terça-feira, 31 de março de 2015

"Espiritismo" pegou carona na Ufologia para promover Chico Xavier

ROBERT SALAS E ROBERT JACOBS, MILITARES ESTADUNIDENSES.

Uma das maiores mentiras difundidas pelo "movimento espírita" no Brasil está sendo espalhada pela Internet e, principalmente, pelo YouTube. É a de que militares dos EUA estariam "confirmando" as supostas "profecias" que o anti-médium Francisco Cândido Xavier divulgou em 1969.

Essa "profecia" sabemos. Foi depois da chegada de um grupo de astronautas estadunidenses ao solo da Lua, em 20 de julho de 1969. Chico Xavier teve um sonho, que em narrativa surreal descreve uma reunião com supostos líderes do Sistema Solar, preocupados com a vocação bélica dos países mais poderosos do mundo.

Jesus Cristo, que os "espíritas" entendem como "governador da Terra" (sic), ao lado de figuras "tarimbadas" como Emmanuel, o "anjo" Ismael e Chico Xavier, o único então encarnado, estavam discutindo os meios do Brasil se tornar a nação mais poderosa do planeta e difundir uma "proposta de paz" para todo o planeta, dentro de uma moratória de 50 anos, a finalizar-se em 2019.

Muito se fala nessa "profecia" que, entre outras coisas, revela um desejo de Chico Xavier de ver o Brasil como "centro do mundo", devaneio que se originou já no livro Parnaso de Além-Túmulo, coleção de pastiches literários em que um dos poemas, "Brasil", falsamente atribuído a Olavo Bilac, descrevia o país como "Coração do Mundo e Pátria do Evangelho".

13 anos após o falecimento de Chico Xavier, o escritor Geraldo Lemos Neto, que tinha 19 anos quando foi comunicado pelo anti-médium a respeito do sonho, tornou-se propagandista da suposta "profecia", que tenta promover o ídolo "espírita" não só como um suposto profeta, mas também como um pretenso cientista e um igualmente pretenso analista político e estrategista social.

Muitos esforços tendenciosos são feitos dentro do "movimento espírita" para tentar elevar Chico Xavier ao âmbito dos altos ramos do conhecimento, mas as teses apresentadas demonstram haver contradições e falhas metodológicas profundas. A do "pioneirismo científico" na obra Missionários da Luz foi um deles, pois os acadêmicos não leram as publicações sobre glândula pineal publicadas na década de 1940.

Agora o tendenciosismo se expande numa interpretação rasteira de relatos de dois militares dos EUA, o tenente Robert Jacobs e o ex-capitão Robert Salas, que teriam visto discos voadores sobrevoando bases de mísseis nucleares nos EUA.

OS CASOS E A INTERPRETAÇÃO DOS "ESPÍRITAS"

Os dois militares, cada um em caso separado, descreveram seus respectivos episódios. Jacobs teria visto discos voadores na base de Vandenberg, na Califórnia, em 15 de setembro de 1964. Já Salas teria visto as naves extra-terrestres na base de Malmstrom, em Montana, no dia 15 de março de 1967.

Os relatos nada têm a ver com o "movimento espírita" e são apenas descrições feitas para o âmbito da Ufologia, área do conhecimento humano bastante controversa e considerada pseudo-ciência, mas com ideias e teses mais verossímeis e, por vezes, prováveis do que as da religião da Federação "Espírita" Brasileira.

No entanto, uma interpretação rasteira promovida por Geraldo Lemos Neto, interpretação esta meramente brasileira e local, supôs que os militares "confirmaram" as "profecias" de Chico Xavier, o que se trata de uma grande mentira engenhosamente construída.

A tese chiquista foi "plantada" remendando dados separados, com uma vaga relação entre os episódios ufólogos, o contexto geopolítico da época (Guerra Fria entre EUA e URSS) e a ameaça de guerra nuclear lançada em 1962 na crise dos mísseis de Cuba (anunciado comunista em 1961, sustentado pela URSS).

Junta-se a isso e aí é montada uma verdadeira lorota, que num discurso bastante persuasivo e confuso se inventou que os dois episódios, das bases de Vandenberg e de Malstrom, "confirmavam" o que Chico Xavier "previu" em seu sonho. Só que os episódios ocorreram em 1964 e 1967 e o sonho se deu em 1969.

As argumentações dos "espíritas" são bastante confusas, não havendo embasamento científico algum, e nem mesmo qualquer sustentação lógica. Não há um momento nos relatos dos militares que se fale sobre a "moratória de 2019" ou das tragédias humanas ou naturais causadas pelo mundo turbulento.

Os relatos de Geraldo Lemos Neto e do físico de inclinações místico-espiritualistas Laércio B. Fonseca, entre outros, nada esclarecem e apenas confundem, criando uma confusão organizada que se conhece como "fé espírita". E todo o discurso feito para sustentar a tese da "comprovação" mais parece um amontoado de meias-verdades sem pé nem cabeça.

Em nenhum momento os militares comprovaram o que Chico Xavier havia relatado. O que existe é o uso leviano de suas declarações para reforçar uma interpretação tendenciosa que os "espíritas" fazem sobre o sonho do anti-médium mineiro, a interpretação dos relatos dos militares estadunidenses é puramente local, brasileira, bastante mentirosa e sensacionalista.

Portanto, afirmamos que os dois militares não comprovaram a tese de Chico Xavier, e podemos até inferir que eles nem sequer conhecem ou conheceram ele. A tese da "comprovação" é muito falsa, hipócrita e oportunista, Só serve como propaganda do "movimento espírita" brasileiro e uma apelação para encher "centros espíritas" e vender mais livros e DVDs dessa seita religiosa.

segunda-feira, 30 de março de 2015

Críticos do "movimento espírita" se limitam à questão de "ler mal" os livros de Kardec

LER MAL OS LIVROS DE ALLAN KARDEC E ESCOLHER A TRADUÇÃO ERRADA - Esse é um dos piores problemas do "movimento espírita", mas não o único.

Os contestadores do "movimento espírita" no Brasil, que reclamam dos desvios cometidos pela doutrina brasileira em relação às concepções originais de Allan Kardec, são pessoas muito bem intencionadas e esforçadas em compreender o pensamento do professor lionês.

No entanto, muitos desses contestadores não conseguem ir adiante e, quando criam blogues na Internet, eles geralmente têm vida curta, encerrando suas atividades porque, aparentemente, acham que não têm mais o que dizer.

O grande problema é que muitos desses questionamentos apenas apontam um lado gravíssimo, porém simplório, da questão acerca do "movimento espírita", que é tão somente de se queixar que os líderes e ídolos do "espiritismo", e, por conseguinte, seus palestrantes diversos, "entenderam mal" os livros de Allan Kardec.

Com toda a certeza, esse é um dos problemas graves, porque é uma das chaves da Doutrina Espírita a leitura das obras originais de Allan Kardec. O problema é que apenas uma tradução, das que hoje estão disponíveis, corresponde à reprodução honesta das palavras e textos do professor lionês, que é a de José Herculano Pires, sobrinho do artista caipira Cornélio Pires.

PARÁBOLA DO SEMEADOR

No entanto, a situação é muito, muito mais complexa, e antes de levar adiante a nossa análise, vamos citar a Parábola do Semeador, descrita em várias passagens do Novo Testamento e que teriam sido criadas por Jesus. Allan Kardec inclui a parábola no livro Evangelho Segundo o Espiritismo, mais precisamente no capítulo 17, tendo como fonte a passagem do Evangelho de Mateus.

A parábola descreve os vários lugares onde caíram as sementes jogadas pelo semeador ao longo de seu caminho. Algumas sementes caíram no meio da estrada, e tão rapidamente atraíram aves famintas que as comeram. Outras caíram em terrenos pedregosos, sem fixar raízes, e plantas nasceram, mas logo morriam queimadas pelo sol.

Há também as sementes que nasceram entre espinhos, e por isso não puderam crescer, porque morriam sufocadas pelos mesmos. E há as sementes que caíram em terras férteis, que geraram grandes e longevas árvores, com seus formosos frutos.

Se a gente aplicar a Parábola do Semeador às lutas que os espíritas autênticos tiveram contra os deturpadores da Doutrina Espírita, que infelizmente cresceram vertiginosamente e hoje praticamente são os "donos" da mesma, até agora os primeiros três casos é que ocorreram, matando as sementes originalmente vinculadas ao cientificismo kardeciano.

AS AVES, O CALOR E OS ESPINHOS

O primeiro caso, das sementes jogadas no caminho, corresponderam às mobilizações de Afonso Angeli Torteroli, um dos primeiros a se voltar contra as deturpações feitas contra a Doutrina Espírita. Mesmo com ideias consistentes, ele caiu no esquecimento, porque na época não foi possível criar uma base de argumentos que fizesse frente à tendência mistificadora dominante na Federação "Espírita" Brasileira.

Naqueles tempos, o começo do século XX, o sentimento religioso era ainda visto como uma virtude superior e o fato do Espiritismo se adaptar aos dogmas e ritos católicos era visto também como uma forma de sobrevivência, já que a doutrina era considerada uma atividade ilegal sujeita à repressão policial.

Não havia como justificar o cientificismo de Allan Kardec e, além disso, o roustanguismo, ou seja, as ideias baseadas no livro Os Quatro Evangelhos de Jean-Baptiste Roustaing, estava em ascensão e era visto como "mais moderno" do que o "complicado" cientificismo kardeciano.

Depois, veio o caso dos terrenos pedregosos, através dos processos dos herdeiros de Humberto de Campos contra Chico Xavier e a FEB, junto à reação de críticos literários contra a farsa de Parnaso de Além-Túmulo. Começava a surgir uma base de sustentação para quem lutava contra as deturpações feitas no âmbito do Espiritismo, com críticas enérgicas contra os livros de Chico Xavier.

No entanto, não houve uma raiz fundamentadora e a "luz solar" da pieguice sentimental respaldada no estereótipo de "caipira bondoso" do jovem Francisco Cândido Xavier neutralizou a polêmica, deixou os juízes do caso Humberto de Campos confusos e permitiu que a FEB consolidasse as bases roustanguistas através do Pacto Áureo de 1949.

Vieram então as sementes entre espinhos. A polêmica de Parnaso de Além-Túmulo se seguia, mas em vez da neutralidade de hesitantes escritores como Monteiro Lobato e Agripino Grieco, surgiam reações enérgicas como as do escritor Osório Borba.

Havia também o escândalo das fraudes de materialização apoiadas por Chico Xavier, com pessoas ou objetos forrados de branco exibindo fotos recortadas de personalidades falecidas. E houve também a denúncia de um sobrinho de Chico Xavier de revelar as irregularidades do "movimento espírita".

Tudo parecia crescer e desmascarar, por definitivo, a FEB e Chico Xavier. O jornal O Globo chegou mesmo a afirmar que o anti-médium mineiro havia sido desmascarado (ironicamente, as mesmas Organizações Globo, adotando um catolicismo mais heterodoxo, fez as pases com Xavier e a FEB).

Mas aí vieram os espinhos. O sobrinho, Amauri Xavier Pena, passou a ser vítima de acusações caluniosas, e seus vícios (ele era alcoolista) eram levados ao exagero e defeitos eram até inventados (como dizer que Amauri falsificava notas de dinheiro). O ódio dos partidários de Chico Xavier mostrava a fúria daqueles que se julgavam "incapazes" de tamanhos sentimentos negativos.

Os espinhos feriram Amauri e o entregaram a uma misteriosa e apressada tragédia que a FEB, "oficialmente", creditou a uma "hepatite". Uma década antes do DOI-CODI, Amauri era tido como o responsável pela própria morte, prematura demais para alguém que só bebia muito e não mostrava indício de uso de drogas pesadas. Um alcoolista, geralmente, tende a morrer na faixa dos 35 anos, no mínimo.

CONTINUAM OS "TERRENOS PEDREGOSOS"

Com isso, Chico Xavier construiu seu estrelato derrubando obstáculos e garantindo a deturpação do Espiritismo a níveis preocupantes. Ele apoiou o Golpe de 1964, apoiou o AI-5, condenou o governo progressista de João Goulart e ainda continuou suas fraudes "espíritas" durante o auge da crise do roustanguismo, que fez Chico Xavier e Divaldo Franco, espertalhões, fingirem solidariedade àqueles que lutavam pela recuperação das bases kardecianas.

Até agora, não existem sementes novas que pusessem terra abaixo as deturpações e mistificações feitas sob o rótulo de "espiritismo". O que se nota é a predominância de "terrenos pedregosos" e do "calor solar" das pieguices "espíritas", criando uma "zona de conforto" que mistura sentimentalismo religioso e pedantismo científico.

Daí que não adianta apenas ler os livros de Allan Kardec nas traduções de José Herculano Pires. Se tudo fica apenas na tese, na teoria, apenas se faz uma parte do processo, mas outros problemas de maior gravidade continuam existindo sem que qualquer discussão aconteça.

O maior exemplo disso são as fraudes "mediúnicas" feitas por Chico Xavier e Divaldo Franco. O estrelato que os dois acumularam ao longo dos anos criou uma imunidade que garante sua impunidade, já que eles passam a ser dispensados da responsabilidade de seus próprios erros, já que muitos têm medo de admitir a culpa do que eles fizeram de negativo.

Eles se tornaram mitos e, por isso, temidos até pelos seus contestadores, que se limitam a dizer que os dois "apenas entenderam mal" o Espiritismo de Kardec. Todavia, inocentá-los de seus erros, muitas vezes deploráveis, cria uma passividade que só prejudica a Doutrina Espírita, mantendo sempre o poderio que os anti-médiuns exercem até hoje (mesmo com Xavier morto) na socidade.

Daí ser bastante curioso que os estereótipos de "amor e bondade" chegam a intimidar mais as pessoas do que a atrocidade propriamente dita. Doces crueldades, feitas pela sedução de estereótipos de humildade e caridade. E é isso que sufoca a semente kardeciana, que ainda por cima sofre a concorrência de sementes "genéricas" fabricadas pela FEB e mesmo por seus dissidentes.

domingo, 29 de março de 2015

"Espiritismo" e a "religião" do futebol

TIMES CARIOCAS SÃO CONHECIDOS PELO FANATISMO LOCAL QUE FAZ COM QUE TORCER POR UM DOS QUATRO MAIORES TIMES SEJA VISTO COMO "OBRIGAÇÃO" SOCIAL.

No dia do "amistoso" entre as seleções do Brasil e da França, as mídias sociais sofreram mais um ato de vandalismo feito por torcedores fanáticos de futebol. Uma comunidade dedicada a questionar o fanatismo no esporte foi "invadida" por membros que publicaram, em ação coletiva combinada, mensagens grosseiras ou sarcásticas em defesa do esporte. O responsável pela comunidade, no dia seguinte, já informou que deletou as mensagens e expulsou os bagunceiros.

Isso mostra o quanto o Brasil sofre com o fanatismo futebolístico. E isso mostra o quanto a ideia de "religião" se estende para outras coisas. Pode ser uma emissora de rádio, como a Rádio Cidade, no Rio de Janeiro, em que seus seguidores nem sabem direito o que é rock (para eles é uma barulheira feita só para "extravasar" os instintos nervosos), mas veem a palavra como uma "seita" em que a palavra "rock", tendo a Rádio Cidade como "templo eletrônico", é sua profissão de fé, mesmo que a ideia de rock se reduza a um programa de besteirol, por exemplo.

E a própria Rádio Cidade tem um besteirol esportivo, o Rock Bola, que seus fanáticos intransigentes - que julgam a cultura do rock de acordo com seus próprios umbigos - consagram como uma promoção do futebol como "esporte rock'n'roll", mesmo quando a quase totalidade dos jogadores não se interessa por esse ritmo que os ouvintes da Cidade não sabem direito o que é, senão "mera sonzeira".

E aí entra também a "religião" do futebol, que faz com que, no caso do Rio de Janeiro, o cidadão seja obrigado a torcer por algum dos times de futebol mais populares (Flamengo, Fluminense, Vasco e Botafogo), sob pena de ser visto como antissocial e sofrer até mesmo bullying ou qualquer tipo de vandalismo digital (trolagem e cyberbullying).

É conhecido o fanatismo pelo futebol brasileiro, um hábito cultivado pela ditadura militar através do ufanismo da Copa do Mundo de 1970. Antes disso, era crescente a popularidade pelo esporte, mas era uma coisa mais opcional, o futebol não era considerado um esporte de valor totalitário como se observa hoje.

Há quem veja no futebol a medida de todas as coisas. E as mulheres fanáticas por futebol devem isso aos pais machistas que as levavam desde pequenas aos estádios de futebol e constituem também numa massa para o faturamento dos clubes esportivos que precisam atrair um público eclético para as partidas. Cria-se a "religião da bola" para transformar os jogos de futebol em verdadeiros cultos, garantindo faturamento permanente e poderio para os "cartolas" (dirigentes esportivos).

A FEB GOSTA DE FUTEBOL

Existem analogias de práticas e ideias tanto da Federação "Espírita" Brasileira quanto da Confederação Brasileira de Futebol. A prepotência, a propaganda sensacionalista, a "devoção", o culto a totens e dogmas, tudo isso faz com que FEB e CBF sejam irmãs em muitas causas.

E não é apenas isso. A própria FEB parece gostar muito desse fanatismo futebolístico, só faltando dizer que as torcidas organizadas cometem violência para promover "reajustes espirituais" para determinados indivíduos em "provação".

Há o caso do falecimento de Francisco Cândido Xavier, em 30 de junho de 2002, que sacramenta a aliança CBF e FEB. A morte de Chico Xavier evoca uma declaração que ele teria dado, de que só morreria num dia em que o povo brasileiro estivesse "muito feliz". E aí veio a morte no dia do "penta".

Claro, essa noção de "felicidade" atribuída ao futebol, sobretudo numa das piores, rabugentas e trapaceiras competições mundiais, a sórdida Copa do Mundo Japão e Coreia de 2002, em que a seleção vencedora foi a Seleção Brasileira que não estava nos melhores dias e fez uma das piores campanhas de toda sua História, revela esse lado "religioso" da histeria futebolística.

Essa devoção exagerada, que como todo sentimento de fanatismo religioso só expressa amor quando tudo está favorável para seus seguidores, no entanto é capaz de gerar ódio e violência à menor contrariedade. Esse é o sentimento dos fanáticos. Eles só são "puro amor" quando tudo está de acordo com o que eles acreditam, mas se não está, eles se enfurecem.

Os seguidores de Chico Xavier também são assim. Vide as reações daqueles que são contrariados de uma forma ou de outra por alguém que questiona os valores e práticas associados ao anti-médium mineiro. O caso Amauri Pena foi um exemplo de como os chiquistas podem ser rancorosos, quando o falecido sobrinho ameaçou revelar irregularidades nos bastidores do "espiritismo" brasileiro.

Já se analisa o perigo desses fanatismos. Ninguém vai dizer abertamente que cria grupos extremistas para fazer terrorismo e pregar a violência. Todos vão dizer somente que se agrupam em nome do "amor" e da "paz", mas tão logo surge alguma adversidade, eles reagem com violência e rancor.

 O perigo do fundamentalismo já faz, no caso do futebol, com que nos ambientes de trabalho pessoas façam bullying contra quem não curte futebol, que está sujeito às piores humilhações ou o mais surdo desdém. Por outro lado, as torcidas organizadas praticam violência até contra quem nada tem a ver com as brigas entre torcidas, criando insegurança e medo para a população em volta.

No "espiritismo", o fundamentalismo já é uma realidade. A irritação que muitos seguidores de Chico Xavier sentem quando há algo que vai contra o mito do anti-médium mineiro é algo preocupante, como se observam em casos diversos ao longo dos anos, em que desde Amauri Xavier até jornalistas que investigaram o caso Otília Diogo receberam ameaças violentas dos seguidores do dito "homem chamado Amor".

Por isso, convém tomar cuidado com os fanatismos, que só são alegres quando todo mundo compactua com seus seguidores, sempre desejando uma unanimidade forçada. Se ela não é possível, os fanáticos tornam-se violentos, sarcásticos, chantagistas, gozadores, variando as reações negativas conforme o contexto, mas sempre humilhando alguém.

sábado, 28 de março de 2015

Tragédia do A320 da Germanwings: não foi "resgate coletivo", foi problema pessoal


Na última terça-feira, um avião Airbus A-320 da empresa alemã Germanwings, subsidiária da Lufthansa especializada em viagens mais baratas, caiu sobre os Alpes franceses, matando todos os ocupantes, entre passageiros e tripulantes.

A misteriosa queda do avião, considerado um transporte seguro e de uma companhia, a Germanwings, considerada de bom conceito, trouxe um grande mistério para as autoridades do mundo inteiro, principalmente as da Alemanha, França e Espanha. Os três países se relacionam pelo fato de que o avião seguia o trajeto de Barcelona a Dusseldorf.

Investigações apontam que o acidente teria ocorrido por uma atitude do copiloto Andreas Lubitz, apertou o botão de perda de altitude, se aproveitando do controle da direção do avião depois que o comandante da cabine saiu para ir ao banheiro.

O COPILOTO ANDREAS LUBITZ, UM DOS MORTOS E POSSÍVEL CAUSADOR DO ACIDENTE.

Lubitz, segundo informações da caixa-preta do avião, conversava animadamente com o colega nos primeiros vinte minutos de viagem, mas depois passou a se portar de maneira lacônica, e assim que o piloto saiu, o copiloto trancou a porta da cabine, o que obrigou o titular a usar um machado para tentar abrir a porta.

Segundo investigações da polícia alemã, Lubitz estaria sofrendo de uma doença não esclarecida. Há indícios de que ele estava em depressão e indisposto a fazer a viagem, depois que ele e sua noiva terminaram a relação. Ele teria tentado presenteá-la com carros de luxo. Lubitz morava com os pais no seu país de origem, a Alemanha.

Portanto, do contrário que os "espíritas" tentam afirmar, definindo o acidente como um "resgate coletivo" em que um número seleto de pessoas se "junta" num ambiente para sofrer uma tragédia comum, supostamente associada a uma mesma provação de vidas passadas.

Esse mito, baseado em critérios e métodos duvidosos de avaliação reencarnacional, é na verdade uma herança que os "espíritas" trazem do Catolicismo medieval, quando as autoridades e o clero colhiam pessoas de diversos lugares para, juntas, serem devoradas por leões ou queimadas em incêndios.

Os "espíritas" aparentemente condenam esse procedimento, mas agem da mesma forma, já que tentam juntar, simbolicamente, pessoas de diversas origens para, sob o pretexto da tragédia comum, supor que estariam "pagando" pela "mesma sentença".

Isto quer dizer que a tese do "resgate coletivo" é, na verdade, uma analogia ao que os sacerdotes medievais faziam impondo condenações coletivas, colhendo pessoas aqui e ali para serem jogadas na arena e sofrer a mesma tragédia. Ainda nos tempos do Império Romano, era comum elas serem devoradas por leões, mas na falta deles optou-se por medidas como a queima em praça pública.

Daí que a tese do "resgate coletivo" faz os "espíritas" brasileiros serem bastante medievais. Isso porque a tese, em verdade, não faz o menor sentido. O que houve foi apenas uma tragédia em que pessoas diferentes, com suas individualidades e vidas diversas, tiveram a infelicidade de estarem em um avião que sofreu um trágico acidente, causado, neste caso, por um homem com possíveis problemas pessoais.

sexta-feira, 27 de março de 2015

"Espiritismo" tem como regra pedir fraternidade. Isso não é bom


Não há coisa mais irritante que mendigar fraternidade. Num mundo tenso, turbulento e complexo como o nosso, os "espíritas" só ficam "pedindo" união, amor, luz, fraternidade, caridade. Tudo num belo desfile de "palavras lindas" que para nada servem.

E isso necessariamente alegra e conforta as pessoas? Não. Muitas vezes, as pregações nos "centros espíritas" e as mensagens trazidas por seus palestrantes, ou pelos seus líderes, mais constrangem, irritam, envergonham e revoltam as pessoas. E não adianta reclamar.

Dizer com calma, simular um ambiente de alegria e mansuetude, carregar no semblante sereno, criar todo um aparato de luminosidade, tocar melodias dóceis no fundo musical, tudo isso é inútil diante do contexto em que vivemos nesse mundo complexo e violento.

Isso só faz piorar as coisas. E faz lembrar aquele vício tão conhecido no jornalismo, quando um jornalista pergunta a alguém que sofre ao perder um ente querido como está se sentindo. Imagine ver alguém já triste e perguntar o que ela está se sentindo. Soa ofensivo e cruel, mesmo sem querer.

O pior que se vê são nas ditas mensagens espirituais, todas iguais umas às outras. O apelo à fraternidade, muitas vezes, pode esconder atos fraudulentos, e palavras amorosas são usadas a serviço da falsidade ideológica e da exploração leviana da comoção alheia, o que é gravíssimo.

É aquele mesmo papo de alguém que sofreu muito depois de morrer, foi socorrido nas colônias espirituais, que encontrou a luz, passou a se sentir melhor e se manifesta para pedir que todos se unam no amor e na fraternidade.

Pode ser quem for. Mas as famílias, sobretudo as mães ou alguém tomado da mais profunda saudade, acabam acreditando numa veracidade que não existe, apenas porque alguns aspectos pessoais são anunciados, não raro "pescados" de alguma entrevista prévia com os familiares.

CHICO XAVIER PREJUDICOU MUITO COM ISSO

Em muitos casos, essas "palavras de amor" geram efeitos contrários nas pessoas. A repetição de palavras "amorosas" num contexto de muita gente estressada e irritada, sofrida e sobrecarregada, apenas causa mais revolta e irritação, e a resposta mais provável é um curto e grosso "Não enche!".

Durante duas décadas, nos anos 1940 e 1960, fez muito sucesso o personagem Amigo da Onça, desenhado durante muitos anos por Péricles Maranhão e, depois da morte deste, pelo colega de O Cruzeiro Carlos Estevão, criador do Dr. Macarra e da hilária série "As Aparências Enganam" (em que silhuetas que sugerem atrocidades revelam situações inofensivas e alegres).

O Amigo da Onça, que os mais velhos querem esquecer e os mais jovens não querem conhecer, era famoso por dizer frases gentis e fazer conselhos bondosos que levavam as pessoas a alguma encrenca ou tentavam consolar as pessoas que sofrem algum infortúnio.

Difícil não pensar em Chico Xavier, o Amigo da Onça da religiosidade brasileira. Era ele que costumava dizer para as pessoas suportarem o pior dos sofrimentos sob o pretexto de receber bênçãos e graças divinas, e que aguentassem tudo na oração em silêncio, sem queixumes. Divaldo Franco corrobora a tese chiquista e ainda diz: "Nada que um Pai Nosso não resolva".

Alguém pisa no seu calo e você tem que ficar quieto e orar em silêncio, orar agradecendo pelas graças a serem concedidas não se sabe de que maneira e você tem que sorrir para tudo o que pior lhe acontecer. Se sua vida está um azar de dar dó, você é um "sortudo", aos olhos das "máximas" chiquistas.

Isso é um grave prejuízo. Gravíssimo. E é assustador que Chico Xavier seja visto como um vice-deus por causa disso, se aproveitando da angústia humana para dizer, cinicamente, que as pessoas já são beneficiadas por besteiras que se conhecem como "mananciais de luz" e "searas de amor", meros joguetes de palavras diabéticas.

CONDIÇÕES CAUSADORAS DA REVOLTA HUMANA

Imagine então as centenas e centenas de palestras "espíritas" em que todo mundo fica pedindo fraternidade. "Vamos nos unir", "vamos valorizar a fraternidade", "vamos reviver o amor", assim, sem mais nem menos, e  com todo o aparato de "boas vibrações" que se tornam inúteis e, se depender do caso, até muito mais nocivas do que se pode imaginar.

O que os "espíritas" ignoram e que mesmo os mais dedicados "auxílios fraternos" - traduções frouxas e ainda mais inócuas do confessionário católico - não conseguem perceber, com todos os esforços que são por eles feitos, são as raízes das revoltas e indignações dos homens.

A vida é muito complexa e as necessidades humanas mais ainda. O "espiritismo" que sempre defende que as pessoas possam ceder em tudo, até no seu progresso intelectual e no seu desejo de justiça social, para aceitar as imposições da vida e até a ser refém e escravo do egoísmo alheio, não entende o sofrimento alheio.

Como pedir fraternidade em mentes ainda revoltadas, se nenhuma condição é feita para superar e romper com os motivos de sentimentos tão duros? Por seu método de educação e ativismo social, o ateu Paulo Freire entendeu muito mais, e mil vezes mais, o sentido de fraternidade do que todos os "espíritas" brasileiros juntos, incluindo Chico Xavier e Divaldo Franco.

Por isso é que o "movimento espírita" se tornou inútil e inócuo na transformação das pessoas. Sua doutrina e seus procedimentos irregulares só fazem com que sua suposta missão de evoluir e melhorar as vidas das pessoas seja feita em vão.

Mais preocupada com seu moralismo e com suas mistificações e mitificações, o "espiritismo" brasileiro acaba virando uma "indústria do sofrimento", uma "fábrica de sofredores" na qual todas as "palavras de amor" e todo o aparato de "boas energias" só causam ainda mais constrangimento e irritação. Fraternidade não se pede, fraternidade se faz. A "fraternidade espírita" só faz falar.

quinta-feira, 26 de março de 2015

As pessoas buscam a semente de uma árvore pela erva daninha


O grande mal dos brasileiros nas últimas décadas é sempre buscar a semente de uma árvore pela erva daninha. Isso acontece em várias áreas das atividades humanas, em que parasitas se tornam senhores de seu hospedeiro e penetras se tornam anfitriões da festa que invadem.

Desde 1964, o Brasil parece sofrer de uma queda vertiginosa de qualidade de vida. Tivemos mais prejuízos que benefícios, e tão somente lutamos para sobreviver e a acomodação das pessoas hoje, que envergonhariam os brasileiros dos primeiros anos da ditadura militar,

Aceitamos absurdos que seriam inconcebíveis há 50 anos, somos prejudicados sem saber, feridos sem que possamos gemer de uma dor que temos sem sentir. Exaltamos canastrões, aprovamos incompetentes, reabilitamos algozes, endeusamos canalhas.

A acomodação ocorreu de tal maneira que qualquer coisa pode nos ser prejudicial, desde que permita alguma condição mínima de sobrevivência. Nem que seja só para almoçar, jantar e dormir, enquanto o prejuízo se acumula nos últimos 50 anos, distribuídos em doses homeopáticas.

Há o caso extremo do povo do Rio de Janeiro, à mercê de aceitar ou se conformar com as arbitrariedades que existem na política, nos meios de comunicação, na cultura, transportes, alimentação e tudo o mais. Já se fala até que carioca endeusa até cocô de passarinho, devido ao estigma de aceitar tudo que é decidido "de cima".

O Brasil se tornou surreal que a gente imagina que, com o falecimento do jornalista Sérgio Porto em 1968, com apenas 45 anos, seu FEBEAPÁ - Festival de Besteiras que Assola o País - obra de três volumes (que teria continuidade, não fosse a morte de seu autor) sob o pseudônimo de Stanislaw Ponte Preta, simplesmente saiu do papel e continua produzindo absurdos até hoje.

Isso cobra um preço muito caro, diante de tantas coisas que os brasileiros têm que aguentar. Nem precisamos fazer uma relação de todos eles, porque os problemas são conhecidos. Só o racionamento de água já é uma aberração, se comparar que os povos do Egito Antigo eram capazes de aproveitar áreas desérticas para produzir agricultura, com admirável sistema de irrigação.

É preocupante. O Brasil decaiu em 50 anos, que voltamos ao tempo do Segundo Império e da República Velha, talvez até antes, em que o "novo" não passa de uma máscara para reciclar ideias decadentes e práticas retrógradas. E ainda esperamos uma família real desembarcar no país para que algum progresso relativo fosse implantado.

E A DOUTRINA ESPÍRITA?

O caso da Doutrina Espírita, então, é aberrante. É assustador o número de pessoas que desejam recuperar as bases científicas de Allan Kardec com... Chico Xavier e Divaldo Franco! Sim, isso mesmo! E assim os "espíritas" brasileiros correm atrás dos próprios rabos.

Buscar a semente de uma árvore através de erva daninha é, infelizmente, uma mania nacional. Com casos mais extremos ocorrendo no Sul e Sudeste e, em especial, o Rio de Janeiro, pela primeira vez, em cem anos, experimentando um novo surto de provincianismo de fazer qualquer acreano ficar de queixo caído.

No caso da Doutrina Espírita, o que se observa é que as pessoas criticam os descaminhos do "movimento espírita", o excesso de religiosismo, as deturpações de ideias e os dogmas cada vez mais fantasiosos, mas tudo acaba reduzindo a uma queixa, corretíssima mas insuficiente, de que os "espíritas" simplesmente "leram mal Allan Kardec".

O problema do erro do "movimento espírita" vai muito além da "má leitura" de Kardec. Tanto que o que se viu foi a repetição de mesmos erros, de fraudes supostamente mediúnicas, de deturpações religiosistas, de pregações moralistas da pior espécie, e todo mundo fingindo que a fase roustanguista passou e todos estão vinculados às cases científicas de Kardec.

Presos à falta de discernimento, que atribui mediunidade autêntica a fraudes referentes a mensagens "psicográficas" que só apresentam a caligrafia do "médium", "psicofonias" de gente cujas vozes desconhecemos e tudo o mais, os "espíritas" e mesmo os genuinos, mas pouco vigilantes, espíritas autênticos, ainda se perdem, num caminho ou em outro, no religiosismo mais confortável.

Assim, eles mesmos colocam frases de Chico Xavier no Facebook, pensando que isso "não faz mal", quando traem sua própria vigilância na fidelidade às bases de Allan Kardec, que recomendava que rejeitemos pretensos espíritas que cometeram muitos e graves erros.

Na medida em que se prendem na dependência psicológica do religiosismo "espírita" e na falta de verificação de irregularidades mediúnicas, o "espiritismo" só se afasta ainda mais das bases originais de Allan Kardec, o que faz que mesmo as leituras das honestas traduções de José Herculano Pires sejam em vão, diante da desobediência, consciente ou não, dos ensinamentos kardecianos.

quarta-feira, 25 de março de 2015

"Espiritismo" também tem sua "Torre de Babel"


Já descrevemos que os "espíritas" vivem de especulação, entendendo os processos mediúnicos e a vida espiritual através de suposições que, na preguiça de se estabelecerem estudos realmente sérios sobre o contato com espíritos, não somente tomam como "verídica" meras impressões da imaginação como criam divergências dentro do "movimento espírita".

Sim, existem divergências de toda ordem. O caso do "Jesus fluídico" de Jean-Baptiste Roustaing, defendido até por Chico Xavier (isso mesmo), cria divisões sérias entre os "espíritas". E mesmo a suposta condição espiritual do primeiro presidente da República brasileira, Marechal Deodoro, criou divergência séria entre o próprio Chico e seu amigo e parceiro Divaldo Franco.

Chico Xavier dizia que Marechal Deodoro reencarnou em Fernando Collor de Mello, só pelo fato deste político corrupto (recentemente mencionado na lista da Operação Lava-Jato), ex-presidente da República e hoje senador, tem domicílio político na Alagoas onde nasceu Deodoro. Já Divaldo Franco, nos seus falsetes pseudo-psicofônicos, alegava que Deodoro ainda estava no mundo espiritual.

As pessoas não se entendem em muitos ritos e dogmas "espíritas". Um exemplo é o tempo que se deve fazer o "Evangelho no Lar", rito religioso que o "movimento espírita" recomenda às famílias realizarem num horário e dia fixos, em suas casas.

Esse rito é feito através da leitura do livro Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec (de preferência, evitando a tradução de José Herculano Pires, que desmascara os "espíritas", e abrindo aleatoriamente para evitar a leitura do Controle Universal do Ensino dos Espíritos que Kardec publicou no começo do livro), com um copo de água fluidificada "agindo" durante a leitura.

Há uma grande divergência quanto ao horário de duração do "Evangelho no Lar". Alguns "centros" recomendam a duração de 10 minutos, outros 15 minutos, outros adiante falam em meia-hora, e há quem diga que deva durar uma hora, mas neste caso é mais raro. Não há um consenso "espírita" quanto ao tempo que essa prática, que Kardec, em verdade, nunca recomendou, deveria durar.

A visão do umbral ou das colônias espirituais também cria divisões entre os "espíritas". Numa analogia aos "mundos espirituais" grosseiramente estabelecidos pelo moralismo do Catolicismo medieval, que dividem esses "mundos" em Céu, Purgatório e Inferno, em ordem decrescente de mérito moral, não há um consenso sobre como se dá essa analogia no "movimento espírita".

Algumas fontes definem o umbral como a analogia do Inferno, como o lugar pleno para os espíritos endurecidos experimentarem o sofrimento. Outras fontes já definem o umbral como um Purgatório, um ambiente mediano de expiação dos sofrimentos.

A obra Nosso Lar, arremedo de ficção científica que retrata a suposta vida espiritual do fictício André Luiz, embora defina o umbral como um "inferno" povoado de espíritos mórbidos (no filme eles mais parecem zumbis pós-modernos vindos de alguma peça do Living Theatre), ele parece um estágio provisório típico de um Purgatório.

Enquanto isso, o próprio Nosso Lar, a tal "colônia espiritual" que o "movimento espírita" jura com os pés juntos que existe sobre o Rio de Janeiro, é visto ao mesmo tempo como um "purgatório", no sentido de um grande complexo igrejista-hospitalar, como uma morada de "espíritos superiores", conforme indicam os seus gélidos, bondosos mas insensíveis membros da cúpula.

Há controvérsias quanto a presença ou não de animais domésticos nos mundos espirituais. Há quem diga que existem práticas sexuais no mundo espiritual. Há lanchonetes, restaurantes e há quem sugira haver até motoqueiros rebeldes, tipo Hell's Angels, ou cassinos nos mundos espirituais. Tudo sem estudo, sem pesquisa, todo mundo supondo ao sabor de suas convicções.

Depois todo mundo se julga fiel ao cientificismo de Allan Kardec, mesmo quando rebaixa a Doutrina Espírita a um espetáculo de suposições e simulações (quase toda a "mediunidade" praticada no país não passa de um faz-de-conta sem ligação com os contatos espirituais) que se nivela às mais fúteis práticas de mesas giratórias e das tábuas Ouija que divertiam os místicos no Primeiro Mundo.

É isso que se reduziu o "espiritismo" brasileiro, a uma prática de frivolidades, suposições, fantasias e delírios que acabam criando um clima de desentendimentos diversos entre seus membros, criando dissidências diversas (como as de Waldo Vieira, Alamar Régis Carvalho, os Gasparetto e outros) e transformando a doutrina brasileira numa tradução bagunçada da Torre de Babel que gerou desentendimento entre seus construtores sobre que forma alcançar a plenitude do céu.

terça-feira, 24 de março de 2015

Mídia transforma homicidas em subcelebridades


Tirar a vida do outro virou uma forma de obter a fama entrando pela porta dos fundos. Homicidas passaram a virar atrações do aberrante circo do sensacionalismo televisivo, que faz os telespectadores reféns da própria indústria da curiosidade macabra.

O crime acabou se tornando, em si, um espetáculo, e os condenados por assassinato acabaram se transformando em subcelebridades que alimentam o comercialismo sensacionalista de uma televisão vazia em ideias e viciada no rol de mentiras dos reality shows, os "espetáculos da realidade" que, de realidade mesmo, nada têm.

Nos EUA, o caso do empresário norte-americano Robert Durst, de 72 anos, movimenta esse mercado sensacionalista através de um documentário, The Jinx: The Life and Deaths of Robert Durst, série transmitida pelo canal HBO.

Já é preocupante haver um canal que passa programas sobre crimes, Investigation Discovery, ID, que as operadoras de TV paga têm a covardia de incluir nos pacotes básicos (mais baratos), ao lado de inutilidades como o Canal Rural (qual morador de zona urbana vai se interessar em ver leilões de gado pela Internet?). E isso com tanto canal para entrar nesses pacotes, como BBC ou a TV portuguesa SIC.

No Brasil, o que se observa é o oportunismo do apresentador de TV Gugu Liberato, que nunca teve interesse numa televisão de qualidade, em combater a supremacia da Rede Globo através de seu programa na Rede Record explorando, de maneira leviana, a violência humana ao entrevistar acusados de crimes.

Depois que Guilherme de Pádua, em um outro programa, e Suzane Von Richtofen, no de Gugu Liberato, deram entrevistas "bombásticas", e rede da Igreja Universal do Reino de Deus, a mesma que prepara os "Gladiadores do Altar", grupo potencialmente paramilitar de fanáticos religiosos, transforma a violência numa fórmula para atrair grande audiência

O crime acabou banalizado e virado um espetáculo, e apenas com muita trabalheira e mobilização das feministas, o feminicídio passou a ser considerado crime hediondo, depois que, em muitos anos, várias mulheres, sobretudo jovens, foram mortas por andarem em lugares ermos, fizerem más escolhas na vida amorosa ou forem alvo da cobiça maliciosa de colegas de trabalho.

Isso é mau. Porque o ato de tirar a vida de alguém passa a ser visto como um trampolim para o sucesso, e o ato, que na verdade gera prejuízos incalculáveis para a vida de muitos familiares e amigos, acaba sendo relativizado como se fosse uma coisa sem gravidade que apenas provoca muita polêmica.

Desde a ditadura militar, havia o avanço da criminalidade, com os grupos de extermínio suburbanos, os capangas do jogo-do-bicho e seus equivalentes rurais, os jagunços do latifúndio, fora outras organizações de traficantes e assaltantes, ou mesmo de iniciativas individuais, que transformam as cidades em cenários de guerra, colocando o Brasil entre os países mais violentos do mundo.

Valores conservadores e moralistas como o direito à propriedade de terra dos latifundiários e a defesa da honra machista serviram de desculpa para eliminar a queima-roupa trabalhadores rurais e mulheres inocentes que tinham seus ideais de vida e seus muitos planos de progresso espiritual.

Mesmo quando a justiça dos homens começa a estabelecer restrições para esses crimes, a mídia, dotada do mais insensível e desumano comercialismo, acaba explorando o espetáculo da violência, transformando criminosos em ídolos e "heróis às avessas".

Daí que, nos EUA, que agora assistem à exploração sensacionalista do milionário Robert Durst, acusado de assassinar uma ex-mulher, uma amiga e um vizinho, o psicopata Charles Manson havia recebido o tratamento de "ator de filmes-B" e, músico medíocre, teve suas fracassadas composições (rejeitadas por Terry Melcher, produtor e filho da atriz Doris Day) regravadas por vários grupos dos anos 1990.

Isso pode ser uma péssima campanha de marketing que, usada a pretexto de "investigar todos os lados do crime", acaba criando uma imagem glamourizada do criminoso, transformando-o não numa pessoa condenável, mas num outsider social, dando chance dele ser adorado justamente pelo crime que ele cometeu.

POR INCRÍVEL QUE PAREÇA, LUÍS BUÑUEL PREVIU ISSO

O "espiritismo" brasileiro põe querosene nesse incêndio moral e transforma os homicidas em criminosos menos condenáveis que os suicidas, usando como desculpa as condenações moralistas atribuídas a reencarnações duvidosas que transformam vítimas em "culpadas" e fazem dos assassinos "justiceiros das leis de causa e efeito".

Com isso, cria-se uma inversão que permite que conhecidos homicidas brasileiros, o fazendeiro Darcy Alves (que mandou matar Chico Mendes), o promotor Igor Ferreira da Silva (que mandou matar a esposa grávida) e o médico Farah Jorge Farah (que esquartejou uma amante), posarem de "pessoas simpáticas" aos olhos da grande mídia.

Essa glamourização do homicídio foi prevista pelo cineasta espanhol Luís Buñuel, no seu filme surreal O Fantasma da Liberdade, de 1974. Sem um protagonista definido, o filme mostra situações diferentes como se fossem pequenas esquetes, e numa delas aparece um homem que, com um rifle, se situa num andar alto de um prédio para matar pessoas que andam pela rua afora.

Teoricamente condenado à morte, o franco-atirador é libertado como se, em vez da pena capital, tivesse sido condenado à liberdade condicional. Na saída do processo, ele aparece dando autógrafos para um grupo de fãs.

A grande mídia, vendo numa elite de homicidas zeladores de "tradições" moralistas, como o machismo e a propriedade de terra, acaba poupando seus próprios autores de sofrerem a repercussão negativa de seus atos, protegendo-os mais do que as vítimas, não bastassem estas terem perdido a vida e isso ter causado angústias e traumas em amigos e familiares.

Ver que agora os homicidas têm a segunda chance de se projetarem na sociedade como subcelebridades, virando praticamente astros da televisão em sua fase de comercialismo voraz, é assustador diante dos esforços que ativistas fazem pela condenação criminal.

A exploração midiática e sensacionalista da imagem dos homicidas acaba criando o efeito contrário da cobertura informativa e eles acabam se tornando até ídolos pelo crime que fizeram. Esse é o perigo, ver pessoas que tiraram a vida de inocentes serem admiradas por isso mesmo. Seria o atenuante "espírita" dos "reajustes espirituais"?

segunda-feira, 23 de março de 2015

Música brasileira usa mesma desculpa para validar o "espiritismo" brasileiro

MICHAEL SULLIVAN - O homem que quis destruir a música brasileira usa a mesma desculpa de seguidores de Chico Xavier para retomar carreira.

Palavras de amor. Sempre as palavras, o belo desfile de versos e rimas que nada dizem, mas apenas adoçam as mentes das pessoas, escravas do instinto e reféns do sentimentalismo que vai muito além da saudável emotividade humana. Aliás, nem vai além, mas aquém, porque a pieguice é uma busca desesperada por uma emotividade que escapa das mentes endurecidas das pessoas.

O "espiritismo" é apenas um aspecto dessse zeitgeist, o "espírito do tempo" que contamina o Brasil, sempre apegado a medidas pragmáticas que só trazem "benefícios" imediatos e relativos, mas que não afetam a "zona de conforto" das pessoas.

O sentimentalismo piegas é uma dessas medidas. Se alguém declama palavras de amor, passa a ser "virtuoso", por parte de pessoas que são incapazes de exercer o amor ao próximo na prática, e precisam do narcótico das palavras de sentimentalismo exagerado para adoçarem e amortecerem seus instintos endurecidos pela rotina desse país problemático e atrasado que é o Brasil.

Daí, por exemplo, ver algo em comum nas músicas de Michael Sullivan e Paulo Massadas com as mensagens de Chico Xavier. Ambos os casos são narcóticos emocionais, palavras açucaradas que pegam desprevenidas pessoas desprovidas de discernimento questionador e aceitam essas mensagens piegas de maneira submissa e até mesmo subserviente.

ESQUEMA PERVERSO

Para quem ouve música brasileira, vale informar que Michael Sullivan fez muito sucesso nos anos 1980 ao lado do parceiro de composição Paulo Massadas e do de produção, Miguel Plopschi, através de diversos sucessos radiofônicos. Mas, por trás de canções "infantis" muito "simpáticas" e de "maravilhosas canções de amor", Sullivan esteve por trás de um esquema muito perverso.

Michael Sullivan era o chefe de um esquema de música comercial que cooptava desde ídolos bregas como José Augusto, astros televisivos como Xuxa Meneghel e artistas de MPB como Alcione, Raimundo Fagner e Roupa Nova para estabelecer um padrão comercial rigoroso, com fórmulas musicais inspiradas no pop norte-americano de então, sob objetivos meramente econômicos.

Nos bastidores, artistas eram castrados em seus talentos e tinham que gravar alguma composição de Sullivan e Massadas e descaraterizar seus estilos com o uso de sintetizadores, ritmos dançantes ou românticos, letras de amor piegas e outros artifícios que enfraquecem a expressão artística do cantor ou músico, antes um criador musical, depois um escravo da indústria de "sucessos".

As queixas de castramento artístico foram difundidas, nos últimos anos, pelo cantor pernambucano Alceu Valença, que fez questão de preferir não fazer sucesso e manter-se fiel à honestidade artística. A "máquina de fazer sucesso" de Michael Sullivan era feita em parceria com a Rede Globo de Televisão e com a filial da gravadora norte-americana RCA.

Hoje a memória curta das pessoas exalta Michael Sullivan como um "gênio" daquilo que ele quis destruir: a MPB. Como alguém que morde e assopra, Sullivan, que merecidamente voltou ao ostracismo depois de destruir a música brasileira e afastar a MPB do grande público, voltou com um CD "tributo" em que ele mesmo se homenageou chamando para gravar suas músicas um elenco quase todo de... artistas de MPB.

Numa comparação extremamente dura, mas verídica, é como se Guilherme de Pádua quisesse criar um memorial à atriz Daniella Perez. O músico e produtor que impôs fórmulas comerciais tentava, como um político corrupto em campanha eleitoral, se aliar aos seus próprios lesados para ganhar votos e conquistar aquele cargo político tão desejado. Como Fernando Collor para o Senado Federal.

As pessoas aceitaram bovinamente. Rádios de MPB passaram a tocar Sullivan e Massadas, sem saber da armadilha. Nas mídias sociais, até parece que Michael Sullivan era um discípulo de Tom Jobim pelos comentários que recebeu. Mas também seus internautas já haviam comparado Fernando Collor a Juscelino Kubitschek. O joio de hoje comparado com o trigo de outros tempos!

CULTURA DECADENTE

E o que isso tem a ver com o "espiritismo"? Muito. Afinal, o endeusamento de Michael Sullivan, agora considerado um "artista valioso" da MPB que ele quis destruir, reflete o despreparo e a falta de discernimento dos brasileiros tidos como futuros "líderes" e "formadores de opinião" do planeta.

Lembremos também que a música de Sullivan e Massadas e seus derivados se encaixam no padrão adocicado das "músicas espíritas", ou seja, músicas que tocam nos "centros espíritas" e que se autodefinem como "elevadas", mas são apenas músicas em boa parte piegas, que não acrescentam muita coisa ao espírito e apenas agradam aqueles que já tem um comportamento mais "carneirinho" nesses eventos.

Dá até para imaginar, nos "centros espíritas", pessoas cantando, ao som de violão, canções como a constrangedora "Um Dia de Domingo", cujas melodias fáceis e rimas primárias e até imperfeitas (logo na primeira estrofe, tenta-se "rimar" tempo com vento) e as "mensagens elevadas" soam como analgésicos para seus frequentadores. Música para boi e "espírita" dormir.

A cultura musical brasileira é uma das principais modalidades da cultura, e se hoje um algoz tem a chance de voltar carregado para os braços do povo, isso mostra o comportamento das pessoas para as quais tanto faz alguém destruir antigos ideais, projetos arduamente desenvolvidos e tradições criadas pelo suor e sangue das classes populares.

Afinal, o que está em jogo é o patrimônio cultural, inclusive musical, que um Brasil marcado por lutas de classes, pelo combate à escravidão e por outras lutas, não obstante sangrentas, que agora pode virar um brinquedo a ser manipulado e até destruído por empresários do entretenimento e produtores musicais ao bel prazer do mercado.

O próprio egoísmo dos produtores, que não respeitam a integridade artística de seus explorados, o próprio desejo de lucro, os tendenciosismos do mercado musical e de entretenimento, tudo isso faz com que o "popular" vire uma fórmula que só faz aumentar a degradação cultural que já domina, há anos, o Brasil.

Um país em que Chico Xavier deturpa a Doutrina Espírita em prol de um moralismo religioso inspirado no Catolicismo medieval, faz sentido que exploradores da cultura popular apareçam como "santos" porque fazem "coisas lindas", "compõem sobre o amor" e investem na "alegria" de operários, trabalhadores rurais e empregados domésticos.

Que grandes artistas podem haver com o castramento artístico-cultural? Pessoas que querem fazer e só fazem pela metade e até por menos que isso, que não deixam marca na humanidade. Que destaque terão para o país?

E que Brasil pode servir de exemplo para a humanidade se reabilita com facilidade espertalhões como Michael Sullivan, que ainda pede para a mesma MPB que ele quis destruir para recolocá-lo em algum lugar nobre na cultura musical brasileira?

Isso é apenas uma amostra de como os algozes de ontem podem ser reabilitados até por suas próprias vítimas. Se até um antigo torturador da ditadura militar hoje comanda o Carnaval carioca, então tudo tem a ver: um país que não se resolve culturalmente não pode comandar o mundo ao dar valor para quem age para destruir e empastelar nosso patrimônio cultural.

domingo, 22 de março de 2015

"Espiritismo" brasileiro vive de especulação


O "espiritismo" no Brasil toma o incerto como se fosse certo. Tenta criar suposições das quais estabelecem certezas absolutas, embora num dado momento tentem desculpar dizendo que é a visão mais provável etc etc etc.

Claro, "espíritas" dizem e desdizem o tempo inteiro. Antes entusiasmados defensores de Jean-Baptiste Roustaing, hoje se envergonham de seu legado e consideram seu sobrenome um "palavrão". Preferem fazer um roustanguismo light usando o nome de Allan Kardec que, tranquilamente, daria um ZERO aos seus "alunos" brasileiros.

Quanto à mediunidade, o que se observa é que existe a MENTIUNIDADE, O que se pratica sob o rótulo de "psicografia", "psicofonia" e "psicopictografia" no Brasil são quase sempre ações fraudulentas, feitas com o único objetivo de promover panfletarismo religioso.

As "psicografias" são geralmente obras literárias coletivas, com o suposto médium como autor e um grupo de editores como seus auxiliares e consultores de estilo. Em muitos casos eles também co-escrevem os livros "espirituais", mas em certos capítulos escolhem algumas obras literárias e plagiam alguns capítulos, com o cuidado relativamente sutil de rearrumar palavras e frases.

Quanto às cartas ditas psicográficas, elas apresentam apenas a caligrafia do suposto médium, inclusive a assinatura, a não ser que venha algum imitador da caligrafia do falecido, realizando uma imitação pouco sutil. E todas elas apresentam sempre a mesma mensagem monocórdica de alguém que "sofreu, depois ficou melhor, descobriu a luz e pede a todos se unirem no amor em Cristo".

As "psicofonias" são espetáculos de imitação vocal, em falsetes que supõem vir de vozes de pessoas do além. Mas uma manobra bem matreira é que muitas "psicofonias" remetem a personalidades que viveram até o século XIX e cujas vozes não tiveram registro disponível aos nossos dias. Só para se ter uma ideia, o fonógrafo, primeiro aparelho gravador de som, foi inventado em 1877 e só se popularizou cinquenta anos depois.

As "psicopictografias" são espetáculos de pintura falsificada livre, onde o falsário não precisa mais repintar a obra original, criando uma réplica da mesma. Ele apenas precisa conhecer parcialmente o estilo do pintor original e tentar reproduzir, ainda que de maneira grotesca. Nem precisa imitar a assinatura, a intenção "filantrópica" faz seu trabalho.

Por que mesmo espíritas com algum mínimo de seriedade acabam ficando complacentes com essa farra toda? Provavelmente, porque eles ainda não chegaram ao nível de confrontar totens, e acham ainda que não podem "mexer" em atividades ligadas ao sobrenatural.

Daí aberrações como acreditar que Humberto de Campos, agora, é "propriedade" de Chico Xavier. Ou imaginar que cartas apócrifas que só mostram a assinatura do suposto médium e fazem a mesma mensagem religiosista são "realmente mediúnicas".

Se deixarmos, mesmo os kardecianos de relativa dedicação no Brasil vão acreditar que André Luiz gerou o "big bang" e tem em mãos até a cura da paralisia cerebral, e só não divulgou porque somos malcriados e nos recusamos a ficar orando em silêncio como recomendava titio Chico Xavier.

O "espiritismo" vive de especulação, criando seu "mundo paralelo" em que o fantasioso e o fraudulento detém o monopólio de sentido sobre a realidade. É um mundo surreal em que as mistificações e mitificações se supõem "mais reais" do que a realidade, e nenhum raciocínio lógico pode intervir. Se intervir, será acusado de exercer "levianas paixões terrenas".

São suposições do que seriam as "práticas mediúnicas" sem que estudos aprofundados, como os relacionados ao Magnetismo de Franz Anton Mesmer, sejam feitos, criando um "vale-tudo" que permite a produção de mensagens sem qualquer recurso mediúnico.

Da mesma forma, as suposições de vida espiritual apenas são feitas à imaginação dos "espíritas", supondo uma reprodução da vida terrena dentro de uma perspectiva igrejista-hospitalar da qual inexistem estudos sérios comprovando ou desmentindo tais especulações.

O "achismo" do "movimento espírita" impede que o contato com espíritos do além seja feito de forma realista e honesta. Em vez disso, cria-se um faz-de-conta, e o espírito do além se limita a ser um nome que o suposto médium, sem exercer essa atividade, usa como crédito de autoria das mesmas mensagens de pregação religiosa que se conhece.

Tudo especulativo, mas levado como se fossem "certezas absolutas". Daí as suposições de existência de animais ou plantas no mundo espiritual, que não procedem em pesquisas científicas. O mundo espiritual, na verdade, é um mistério, mas o "movimento espírita" o inventa e cria uma "realidade paralela" que seus seguidores acreditam como se fosse "verídica" e "cientificamente comprovada".

Ainda impera muito o medo de questionarmos seriamente os irregulares procedimentos "espíritas". O medo de enfrentarmos "gente de bem", vejam só! Pessoas que não questionam atividades duvidosas e discutíveis porque não podem contrariar "gente caridosa". Isso nos faz pensar que a "bondade", em certos casos, pode também intimidar...

sábado, 21 de março de 2015

Mais um texto que NÃO foi escrito por Humberto de Campos


A obsessão de Francisco Cândido Xavier por Humberto de Campos é um problema sério que pouco tentam admitir ou reconhecer. Uma coisa mórbida, quase que como uma revanche, depois que Humberto, em vida, fez críticas um tanto irônicas a Parnaso de Além-Túmulo, o livro de poemas forjado em 1932 por Chico Xavier e remendado cinco vezes em 23 anos.

Chico provavelmente não gostou dos comentários e decidiu se apropriar do nome de Humberto de Campos, num verdadeiro ato de exploração leviana do nome de alguém falecido. O exótico caipira de Pedro Leopoldo tornou-se uma figura sensacionalista que se converteu no atual mito de frases açucaradas que adoçam almas e envenenam vidas.

A obsessão rendeu um processo judicial que resultou em empate. Os juízes, em 1944, não entenderam o objetivo do processo (verificar se a autoria espiritual era verdadeira ou não) e, no zero a zero, os herdeiros de Humberto de Campos perderam pontos, impulsionando o mito de Chico Xavier, cujos amigos ainda xingaram os coitados dos familiares de Humberto de "usurpadores".

É certo que Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho é a consagração dessa apropriação, mas antes, com Crônicas do Além-Túmulo, de 1937, e Palavras do Infinito, de 1936, a obsessão de Xavier pelo escritor maranhense já mostrava o grau doentio que fez Chico Xavier perseguir outros mortos, numa exploração bastante mórbida e oportunista.

Uma amostra que se colheu de Palavras do Infinito comprova, por uma simples análise de conteúdo, que Humberto de Campos nunca teria escrito as obras que atribuem à sua autoria espiritual. Humberto nem estava aí para Chico Xavier, mas o "espiritismo" trata o escritor maranhense como se ele tivesse sido o mordomo do anti-médium de Pedro Leopoldo.

Infelizmente, Chico Xavier acabou virando "dono" de Humberto de Campos, mas nossa análise de conteúdo, feita com a mais pura objetividade analítica, mostra que o suposto "espírito" de Humberto de Campos escreve num estilo completamente diferente do estilo que marcou o escritor maranhense em vida.

No lugar dos textos cultos mas em linguagem coloquial e descontraída que Humberto nos trouxe em sua vida terrena, vemos um escritor choroso que narra como se tivesse sido um pároco de igreja ou algum sacerdote católico, em nada lembrando o autor de O Brasil Anedótico.

É como se um suposto médium hoje se apropriasse do nome de Caio Fernando Abreu para escrever poeminhas medíocres de cunho puramente religioso, que mais lembrassem as pregações midiáticas de um Padre Marcelo Rossi. Mas como Chico Xavier virou quase um "deus" para seus fanáticos seguidores, pouco importa apontarmos irregularidades, porque nesse caso Chico Xavier tem sempre um cantinho para sua falta de lógica.

Tem gente que até imagina se o religiosismo não foi colocado por Chico Xavier no nome de Humberto de Campos para poder zoar com o cara, que não está mais aí para reclamar. Eis o trecho do livro, de um religiosismo exagerado que nada nos faz lembrar do saudoso membro da Academia Brasileira de Letras:

JUDAS ISCARIOTES - O emocionante encontro de Irmão X com o Apóstolo

Silêncio augusto cai sobre a Cidade Santa. A antiga capital da Judéia parece dormir o seu sono de muitos séculos. Além descansa Getsêmani, onde o Divino Mestre chorou numa longa noite de agonia, acolá está o Gólgota sagrado e em cada coisa silenciosa há um traço da Paixão que as épocas guardarão para sempre. E, em meio de todo o cenário, como um veio cristalino de lágrimas, passa o Jordão silencioso, como se as suas águas mudas, buscando o Mar Morto, quisessem esconder das coisas tumultuosas dos homens os segredos insondáveis do Nazareno.

Foi assim, numa destas noites que vi Jerusalém, vivendo a sua eternidade de maldições.
Os espíritos podem vibrar em contacto direto com a história. Buscando uma relação íntima com a cidade dos profetas, procurava observar o passado vivo dos Lugares Santos. Parece que as mãos iconoclastas de Tito por ali passaram como executoras de um decreto irrevogável. Por toda a parte ainda persiste um sopro de destruição e desgraça. Legiões de duendes, embuçados nas suas vestimentas antigas, percorrem as ruínas sagradas e no meio das fatalidades que pesam sobre o empório morto dos judeus, não ouvem os homens os gemidos da humanidade invisível.
Nas margens caladas do Jordão, não longe talvez do lugar sagrado, onde Precursor batizou Jesus Cristo, divisei um homem sentado sobre uma pedra. De sua expressão fisionômica irradiava-se uma simpatia cativante.

– Sabe quem é este? - murmurou alguém aos meus ouvidos - este é Judas.

– Judas?!...

– Sim. Os espíritos apreciam, às vezes, não obstante o progresso que já alcançaram, volver atrás, visitando os sítios onde se engrandeceram ou prevaricaram, sentindo-se momentaneamente transportados aos tempos idos. Então mergulham o pensamento no passado, regressando ao presente, dispostos ao heroísmo necessário do futuro. Judas costuma vir à Terra, nos dias em que se comemora a Paixão de Nosso Senhor, meditando nos seus atos de antanho...

Aquela figura de homem magnetizava-me. Eu não estou ainda livre da curiosidade do repórter, mas entre as minhas maldades de pecador e a perfeição de Judas existia um abismo. O meu atrevimento, porém, e a santa humildade de seu coração, ligaram-se para que eu o atravessasse, procurando ouvi-lo.

– O senhor é, de fato, o ex-filho de Iscariot? – perguntei.

– Sim, sou Judas – respondeu aquele homem triste, enxugando uma lágrima nas dobras de sua longa túnica.

E prosseguiu:

Como o Jeremias, das Lamentações, contemplo às vezes esta Jerusalém arruinada, meditando no juízo dos homens transitórios...

– É uma verdade tudo quanto reza o Novo Testamento com respeito à sua personalidade na tragédia da condenação de Jesus?

– Em parte... Os escribas que redigiram os evangelhos não atenderam às circunstâncias e às tricas políticas que acima dos meus atos predominaram na nefanda crucificação. Pôncio Pilatos e o tetrarca da Galiléia, além dos seus interesses individuais na questão, tinham ainda a seu cargo salvaguardar os interesses do Estado romano, empenhado em satisfazer as aspirações religiosas dos anciãos judeus. Sempre a mesma história. O Sanedrim desejava o reino do céu pelejando por Jeová, a ferro e fogo; Roma queria o reino da Terra. Jesus estava entre essas forças antagônicas com a sua pureza imaculada. Ora, eu era um dos apaixonados pelas idéias socialistas do Mestre, porém o meu excessivo zelo pela doutrina me fez sacrificar o seu fundador. Acima dos corações, eu via a política, única arma com a qual poderia triunfar e Jesus não obteria nenhuma vitória. Com as suas teorias nunca poderia conquistar as rédeas do poder já que, no seu manto de pobre, se sentia possuído de um santo horror à propriedade.

Planejei então uma revolta surda como se projeta hoje em dia na Terra a queda de um chefe de Estado. O Mestre passaria a um plano secundário e eu arranjaria colaboradores para uma obra vasta e enérgica como a que fez mais tarde Constantino Primeiro, o Grande, depois de vencer Maxêncio às portas de Roma, o que aliás apenas serviu para desvirtuar o Cristianismo. Entregando, pois, o Mestre, a Caifás não julguei que as coisas atingissem um fim tão lamentável e, ralado de remorsos, presumi que o suicídio era a única maneira de me redimir aos seus olhos.

– E chegou a salvar-se pelo arrependimento?

– Não. Não consegui. O remorso é uma força preliminar para os trabalhos reparadores. Depois da minha morte trágica submergi-me em séculos de sofrimento expiatório da minha falta. Sofri horrores nas perseguições infligidas em Roma aos adeptos da doutrina de Jesus e as minhas provas culminaram em uma fogueira inquisitorial, onde imitando o Mestre, fui traído, vendido e usurpado. Vítima da felonia e da traição deixei na Terra os derradeiros resquícios do meu crime, na Europa do século XV. Desde esse dia, em que me entreguei por amor do Cristo a todos os tormentos e infâmias que me aviltavam, com resignação e piedade pelos meus verdugos, fechei o ciclo das minhas dolorosas reencarnações na Terra, sentido na fronte o ósculo de perdão da minha própria consciência...

– E está hoje meditando nos dias que se foram... - pensei com tristeza.

– Sim... Estou recapitulando os fatos como se passaram. E agora, irmanado com Ele, que se acha no seu luminoso Reino das Alturas que ainda não é deste mundo, sinto nestas estradas o sinal de seus divinos passos. Vejo-O ainda na Cruz entregando a Deus o seu destino... Sinto a clamorosa injustiça dos companheiros que O abandonaram inteiramente e me vem uma recordação carinhosa das poucas mulheres que O ampararam no doloroso transe... Em todas as homenagens a Ele prestadas, eu sou sempre a figura repugnante do traidor... Olho complacentemente os que me acusam sem refletir se podem atirar a primeira pedra... Sobre o meu nome pesa a maldição milenária, como sobre estes sítios cheios de miséria e de infortúnio. Pessoalmente, porém, estou saciado de justiça, porque já fui absolvido pela minha consciência no tribunal dos suplícios redentores.

Quanto ao Divino Mestre – continuou Judas com os seus prantos – infinita é a sua misericórdia e não só para comigo, porque se recebi trinta moedas, vendendo-O aos seus algozes, há muitos séculos Ele está sendo criminosamente vendido no mundo a grosso e a retalho, por todos os preços em todos os padrões do ouro amoedado...

– É verdade - concluí - e os novos negociadores do Cristo não se enforcam depois de vendê-lo.
Judas afastou-se tomando a direção do Santo Sepulcro e eu, confundido nas sombras invisíveis para o mundo, vi que no céu brilhavam algumas estrelas sobre as nuvens pardacentas e tristes, enquanto o Jordão rolava na sua quietude como um lençol de águas mortas, procurando um mar morto.

sexta-feira, 20 de março de 2015

Faz parte: música caipira também apela para "bastardos de raiz"

CHITÃOZINHO & XORORÓ, AO LADO DO CANTOR E COLEGA BREGANEJO DANIEL - Quando os postiços são vistos como "verdadeiros".

A situação é típica do contexto de nossa crise cultural: na falta de personalidades que pudessem estar vinculadas às raízes culturais, muitos legitimam alguns canastrões, "penetras" de primeira hora que passam a ser vistos como "autênticos" só porque "conheciam" o espírito das festas que invadiam. Na falta do anfitrião, os penetras mais antigos passam a comandar a festa neste Brasil confuso.

A música caipira também padece dos mesmos males do "espiritismo" brasileiro. Se há quem imagine que a Doutrina Espírita vai recuperar as bases doutrinárias de Allan Kardec mantendo as deturpações de Francisco Cândido Xavier e Divaldo Franco, na música caipira fala-se agora em "defender as raízes caipiras" com os canastrões bregas Chitãozinho & Xororó.

Curiosamente, a música caipira está relacionada com o Espiritismo de bases kardecianas, no Brasil, pelo fato de um dos primeiros artistas caipiras, Cornélio Pires, ter sido tio do estudioso espírita José Herculano Pires.

Por outro lado, os pioneiros deturpadores da música caipira brasileira, a dupla paranaense Chitãozinho & Xororó - que no ano passado embarcou num disco-tributo caça-níqueis com composições de Antônio Carlos Jobim - , têm as mesmas iniciais de Chico Xavier, um dos maiores deturpadores do Espiritismo em toda sua história.

Oportunistas, Chitãozinho & Xororó e Chico Xavier sempre promoveram os desvios de caminho às causas originais que diziam defender, mas, tendenciosamente, sempre se passavam por "fiéis" às raízes dessas mesmas causas. Como quem reza para dois senhores, eles deturpavam a causa mas se julgavam "fiéis" às suas origens, como raposas que se dizem zelosas pelos galinheiros.

A dupla paranaense foi uma das primeiras a diluir a música caipira para fórmulas nada regionais e mercadologicamente padronizadas e pasteurizadas, misturando country romântico com mariachis e boleros estereotipados por Hollywood, fórmula que tornou-se conhecida como "tex-mex", por causa das influências da música do Texas, nos EUA, que assimilava elementos do vizinho México.

A dupla começou a carreira misturando música caipira em arranjos politicamente corretos - bem antes do termo virar moda no mundo - com o romantismo comercial estrangeiro, principalmente a partir dos Bee Gees. A dupla também foi uma das que comemoraram a vitória eleitoral de Fernando Collor de Mello, em 1989.

Religiosamente, Chitãozinho & Xororó são católicos, a ponto de gravarem, entre outras coisas, a versão em português de "Ave Maria" de Johann Sebastian Bach e Charles Gounod, além do sucesso do cantor da Jovem Guarda Antônio Marcos, "Homem de Nazaré". A dupla também gravou participações ao lado do Padre Marcelo Rossi.

Mas até Chico Xavier era católico, ele, colecionador de santos, assíduo rezador de preces católicas, defensor do Catolicismo mais convicto e do qual ele sempre foi praticante, tanto que ele se entristeceu quando adotou práticas heterodoxas que causaram estranheza nas antigas lideranças católicas, inflexíveis no mais extremado rigor religioso que fez com que o "espiritismo" de Xavier fosse erroneamente colocado em oposição ao Catolicismo.

E por que os primeiros deturpadores são considerados "autênticos" e supostamente "vinculados" às raízes de determinada ideia ou fenômeno? Porque seus seguidores ainda enxergam neles alguma associação, ainda que falsa e tendenciosa, a essas raízes, já que os primeiros canastrões são aqueles que tentam "sacar" o meio em que tentam, em primeira hora, invadir e dele se apropriarem.

Vivemos uma nivelação das coisas tão por baixo que os canastrões mais antigos parecem "autênticos" e "verdadeiros". No entanto, os antigos canastrões nem se tornaram especialistas ou genuínos como muitos pensam e querem afirmar, mas são apenas os primeiros penetras de uma festa da qual tentaram vagamente compreender.

Chitãozinho & Xororó e Chico Xavier apenas conseguem seduzir o sentimentalismo de seus adeptos e atrair a condescendência dos que reclamam as raízes da música caipira e do Espiritismo em relação a alguns deturpadores mais verossímeis.

No entanto, eles simplesmente foram espertos o suficiente para deturparem as causas em que se envolveram mas, quando as conveniências permitiram, davam a falsa impressão de que "sempre foram fiéis" às raízes. Como os primeiros penetras que procuravam estar a par das festas que desejavam invadir.

quinta-feira, 19 de março de 2015

"Espiritismo" faz pais esperarem ou exigirem demais dos filhos


O "espiritismo" brasileiro acaba criando problemas para a família, principalmente para os filhos. Os jovens tornam-se sobrecarregados, quando não são os sofredores nem as vítimas de tragédias, o que faz o "espiritismo" simbolicamente preferir o "velho" ao "novo".

Com suas palestras intermináveis sobre a instituição Família, a qual o "espiritismo" brasileiro vê como instituição pétrea que atravessa o limite das encarnações - mesmo quando espíritos mudam de clãs e relações de parentesco a cada reencarnação, mas sempre com as mesmas famílias cumprindo as mesmas missões parentais - , os filhos são os que mais sofrem com esse fardo.

Em muitos casos, os pais "espíritas" criam expectativas demais para os filhos. Eles ao mesmo tempo esperam mil virtudes e uma personalidade superpoderosa, enquanto fazem mil cobranças a eles. Às vezes os filhos são super-heróis, noutras são os subordinados familiares capazes de aguentar qualquer tranco.

Os filhos, na imaginação dos pais, são capazes de projetos e ideais acima do comum, mas em tese pouco inclinados a chorarem na ocasião do sofrimento. São os superfilhos dotados de muita inteligência, disposição para assumir tarefas sobrecarregadas e preparados para aguentar decepções sem derramar uma lágrima.

Muitos pais exigem dos filhos compromissos para serem assumidos como se pudesse fazer em um dia o que se faz em uma semana. Não percebem que filhos têm suas próprias ocupações, seus próprios projetos, que a sobrecarga pode se tornar prejudicial, que não há tempo para fazer tudo de uma só vez.

Em outros casos, os pais também acreditam demais na resistência emocional dos filhos que dificilmente conseguem compreender quando, por exemplo, um filho nerd sofre uma desilusão amorosa séria e fica deprimido e chorando.

Os pais veem os filhos como super-heróis e, quando os perdem em tragédias prematuras, acabam desnorteados e, tomados pela saudade imensa, vulneráveis à esperteza de supostos médiuns que criam mensagens apócrifas com suas próprias caligrafias e atribuem as mensagens aos nomes dos mortos de ocasião.

Isso é ruim. O "espiritismo" faz os pais se tornarem exigentes, sonhadores, inseguros e angustiados. Acaba não dando a paz necessária das famílias, estruturas sociais transitórias que se transformam permanentemente, algo que os "espíritas" não costumam aceitar nem admitir de bom grado. Para eles, famílias são apenas instituições fixas das quais esperam poucas e inócuas mudanças.

quarta-feira, 18 de março de 2015

"Profecia" de Chico Xavier tem sérios erros de abordagem geológica e sociológica

MULTIDÃO ASSISTE, IMPOTENTE, À INVASÃO DE UM MAREMOTO GIGANTE NO CHILE, EM 22 DE MAIO DE 1960.

O sonho de Francisco Cândido Xavier em 1969, que inspirou o livro Não Será em 2012 de Geraldo Lemos Neto e Marlene Nobre, e o documentário Data-Limite Segundo Chico Xavier, de Fábio Medeiros, como se não bastasse ser bastante duvidoso para ser uma "profecia" (condição só viabilizada pelo estrelato conquistado pelo anti-médium), é dotada de graves erros de abordagem.

Esses erros se referem ao âmbito da Geologia e da Sociologia, já que mostram incoerências de visão em relação ao que a realidade tende a nos mostrar, e que só ganharam sentido por causa da visão maniqueísta trazida pelos relatos de Chico Xavier.

Segundo sua suposta "profecia", o Hemisfério Norte se tornaria uma região "inabitável" depois que, sucedendo a atos terroristas, como os do movimento Estado Ismâmico hoje, e ações bélicas promovidas pelas autoridades dos países da OTAN, ocorreria uma série de catástrofes naturais que dizimariam multidões e deixariam todas as suas regiões em ruínas e condições degradantes.

Deixando de lado aqui as questões subliminares de Novo Império Bizantino, através da ascensão do "Espiritismo Cristão" que comandaria a teocracia do Brasil "Coração do Mundo", o que focalizamos aqui são os profundos erros de natureza geológica e sociológica trazidas pelo anti-médium, que praticamente tiram qualquer dúvida sobre a invalidade da suposta "profecia".

Além disso, Xavier se contradiz quando à tese de "desfiguração" do Brasil, já que o seu sonho de "coração do mundo" presumia um território brasileiro imenso, e ele não deixou claro se tal "divisão em quatro nações distintas, além do Brasil" era ou não simbólica, se essas "quatro nações" seriam outros países ou seriam regiões integrantes do Brasil. Ponto bastante nebuloso e estranho.

Mostramos o trecho, correspondente à nossa análise aqui, do que Chico Xavier teria dito sobre o sonho que ele teve pouco depois à chegada de uma missão da NASA (agência espacial dos EUA) no solo lunar, em 20 de julho de 1969, ao então jovem Geraldo Lemos Neto, que depois divulgou a conversa no jornal Folha Espírita e no livro Não Será em 2012. Leiam:

"Nosso Brasil como o conhecemos hoje será então desfigurado e dividido em quatro nações distintas. Somente uma quarta parte de nosso território permanecerá conosco e aos brasileiros restarão apenas os Estados do Sudeste somados a Goiás e ao Distrito Federal. Os norte­-americanos, canadenses e mexicanos ocuparão os Estados da Região Norte do País, em sintonia com a Colômbia e a Venezuela. Os europeus virão ocupar os Estados da Região Sul do Brasil unindo-os ao Uru­guai, à Argentina e ao Chile. Os asiáticos, notadamente chineses, japoneses e coreanos, virão ocupar o nosso Centro-Oeste, em conexão com o Paraguai, a Bolívia e o Peru. E, por fim, os Estados do Nordeste brasileiro serão ocu­pados pelos russos e povos eslavos. Nós não podemos nos esquecer de que todo esse intrincado processo tem a sua ascendência espiritual e somos forçados a reconhecer que temos muito que aprender com os povos invasores".

Há algumas incoerências de âmbito geológico e sociológico aqui. No âmbito geológico, há o erro de considerar o Chile como nação existente depois de intensas catástrofes que atingiriam os países do "velho mundo" (EUA, Europa, Oriente Médio, Ásia, Norte da África e parte da Oceania), que incluem violentas explosões vulcânicas, terremotos e maremotos.

Pelo comportamento geológico, sabe-se que as várias regiões vulcânicas no planeta existentes entram em atividade quase que numa mesma época, sobretudo o chamado Círculo de Fogo do Oceano Pacífico, composto de áreas que envolvem a Costa Oeste de todo o continente americano até parte do Leste da Ásia (inclusive Japão) e a maior parte da Oceania.

Se, por exemplo, a Costa Oeste dos Estados Unidos da América (incluindo a destacada Califórnia, cuja cidade principal, Los Angeles, é, através de bairros como Hollywood e Beverly Hills, é o maior reduto de celebridades no mundo inteiro) for devastada por maremotos, terremotos e explosões vulcânicas, o Chile não escaparia de desaparecer do mapa.

O Chile é o país com maior atividade vulcânica e sísmica da América do Sul, com 95 vulcões ativos e eventualmente ocorrem terremotos violentos e maremotos que devastam cidades e povoados, gerando várias mortes e milhares de desabrigados.

A tragédia de 22 de maio de 1960, na província de Valdívia, foi a maior da história do Chile nas últimas décadas e se deu com a catástrofe combinada entre a erupção do vulcão Puyehue, no sul do país, com um gigantesco maremoto causado por um tremor de quase 9,6 pontos da escala Richter (considerado um dos mais graves) entre o Oceano Pacífico e o solo chileno. Cerca de 5700 pessoas morreram e aproximadamente 2 milhões de habitantes ficaram desabrigados.

A gravidade da tragédia foi tal que chegou a ameaçar a realização da Copa do Mundo de 1962, da qual a Seleção Brasileira de Futebol saiu bicampeã. Além disso, houve grande erupção vulcânica ocorrida em 1961, com o monte Calbuco.

Se a tragédia imaginada por Chico Xavier realmente ocorresse, o Chile seria totalmente devastado, pelo reflexo geológico das erupções vulcânicas, terremotos e maremotos que atingiriam várias partes do país, não somente o Círculo de Fogo do Pacífico, mas também a Itália e parte da Ásia Central.

NORTE-AMERICANOS NA VENEZUELA? SÓ SE FOR PARA DEPOR BOLIVARIANOS!

Faltou um pouco de Sociologia e Ciência Política para Chico Xavier, que esteve mais preocupado com seu maniqueísmo infantil de querer ver o Hemisfério Norte destruído e o caminho do "velho mundo", com suas experiências no ramo do conhecimento e da evolução social, arrasado e liberado para a ascensão brasileira como "nação mais poderosa do planeta".

Isso porque ele se valeu apenas de rabiscos de atlas geográficos para supor quais os povos que predominariam nas diversas regiões ou "nações" no território brasileiro. Ele teria riscado rotas de países do Hemisfério Norte a serem destruídos e traçou uma linha reta para o que ele imaginava ser a rota de fuga dos povos remanescentes para o solo brasileiro.

Dessa maneira, ele cometeu grave equivoco quando enumerou que os norte-americanos povoariam a Região Norte do Brasil, juntamente com canadenses e mexicanos, que também ocupariam a Colômbia e a Venezuela, consistindo numa grande falha sociológica.

A única maneira de norte-americanos ocuparem áreas, por exemplo, da Amazônia e da Venezuela, é tão somente pelas forças empresariais e militares, sem compromisso de fixar a residência permanente que se supõe da "profecia" de Chico Xavier.

Essa ocupação se daria pela exploração econòmica, legal e clandestina, de recursos naturais da Amazônia, como já se faz desde muitos anos, e, no caso da Venezuela, como forças de intervenção militar para depor governantes da chamada esquerda bolivariana e instalar o que os EUA entendiam como "democracia".

A tendência maior de migração de povos da América do Norte se daria, com toda a certeza, no Sul e Sudeste, com estadunidenses tendendo a predominar nos Estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná, sendo os mexicanos indo para o Espírito Santos e Minas Gerais e os canadenses para São Paulo, Paraná e Santa Catarina. A Sociologia aponta para esta tese.

Chico Xavier só acertou quando falou que os europeus em geral ocupariam a Região Sul (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul) porque isso sempre foi um fato conhecido e ocorrente na época de nascimento do anti-médium, quando se intensificaram as migrações de italianos, franceses, ingleses e alemães para os Estados sulinos e também para o sudestino Estado de São Paulo.

Mas Chico Xavier novamente errou quando afirmou que a maioria dos povos eslavos e russos migraria para o Nordeste. Grande equívoco. O Nordeste seria habitado majoritariamente por portugueses, espanhóis, franceses e talvez até italianos, mas o seria também por africanos e povos centro-americanos.

Os eslavos e russos tendem a povoar os Estados do Sul do país, até de maneira mais radical, pouco indo além das fronteiras de Santa Catarina, Rio Grande do Sul e o Sul do Paraná. Sociologicamente, são regiões que se afinam com as condições sociais e climáticas dos povos eslavos e russos. Como é que os povos da gelada Sibéria vão se adaptar sob o calor típico do litoral nordestino?

Portanto, Chico Xavier, não bastasse ser um péssimo aluno de Doutrina Espírita (um dos piores de todos os tempos), também carece de um bom aprendizado de Sociologia, Ciência Política e Geologia. Caso contrário, terá que fazer companhia ao ex-presidente estadunidense, Ronald Reagan, que ao chegar ao Brasil, em dezembro de 1982, ofereceu um brinde ao "povo da Bolívia".

terça-feira, 17 de março de 2015

"Espiritismo" brasileiro é materialista

O MATERIALISTA JOSEF STALIN - Eliminou vidas ou foi agente de "reajustes espirituais"?

O "espiritismo" brasileiro é dotado do mais extremo materialismo, de fazer os marxistas originais tremerem de vergonha. Até parece que o "movimento espírita" brasileiro compete com o stalinismo no que se refere aos ideais materialistas referentes a estruturas morais, sociais e pelo modo que se deve se ascender na vida humana, entre tantas coisas.

Exagero? Não, pois, apesar de toda alegação do "mais puro espiritualismo", o "espiritismo" brasileiro é materialista até os neurônios. Não é fácil explicar isso para seus seguidores, mas uma observação cautelosa pode garantir que o "espiritismo", sim, é altamente materialista, podemos dizer até o extremo.

A superestimação da instituição família, acima até mesmo da média feita pela Igreja Católica, é um dos aspectos típicos do "movimento espírita". Relações meramente materiais e provisórias em cada encarnação são vistas pelos "espíritas" como laços parentais e até hierárquicos que atravessam várias encarnações.

A predestinação do Brasil como "nação mais poderosa do mundo", tudo às custas de um sonho sem muita importância de Chico Xavier em 1969, também é um dado materialista, porque, na verdade, nenhuma evolução espiritual passa pelos hectares delimitados de nação alguma. Não existem delimitações territoriais para processos de evolução espiritual.

Além disso, o geocentrismo, uma das mais explícitas heranças que o "espiritismo" brasileiro tem do Catolicismo medieval, na medida em que credita o Brasil como um futuro país líder da humanidade terrena e, por conseguinte, do universo, prende a ideia de espiritualidade a visões próprias do mais escancarado materialismo geocêntrico e, sobretudo, brasilocêntrico.

Pior: simbolicamente, o "espiritismo" resgata a ideia da Terra como um centro do universo, tão radicalmente defendida pelos sacerdotes medievais, contra os quais qualquer contestação era certeza de sofrer sentenças mortais, por fuzilamento, enforcamento ou sendo queimado nas ruas, exposto a multidões e transeuntes.

Para os "espíritas", a Terra volta a ser o centro do universo. Limitam-se a "admitir" que a Terra gira em torno do Sol e "reconhecem" os conceitos científicos de estruturas galaxiais. Mas tentam dar à Terra um centro, se não "material", pelo menos "espiritual", o que dá no mesmo, Afinal, os critérios continuam sendo materiais do mesmo jeito.

Até o mundo espiritual, na verdade um complicado enigma e um mistério ainda difícil de ser resolvido, é imaginado pelos "espíritas", em duvidosas "psicografias", como réplicas "mais perfeitas" do nosso mundo material, num arrogante, porém não assumido, processo de imitação das cidades espaciais das obras de ficção científica.

Há até mesmo casos exagerados de obras sobre "cidades espirituais" que incluem não só passarinhos e animais domésticos, zebrinha listrada, oncinha pintada e coelhinho peludo, como há também gente transando, tocando punheta, há até motoqueiros do além, rodeios, um verdadeiro shopping center.

E isso quando tais exageros são reprovados até mesmo pelo "movimento espírita" tido como "mais sério", que acham que "o verdadeiro mundo espiritual" se resume a meros hospitais igrejistas controlados por protetores espirituais de comportamento frio porém acolhedor, diante de campos floridos insossos de relvas prolongadas.

Mas mesmo esse "verdadeiro mundo espiritual" é também materialista, e o próprio caráter frio, sem expressões e com um comportamento sisudo e gélido, dos "amorosos assistentes espirituais", mais parecem de robóticos zumbis espaciais em formas de humanoides, sem uma força de espírito natural e espontânea.

A própria glamourização do sofrimento também é materialista, criminalizando a ideia do prazer que é essencial para aliviar o espírito, mas superestimando a desilusão que é imposta justamente a quem não mais precisa dela para o aprendizado da vida. O espírito sofre, porque a "doutrina espírita" feita no Brasil escraviza almas, transforma a vida material num fardo ainda mais pesado e, portanto, bem mais materialista.

Que progresso espiritual teremos então? Nenhum. Há muito o que se falar dos aspectos materialistas do igrejismo "espírita". Até nas tragédias coletivas, em que a união meramente material de pessoas diferentes sob um mesmo infortúnio mortal supõe erroneamente que todos tenham se unido por um objetivo comum. Mas eram apenas vidas separadas que se uniram por poucos momentos.

Daí o materialismo. Como também o cheiro de éter do suposto Adolfo Bezerra de Menezes. Como também a suposição de Chico Xavier de que uma cadelinha que substituiu outra que já morreu é reencarnação da falecida. E a própria idolatria dos seguidores de Chico Xavier a ele, presa nos estereótipos materialistas do "humilde velhinho".

Tudo isso nada tem a ver com espiritualismo. Há ateus que dão um banho de espiritualidade em muito "espírita" convicto. O "espiritismo" brasileiro, com seu moralismo e suas visões igrejistas e apegadas à matéria, é que é materialista, mesmo.

O "espiritismo" brasileiro é bem mais do que muito comunista, e competindo com o materialismo violento do stalinismo que, à luz (ou treva?) do "espiritismo" brasileiro, faz a gente verificar que, segundo os "espíritas", o ditador Josef Stalin, ao eliminar vidas, estaria promovendo o tal "resgate espiritual" de suas vítimas "culpadas" de supostas faltas passadas.
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