrina esquizofrênica e maluca.

A dependência psicológica dos críticos do "espiritismo" febiano aos seus maiores astros só faz com que o caminho da doutrina não se volte totalmente às bases de Kardec, mas permanecesse num meio caminho entre um cientificismo razoavelmente apreciado e um religiosismo ainda exaltado.

De que adianta ler as traduções das obras kardecianas por Herculano Pires e pedirmos maior cobertura de temas científicos, se num dado momento o coração amolece, os instintos se afrouxam e vem a tentação de darmos ouvidos às palavras de Emmanuel ou atribuídas a André Luiz?

Se reagirmos com indignação aos "criptógamos carnudos" de Roustaing mas sentimos fascínio por supor haver gatinhos e cachorrinhos fofinhos e pássaros graciosos no mundo espiritual, então de nada adiantou reclamar fidelidade a Kardec, se continuamos o traindo pelas costas.

Por isso é que, mantendo Chico Xavier e Divaldo Franco na reputação espírita é reafirmar o afastamento das bases doutrinárias, porque os dois simbolizam a deturpação, a falta de firmeza e tantos erros e fraudes cometidos sob o rótulo de espiritismo. Não podemos acender a vela para dois senhores: ou fiquemos com Kardec, ou com Chico e Divaldo. Com dois lados juntos, não dá.

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

A "inculturação" como método do "movimento espírita" brasileiro

PADRES JESUÍTAS JOSÉ DE ANCHIETA E MANUEL DA NÓBREGA (EMMANUEL) TENTAM CATEQUIZAR OS ÍNDIOS NA ATUAL UBATUBA, EM SÃO PAULO.

Sabemos que o "espiritismo" brasileiro tem bases católicas. E, mais grave ainda, ele se fundamenta no Catolicismo feito em Portugal, implantado no Brasil colonial e ainda dotado de conceitos e procedimentos medievais, havendo relatos de prática de Inquisição feitos ainda no século XVIII, quando EUA e França avançavam em novos movimentos políticos e filosóficos.

A tradição católica apenas criava dissidências, porque ninguém aguentaria uma ideologia reacionária demais por tanto tempo, e as ideias de Allan Kardec foram, a princípio, parcialmente adotadas por alguns de seus simpatizantes que, todavia, tão cedo abandonaram o pedagogo para abraçar apaixonadamente os ideais místico-moralistas do religiosismo de Roustaing.

O "espiritismo" brasileiro apenas abria mão dos excessos cometidos pelo Catolicismo medieval e pelo seu mais fechado misticismo ritualístico e dogmático. A ideia do "movimento espírita" não era trancar seus adeptos em mosteiros ou promover o trabalho sacerdotal, mas a aproveitar os ideais católicos "à paisana", sem o fardo da batina e sem os ritos rígidos do religiosismo radical.

Neste sentido, a ojeriza à ciência seria amenizada pelos "espíritas" em relação ao Catolicismo medieval. Em vez da condenação furiosa às atividades científicas, adotava-se uma atitude mais "respeitosa": a ciência era "apreciada", desde que não afetassem as crenças, ritos e dogmas do "espiritismo" de moldes católicos.

Havia até mesmo arremedos de ciência e evocações de personalidades, fatos e ideias relacionadas ao mundo científico pelo "movimento espírita" brasileiro. De repente, até biografias de cientistas eram evocadas "à luz do Espiritismo", evidentemente com todos os preconceitos de ordem espiritólica embutidos em seus textos.

A prática que se observa de mais típica no "movimento espírita" brasileiro é a chamada "inculturação", uma prática trazida pelos padres e missionários da Companha de Jesus no Brasil colonial e destinada a "converter" os povos indígenas ao Catolicismo português.

A "inculturação" tornou-se uma prática brasileira, vista até em emissoras de rádio FM supostamente dedicadas ao rock, em que a cultura dos roqueiros é introduzida mas diluída em uma linguagem convencionalmente pop e das mais tolas, não apreciada pelo público roqueiro, enfraquecendo a cultura roqueira através do domínio dessa mentalidade pop tradicional.

COMPANHIA DE JESUS TEVE QUE "VOLTAR PARA CASA", APÓS TERREMOTO PORTUGUÊS DE 1755

A "inculturação" é uma forma do "estabelecido" absorver "novidades" para reciclar e ampliar seus domínios. Os jesuítas aprendiam e apreendiam elementos culturais indígenas e passaram a conhecer até mesmo os idiomas indígenas, dos quais o tupi-guarani chegou a ser o idioma falado em todo o Brasil, tendo sido o nosso primeiro idioma oficial.

No entanto, essa adaptação não é gratuita. É, na verdade, um fator tendencioso. Serve como uma espécie de isca para fazer com que o dominador, supondo-se adaptado às crenças e costumes dos dominados, reafirme seu domínio por trás dessa manobra, inserindo nos dominados suas crenças, através da confiança trazida pela suposta adaptabilidade.

Melhor dizendo: é como se o chefe brincasse de se comportar como seus subordinados, atraindo a eles confiança e fazendo com que estes se tornem cada vez mais submissos, através da falsa identificação de comportamentos. Não é uma cumplicidade, mas uma troca de interesses, quem detém o poder finge que se rendeu à cultura de seu dominado para atrai-lo e fortalecer os vínculos de poder.

Não por acaso, o "movimento espírita" brasileiro atraiu espíritos de muitos padres, freiras, párocos, sacerdotes, missionários e toda a multidão católica que, frustrada, lá no além, com as notícias do fim dos trabalhos da Companhia de Jesus, no Brasil colonial, viam no "espiritismo" brasileiro uma forma de renovar os trabalhos jesuítas dentro de novos contextos.

Sabe-se que a Companhia de Jesus, no final do século XVIII, muito tempo após os falecimentos de José de Anchieta e Manuel da Nóbrega, teve que encerrar atividades no Brasil por ordem do primeiro ministro português Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal, por ser uma atividade muito cara para a coroa portuguesa.

O Marquês de Pombal havia adotado uma política austera de corte de gastos, uma vez que Portugal sofreu um violento terremoto que atingiu o país em 1755, entre 7,5 e 9,5 pontos na escala Richter, condierados de alta intensidade, que causou também maremotos de 20 metros de altura, diversos incêndios e pelo menos 10 mil mortos, destruindo, entre outros lugares, quase toda a capital do país, Lisboa.

Daí a preocupação de Pombal com a recuperação portuguesa, dante de sucessivas crises sociais desde então e cujo povo ainda ficou irritado, a exemplo dos parlamentares portugueses, quando a aristocracia real deixou Portugal sem governo para se estabelecer no Brasil, num ato "heroico" para a historiografia oficial brasileira, mas uma covardia sem tamanho para a crônica social e política lusitana.

Com isso, os jesuítas "voltaram para casa", enquanto, nas orbes espirituais, os antigos jesuítas desencarnados estavam preocupados com a herança do Catolicismo medieval, com seus ritos, dogmas e crenças, deixada "órfã" na colônia brasileira.

SE APROPRIANDO DE ALLAN KARDEC

O gancho para o jesuitismo redivivo do "movimento espírita" brasileiro se justifica pelo fato de que dissidentes católicos quererem recuperar a essência do Catolicismo medieval, que havia se "adaptado" ao legado indígena, desta vez aproveitando uma novidade trazida da França.

Allan Kardec, sabemos, codificou a Doutrina Espírita e promoveu um grande debate sobre ideias relacionadas à vida espiritual, não sem enfrentar pesadas polêmicas e até mesmo ataques violentos. Seu cientificismo, tão arrojado e avançado, não foi bem compreendido e a França foi tomada por um cenário político radicalmente católico que fez o kardecismo ser condenado ao esquecimento.

Paralelamente a isso, as ideias de Kardec foram deturpadas por seguidores que, sentindo a pressão católica, adaptaram aos poucos das ideias kardecianas ao religiosismo católico. De forma mais radical se deu a releitura do kardecismo por Jean-Baptiste Roustaing, que rompeu com muitos aspectos originais ensinados pelo pedagogo.

No Brasil, porém, essa regressão tornou-se muito fácil. O Catolicismo medieval era muito forte nas elites brasileiras, cujo conservadorismo era tão grande que o sistema escravista só foi superado, e ainda assim quase à força, em 1888, depois de mais de 60 anos de pressões externas contra tal prática.

Daí não ter sido muito difícil "amenizar" as ideias de Allan Kardec em prol de um religiosismo de moldes católico-medievais. Diluir uma novidade considerada indigesta é uma prática tipicamente brasileira, infelizmente. E o jeitinho brasileiro também fez muito para transformar a doutrina de Allan Kardec num engodo em que o Codificador é "respeitado" na teoria, mas desprezado na prática.

Os jesuítas "baixaram" no "movimento espírita" feito pombos voando sobre grãos de milho no chão. Eles viram a oportunidade de, a exemplo das antigas culturas indígenas, absorver uma novidade e trabalhá-la a seu gosto, reafirmando as relações de poder, antes exercidas apenas sobre os indígenas, hoje exercidas sobre aqueles que se declaram "espíritas" ou "espiritualistas" no Brasil.

Houve as escandalosas preferências a Roustaing, mas hoje o "movimento espírita" brasileiro seguiu um patamar "ideal" de um roustanguismo mais enxuto, sem polêmicas e com toda a bajulação necessária a Allan Kardec, acariciado pelas palavras "amorosas" dos "espíritas", como um professor que recebe uma maçã de um péssimo aluno a desprezar as mais preciosas lições do mestre.

domingo, 19 de outubro de 2014

Por que as profecias de Chico Xavier são equivocadas?


O sensacionalismo com que cerca o "movimento espírita" brasileiro, com toda a certeza, apela para surtos de pretensiosismo nas tentativas de julgar as pessoas - logo eles que pedem para os outros "não julgarem - e de prever o futuro, mostrando a arrogância de seus líderes e celebridades em quererem ser os "donos dos mortos" e os "senhores do tempo".

O "espiritismo" brasileiro há muito desviou-se do caminho seguro de Allan Kardec, esse professor tão bajulado, que recebe juras falsas de fidelidade e é evocado até para justificar e explicar aquilo que o mestre de Lyon nunca iria defender. O "espiritismo" brasileiro é, assim, hipócrita, porque beija a mão de Kardec e o apunhala pelas costas.

O que seus integrantes mais destacados fazem é um engodo que envolve desde moralismo religioso até previsões esotéricas, adotando o pior arremedo de ciência e fazendo com que um grupo de cidadãos seja tomado de estrelismo e de pretensão de estar com a verdade, mesmo sem declarar tal intento, mas ficando sempre com a última palavra, a pretexto de receber mensagens do além.

A "previsão" de Chico Xavier já é equivocada em diversos aspectos. Sabe-se que elas vieram desde 1969, diante da onírica e fantasiosa "reunião" dos "espíritos benfeitores" e Chico Xavier, algo tão verídico quanto as "viagens" que os jovens faziam em Woodstock, na mesma época.

Allan Kardec adverte, principalmente em livros como A Gênese e Obras Póstumas, que tentar prever o futuro é uma tarefa arriscada, já que o livre-arbítrio segue caminhos diversos, conforme as estruturas de privilégios e injustiças, benefícios e prejuízos, que se tornam imprevisíveis na humanidade.

Marcar datas para a ocorrência de fatos decisivos é muito complicado e nem sempre dá certo, e mesmo a alegação de Geraldo Lemos Neto de que Chico Xavier "preveu" o crescimento da Petrobras é risível, uma vez que a meta de crescimento da Petrobras era coisa que se desejava há tempos, seu crescimento não foi uma realização de uma profecia, mas fruto de um trabalho.

MÉTODO EQUIVOCADO

O próprio método de lançar previsões é equivocado, porque não há uma análise científica. Pode ter sido apenas um sonho de Chico Xavier, anunciado como se fosse uma "reunião", pois Chico tinha suas manias delirantes, ele idolatrava mortos precoces (como Humberto de Campos e Meimei) e se apropriava indevidamente do carisma deles, e via "profecias" em meros sonhos.

Chico, que falhava muito, errando, hesitando ou contradizendo, muito além da conta para ser chamado de líder de qualquer coisa, foi promovido, gratuitamente, a médium, filósofo, professor, profeta e cientista, sem possuir plenamente as habilidades a ele atribuídas oficialmente.

Empurrado para responsabilidades que no fundo era incapaz de assumir, só falta ele virar vice-deus, porque ele é praticamente visto como um semi-deus por seus adeptos. Um péssimo aluno de Allan Kardec, que seguramente definimos como ignorante no kardecismo, e cuja mitologia o impulsiona a ser até "senhor do tempo".

É só verificar o que é "previsto" no livro Não Será em 2012, de Geraldo Lemos Neto e Marlene Nobre, e no documentário indiretamente derivado Data Limite, Segundo Chico Xavier, de Fábio Medeiros, para que nós, com toda a segurança, contestemos Chico Xavier com inabalável firmeza.

Além de marcar datas certas para transformações, Chico se arroga de rogar aos países europeus, asiáticos e norte-americanos um futuro de catástrofes violentas, a ponto de fazê-las tornarem-se inabitáveis, transformando o problemático Brasil, ainda sofrendo muitos retrocessos de ordem política, econômica, cultural, moral etc, num "eldorado" do amanhã.

"PÁTRIA DO EVANGELHO" SUBENTENDE IMPÉRIO MEDIEVAL

O Brasil será o "reino de luz" da "provecia" xavieriana, sobrecarregando seu território com os exilados do Hemisfério Norte, mas por trás desse discurso melífluo há a intenção de transformar o Brasil num império prepotente, a "Pátria do Evangelho" como um eufemismo para um país tomado de mediocridade sócio, política e cultural, apegado a dogmas católicos medievais.

Ou seja, a mensagem subliminar as "previsões" de Chico Xavier, um católico ideologicamente conservador, revela que, na verdade, não haverá um progresso social com a ascensão do Brasil na comunidade das nações, mas tão somente a subordinação do Brasil a um religiosismo medieval - o "espiritismo" de bases jesuítas - e a supremacia desse religiosismo sobre o resto do mundo.

Mesmo a evocação de "avanços científicos" e "progressos culturais" são apenas formas de dizer que o "espiritismo" brasileiro, caso atinja a tão sonhada supremacia, coopte cientistas e intelectuais para seguirem um padrão de crenças, dogmas e procedimentos associados a aspectos moralistas, pragmáticos e de cunho teocrático, tecnocrático e politicamente oligárquico.

Com tais "previsões", Chico Xavier foi 100% fiel a Jean-Baptiste Roustaing redivivo, renascido nas ideias do "anjo Ismael", o "pai" do conceito de "Pátria do Evangelho". E foi 0% Allan Kardec, por ter arriscado marcar datas certas a longo prazo, através de um misticismo esotérico em que nada de critérios científicos são sequer cogitados, até porque seria impossível.

O futuro da sociedade não se move só por tempestades ou castigos morais. Se move pelos processos naturais e nem sempre conflituosos de ordem antropológica, sociológica, histórica e biológica. Mesmo muitos dos fenômenos violentos da Natureza são consequência dos interesses mesquinhos de lucro do ser humano, e se consequências são trágicas, não é por algum castigo de ordem divina.

O que há, por exemplo, são outros fatores. Se há erupção vulcânica, é porque o solo conta com idade geológica recente, que também provoca terremotos devido a suas falhas. Se há temporais acima do esperado, é porque o homem provoca tantas queimadas e desmatamentos que provoca reações químicas que possibilitam essas tempestades.

Chico, porém, queria atribuir isso à "fúria da Natureza", alter-ego do antigo "Deus punitivo" do Catolicismo medieval. Uma "fúria" pronta a "destruir o Velho Mundo" tal qual se queimavam hereges e livros e folhetos proibidos pela "Santa Igreja", em prol de um Catolicismo medieval redivivo pelo rótulo de "espírita" a promover a mundialização dos retrocessos que já ocorrem no Brasil.

Desse modo, haverá tecnocracia que desviará a ciência para preceitos autoritários de interesse privativo de "especialistas". Haverá a teocracia reciclada pelo "espiritismo" de moldes jesuítas. Haverá o pragmatismo de valores em que a qualidade de vida é limitada à mera sobrevivência biológica e um certo castramento moral movido pela fé cega mística e dominadora.

É isso que se move o "espiritismo" e as supostas "profecias" de um interiorano de Pedro Leopoldo, migrado depois para Uberaba, e que não teve os dons verdadeiros de promover ciência, filosofia, meteorologia, sociologia e outros ramos do conhecimento.

Chico era, tão somente, um católico de palavras dóceis que, pelos seus estereótipos ligados à humildade interiorana e, depois, da velhice, fez com que muitos de seus seguidores o idealizassem mais do que ele era, atribuindo a ele habilidades que ele não tinha.

Com toda a segurança, dizemos: as "profecias" de Chico Xavier não têm validade, porque são apenas um amontoado de apostas de ordem opinativa, mística, moralista e vindas provavelmente de um sonho, desses que qualquer pessoa tem quando dorme. E que, portanto, nada têm a ver com ciência nem com profecias autênticas sobre o futuro da humanidade. Professor Kardec o reprovaria na certa.

sábado, 18 de outubro de 2014

Brasil ainda não está pronto para "dominar o mundo"

POPULAÇÃO TENTA CORRER PARA SE PROTEGER DO TIROTEIO, NO RIO DE JANEIRO.

Se você vai ver o documentário Data Limite, Segundo Chico Xavier feliz da vida confiante que o Brasil será uma nação próspera e desenvolvida em breve, pode economizar seu dinheiro no cinema e ver um desenho animado na TV de sua casa, que é mais realista.

A realidade comprova que o Brasil está muito longe de virar uma potência social, cultural, política e econômica a comandar a comunidade das nações remanescentes do mundo, pois, a julgar pelo sonho de Chico Xavier e o recado que ele recebeu dos amiguinhos Emmanuel e Ismael, o Primeiro Mundo será dizimado pelos cataclismas, pelo terrorismo e outras tragédias.

Esqueçam a suposta profecia de Chico Xavier, também corroborada por Divaldo Franco, outro que tem a mania de marcar datas a longo prazo para ocorrência de qualquer coisa. A princípio médiuns de limitada habilidade, já que nem tudo que eles fazem de "mediúnico" o é de fato, Chico e Divaldo foram promovidos a filósofos, profetas, cientistas, meteorólogos, etc etc etc.

Tem gente que não está satisfeito com suas capacidades e quer ser muito mais. Até aí, é a coisa mais saudável do mundo. Mas o problema é quando alguém quer ir adiante sem vocação própria, apenas pela intenção de satisfazer suas vaidades pessoais às custas de meterem seus focinhos onde não é de suas especialidades.

No "espiritismo" brasileiro, observa-se essa fogueira das vaidades, nesse ambiente cujos membros se julgam os "donos dos mortos" e "senhores do futuro". É muito preocupante a obsessão totalitária do Espiritolicismo e sua indústria de "palavras de amor".

Eles estão confiantes com o fato de que o Brasil vai dominar o mundo. Acham até que tudo "está melhorando": o "funk", com sua lição de "cidadania", as "boazudas" mostrando "feminismo" com os glúteos, a "galera irada" dos "índigos" fazendo trolagem na Internet, Poderá voltar até a Banheira do Gugu, com as lições de "higiene" no banho e seus ensinamentos de "biologia" para as "crianças-índigo".

O Brasil sofre problemas sérios como a violência, os desastres ambientais - só na semana passada houve graves queimadas no Sudeste, atingindo três Estados e ameaçando residências - , as crises culturais, a intolerância social nas mídias sociais, as crises de valores etc etc etc.

É muito fácil, para os líderes do "espiritismo" brasileiro, com sua verborragia habitual a fazer os mesmos apelos católicos em prol de "amor e fraternidade", sobretudo com o falar rebuscado e macio de Divaldo Franco, remanescente dos dois médiuns-estrela a ludibriar os incautos, pedir para que "nos demos as mãos" para renovar os desígnios da "fraternidade cristã".

Se sofremos prejuízos e tragédias, os líderes "espíritas", com suas lágrimas de crocodilos, temperam sua insensibilidade ao nosso sofrimento com palavras lindas e "cheias de bênçãos", anunciando o "alvorecer de campos lindos de prosperidade e luz depois do anoitecer do sofrimento mais sombrio". Falar é fácil, diz o antigo ditado popular.

Não há previsão de que o Brasil possa se destacar na ciranda das nações. Até no grupo dos BRICS, dos cinco países econômicos emergentes (dos quais, além de nosso país, integram a Rússia, Índia, China e África do Sul), o que se viu foi a arrancada na dianteira da China, cujo exemplo econômico e educacional, apesar de seus defeitos, impulsionam também a ação dos "tigres asiáticos" (como Indonésia, Tailândia e Coreia do Sul).

Portanto, o tal "coração do mundo" é só desculpa para uma elite de religiosos com discurso bonitinho e com mania de falsa sabedoria fazerem lotar "centros espíritas" e atrair seguidores. Só que sabemos que o que eles querem é que o Brasil reviva o antigo Império Romano católico, na supremacia política e religiosa na chamada comunidade das nações.

Só que essa supremacia não representará progresso político e social, mas tão somente mais um domínio político a causar dores de cabeça na humanidade. Ainda mais diante de um quadro de sucessivos e aberrantes problemas que o Brasil enfrenta nos últimos anos.

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

"Movimento espírita" sonha em ver o Brasil como novo Império Romano

PINTURA MOSTRANDO OS CONFLITOS QUE CAUSARAM O FIM DO IMPÉRIO ROMANO.

O discurso subliminar das supostas profecias sonhadas por Francisco Cândido Xavier em 1969 e que corroboram as ideias escritas no livro Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, lançado cerca de três décadas antes da suposta reunião espiritual, revelam algo bastante nocivo e terrível desejado pelos "espíritos benfeitores" que cercam o "movimento espírita" no Brasil.

Por trás de adjetivos dóceis como "coração do mundo" e "reino de amor e luz", algo extremamente cruel é traduzido de vários aspectos das "profecias" de Chico Xavier, e que fornecem um doloroso presságio das intenções totalitárias e imperialistas da "doutrina de amor e luz" que ainda comove muita gente.

Verificando todos os discursos do livro atribuído a Humberto de Campos (mas que não é de autoria dele; Humberto NUNCA colaborou com Chico Xavier), a "reunião" sonhada por Chico e descrita no livro Não Será em 2012 (Geraldo Lemos Neto e Marlene Nobre) e no documentário Data Limite, Segundo Chico Xavier (Fábio Medeiros) e nas palestras de Divaldo Franco, constatamos o seguinte:

1) A intenção dos "espíritos benfeitores" é recuperar a supremacia do antigo Catolicismo medieval, redivivo nos ideais preservados pelo "movimento espírita" brasileiro, transformando o Brasil numa pátria com poder centralizado, num novo Império a escravizar outros povos e a exercer supremacia geopolítica, doutrinária e religiosa no planeta.

2) A "destruição do Velho Mundo" anunciada por Chico Xavier, independente de ser ou não uma metáfora, seria uma maneira de advertir o resto da humanidade para a supremacia futura da nação neo-católica brasileira, através da "elevação" do Brasil em "Pátria do Evangelho".

3) As expressões "Coração do Mundo" e "Pátria do Evangelho", que descem nos corações de muita gente feito um caldo de mel descendo pelo organismo, na verdade são eufemismos para um novo império católico e medieval a ser recuperado em solo brasileiro séculos após o fim do Império Romano.

Junte-se isso às "profecias" do livro de Jean-Baptiste Roustaing, Os Quatro Evangelhos - três volumes originais e quatro da edição brasileira da FEB - , que previam a "reunião" de diversos movimentos religiosos em prol de uma religião única, o Catolicismo redivivo pelo "espiritismo", e o anúncio de Chico Xavier sobre a reencarnação de Emmanuel, teremos outras constatações.

Vale aqui explicar sobre os rumores de que Emmanuel seria hoje, adolescente, um futuro educador a ser talvez presidente do Brasil em 2045. A julgar pelo que especulam "espíritas" nos últimos meses, é que ele poderá ser, nas intenções dos "espíritos benfeitores" que cercaram Chico Xavier em vida (Emmanuel incluído), ele seria o primeiro chefe do novo Império Romano a se fazer no Brasil.

Emmanuel não viveu o tempo de Jesus, fato comprovado com as grandes omissões e erros históricos que o historiador da UFRJ, Lair Amaro, identificou em vários livros ditados pelo espírito. Mas, com certeza, Emmanuel viveu um período do Império Romano na Idade Média, e podemos inferir que ele teria sido um colaborador da "Santa Igreja" numa encarnação desse período.

Daí ele ter se aproveitado de um texto apócrifo, a "epístola Lentuli", descartado pelos católicos ortodoxos, que foi publicado por volta do século XIII da nossa era, e depois republicado, com alterações, no século seguinte. Seria um roteiro para a imaginação de Emmanuel, fértil mas cheia de falhas, construir a sua fantasia de "senador romano" trazida a público a partir dos anos 1940.

O "Ermano Manuel" das atividades jesuítas estava duplamente indignado, na "pátria espiritual", tanto com a decadência do Catolicismo medieval quanto com o fim das atividades da Companhia de Jesus no Brasil, para cortar os gastos da coroa portuguesa, que no século XVIII investia na recuperação de Portugal, violentamente arrasado por um terremoto em 1755.

O "movimento espírita" brasileiro seria, então, uma seita destinada a renovar, aos poucos, a supremacia do Catolicismo medieval, não mais sob a roupagem da Igreja Católica, que passou por sucessivas reformulações ideológicas, criando até mesmo uma facção esquerdista, a Teologia da Libertação, a partir da reunião do Concílio II do Vaticano, realizado em 1962.

A nova roupagem seria a Doutrina Espírita, apropriada das ideias de Allan Kardec e primeiramente influenciadas pelas primeiras deturpações de Roustaing. Diante de escândalos causados por Os Quatro Evangelhos, com base no relançamento de teses do Docetismo (facção católica que acreditava que Jesus não era humano), o "movimento espírita" teve que recuar.

Dessa forma, o "espiritismo" brasileiro teve que mudar seu discurso, fingindo "fidelidade total a Allan Kardec", enquanto guarda no seu âmago um meio de fazer rearticular e reciclar princípios católicos, descartando a anterior defesa radical de Roustaing e diluindo-a, aos poucos, através do carisma preservado de Chico Xavier e Divaldo Franco.

Os dois valem mais como um único Roustaing, por serem brasileiros e por contarem ainda com elevado carisma e reputação entre seus adeptos e setores leigos da sociedade. Deixa-se de ser necessário a defesa intransigente a um advogado francês, sobretudo depois que algumas de suas ideias causaram violentas polêmicas nos meios "espíritas".

Daí que as ideias de Roustaing, revistas e adaptadas, correm soltas através de Chico e Divaldo que fingem "fidelidade total a Kardec" (Chico, falecido há 12 anos, continua influente). E os dois preveem e defendem o surgimento de um "novo Império Romano", a ser lançado no Brasil, e na supremacia do neo-Catolicismo que está por trás do "espiritismo" brasileiro.

Daí as supostas "profecias" da queda do Velho Mundo, juntamente com a ascensão do Brasil a potência absoluta do mundo. Daí o sensacionalismo em torno das "previsões" de Chico Xavier para alimentar o crescimento do Espiritolicismo.

Daí as palavras "dóceis" de "Coração do Mundo" e "Pátria do Evangelho" para esconder o verdadeiro objetivo: dominar os demais povos com uma nova forma de império, um "Império Romano" reconstruído em terras brasileiras com a atualização aos novos tempos do Catolicismo medieval pelo "espiritismo".

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

"Profecias" de Chico Xavier revelam plena fidelidade a Roustaing

LIVRO DE CHICO XAVIER, NA PRÁTICA, SINTETIZA E ADAPTA, PARA O CONTEXTO BRASILEIRO, AS IDEIAS DE JEAN-BAPTISTE ROUSTAING.

Nunca Chico Xavier foi tão fiel a Jean-Baptiste Roustaing quanto em suas "profecias", divulgadas recentemente pelo documentário Data Limite, Segundo Chico Xavier, em que se nota que, fora os pontos mais polêmicos, o advogado de Bordeaux continua conduzindo o "movimento espírita" brasileiro até hoje.

Nem mesmo as tentativas de Chico Xavier e Emmanuel tentarem agradar os kardecistas autênticos, num momento ou em outro, se aproveitando do fato de Chico ser amigo de Herculano Pires - que, todavia, sempre ficou preocupado com os maus procedimentos do mineiro - , definido de forma bajulatória por Emmanuel como o "metro que melhor mediu Kardec", fizeram afastar o anti-médium mineiro das bases católicas de Roustaing.

Isso tanto é certo que as "profecias" que fizeram Chico Xavier ser reconhecido pelos incautos não só como "médium" e "pensador", mas também como "profeta", "professor" e "cientista", são carregadas de todos os "presságios" do "anjo Ismael", o "espírito" que teria traduzido os ideais de Roustaing para a realidade brasileira.

Analisando com muita cautela e observação as ideias de Chico Xavier, mesmo quando de suas posturas pretensamente "kardecistas", a fidelidade a Roustaing é notória e pode-se seguramente dizer que, depois dos escândalos que "queimaram" o advogado de Bordeaux, não foi mais preciso apreciar Os Quatro Evangelhos, já devidamente adaptados no Brasil pela literatura associada a Xavier.

Se Os Quatro Evangelhos previa a "união de todas as religiões" em prol de um catolicismo neo-medieval de cunho espiritualista, as "profecias" de Chico Xavier "preveem" a "união de todos os povos do mundo no Brasil", com a "destruição do Hemisfério Norte", e de "todas as suas culturas" em torno de uma "mesma espiritualidade cristã" através do "espiritismo" brasileiro.

É a mesma coisa. O "espiritismo" brasileiro, surgido com bases teóricas fundamentadas no catolicismo medieval português, diferindo deste apenas no que se diz à "tolerância" de outras crenças - mas dentro do método de "inculturação" trazido pelos jesuítas lusitanos no Brasil colonial - , segue o mesmo suposto ecletismo pensado por Roustaing.

Esse suposto ecletismo, na verdade, é algo que os mais tendenciosos almejam. Absorver as mais ecléticas correntes e expressões, para criar uma "doutrina unificada", uma centralização que mais separa pela "união", eliminando a diversidade por uma visão católica medieval da "união de povos e de crenças", todos "com um mesmo Pai", nenhum com suas próprias identidades pessoais.

A visão totalitária de um Brasil centralizado no mundo, convertido num novo império dominante, exílio da rancorosa ideia de destruição dos Estados Unidos, da Europa e da Ásia, talvez por conta do maior número de agnósticos e ateus, ou pela alta produção de questionamentos que a prosperidade econômica traz, até pelas desilusões das promessas capitalistas não cumpridas.

Afinal, atualmente se questionam desde os distúrbios de ordem social - como os raciais, nos EUA - até mesmo o consumismo e o fanatismo político-religioso, como nos confrontos do Oriente Médio. Além do mais, estadunidenses, europeus e asiáticos também procuram repensar os padrões de Educação, Economia e de valores morais, não sem problemas, mas com autocrítica e discernimento.

RETROCESSO DO "ESTABELECIDO"

Aqui no Brasil, porém, o que se nota é que os vários focos de retrocesso existentes em várias esferas de atividades humanas sempre contam com alguma blindagem de adeptos intelectuais ou de internautas reacionários.

Qualquer baixaria possui algum fanático defensor que, se depender do caso, é capaz de criar um blogue inteiro para "zoar" quem não concorda com ele, despejando pesadas ofensas pessoais. O "estabelecido" da degradação sócio-cultural brasileira possui seus "cães de guarda" ferozes, e só agora a Justiça começa a se preocupar com esse vandalismo digital.

Mas isso tudo é problemático no nosso país. O Brasil não tem condições de ser vanguarda de coisa alguma. O que temos de oferecer como "vanguarda cultural" para o mundo? O "funk"? Só que isso tem muito a ver com a mentalidade que é o nosso "espiritismo", e que glúteos funqueiros estão mais relacionados com os "viajores e caminheiros" das "searas de amor e luz" do que se imagina.

É a mesma relação do antigo carnevale com a austeridade católica na Idade Média. O carnevale, origem do Carnaval, era um feriado religioso no qual se liberavam momentaneamente os instintos, em que o profano encontra seu razoável espaço de expressão, como meio de se manifestar a catarse coletiva numa breve "inversão" de valores.

Assim, o "funk" seria o carnevale da religiosidade "espírita", em que o espiritualismo cedia espaço para os mais intensos instintos sexuais e outros próprios do sentimento catártico de "extravasar" e "botar tudo para fora". No projeto do "coração do mundo", as pessoas cumpririam sua religiosidade no "espiritismo" da FEB e, nos festejos, "desceria até o chão".

"DIVERSIDADE" É DESCULPA

Num projeto de país em que se padronizam corações e mentes, gostos e crenças e até mesmo pinturas de empresas de ônibus, promovido pelas mentes que o "espiritismo" define como de "elevado nível técnico" e "elevada inclinação progressista", a ideia de diversidade, na prática ameaçada de banimento, serve apenas de desculpa para as supostas profecias do "homem-amor" que tem frases enfeitando perfis no Facebook.

Defende-se no discurso o que se combate violentamente na prática. O Brasil criou o pior tipo de armadilha, a das palavras, das meias-verdades, capazes de desmentir com argumentos o que se faz e continua fazendo nos procedimentos.

Com isso, as argumentações pseudo-científicas das falsas previsões de Chico Xavier, no fundo dotadas do mais alto grau de sensacionalismo e predição esotérica, tentam usar o pretexto da diversidade cultural e étnica do Brasil para tentar amenizar o caráter totalitário da ideia de Brasil como "potência máxima" da "comunidade das nações" (com Europa, Ásia e EUA reduzidos a ruínas).

Afinal, o que se pode constatar, através dessa arrogante medida de julgar o futuro, trazida pelo jesuíta Emmanuel, que era racista, machista e antissemita, e divulgada por um dito médium mineiro que apoiou a ditadura militar e a eleição de Fernando Collor, é algo que nada tem de progressista, que nada tem de futurista, e que nada tem de realmente solidário e fraterno na face da Terra.

O que Chico Xavier quis dizer, por trás de suas palavrinhas "doces", foi o seguinte: o Catolicismo medieval, há muito tentando recuperar sua supremacia na Terra, encontra no Brasil seu terreno fértil para uma nova Contrarreforma de grandes proporções, criando ao mesmo tempo um novo Império Romano e um novo Catolicismo, dentro de uma Idade Média reformulada pelos contextos atuais.

A Idade Média repaginada consistiria em transformar o Brasil num novo mega-Império, absorvendo outras crenças e outras culturas para nelas impor o Catolicismo Romano redivivo, apenas "adaptado aos novos tempos", tendo como doutrina econômica o Neoliberalismo e como religião o "espiritismo" ideologicamente "codificado" pela FEB e por uma versão mais moderada do roustanguismo.

Portanto, as "profecias" de Chico Xavier nada têm de Allan Kardec. Nem chegam sequer perto. Mas elas têm tudo de Jean-Baptiste Rostaing, porque preveem a volta do Catolicismo medieval e do Império Romano repaginados conforme os contextos atuais - de tecnocracia, alta tecnologia, consumismo e "liberdade sexual" - , tomando o Brasil como território-base desse Império.
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