domingo, 3 de maio de 2015

"Espiritismo", automedicação e "curas espirituais"


O desconhecimento da Ciência Espírita por parte do "movimento espírita" e a pouca vigilância da doutrina diante de seus abusos e contradições, até pelo fato de que a doutrina vive de suas próprias contradições, faz com que sua prática de "curas espirituais" seja bastante duvidosa.

Na boa. Quando você vai para um hospital, e seu recinto não é higienizado, o tratamento médico é indiferente, você se sente lesado por seus direitos e cobra maior transparência no atendimento e uma higiene que não prejudicasse ainda mais quem já está doente.

No entanto, quando há uma "cirurgia espiritual" feita com faca de proveniência duvidosa, com mãos sem higiene, e só porque existe o âmbito da fé religiosa, a pessoa deixa de cobrar qualquer transparência, Ninguém pergunta como e por que, e tudo fica nisso mesmo.

Nos tratamentos espirituais, então, a coisa se complica. Arremedos de ambientes hospitalares, quase que uma paródia de quartos de internação, com pessoas abanando as mãos sobre os pacientes e uma lâmpada azul dando uma pequena luminosidade no ambiente escuro.

E, após tais tratamentos, a pessoa, por mais que se sinta feliz e com bem estar, acaba não resolvendo os problemas que a levaram a buscar o tratamento espiritual, ou, quando muito, só os resolve precariamente, atraindo, no entanto, azar para sua vida, sem perceber em princípio.

Com isso é claro que os líderes dos "centros espíritas" vão tentar enrolar. "É justamente isso, irmão. O tratamento está dando esses efeitozinhos errados porque os queridos irmãozinhos sofredores reagem, não aceitando o sucesso que é o nosso tratamento", argumenta um deles ao queixoso. Em outras palavras, o tratamento dá errado porque "está dando certo". Alguém entendeu?

Nenhum tratamento dá certo porque dá errado. Isso não existe. Na medicina, os remédios com efeitos colaterais são assumidamente definidos como benéficos em certos efeitos e perigosos em outros. Ninguém vai dizer que os efeitos colaterais fazem parte das melhorias, o que eles representam é o fato de que remédios são feitos de substâncias pesadas e complexas, que agem no organismo de uma forma benéfica mas de outra potencialmente danosa.

O que leva as pessoas a buscar tratamentos espirituais de curas psicológicas ou físicas tem o mesmo senso de improviso da automedicação. A pessoa que busca automedicação acredita que, só porque seu amigo, parente ou vizinho "ficou melhor" por causa de um remédio, ela pode usá-lo sem recorrer a uma consulta médica.

Da mesma forma, busca-se o tratamento espiritual de improviso, seja pela pretensa "superioridade" do "centro espírita", seja pelo status quo do seu diretor, seja por outras fantasias ou vãs esperanças. E se aquela titia e aquele titio saíram "bonzinhos" no tratamento espiritual, a pessoa vai e, em vez de atrair prosperidade, chama encrenca e, curando de uma doença, adoece em outra.

Não há estudos sérios, critérios rigorosos, pesquisas consistentes. Infelizmente, quando o assunto é "espiritismo", os brasileiros desobedecem justamente um dos mais urgentes e obrigatórios conselhos de Allan Kardec: a vigilância. Entorpecidos pela visibilidade e prestígio em torno de certas figuras "espíritas", as pessoas perdem a vigilância e são vulneráveis às mais terríveis armadilhas da vida.

Poderíamos muito bem aproveitarmos os conhecimentos de Magnetismo e outras técnicas e adotar os processos terapêuticos mediúnicos com o máximo de rigor científico, e fazer das curas espirituais um fenômeno que não esteja à margem da ciência e da "medicina dos homens", mas em completa interação com estas.

Mas como é que se vai fazer isso diante de uma doutrina desmoralizada como o "espiritismo", tal como se vê hoje, através da FEB, de suas dissidências ainda fundamentadas no espiritolicismo, de entidades regionais que fazem as mesmas falcatruas?

Como pedir para pessoas que praticam fraudes com gosto, enganando as pessoas, fazendo prestidigitação sob retóricas melífluas, para agirem corretamente? Os farsantes, evidentemente, irão prometer fazer tudo direitinho, aprender as lições, seguir o rigor da ciência, e o máximo que farão são arremedos frouxos daquilo que prometeram fazer e que, certamente, dificilmente farão.

Por isso é que as pessoas deveriam pedir transparência, rigor, honestidade, estudo, pesquisa, e não um amontoado de simulações, retóricas, mistificações, mitificações. Da mesma forma que não dá para se automedicar e evitar a consulta médica, a "automedicação espírita" também é desaconselhável, porque não traz qualquer garantia de sucesso pleno. A "medicina espírita" não é segura nem confiável.

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