domingo, 31 de agosto de 2014

Chico Xavier não poderia jamais ser um líder


Só mesmo a ingenuidade de muitos brasileiros e a falta de discernimento que fazem com que eles acreditem que Chico Xavier, com todas as suas falhas, mesmo as mais graves, seria um líder espiritual, um expoente máximo do Espiritismo, o maior apóstolo de Jesus ou qualquer outro título que o faça manter uma postura de liderança na evolução moral do Brasil.

No entanto, sabemos porém que isso é impossível, porque as falhas entram em contradição com qualquer critério mínimo de um líder de qualquer coisa, mesmo quando se consideram imperfeições e possibilidades de cometer falhas.

Sempre que se enumeram os erros de Chico Xavier e confronta com sua imagem mitológica, a contradição chega a ser aberrante. É uma questão de observação, uma vez que só mesmo o sentimentalismo e a falta de discernimento para aceitar que uma pessoa seja ao mesmo tempo "ignorante e inculta" e "dotada de plenos poderes".

Para começar, a imagem de Chico Xavier como ingênuo e "puro" entra em confronto sério com seus erros. Se verificarmos as acusações de plágio e seu apoio às fraudes de materialização, não só uma vez, mas várias, logo percebemos que seu mito de ingênuo não procede.

Se Chico decidiu por participar dessas "brincadeiras", ele não poderia ser líder, porque cometeu uma grande irresponsabilidade. Mas se considerarmos a tese de que ele foi "vítima" e "manipulado" pelos chefões da FEB, Chico também não poderia ser líder, porque nessa hipótese ele foi "mandado".

As acusações de plágio contra Chico Xavier também o levam a um impasse. A tese mais provável era de que Chico foi um ávido leitor de livros, levando em conta que ele não teria sido exatamente cego, como se imagina, mas com um grau muito alto de miopia. Ele teria sido esperto, astuto, vendendo uma literatura irregular como se fosse psicografia.

Mas um líder não se constrói assim, pois pode ser que algum líder engane muita gente através de sua esperteza, mas, uma vez descobertas suas fraudes, ele deixa de ser líder. Porque um líder é aquele que, dotado de maiores habilidades, orienta as pessoas a seguir um dado caminho ou fazer uma dada tarefa. Ninguém é líder tratando seus parceiros e seguidores feito gato e sapato.

Supondo, todavia, que Chico não só não teria plagiado como era "iletrado" e "inculto", e as obras "sofisticadas" que lançou, seja várias das cartas e livros tidos como psicografados, ele não teria sido líder, porque sua "simplicidade" era vista como frágil demais, se levarmos em conta que Chico afirmou ser "intelectual falido", numa entrevista ao programa Pinga Fogo, da TV Tupi de São Paulo, em 1971.

Como é que um sujeito que afirmou ser um "intelectual falido" pode ser líder? Só num país como o Brasil, com mania de inverter os valores, atribui sabedoria àquele que se torna mais ignorante. É um grande erro de interpretação que faz com que muitos estúpidos se contentem na burrice, a pretexto de terem se formado na "faculdade da vida".

Até os mais ignorantes, no que se refere à escolarização, quando aprimoram sua inteligência, é pelo nível de assimilação de conhecimentos, por outros meios que não os escolásticos, e pelo nível de observação e percepção das coisas. Ninguém fica sábio porque é ignorante ou se assume como tal.

RACIOCÍNIO FILOSÓFICO

Não se trata de julgamento de valor, mas de um raciocínio filosófico, confrontando mitos e realidades, o que desagrada muita gente que via em Chico Xavier uma figura extraordinária, reunindo estereótipos tão contraditórios que só mesmo a fé condescendente, piegas e cega pode consentir e não questionar.

Chico Xavier não tinha firmeza, não raro mudava as opiniões e pareceres nos seus livros, e teve que reeditar por seis vezes o livro Parnaso de Além-Túmulo. Era submisso muitas vezes e, em outras, adotava posturas duvidosas e voltava atrás, não raro sob constrangimento.

Se Chico tivesse sido firme, não teria cometido os erros que cometeu. A firmeza é uma das caraterísticas maiores de um líder. Na Doutrina Espírita, Allan Kardec poderia ser um líder, pela firmeza e segurança na pesquisa, na produção de conhecimentos e no convite ao debate público.

Por outro lado, se Chico Xavier não teve firmeza, portanto ele não poderia ser líder. E isso o deixa num beco sem saída, porque se ele agiu com boa-fé, ele não poderia ser líder, porque foi "mandado". Se ele agiu com má-fé, também não poderia ser líder, porque líder não ludibria seus seguidores.

Um mestre não se faz dessa forma, juntando clichês de bondade, humildade, velhice, inocência caipira, entre outros estereótipos semelhantes. Um mestre se faz com gente que sabe, gente que pode até ter simplicidade, mas tem a consciência de seu saber e a responsabilidade de adotar decisões as mais seguras possíveis e transmitir ideias com a máxima segurança, embora passíveis de serem revistas.

E isso é muito diferente do que lançar um livro de poemas "do além" que teve que ser remendado por mais de duas décadas. Isso não é como os livros científicos cujo conteúdo é transformado na medida em que descobertas obrigam ideias a serem revistas e reformuladas.

Parnaso do Além-Túmulo foi alterado de forma leviana, apenas para criar um conteúdo ao mesmo tempo mais verossímil e menos polêmico possível. Só esse exemplo derruba o mito de liderança de Chico Xavier, pela sua incapacidade de, ao menos, lançar logo de início uma edição definitiva, até pela pretensão de ser um livro de "mensagens superiores".

sábado, 30 de agosto de 2014

Mal do Brasil, a subserviência tem raízes religiosas


O Brasil sofre de um terrível mal. O da subserviência. Em vários aspectos da vida humana, seja na cultura, na política, na economia, na justiça, na religião, na mobilidade urbana, há o hábito das pessoas que, na sua zona de conforto, aceitam qualquer imposição na vida, por mais cruel e desastrada que seja, acreditando nas tais "ordens superiores".

As pessoas aceitam as coisas, ou seus representantes, ou certos valores e procedimentos, sem verificar se eles são realmente vantajosos, honestos, íntegros ou satisfatórios. Não verificam o passado sombrio de certas pessoas nem os aspectos equivocados de seus procedimentos ou ideias.

Às vezes até certas pessoas defendem causas ou indivíduos que, na verdade, não são grande coisa assim, e arrumam até desculpas prontas: "Não é 100%, mas é melhor do que nada", "É preciso passar por certos sacrifícios" ,"Até que isso é bom demais, você está de chilique" etc etc etc.

Essa postura pode até ser histórica no nosso país, mas ela se tornou mais intensa da década de 1990 para cá, quando o Brasil misturava seu coronelismo, seu provincianismo e seu fisiologismo político-institucional com mitos religiosos e alguma pressa em parecer moderno para os olhos do mundo, mesmo ostentando um atraso matuto difícil de disfarçar.

E aí surgem pessoas agressivas, arrogantes, irritadas, que não aceitam tais críticas. Por que elas defendem coisas, pessoas e ideias tão retrógradas com tamanha convicção, a ponto de se irritarem com discórdias alheias, que os fazem, em casos extremos, a reagir com ofensas e calúnias?

Simples. É a ilusão que essas pessoas, que defendem o "estabelecido" de valor duvidoso, de acreditarem que tal sistema de valores, coisas e pessoas, por terem sido fruto de decisões vindas "de cima" - seja de autoridades, tecnocratas, acadêmicos e líderes religiosos - , ou seja, vindo de decisões que eles consideram "sábias" e "necessárias", por mais problemáticas que possam ser.

Em outras palavras, essas pessoas tratam tais decisões como se elas se equiparassem às decisões divinas, e mesmo a fúria dessas pessoas têm um fundo ligado ao religiosismo mais retrógrado, a uma fé cega que os faz reagir, em certos casos com violência e sarcasmo, a qualquer um que conteste tais valores, ideias e pessoas.

"PAIS" E "DEUSES"

Na Internet, se observa isso. De repente um político retrógrado e corrupto, mas com alguma imunidade social - quando mesmo a mais cruel oposição popular não arranha em todo sua reputação no meio político-institucional - , decide algo claramente antipopular e danoso, sem consulta popular, mas que de repente recebe algum apoio de certos segmentos sociais.

Aí você contesta esse projeto antipopular e os internautas não gostam. Às vezes eles fazem comentários do tipo "Ah, lá vem você e seu amiguinho dizendo a mesma coisa!", dando margem a ataques irritados, por vezes zombeteiros, porque o projeto antipopular tem que ser "popular" e ninguém pode estragar a "festa".

Esse reacionarismo dos internautas que pensam o "estabelecido" desta forma possui bases emocionais influenciadas pelo catolicismo medieval que ainda domina o inconsciente popular brasileiro e que já impulsionou até mesmo um golpe e uma ditadura militar, entre 1964 e 1985 (as "marchas da família" não nos deixam mentir).

Essa visão credita as decisões arbitrárias, vindas "de cima", como análogas às determinações divinas, numa visão católico-medieval de "sacrifícios", de "benefícios futuros" que nunca vêm, de pessoas abrindo mão de qualidade de vida para aceitar o que "está aí".

É como se as pessoas dessem a essas decisões arbitrárias um poderio de imposição divina como se o fato de "não escolhermos" quem serão nossos pais - pelo menos no sentido materialista do termo, porque lá do "outro lado" escolhemos, sim -  pudesse também se estender à "não escolha" de quem comandará a mobilidade urbana, a cultura rock, a espiritualidade etc.

Para cada contexto, cria-se até mesmo seus "deuses" específicos, quase sempre santificados nas principais páginas da busca do Google. Pode ser Jaime Lerner, Luciano Huck, Neymar Jr., DJ Marlboro, Paulo César Araújo, Ivete Sangalo, Michael Sullivan e tantos outros que nem são lá grande coisa, mas que têm o privilégio de parecerem "divindades" para uma parcela da sociedade.

POUCO IMPORTAM OS DEFEITOS, É O QUE "ESTÁ AÍ"

Pouco importa se a instituição ligada a tal serviço é incompetente, possui um passado criminoso, ou faz um mau trabalho. Se as decisões "de cima" a escolheram para representar tal tarefa, deve-se aceitar sem reclames. É o que "está aí", queiram ou não queiram.

O mesmo quanto às pessoas. Se o indivíduo representa uma doutrina ou um projeto, ele deve ser aceito e manter sua reputação no plano mais alto possível. Se é "imperfeito" ou "falho", pouco lhes importa, os defensores do "sistema" têm que aceitá-lo com seus erros - alguns desastrosos e extremamente danosos - porque é ele o "eleito" para tal tarefa, "doa a quem doer".

Essa visão subserviente se vê em vários setores. Até mesmo na cultura rock brasileira há duas rádios impostas "de cima", como a paulista 89 FM e a carioca Rádio Cidade - que tratam o fã de rock feito um débil mental ao gosto dos moralistas que rejeitam o gênero - que seguem essa visão "messiânica" de que elas foram escolhidas "lá do alto" para tal tarefa.

"ESPIRITISMO" SEM ALLAN KARDEC, MAS SEMPRE COM CHICO XAVIER

No "espiritismo" brasileiro se encontra um dos exemplos mais típicos. Embora teoricamente calcado na Doutrina Espírita de Allan Kardec - de início abertamente desprezado, para depois virar alvo de bajulação - , a doutrina carrega a sina de ser representada, para sempre, pela figura duvidosa do anti-médium Francisco Cândido Xavier.

É um "espiritismo" que pode até esquecer Allan Kardec e jogar as ideias originais do professor lionês no lixo, mas sempre terá que manter Chico Xavier no pedestal, mesmo quando seus piores erros vão sendo revelados.

Chico é visto como se fosse um "mensageiro divino", ele está no pedestal do imaginário "espírita" brasileiro porque também é fruto de uma decisão "de cima" (que sabemos ser da Federação "Espírita" Brasileira), e também porque reúne numa só pessoa os estereótipos confortáveis de velhice, humildade, generosidade, fé e filantropia.

Daí a submissão das pessoas a respeito de Xavier, não apenas os seus adeptos mais apaixonados, mas também os questionadores mais tímidos, uma visão submissa, condescendente e subserviente que se amplia também a outros seguidores do mineiro, como Divaldo Franco e José Medrado.

Graças a isso, eles podem cometer fraudes diversas, seja na materialização, na psicografia, nas pinturas mediúnicas, na psicofonia, que há até mesmo uma minoria de pessoas que, à maneira de quem vê cabelo em ovo, tenta ver autenticidade nessas armações grotescas.

E não adianta nós apontarmos provas e argumentos lógicos dizendo que os anti-médiuns não estão evocando pessoas falecidas, mas por vezes fazendo falsetes, usando pessoas se fantasiando de fantasminhas de teatro mambembe com fotos de falecidos coladas nas caras sob panos ou plagiando obras literárias e de artes plásticas para supostas artes mediúnicas.

Os defensores desses totens escolhidos "de cima" insistem em acreditar nas suas fantasias, até se irritando quando o questionamento torna-se mais severo. Eles pensam serem beneficiados por sua fé, como pessoas predestinadas a um benefício futuro, mas no fundo se tornam escravas de visões ao mesmo tempo falsas e danosas, e um dia cairão na desilusão dolorosa e inesperada.

Os tempos mudam. Quem vive na ilusão de aceitar tudo que vem "de cima" acaba sendo atingido também pelo peso das "pedradas" que caem no decorrer da vida. E chega um tempo em que esses escravos do "sistema", de tão enfraquecidos pela desilusão e desolação, não terão força para reagir furiosos ou zombeteiros para defender seus absurdos e suas ideias de valores duvidosos.

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

A caridade de Bear Grylls


O que é caridade mesmo? Apenas enxugar lágrimas e dizer "se você sofre, é porque isso lhe trará muitas bênçãos no futuro"? Coisas assim até o Amigo da Onça teria dito, não é mesmo? Pois a caridade é muito mais do que consolar e fazer doações paternalistas.

Um exemplo que poucos sabem de caridade é trazido pelo apresentador inglês Edward Michael Grylls, o Bear Grylls. Ex-militar das Forças Especiais Britânicas, Grylls tem 40 anos e está à frente de programas como Prova de Tudo (Man Vs. Wild) e Sobrevivendo com Bear Grylls (Bear Grylls: Escape from Hell), transmitidos no Brasil pelo Discovery Channel.

Ele tem larga experiência em situações de risco. É montanhista, aventureiro e relatou suas experiências em seus livros e nos programas de TV. Através dessa experiência, ele há um bom tempo ensina as pessoas a como sobreviver na Natureza diante de situações de risco.

Não há caridade maior do que isso. Imagine alguém se perder numa floresta. Os riscos de morte são muitíssimo altos. Mas, através das dicas de Grylls, as pessoas podem aproveitar várias situações e dicas para sobreviver enquanto espera ou tenta buscar algum socorro. Em situações das mais difíceis, Bear ensina como se livrar delas com calma e agilidade.

Grylls dá dicas diversas. Como, por exemplo, não usar roupas molhadas em áreas glaciais, usar a fogueira para se aquecer e espantar predadores, aproveitar a direção do Sol para orientar-se no caminhoou verificar as águas dos rios e lagos para ver se dá para beber ou não.

Só mesmo vendo os programas e prestando atenção às dicas de Grylls para entender os métodos de sobrevivência que ele ensina. Mas, uma vez conhecendo-os, as chances de alguém sofrer uma tragédia reduzem drasticamente, o que faz com que as pessoas sejam ajudadas por antecipação.

Em outras palavras, Grylls salva as pessoas antes delas sofrerem uma tragédia. Previne antes de remediar. O que põe o apresentador na dianteira, porque, antes de "enxugar lágrimas", ele as evita de derramarem. A não ser que as lágrimas dos beneficiados tenham outro fim, que é a comoção de ver entes queridos sãos e salvos graças às dicas de sobrevivência do amigo Bear.

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

O falso Humberto de Campos que tentou impressionar a Justiça dos homens


A polêmica do suposto Humberto de Campos foi um verdadeiro litígio que deu início à mitologia de Chico Xavier, na medida em que o fato, tão inusitado para os padrões de compreensão da época, fez com que juristas e advogados praticamente deixassem passar o caso, enquanto o esperto anti-médium mineiro construía sua imagem de "profeta" e "espírito puro" que muitos até hoje acreditam dele.

Só que essa apropriação do espírito do escritor, que em verdade nunca teria escrito uma bobagem como Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, se deu de forma tendenciosa, depois que o próprio escritor, em vida, fez um comentário levemente irônico sobre Parnaso de Além-Túmulo, comprovadamente a fraude literária que não teria tido participação dos poetas do além.

Chico Xavier tentou alimentar sua mitologia quando o advogado da FEB, Miguel Timponi, lá pelos idos de 1944, acusou os herdeiros de Humberto, a viúva Catarina Vergolino de Campos e seus filhos, de quererem usurpar o dinheiro das vendas dos livros de Xavier atribuídos ao espírito do escritor.

A ação dos familiares do escritor falecido em 1934 consistia em averiguar se as obras atribuídas ao autor espiritual eram ou não realmente dele, e que, caso fosse, caberia a seus herdeiros, viúva e filhos, receberem parte dos direitos autorais das presumidas obras espirituais.

A Justiça julgou a ação improcedente, porque, no seu raciocínio, as obras passíveis de registro de direitos autorais se limitavam ao que seus responsáveis produziram em vida, não valendo para obras tidas como espirituais, que os juristas de então entendiam como "de domínio público". Houve um empate, que no entanto trouxe vantagem para Chico Xavier.

Com astúcia, a Federação "Espírita" Brasileira lançou, através de Chico Xavier, a mensagem supostamente atribuída a Humberto de Campos, sobre o processo judicial movido pelos herdeiros. O suposto Humberto, neste texto, reprovava a contestação de sua autoria, condenava a lógica dos fatos, atribuindo a ela "sensacionalismo" e "escândalo", e queria que mantivéssemos os "olhos no coração", ou seja, que acreditemos no que a FEB e Chico Xavier queriam nos fazer crer.

Em dado momento, "Humberto" chega mesmo a duvidar da intenção de seus familiares, embora tentasse, contraditoriamente, negar a suposta perversidade deles no processo. Contraditoriamente falando, porque ele negava a desconfiança que depois acabava afirmando: "Mas que paisagem florida, em meio do mato inculto, estará isenta da serpe venenosa e cruel?".

Um "Humberto de Campos" que preferia ficar ao lado de Chico Xavier do que de sua própria família. Para uma doutrina que mostrava uma falsa psicografia de Allan Kardec pedindo para ser descartado em benefício do rostanguismo - que a FEB depois renegava de maneira hipócrita - , essa manobra faz muito sentido, nessa doutrina em que supostos médiuns se acham donos dos mortos.

O trecho a seguir foi publicado originalmente no livro de Timponi, A Psicografia Ante os Tribunais e reproduzido por Suely Caldas Schubert em Testemunhos de Chico Xavier. Ambos os livros foram publicados pela Editora da FEB.

Possivelmente a mensagem pode ter sido escrita a quatro mãos por Wantuil de Freitas e Chico Xavier usando o nome de Humberto de Campos, pelo tom que mistura tristeza piegas com algumas passagens bastante enérgicas, como no parágrafo iniciado pela expressão "Quero, porém, salientar", em que o suposto autor se contradiz quanto à desconfiança contra sua própria família.

Note-se, além de passagens absurdas como o desprezo à própria identidade autoral ("Que é um nome, simples ajuntamento de sílabas, sem maior significação?") e a visão sentimentaloide do "espírito" condenando a ação judicial dos filhos - ele não cita a viúva - , o tom melodramático da mensagem, com o suposto Humberto "tristonho", diante do processo movido contra Chico Xavier.

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"Não desconheço minha pesada responsabilidade moral, no momento quando o sensacionalismo abre torrente de amargura em torno de minh'alma.

Recebeu-me a Federação Espírita Brasileira, generosamente, em seus labores evangélicos, publicou-me as páginas singelas de noticiarista desencarnado, concedendo-me o ingresso na Academia da Espiritualidade. E continuei conversando com os desesperados de todos os matizes, voluntariamente, como o hóspede interessado em valer-se da casa acolhedora.

Eis, porém, que comparecem meus filhos diante da justiça, reclamando uma sentença declaratória. Querem saber, por intermédio do Direito Humano, se eu sou eu mesmo, como se as leis terrestres, respeitabilíssimas embora, pudessem substituir os olhos do coração. Abre-se o mecanismo processual, e o escândalo jornalístico acende a fogueira da opinião pública. Exigem meus filhos a minha patente literária e, para isso, recorrem à petição judicial. Não precisavam, todavia, movimentar o exército dos parágrafos e atormentar o cérebro dos juízes. Que é semelhante reclamação para quem já lhes deu a vida da sua vida? Que é um nome, simples ajuntamento de sílabas, sem maior significação? Ninguém conhece, na Terra, os nomes dos elevados cooperadores de Deus, que sustentam as leis universais; entretanto são elas executadas sem esquecimento de um til.

Na paz do anonimato, realizam-se os mais belos e os mais nobres serviços humanos.

Quero, porém, salientar, nesta resposta simples, que meus filhos não moveram semelhante ação por perversidade ou má-fé. Conheço-lhes as reservas infinitas de afeto e sei pesar o quilate do ouro da carinhosa admiração que consagram ao pai amigo, distanciado do mundo. Mas que paisagem florida, em meio do mato inculto, estará isenta da serpe venenosa e cruel? É por isto que não observo esse problema triste, como o fariseu orgulhoso, e sim como o publicano humilhado, pedindo a bênção de Deus para a humana incompreensão.

Diante, pois, do complicado problema em curso, ajoelho-me no altar da fé, rogando a Jesus inspire os dignos juízes de minha causa, para que façam cessar o escândalo, em torno do meu Espírito, considerando que o próprio Salomão funcionasse nessa causa, ao encarar as dificuldades do assunto, teria, talvez, de imitar o gesto de Pilatos, lavando as mãos".

HUMBERTO DE CAMPOS (sic)

terça-feira, 26 de agosto de 2014

A polêmica das irregularidades cometidas por Chico Xavier


Mesmo entre aqueles que fazem críticas ao "espiritismo da FEB", ainda persiste um medo enorme em desqualificar Chico Xavier, tratado como se fosse um "semi-deus" pelos brasileiros, tamanho o temor de qualquer questionamento de suas atividades.

As pessoas assustadas neste contexto exigem "provas", e elas entendem como tais comprovações documentadas, assinadas em cartório, academicamente reconhecidas, dentro de um discurso rebuscado e extremamente formal.

Lançamos vários questionamentos de várias atividades de Chico Xavier, a partir de pesquisas nas quais constatamos que ele não agiu por boa-fé ou por ingenuidade nesses processos. Posso não ser um cientista, mas um jornalista, e procuro confrontar tais processos com o raciocínio lógico, em vez de me contentar com o "fabuloso" e aceitar o mistério como está.

Quanto às provas de muitos aspectos duvidosos da mediunidade de Chico, que não era médium 24 horas por dia, que não poderia escrever uma enorme porção de livros com tanto tempo para atender as pessoas, a lógica dos fatos põe em xeque a mediunidade nessas situações.

Imaginem vocês. Uma pessoa que atendia centenas de pessoas durante a semana, dava entrevistas, ia a cerimônias etc, não poderia lançar de quinze a vinte livros num só ano. Seria ilógico também que ele tivesse que escrever com uma rapidez descomunal, coisa que só somos capazes de fazer quando apenas rabiscamos e não "desenhamos" letras e sinais gráficos.

O próprio temor dos que se recusam a questionar Chico Xavier ou, quando muito, dizer que ele "apenas errou" ou "foi vítima", mostra sérias contradições quanto ao Chico Xavier que eles desejam que fosse, ocupados em clichês diversos que, paradoxalmente, envolvem humildade, velhice e comportamento caipira, aliados a messianismo religioso e sobrenatural.

Pois as mesmas pessoas que imaginam Chico Xavier como "iletrado" e "analfabeto" o veem como "sábio" e "profeta maior". Um homem que, ao mesmo tempo, "não é infalível" e "é perfeito", que é "inculto" e é "mestre", que seguiu mal a Doutrina Espírita mas mesmo assim é mantido em seu pedestal como "figura espírita".

CHICO É VISTO COMO "INCULTO, MAS COM SUPERPODERES"

Se Xavier apoiou fraudes de materialização, cometeu plágios em livros tidos como psicografados, fez a Doutrina Espírita sucumbir, no Brasil, a um catolicismo mofado e apoiou governos reacionários, a lógica mostra que ele em muitos momentos consentiu com tudo isso, não podendo ser vítima desses processos.

Se fosse vítima, ele teria sido um completo ingênuo, quase um débil-mental. Mas ele não era. Ou ele seria um débil-mental e mestre ao mesmo tempo? Seus defensores ou mesmo seus contestadores mais tímidos admitem que Chico Xavier podia falir. Mas não retiram ele de seu pedestal, admitindo também que ele era um "perfeito" que "tinha suas imperfeições".

Se ele era um iletrado e um inculto, além de ingênuo, como ele poderia ter superpoderes para escrever livros com a velocidade da luz, garantindo assim a agenda de pesados compromissos sociais aliada à produção em quantidades industriais de seus livros?

E os ditos autores espirituais? Eles estariam sempre de plantão para atender a Chico Xavier, fora o "mentor" quase sempre disponível Emmanuel? Talvez os chiquistas convictos ou os antichiquistas acanhados acreditem que, tal qual um time de futebol, André Luiz, por exemplo, esteja no banco de reserva quando Humberto de Campos está em campo e vice-versa.

TEMOR RELIGIOSO

É muito cômodo se conformar e acreditar que aquelas pessoas disfarçadas com roupas, cobertores e capuzes brancos com fotos impressas coladas na área do rosto sejam espíritos materializados. É muito cômodo se contentar com o "sentido do amor" ou com "a visão do coração" para aceitar certas aberrações.

Os poemas dos autores espirituais perdem em qualidade em relação ao que eles produziram em vida? Mais confortável é acreditar que a entusiasmada comoção no serviço do amor os tira do zelo por seus próprios talentos, como a luz que entorpece a visão de muito intensa. Seria fácil se fosse assim.

Mas não é. Em relação ao dito pelo parágrafo acima, é inconcebível que, diante da descoberta lógica, através de Allan Kardec, que o espírito amplia suas faculdades intelectuais quando deixa o corpo físico, este tenha que perder suas habilidades artísticas justamente nessa condição, por causa da "universalidade da linguagem" e da "missão de amor" que "une estilos" (?!).

O temor religioso quanto a Chico Xavier, figura que seduz os brasileiros por representar bem os paradigmas de velhice, religiosidade e humildade que a mitologia da fé se expressa no Brasil, faz com que muitos acreditem que o amor está acima da ética, da lógica dos fatos e da coerência.

Mesmo os céticos menos preparados guardam um temor que expressa restos da antiga fé chiquista, parcialmente rompida pela busca do sentido original das ideias de Kardec, mas não em todo eliminada. Há neles ainda uma certa submissão a Chico Xavier, que mesmo nos seus piores erros não pode ser retirado de seu pedestal como suposto líder espírita.

O que faz essas pessoas pensarem assim? Medo de perder a "brasilidade" com que Chico Xavier empresta, aparentemente, ao Espiritismo? Receio de estar agindo contra um "bom velhinho"? Constrangimento em desafiar tradicionais hábitos religiosos? Medo de desqualificar os heróis de nossos avós?

Quanto aos erros de Chico Xavier, nos esforçamos aqui, nos limites da investigação jornalística e no âmbito do raciocínio lógico, analisá-los de maneira coerente. As provas que tivemos são em âmbito jornalístico e lógico, através de questionamentos e da apresentação de sérios problemas quanto aos "sensacionais" feitos do anti-médium mineiro.

Estamos investigando e analisando, ainda, e o que pudemos encontrar coloca Chico Xavier como co-responsável ativo de muitos dos erros cometidos no chamado "espiritismo" brasileiro. A lógica dos fatos prova e comprova muitos desses erros. A lógica tem razões que o amor desconhece.

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Chico Xavier e Wantuil de Freitas preferiram a omissão em relação a Jean-Baptiste Roustaing


O livro Testemunhos de Chico Xavier, de Suely Caldas Schubert, é, sem dúvida alguma, uma das maiores obras de defesa do mito do anti-médium mineiro. No entanto, ele é, ironicamente, um excelente documento para os contestadores do "espiritismo da FEB", na medida em que apresenta, sem querer, omissões e contradições.

É o caso de um capítulo sobre a inclusão de Jean-Baptiste Roustaing no livro Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, como um dos "auxiliares" de Allan Kardec na propagação da Doutrina Espírita no mundo. Jean-Baptiste é citado na sua forma aportuguesada, "João Batista", numa época em que se traduziam nomes estrangeiros.

O capítulo então descreve a previsão "triste" de Chico Xavier, em carta dirigida ao então presidente da Federação "Espírita" Brasileira, Antônio Wantuil de Freitas, demonstrando certa apreensão e profunda tristeza, nos seguintes termos:

"(...) Li a carta que o Mundo Espírita publicou. Encomendemo-nos à Misericórdia Divina. Também, como tu, pedi ao Ismael nada responder. Seria muito triste 'lançar gasolina nesse fogo'. Há casos em que todo comentário é difícil. Por minha vez, estranho o que ocorre, de tal modo que só vejo uma saída: Levar o coração em silêncio para a casa da prece.

Não te incomodes com a declaração havida de que o trecho alusivo a Roustaing, em Brasil (Coração do Mundo, Pátria do Evangelho),  foi colocado pela Federação. Quando descobrirem que a casa de Ismael seria incapaz disso, dirão que fui eu. De qualquer modo, eles falarão. O adversário tem sempre um bom trabalho - o de estimular e melhorar tudo, quando estamos voltados para o bem".

Suely deixa passar vários equívocos a respeito do episódio, se limitando, sem dar o devido esclarecimento, a descrever a inclusão de Roustaing como algo perverso e escandaloso. A própria autora trata a acusação, que veio depois, de que Chico Xavier e a FEB haviam incluído J. B. Roustaing no referido livro, como "absurda".

Sem dar a devida explicação, Suely se limita a dizer que Chico não era "um mineirinho do interior, ingênuo e desprevenido", nem um "ingênuo caboclinho", como citou em várias passagens do capítulo, mas "uma pessoa pura de intenções, pura nos seus ideais e na sua fé", "um autêntico missionário" e "continuador" da Doutrina Espírita.

OMISSÃO

O que se viu, nessa atitude de Chico e Wantuil descrita na carta daquele, é que os dois preferiram agir em omissão. É bom deixar claro que, diante da fragilidade da argumentação lógica, uma pessoa tem dois caminhos: o da agressão e o da omissão.

Eles preferiram o da omissão. Deram sua choradeira, se julgando vítimas só porque "estão ligados à missão do bem". Aí a autora preferiu bajular Chico Xavier em vez de explicar por que a inclusão de J. B. Roustaing num livro do anti-médium é tão perversa.

Ela chegou mesmo a mencionar Allan Kardec, descrevendo um comentário dele num livro sobre suas viagens, alegando que o professor lionês reagia em silêncio diante dos ataques e críticas severas que recebeu em sua tarefa de codificador espírita.

Isso é uma interpretação equivocada. Kardec sempre procurou responder aos ataques na medida do possível. Daí seus muitos artigos na sua Revista Espírita. O silêncio não é a Constituição dos sábios, mas uma saída de emergência quando as reações adversárias podem representar um risco diante da contra-argumentação exposta aos discordantes.

O argumento, a crítica, o questionamento são necessários quando é possível apresentar razões e motivos pertinentes. Mas, quando questionar passa a ser uma tarefa de alto risco - mesmo hoje, já que há, por incrível que pareça, um forte reacionarismo na Internet - , o silêncio é a solução de emergência, mas nunca a "palavra maior" da sabedoria.

Isso seria desperdiçar a razão humana pelo vácuo de palavras. E isso deixa as coisas inexplicadas, sem qualquer esclarecimento. Isso mais parece um recuo, conforme Chico havia escrito, em relação a Parnaso de Além-Túmulo: "Tive medo do barulho, porque o ruído atrapalha".

Não houve explicação alguma, mesmo para tentar renegar a influência de Roustaing. Houve, sim, o medo, a covardia, porque não é o silêncio corajoso da serenidade, mas o silêncio covarde do medo de trazer à luz argumentos mais convincentes. E não são os adversários que beneficiam Chico e a FEB, mas estes é que beneficiam os adversários pelos erros feitos.

POR QUE ROUSTAING ASSUSTOU

Quem acompanha o meio da viagem não percebe o itinerário percorrido antes. E a polêmica de Jean-Baptiste Roustaing pode ser compreendida quando se volta ao tempo e relembra os primórdios da FEB, que criou suas bases ideológicas a partir dos volumes de Os Quatro Evangelhos, lançado pelo advogado de Bordeaux, não discípulo, mas desafeto de Kardec.

Roustaing foi descoberto pelos primeiros membros da FEB, a partir do médico Adolfo Bezerra de Menezes. Durante muito tempo Roustaing foi mais valorizado que Kardec, e este foi jogado ao limbo, desprezado por parecer "científico demais".

Roustaing foi mais de acordo com as convicções católicas que ainda batiam nos corações dos membros da FEB. E a referida publicação até hoje é publicada por sua editora, mas uma polêmica explica o fato de Roustaing ser colocado debaixo do tapete da "federação".

Os Quatro Evangelhos apostavam em duas ideias controversas: a de que as pessoas poderiam reencarnar em animais, plantas, fungos e até vermes (havia até a risível ideia de "criptógamos carnudos", já que criptógamo é um termo referente a plantas e não a animais) e a de que Jesus não teria sido homem, mas um mero corpo fluídico.

As duas ideias repercutiram mal. Sobretudo a do "Jesus fluídico", que não teria sofrido as dores humanas nem sentido o martírio da cruz. E olha que mesmo esse mito controverso que feriu a reputação da FEB influenciou a publicação de livros como Jesus, Nem Deus, Nem Homem, de autoria de Guillon Ribeiro, o mesmo tradutor que "guillotinou" os livros de Kardec.

A Igreja Católica caiu de pau, porque, apesar dela acreditar na figura de Jesus como "Deus vivo na Terra", admitia que Jesus tinha a forma semelhante a de um humano comum, tanto que há a tradicional valorização de seu sangue como símbolo católico de sua luta pela humanidade.

Mas também, dentro do movimento espírita, a tese do "Jesus fluídico" provocou dissidências diversas, que afastaram da FEB figuras como Angeli Torteroli - um dos primeiros a reclamar do "espiritismo" brasileiro o resgate das obras de Karedc - e, mais tarde, Deolindo Amorim, Carlos Imbassahy e Herculano Pires, após o vexame do Pacto Áureo.

A carta de Xavier data de 25 de março de 1947, dois anos antes do Congresso da FEB que realizou o Pacto Áureo - que estabeleceu as diretrizes ideológicas da instituição - , e já mostrava Roustaing não como o mestre maior da FEB, mas como um "anel" que, de tão pesado, não era exposto ao público dentro do contexto do "espiritismo" brasileiro.

Depois da má repercussão das teses lunáticas de Roustaing, a FEB preferiu deixá-lo aparentemente de lado, sem bani-lo (tanto que seu livro está no mercado até hoje), mas criar artifícios que atenuassem seus efeitos.

Os "criptógamos carnudos" foram substituídos pela simpática e alegre "reencarnação de animais". Ninguém precisaria acreditar que os humanos reencarnariam como animais, plantas ou outros seres, mas poderia ficar alegre em acreditar que haverá cachorrinhos, gatinhos e coelhinhos felpudos no mundo espiritual.

O Jesus fluídico foi embora, e Roustaing foi mantido nos outros aspectos, como o misticismo católico e o messianismo religioso, só que às vezes atribuído (equivocadamente) a Allan Kardec, e em outras traduzido no contexto brasileiro por Francisco Cândido Xavier.

Dessa forma, Roustaing poderia ser "banido" pelo discurso febiano. Ele virou uma pessoa incômoda demais, pelas polêmicas pesadas que causou, através de teses bastante surreais para serem aceitas mesmo nos limites da fé mística e do proselitismo religioso espiritólico.

Mas sua exclusão parcial da retórica do "espiritismo" brasileiro mostra a opção do silêncio, da "humilde" omissão de Wantuil de Freitas e de um Chico Xavier preferindo orar para si em silêncio do que dar as devidas explicações para a humanidade. Porém, quem deve, teme.

Daí tal postura, que na verdade é uma maneira de evitar que as sujeiras da FEB sejam expostas. Mesmo assim, as acusações de que Chico e Wantuil teriam incluído Roustaing no livro não foram negadas, o que mostra também outra conhecida frase: "Quem cala, consente".

domingo, 24 de agosto de 2014

Getúlio Vargas também foi usado em proselitismo religioso. Junto a Eça de Queiroz!!


O panfletarismo religioso do Espiritolicismo tornou-se uma indústria em que nomes ilustres são utilizados para divulgar as mesmas "palavras de amor", apoiadas no mesmo dramalhão que envolve sofrimento espiritual, assistência dos amigos do além e redescoberta da religiosidade.

A impressão que se tem é que o mundo espiritual é uma grande igreja e não podemos sequer ter outros prazeres na vida, ou, quando muito, eles estão em segundo plano. Simbolicamente falando, os espíritos do além se reduziram a meros propagandistas da religião "espírita", dentro dos clichês aqui há muito conhecidos.

Há 60 anos o então presidente da República, o gaúcho Getúlio Vargas, de 71 anos, havia se matado com um tiro no coração, enquanto parecia se preparar para dormir no Palácio do Catete. Era uma reação à violenta campanha contra ele, agravada quando seu segurança, Gregório Fortunato, foi acusado de mandar matar o maior opositor, o jornalista Carlos Lacerda.

Carlos Lacerda não morreu no atentado ocorrido 18 dias antes, mas seu segurança, o major da Aeronáutica Rubens Florentino Vaz, foi morto com um tiro ao tentar conter um pistoleiro que iria matar o jornalista e político udenista.

A morte de Vaz só fez as Forças Armadas se revoltarem contra Vargas, criando até mesmo uma comissão paralela para investigar o crime, chamada de "República do Galeão", já que os oficiais se reuniam no famoso aeroporto, o atual Aeroporto Internacional Tom Jobim.

Aí, conhece-se a história toda. Mas o Espiritolicismo tentou criar uma "nova história", trazendo a suposta vida espiritual do político nacionalista, com direito até a uma adaptação, meio "engraçadinha" da frase "Saio da vida para entrar na História", contida no testamento de Vargas. O "espírito" de Getúlio passou então a dizer "Volto da História para ensinar a vida".

GETÚLIO E EÇA NUMA MESMA CILADA

É conhecido nos meios ditos "espíritas" o livro Getúlio Vargas: Em Dois Mundos, de 1998, que a médium espiritólica Wanda A. Canutti (1932-2004) lançou sob a autoria atribuída ao escritor português Eça de Queiroz, que teria aparecido por "psicofonia", embora não se tenha conhecimento de uma gravação sonora da voz do escritor, em tecnologia então recente e em quase todo indisponível.

O livro tem uma escrita correta, mas não parece ter o diferencial necessário para ser uma obra do mesmo autor de O Primo Basílio. Muito pelo contrário. Só pela parte que relata toda a trajetória conhecida de Getúlio Vargas, até o momento do tiro fatal, mais parece um daqueles textos de História que aparecem em apostilas para o ENEM. Correto, mas nada surpreendente.

O que pesa, porém, é quando se entra na fase "espiritual". É aí que a coisa pega. A influência de Nosso Lar, que Chico Xavier lançou sob autoria do misterioso André Luiz (que, tudo indica, é alter ego de Waldo Vieira), é notória nessa fase em que a narrativa mais parece um novelão de segunda categoria do que mais um clássico literário do autor português.

O dramalhão começa com o suposto Getúlio entrando numa colônia espiritual, acolhido primeiro por "irmão" Fulgêncio e depois por "irmã" Darcy. Depois vem "irmã" Cíntia e "irmão" José. Herança católica esse título de "irmão" ou "irmã". A narrativa é maçante logo na primeira vista, sem a movimentação de ações e personagens da obra de Eça.

A linguagem também não tem diferencial, por ser apenas um agrupamento de palavras corretas. Mas nota-se o tédio da narrativa pachorrenta, que perde muito tempo na pregação religiosa dos diálogos frios e entediantes, nos "problemas morais" do Espírito, nas angústias, na "necessidade" do resgate espiritual e outras baboseiras.

Há a citação, de cunho materialista, de vários aspectos da Colônia. Há a paisagem da Natureza, há a Biblioteca, há todos aqueles clichês de serviço assistencial, de evocação à fraternidade, à caridade etc etc etc. Mas não existem os tipos psicológicos caraterísticos da distinta obra que Eça de Queiroz produziu em vida.

A narrativa também não apresenta uma linguagem diferenciada como dos grandes escritores do século XIX. Mais parece uma narrativa superficial, em que apenas há a pregação religiosa, em que um "atormentado" Getúlio é socorrido por pessoas de um temperamento friamente bondoso, mais parecendo a bondade como técnica do que como uma generosidade espontaneamente dada.

A obra praticamente não tem ação. A autora perde tempo colocando no papel diálogos que mais parecem pregações religiosas, algo que ela já fazia em suas palestras e depoimentos. Uma narrativa monótona que, logo de cara, não tem o estilo de Eça, não há tipos psicológicos caraterísticos da literatura de seu tempo e os diálogos se limitam a um panfletarismo religioso.

A obra não passa de um grande oportunismo literário, usando os nomes de Getúlio Vargas e Eça de Queiroz para promover sensacionalismo dentro de uma história que mais parece ficção, e que nem de longe condiz ao estilo pessoal de Eça, um dos maiores escritores da língua portuguesa de todos os tempos.

Getúlio Vargas: Em Dois Mundos, portanto, nada tem de grande obra literária. O livro é extremamente ruim para ser realmente de Eça de Queiroz. Bastante cansativo, piegas, monótono. Não por acaso, o livro só repercutiu nos meios espiritólicos, porque soa duvidoso demais para repercutir positivamente além de seus limites. Os fãs de Eça iriam estranhar esse livro logo de cara.

sábado, 23 de agosto de 2014

Chico Xavier não foi tão vítima quanto muitos supõem

CHICO APOIANDO OTÍLIA DIOGO, FANTASIADA DE "IRMÃ JOSEFA". INGENUIDADE?

Há uma visão muito controversa em relação aos erros cometidos pelo anti-médium Francisco Cândido Xavier em relação à Doutrina Espírita. Oficialmente, ele aparece como suposta vítima, e mesmo assim essa condição é argumentada de duas formas diferentes.

Uma é de que Chico Xavier foi "mal orientado" na conversão ao Espiritismo, quando poderia ser melhor aproveitado, por sua aparente mediunidade, para se tornar fiel às ideias de Allan Kardec. Essa tese credita Chico Xavier como tendo sido "espírita", o que muitos analistas consideram pouco provável.

Outra é de que Chico Xavier nunca foi espírita e que por isso foi "mal orientado" pelos dirigentes da FEB para praticar, por boa-fé, as deturpações e abusos em torno do "espiritismo" feito no Brasil, pelo fato dele sempre ter sido um devoto da Igreja Católica.

Estas duas visões predominam em muitos círculos de debates espíritas, mas uma investigação jornalística cautelosa, a partir de fatos diversos - alguns deles mostrados, pasmem, por fontes chiquistas - , mostram que, quando havia conveniência, Chico Xavier foi cúmplice e até mesmo culpado por muitos erros cometidos pelo chamado "movimento espírita".

Chico pode ter sido vítima, sim, em alguns momentos. A partir do próprio espírito "mentor", Emmanuel, que no plano espiritual estava enfurecido com o fim das atividades jesuítas no Brasil e que usou o mineiro de Pedro Leopoldo para promover um neo-jesuitismo travestido de Espiritismo.

Em outros momentos, Chico também foi vítima, seja dos arbítrios da FEB, seja da esperteza dos próprios parceiros, já que Divaldo Franco havia feito um plágio de um texto de Chico, se aproveitando o baiano de suas habilidades de manipulação da palavra, já que Franco é conhecido pelo seu discurso explicitamente erudito e por vezes rebuscado.

Mas Chico também fez das suas, principalmente quando descobriu, secretamente, que sua mediunidade não acontecia 24 horas por dia e, quando ocorria, praticamente se limitava aos contatos que tinha com o traiçoeiro Padre Manuel da Nóbrega, "redivivo" na pessoa de Emmanuel.

Só que, em vez de dizer "deu branco, gente", o que poderia, obviamente, pegar mal, Chico superestimou sua mediunidade limitada e foi produzir ou pedir a outros produzirem livros que eram dotados de muitos plágios e, atribuídos a autores ilustres, demonstravam, apesar da semelhança superficial, queda de qualidade em relação às obras que estes fizeram em vida.

Dois dos primeiros livros de Chico Xavier, Parnaso de Além-Túmulo e Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, comprovadamente não foram psicografados. Neles há fortes indícios de plágios, reconhecidos por especialistas sérios, além da pregação religiosa exagerada, do conteúdo sofrível dos textos e, no caso de Parnaso, das alterações tendenciosas sucessivas.

USURPAÇÕES

Chico também está associado à usurpação leviana de nomes de ilustres falecidos, como Humberto de Campos, Augusto dos Anjos, e tantos outros. Mas sua galeria de usurpados mostra que Chico, não obstante, não era vítima e ele mesmo é que fazia dos outros suas vítimas.

De uma anônima jovem mineira, Irma de Castro, a Meimei, a Marilyn Monroe, personagem de um devaneio quase "sensual" das angústias da atriz, Chico se apropriou de vários falecidos, em mensagens que nem sempre apresentavam semelhanças verossímeis às personalidades evocadas, mas sempre tinham alguma pregação religiosa, mesmo latente.

Pelo seu exemplo e pelo carisma conquistado, Chico permitiu que se fizesse a farra que existe hoje, tida ou não como supostamente espírita, mas sempre voltada à usurpação da memória dos mortos para a expressão monótona e tendenciosa de propaganda religiosa, que não raro traía aspectos peculiares das personalidades dos respectivos finados.

Aí virou bagunça, e os chamados "médiuns", se inspirando no exemplo de Chico, hoje chegam a usar de sua imaginação fértil para inventar falsas psicografias, falsas psicofonias, falsas pictografias, criando trabalhos irregulares e botando tudo na conta dos falecidos. Se Chico abriu esse caminho todo e estimulou toda essa farsa, ele não seria "vítima" dessa manobra.

"NÃO JULGUEIS"?

Contrariando uma das frases prediletas de Emmanuel, "Não Julgueis", Chico Xavier estimulou a prática de "julgamentos severos" dos chamados "líderes espíritas". Em 1966, Chico usou o nome de Irmão X (atribuído a Humberto de Campos, em usurpação sutil) para acusar as vítimas do incêndio de um circo em Niterói, no final de 1961, de terem sido, em outras vidas, patrícios vingativos de uma cidade do Império Romano, já no começo da Idade Média.

Incoerência? Não. O "não julgueis" citado por Emmanuel corresponde à reprovação da contestação dos atos abusivos ou equivocados feitos pelo "movimento espírita", mas o próprio complexo de superioridade de seus envolvidos já lhes faz cometer "julgamentos" contra aqueles que haviam sofrido algum infortúnio e não eram queridos pelos "espíritas".

Os "julgamentos" sempre colocavam as vítimas como os culpados, criando um moralismo cruel que fazia dos suicidas criminosos piores do que os homicidas, estes considerados os "justiceiros" dos "resgates espirituais". Um sentimento de impunidade para quem realmente comete crimes, contra pessoas que muitas vezes só queriam o progresso da humanidade.

Xavier então impulsionou essa onda toda que causou repercussões negativas. Como no caso de Woyne Figner Sacchetin, que, imitando Xavier, usou o nome de Alberto Santos Dumont para acusar as vítimas de um acidente aéreo de 2007 de terem sido patrícios romanos. Só que Woyne não tinha o carisma de Chico e a realidade jurídica era outra, daí o esperto "médium" ter sido processado judicialmente, tendo que retirar do mercado o livro com tal acusação.

O APOIO A FRAUDES

Chico Xavier não poderia ser inocente, diante dos casos de fraudes de materialização, porque esses casos chegaram a durar pelo menos um ano antes de serem denunciados, e Chico acompanhava os processos com gosto, assinando documentos "legitimando" os atos e posando em fotos ao lado de fraudadores.

Nenhuma vítima de fraude apareceria assim, tão alegre, satisfeita e confiante. Seria um absurdo que Chico só soubesse da fraude de Irmã Josefa na última hora, já que ele apareceu em fotos ao lado dela, sorrindo, brincando e sentindo. Se Chico era cego ou míope, até isso é controverso, mas mesmo na cegueira é possível sentir a presença de outrem através do tato.

Chico não era tão ignorante ou ingênuo quanto se imagina, e ele mesmo só recuou, em 1973, ante um plano de criar uma tradução ainda mais grotesca dos livros de Allan Kardec do que a já alarmante tradução de Guillon Ribeiro, depois que Herculano Pires denunciou a farsa num programa de rádio e o caso virou escândalo nos meios "espíritas".

E O "BOM CHICO"? COMO É QUE FICA?

Antes que alguém venha a reclamar que aqui só falamos de aspectos negativos de Chico Xavier, há a fama dele ter sido uma pessoa generosa, bondosa e caridosa. Pode até ser que ele também tenha sido generoso e simpático quando lhe era possível, mas a tão alardeada bondade do anti-médium está longe de representar algo profundo e transformador.

Se ele "enxugou lágrimas", como dizem seus defensores mais entusiasmados, no entanto ficava indiferente quanto às tragédias ocorridas, atribuindo aos clichês moralistas do Catolicismo medieval como "desígnios de Deus", "reparação de faltas passadas" e outras alegações severas que mais entristecem e irritam do que consolam as vítimas.

Fácil enxugar lágrimas diante do "leite derramado". Mas o "espiritismo" conduzido por Chico Xavier, como seu maior expoente, em nada fez para promover ou transformar a verdadeira espiritualidade humana, mas a fez subordinada a um moralismo religioso conformista e até mesmo masoquista.

Mesmo as caridades pregadas por Chico Xavier eram inócuas. As doações de alimentos e coisas, que poderiam ser emergenciais e secundárias - já que as pessoas "recebiam o peixe" mas não eram "ensinadas a pescar" - , tornaram-se prioritárias, imobilizando as classes populares e viciando as pessoas abastadas numa filantropia de resultados, paternalista e forçada.

CONCLUINDO

Assim, o "homem chamado Amor" perdeu, na sua missão "fraternalista", diante de uma galeria de outras personalidades, várias sem vínculo religioso, que superaram em ações em favor do próximo do que o anti-médium que "enxugava lágrimas".

É só ver os outros exemplos. Paulo Freire, Milton Santos, Mário de Andrade, Profeta Gentileza, o assumidamente ateu Oscar Niemeyer, todos eles de alguma forma pensando no próximo de maneira criativa e generosa, lutando pelo progresso social, promovendo transformações sem se limitarem ao paternalismo puro e simples.

Por isso Chico Xavier acabou prejudicando muito. Ele mesmo permitiu, através do seu carisma e de sua visibilidade, que muitos dos abusos e erros, muitos aberrantes, cometidos em nome do "espiritismo", fossem feitos e ampliados.

Pelo seu exemplo, ele não pode ter se tornado vítima, porque em muitos momentos apoiou e incentivou, mesmo indiretamente, todos os erros cometidos por seus pares. Pelo seu consentimento, Chico Xavier já perdeu muito de sua elevada reputação, tornando-se em parte responsável por muitos dos descaminhos vistos no "espiritismo" brasileiro.

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Raul Seixas e os "donos dos mortos"


Depois que faleceu, há exatos 25 anos, o cantor baiano Raul Seixas, um dos pioneiros do Rock Brasil, perdeu o controle de sua própria imagem. Ele tornou-se vítima de algo que ele mesmo sabia, que era a hipocrisia que reina sobre certas pessoas em relação aos mortos.

Há poucos dias, faleceu o candidato à Presidência da República pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB), o ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Nos funerais, encerrados ontem com o enterro do pernambucano, rivais passaram a dar declarações como se tivessem sido aliados dele, e não seus opositores.

Essa atitude recebeu até mesmo crítica no Jornal do Brasil, e também ocorre em muitos outros casos. E o de Raul Seixas é bastante típico, porque aqueles que hoje querem exaltá-lo e se dizem adeptos e seguidores dele eram os mesmos que o desprezavam e rejeitavam duramente quando ele era vivo.

Na música brasileira, Raul Seixas ganhou seus "donos", os grupos de axé-music que queriam usurpar seu legado só porque são conterrâneos do roqueiro, e as "duplas sertanejas" caricatas e perdidas no pedantismo e na canastrice, embora tenham uma falsa reputação de "grandes artistas" devido ao apoio da grande mídia.

No "espiritismo" brasileiro, Raul Seixas também ganhou "donos", em especial Nelson Moraes, que inventou um tal de Zílio cuja identidade seria atribuída ao roqueiro baiano, sendo este visto de maneira estereotipada e preso ao misticismo que Raul já havia largado por volta de 1978.

Sim, os mortos perdem o controle e viram "propriedade" dos "médiuns", o que põe terra abaixo qualquer condição intermediária atribuída a essas figuras "espíritas". Os "médiuns" se tornam anti-médiuns porque são eles e suas "mensagens de luz" que se sobressaem e se sobrepõem a qualquer suposta aparição ou colaboração de um falecido.

Os mortos se reduzem a garotos-propagandas da religião "espírita" ou "espiritualista", quando neste caso não há um aparente cortejo ao "kardecismo". Mas, independente de se autoproclamar ou não "espírita", o "médium" de plantão já está contaminado e contamina o âmbito da espiritualidade no Brasil.

Os mortos não podem falar, porque, pelo menos no Brasil, há quem fale por eles. Se dá um "branco" na mente de um "médium" - e quase sempre isso ocorre - , ele usa sua imaginação fértil e se passa pelo falecido que "não apareceu".

Mas quase sempre os "médiuns" fazem isso antes de dar um "branco" ou de chegar alguma "alma penada". Ou então quando uma "alma penada" aparece com falsidade ideológica. Em todo caso, o tão esperado ente falecido não aparece, seja por desconfiança, seja por falta de interesse mesmo.

E aí os "donos dos mortos" aparecem, apresentando apenas alguns poucos clichês conhecidos dos personagens evocados. São apenas alguns ganchos para dizer que fulano "apareceu", mas o destaque nem é sua personalidade ou estilo, precariamente evocados, mas as "palavras de amor" nelas contidas.

Os "fins da caridade" justificam os "meios". Pouco importa se o "falecido" apresenta contradições ao que ele sempre foi em vida. Vai o "médium" inventar que ele, tão "preocupado" com a caridade, se esqueceu de seu estilo e sua personalidade. E muita gente acredita, mesmo.

Dessa maneira, afastamos os entes falecidos, por mais que a saudade seja imensa. Eles mantém distância, porque os "canais" de que dispõem não são confiáveis. Além disso, eles nem sempre estão aí para dizer a mesma ladainha tipo "Sofri muito, descobri a luz e o amor e hoje estou melhor".

A redução dos falecidos a meros garotos-propaganda da "religião espírita" os envergonha. Para nós aqui na Terra, tanto fez e tanto faz. Para muitos, pouco importa se o Renato Russo e o Raul Seixas que supostamente se manifestam "do além" são verdadeiros ou falsos. O que se quer ouvir são as "palavras de amor".

No fundo, é a mesma hipocrisia. E num Brasil em que se quer reabilitar medíocres e facínoras, mas se conforma em ver morrer nossos mestres no meio do caminho, as mensagens dos mortos pouco têm valor. Só valem as "palavras de amor" nelas contidas.

Dessa forma, o desprezo que se tem aos que já se foram é muito mal disfarçado por mensagens sentimentaloides e repetitivas. E infelizmente nos acostumamos a ver muita gente preferindo ouvir mensagens se elas são de "amor e paz". O que importa é a "caridade". Os falecidos que se danem, é o que determina os mercadores da espiritualidade.

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Os "espíritos" cabeça-de-papel dificultam estudos sobre materialização

MAIS UMA FRAUDE, DESTA VEZ COM ALGODÃO, GAZE E UMA FOTO IMPRESSA RECORTADA DE REVISTA.

A gravidade que existe em relação às supostas materializações é que elas dificultam as pesquisas sérias em torno do contato com o mundo espiritual. As diversas fraudes ocorridas no seio do "espiritismo" brasileiro, e que exigem investigação séria, inclusive da imprensa, causam um sério desserviço para a espiritualidade.

Pesquisando sobre as supostas materializações, com o máximo de isenção possível, sabe-se que elas tornaram-se fraudulentas por diversos aspectos em comum: uso de pessoas vestindo roupas geralmente brancas (na maioria das vezes cobertas de vestidos) e capuz, usos de travesseiros ou bonecos de pano , além de muito algodão, lã, gaze e outros artifícios.

É muito chocante que tais processos, que a Federação "Espírita" Brasileira fazia desde, pelo menos, a década de 1920, ao se popularizar quando recebeu o apoio de Francisco Cândido Xavier, nas décadas de 1950 e 1960, foram tidos como "autênticos" mesmo diante de montagens tão grotescas.

Isso porque as montagens são notadas de cara. A pretensa formação de ectoplasmas não passa de uma "espuminha" de gaze, algodão e lã, e as imagens dos rostos claramente mostram serem fotos estáticas, dessas recortadas de revistas e de álbuns familiares.

Não se trata de uma invencionice de católicos intolerantes, nem de qualquer religioso que renegue a espiritualidade ou que demonstre alguma inveja em relação ao crescimento do "espiritismo" brasileiro.

Muito pelo contrário, as constatações foram feitas diante de observações cautelosas, confrontadas com o raciocínio lógico e questionativo, que na série de artigos anteriormente publicados se mostra através de argumentos colhidos pelo confronto de certos problemas notados nessas pretensas materializações.

Vemos que isso não passou de uma "brincadeira", uma fraude grotesca, num meio dito "espírita" que, no Brasil, comete fraudes até sem ter muita sutileza, porque as "materializações", a exemplo das falsificações de quadros de José Medrado ou os falsetes de Divaldo Franco, são extremamente grotescas para enganar alguém com habilidade.

Isso mostra o quanto as pessoas são muito ingênuas. E o quanto Chico Xavier, Divaldo Franco e José Medrado abrem caminho justamente para os "obsessores" e "trevosos" que eles diziam combater, complicando cada vez mais os estudos a respeito da vida espiritual, da maneira mais perniciosa possível.

"FASCINAÇÃO"

É impressionante que tantas fraudes se deixam passar, fraudes grosseiras, sem qualquer sutileza, porque não se pode falar em "crime perfeito" no Espiritolicismo. Se muitos acreditam nessas fraudes, é porque as pessoas sucumbem facilmente ao que o professor Allan Kardec havia definido como "fascinação".

Entende-se como "fascinação" o processo de sedução cega e mórbida movido pela emotividade e pela pieguice. O "espiritismo" brasileiro é conhecido por forjar uma "aura" de emotividade extrema, seja pelas "palavras de amor", seja pelo pretexto da "caridade", que tocam em pontos fracos conhecidos no brasileiro médio.

Esses pontos fracos são a fé extremada e a associação a valores conservadores associados à família, fraternidade, devoção e outros sentimentos, levados pela "fascinação" de forma exagerada e sedutora. Algo que leva a uma comoção cega, mórbida e perigosa.

Nela são explorados sentimentos de esperança, conformação, tristeza, alegria, fé, entre tantos outros, e essa emoção exagerada cria uma falsa sensação de tranquilidade e otimismo, que mais parece viciada na medida em que essa emotividade causa um envolvimento perigoso com uma causa que apresenta sérios problemas.

É assim que o chamado "movimento espírita" domina seus fiéis, criando uma emotividade extrema e cega que permite que qualquer contradição, irregularidade ou fraude cometidas em nome do "espiritismo" seja aceita confortavelmente.

HERANÇA DA FÉ CATÓLICA

Vamos também observar a tradição de religiosidade dominante que existe no Brasil. A herança do Catolicismo português vigente durante o século XIX, ainda tomado de aspectos medievais (como a "Santa" Inquisição) e fonte ideológica do "movimento espírita", inclui essa emotividade cega, subserviente e condescendente a tudo.

Por isso até mesmo juízes, advogados e jornalistas ainda hesitam em investigar as irregularidades do suposto "espiritismo" no Brasil. Mensagens apócrifas atribuídas enganosamente a celebridades mortas, pessoas disfarçadas com suas "cabecinhas-de-papel" em fraudes de materialização, pinturas falsificadas. Pelo "amor e caridade" tudo é permitido.

Isso porque existe uma crença deturpada de que "o que vale é a intenção". Abre-se mão de estilos, identidades, métodos, processos, em nome do "amor" e da "caridade". Como se amor e caridade estivessem acima da ética, acima da honestidade, acima da lógica!!

Isso cria um sério conflito de confiabilidade. Os espíritos do além, que acreditamos estarem se comunicando conosco, se afastam constrangidos. "Eu não vou falar mesmo, não vou mandar mensagem, porque sei que outro vai se passar por mim", é o comentário provavelmente mais comum.

Aqui na Terra, pode ser que os efeitos danosos sejam pouco evidentes para que alguém venha condenar os "espíritas" e "videntes" que usurpam a memória dos falecidos. Mas, no mundo espiritual, isso representa o banimento de qualquer contato, porque ele se torna desnecessário, o "médium" de plantão faz tudo somente com sua imaginação fértil.

E isso complica seriamente os estudos sobre materialização, a tal ponto que os melhores estudos a serem feitos sobre contatos com o mundo espiritual são realizados por ateus e agnósticos, por gente sem qualquer vínculo religioso com a tal "espiritualidade" e que, em certos casos, questiona até mesmo Allan Kardec.

Esses estudos acabam tendo pouco apoio, poucos subsídios e baixa visibilidade. O público desconhece até mesmo as pesquisas sobre TransComunicação Instrumental (TCI). Isso porque a farra feita através de fraudes nas materializações, psicofonias, psicografias e psicopictografias desviam as atenções e desmoralizam o trabalho árduo de pesquisas.

Acaba havendo um litígio entre quem quer provar essas fraudes e quem quer colocá-las como "autênticas", enquanto o verdadeiro estudo é comprometido e dificultado pela falta de apoio, reconhecimento e investimentos. Há livros até que tentam dar autenticidade às fraudes "espíritas". Mas poucos há que buscam o verdadeiro estudo do mundo espiritual.

Isso é muito grave e preocupante. E toda essa situação deplorável é feita em nome do "amor" e da "caridade". E os ditos "espíritas", quando são criticados nesse contexto, ainda reclamam de "inveja", "perseguição", "caça às bruxas" e outras reações contra sua missão "fraternal" e "filantrópica".

E vê que os pretextos de "amor, caridade, luz e fraternidade" são usados para justificar e permitir tantas fraudes... É a corrupção no Brasil se servindo aos pretextos da "espiritualidade" e do "amor ao próximo". Triste.

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Declaração de Otília Diogo indica problemas das falhas mediúnicas

OTÍLIA DIOGO NA PRISÃO - Desta vez, ela não pretende forjar o espetáculo de "atravessar a jaula".

Denunciada por fraude em 1970, depois que se descobriu uma mala com roupas usadas para forjar a "Irmã Josefa" na suposta materialização apoiada por Chico Xavier, a pretensa médium Otília Diogo havia dito que forjou a materialização porque sua mediunidade "havia falhado".

Segundo sua declaração, ela "teria sido médium" antes, mas em 1963 havia "perdido o dom" e por isso resolveu forjar a aparição de "Irmã Josefa" para compensar o dom "perdido". Com certeza a declaração é uma desculpa para ela atenuar as acusações de fraude feitas contra ela.

No entanto, esta declaração, por mais hipócrita que possa parecer, tem um fundo de verdade, se percebermos as falhas mediúnicas num contexto em que o "espiritismo" feito no Brasil praticamente desprezou toda necessidade de estudos sobre os contatos com o mundo espiritual.

A mediunidade acaba se tornando um dom parcial, iniciante, precário, e mesmo os mais festejados "médiuns", como Chico Xavier, Divaldo Franco e José Medrado, para não dizer outros como Robson Pinheiro, Zíbia Gasparetto e Nelson Moraes, esse dom costuma falhar e é muito mais subdesenvolvido que muitos possam imaginar ou mesmo considerar.

Em muitos casos, essa mediunidade ocorre no foro íntimo. O indivíduo às vezes vê a imagem de um espectro de pessoa, supõe estar em contato com ela e aí se inicia a relação. Algo como, na ufologia, se observa nos contatos com extraterrestres.

Suponhamos que essa mediunidade exista. Mas ela tem limites, ela não traz habilidades tão extraordinárias como se imagina haver. Ela muitas vezes se limita ao contato íntimo com uma ou poucas pessoas, e nem chega a se expandir para a produção de livros, mensagens sonoras ou pinturas.

Muito pelo contrário. Não obstante, a mediunidade falha aí, sobretudo pela pressão da presença de um público, de outras pessoas cobrando o "espetáculo" do contato de alguém. Aí, o suposto médium, em vez de se preparar melhor, prefere inventar, falsificar, e isso se observa mesmo em figuras tidas como "tarimbadas" como Divaldo, Chico e Medrado.

Aí ele prefere falsificar e fingir do que "melar" e dizer que "não houve contato". E por isso é que o chamado "espiritismo" brasileiro virou um vale-tudo, e seus líderes até usaram um meio para que toda essa mentiralhada tivesse alguma validade: as "palavras de amor", a "caridade", o panfletarismo religioso.

Assim, o "médium" não tem receio de falsificar as mensagens, criando qualquer coisa de sua fértil imaginação, desde que se leve em conta as "palavras de amor" e o pretexto de "caridade". Aí ele pode até trair os estilos e personalidades dos mortos que "incorpora" porque basta o "amor", basta os recados de "luz" e "caridade".

Otília Diogo foi uma das poucas realmente desmascaradas. Mas ninguém pense que Chico Xavier, Divaldo Franco e José Medrado não fizeram das suas. Fizeram, e fizeram coisas tão deploráveis. Sem falar que Chico passou mais de um ano apoiando Otília na sua farsa, além do mineiro ter também estado associado a outras farsas de "materialização" e falsas psicografias.

Divaldo Franco também foi denunciado de práticas de plágios, boa parte dos seus livros incluem plágios de diversas obras literárias, algumas de autores consagrados. E José Medrado é notável pelos casos gritantes de pinturas grotescamente falsificadas, em que um mesmo padrão de assinatura é feito, sempre destoando das assinaturas que os pintores atribuídos deixaram em seus quadros originais.

Zíbia Gasparetto fortaleceu essa indústria "mediúnica", mas depois brigou com a FEB e largou o Espiritolicismo. Robson Pinheiro, "médium independente", torna-se o queridinho da temporada. E Nelson Moraes puxando o saco de Raul Seixas, mas sendo obrigado a associá-lo a Zílio só entre seus pares "espíritas", para evitar complicações judiciais com os herdeiros do artista baiano.

O problema é que essas pessoas têm sua legião de fiéis, esses supostos médiuns - anti-médiuns por não exercerem a função intermediária (médium = intermediador) - passam incólumes e até a Justiça se desencoraja em puni-los, seja pela "liberdade religiosa", seja pelo "prestígio" que eles acumulam para si mesmos.

Otília foi culpada por planejar o embuste da "Irmã Josefa", mas ela não pode ser a única culpada. A corrupção no "espiritismo" brasileiro é algo tão gritante, com suas mentiras nem tão habilidosas assim - as "psicografias" falhas em estilo, as "psicopictografias" que mal conseguem falsificar estilos de pintores originais e as "materializações" com "cabeças-de-papel", que a gente pergunta por que sua reputação ainda é alta.

A desculpa do "amor e caridade" só serve para manter tudo isso na impunidade. E dá para perceber que, no país do "jeitinho" que é o Brasil, sempre se arruma um meio para punir apenas aqueles que "vão longe demais", deixando outros que cometem a mesma corrupção impunes e intocáveis, devido ao prestígio e poder que acumularam em suas vidas.

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

A fraude da materialização de "Irmã Josefa"

A SUPOSTA MATERIALIZAÇÃO DA FREIRA.

O intérprete da voz em off que representou a suposta materialização de Emmanuel deu o possível recado do jesuíta: "Eu não quero! Eu não quero que o Chico sirva de médium de materialização. (...) Rogo aos amigos a suspensão destas reuniões a partir desse momento".

No entanto, Chico continuou fazendo a sua "travessura", não se sabe por que consentimento do "nobre" Emmanuel, cerca de uma década depois de ser "advertido" a encerrar os processos de materialização.

Entre 1963 e 1964, Chico Xavier e seu então parceiro Waldo Vieira - cujos indícios dão conta de ser o "pai" do personagem André Luiz - estavam em Uberaba (onde Chico passou a morar depois de excomungado pelo Catolicismo ortodoxo) estavam junto com Otília Diogo, suposta médium, a pretexto de receberem os espíritos materializados de Irmã Josefa e Alberto Veloso.

Waldo havia chamado Nedyr Mendes da Rocha para registrar as fotos. Procurando atrair a simpatia da mídia, Waldo e Chico recorreram aos Diários Associados para fazer a cobertura, através do repórter de O Cruzeiro, José Franco, e do programa espiritualista da atriz Wanda Marlene, na TV Itacolomi de Belo Horizonte. Paciência, nem todo mundo tem o faro cético de David Nasser e Jean Manzon.

A informação oficial do ritual se deu por Jorge Rizzini, líder espiritólico e escritor, no livro Materializações em Uberaba, que se pretendeu ser um documento testemunhal do que aconteceu naquela reunião.

FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER APOIOU O EMBUSTE COM MUITA EMPOLGAÇÃO.

Consta-se que a suposta materialização se daria através da mediunidade de Otília Diogo e Antônio Alves Feitosa, que foram amarrados em uma jaula para animais e o ambiente do "centro espírita" naquela cidade do Triângulo Mineiro ficou totalmente às escuras. Otília vestia uma roupa preta.

Ainda segundo os dados oficiais, Chico Xavier resolveu fazer uma oração, evocando constantemente o nome de Jesus, enquanto os dois enjaulados estavam com algemas e correias em volta. Depois da oração, há uma pausa e, de repente, surge uma pequena luz vermelha e dela sai a "irmã Josefa", vestida de branco e com véu, deslumbrando os presentes e supostamente surgida a partir de ectoplasmas.

"Josefa" teria "atravessado" a jaula, para se chegar ao público que a ela assistia. "Viva Jesus!", gritavam os presentes, com total entusiasmo. "Viva Jesus", repetia a suposta freira, forjando sotaque alemão. Em seguida, ela dizia que sua aparição era "uma prova verdadeira de que a morte não existe e que todos nós somos imortais".

Depois houve o ritual de "materialização" do antigo médico da marinha Alberto Veloso, a partir de um prenúncio que incluiu cheiro de éter. Em seguida, houve a suposta "materialização" de um menino que veio conversar com os presentes e uma suposta "materialização" de uma gaita (?!) que o menino então decidiu tocar.

NESTOR MENDES DA ROCHA, PAI DO FOTÓGRAFO NEDYR, E OTÍLIA DIOGO SE PASSANDO PELO DR. ALBERTO VELOSO.

A FARSA

Embora haja gente querendo dizer que tais materializações eram "autênticas" mediante argumentações pretensamente científicas, nota-se mais uma vez que houve fraudes grosseiras, além do fato de que a preparação para a "aparição" de "Irmã Josefa", feito na completa escuridão, na verdade acoberta os truques sob pretexto do "mistério" e da "concentração dos espíritos".

Um dos aspectos a observar é que o suposto Alberto Veloso, além de apresentar uma forma física feminina, inclusive com seios. A desculpa usada é que o "espírito" sofreu "superincorporação", ou seja, o suposto Alberto teria se servido do perispírito da médium. Uma coisa muito mal explicada, como se vê.

Afinal, o que se observa é tão somente Otília Diogo usando uma mal colocada barba postiça, além de usar turbante e roupão que mal consegue esconder sua forma física de matrona, claramente observável nas fotos registradas do evento.

COMPARAÇÃO DE IRREGULARIDADES DA SUPOSTA TRAVESSIA DA JAULA PELA "IRMÃ JOSEFA".

A imagem acima explica as irregularidades observadas na "milagrosa travessia" da jaula pela "Irmã Josefa" desprendida de correntes e algemas. Parece um espetáculo de circo, desses em que um mágico é acorrentado pela assistente, é colocado dentro de um baú, é esfaqueado e depois sai ileso e livre como se nada tivesse acontecido. Truques de técnicas de ilusionismo circense, sem dúvida.

Segue então explicações baseadas no que relata o blogue Arcanjo Miguel, em postagem dedicada ao caso. A ilustração desenhada sobre a foto indica que não há evidência de haver algo além de uma pessoa coberta de panos, com parte da viseira (a), os dois braços (b e c) e um pedaço de pano (d) do lado de fora das grades. Junto a ela, aparecem Chico e Waldo observando.

O crânio de "Josefa" não teria passado pelos grilhões da jaula, sendo a cabeça de Otília que passou pelo vão entre dois grilhões verticais enquanto o capuz que a recobre era jogado para uma das barras horizontais. Os braços também não atravessam os grilhões, mas passam naturalmente pelos vãos. E os pedaços de pano é que são jogados por sobre os grilhões horizontais.

Isto quer dizer que "Josefa" não atravessou a jaula. Houve um ilusionismo, tipicamente circense, mas mesmo assim muito tosco. Os espetáculos circenses fariam muito melhor que isso. Em todo caso, o que se vê são pedaços de pano ou capuz sendo jogados para os grilhões da jaula, para dar a impressão de que o "corpo" atravessou essas barras, como um espírito que passasse sobre uma barreira.


Além do mais, estas duas últimas fotos da postagem dão conta da fraude. A "Irmã Josefa" mostra claros traços de semelhança, principalmente no nariz, com Otília Diogo, indicando que a religiosa na verdade era a médium disfarçada de freira.


Quanto ao suposto Alberto Veloso, uma observação desta imagem acima mostra que o suposto espírito materializado, mesmo tentando acobertar o rosto sobre um véu, não consegue esconder os traços faciais de Otília, em comparação com uma foto dela olhando de frente.

Otília foi desmascarada depois que uma reportagem de O Cruzeiro de 27 de outubro de 1970 denunciou que Otília Diogo teria feito cirurgias plásticas para evitar comparações com a aparência de "Irmã Josefa".

Um cirurgião plástico que foi investigar o caso, desconfiado do comportamento estranho de Otília Diogo, verificou também uma mala estranha, que depois se descobriu ter guardado as roupas usadas para os rituais de falsa materialização.

ATRIZ MARIA VIANA RECONSTITUI A FARSA DA "IRMÃ JOSEFA".

Além disso, sob orientação do Irmão José, uma reconstituição da farsa foi feita. José era responsável pela Igreja do Perpétuo Socorro, em Santo Amaro, bairro de São Paulo, e, apesar de ser missionário da Igreja Católica Ortodoxa Italiana, colaborava com o Centro Espírita Paz e Amor, em Campinas, onde Otília trabalhava como "médium" e realizava rituais de "materialização".

José apoiava esses rituais e chegou a acreditar que Otília era realmente bondosa e verdadeira. Ele chegou a promover caravanas de seus fiéis para Campinas, só para vê-las "materializando espíritos", até ficar desapontado e envergonhado com as denúncias.

Daí a reconstituição, com a presença de Irmão José e do advogado Isidoro Gallo, na qual a atriz Maria Viana mostrava como Otília escondia suas roupas no interior da cinta-calça, se desprendia das correias e algemas com rapidez, vestia as roupas em pouco tempo e aparecia ao público se passando pela suposta freira.

Maiores detalhes da reportagem podem ser obtidos aqui. Mas adianta-se que essa "materialização" tornou-se uma fraude vergonhosa, tanto quanto os "fantasminhas com cabeça-de-papel" de outras supostas materializações, que durante um bom tempo contaram com o apoio entusiasmado e cúmplice de Francisco Cândido Xavier.

domingo, 17 de agosto de 2014

Suposta materialização de Emmanuel comprova fraudes e encerra processo

MAQUETE ILUMINADA NA QUAL SE INSERE, POR COLAGEM OU PROJEÇÃO, O FAMOSO DESENHO DO ROSTO DE EMMANUEL.

Em 1954, observou-se um outro caso de suposta materialização que não mostrou, por si só, pelo menos com base no que aparece na foto, pessoas com pijamas, travesseiros ou bonecos de pano com fotos de rostos colados.

O que se vê na imagem acima é algo que parece ser um efeito de luz neon, que já era disponível naqueles tempos até para botecos, e observa-se que as vestes de suposto senador romano são desenhadas também para que seus traços se assemelhem ao do Cristo Redentor, a estátua que homenageia Jesus e é um dos maiores símbolos do Rio de Janeiro, então capital federal.

Ela é atribuída ao suposto mentor - na verdade, obsessor - de Francisco Cândido Xavier, o jesuíta Emmanuel, que nos relatos oficiais teria feito uma aparição especial em Belo Horizonte, para o viúvo da jovem Irma de Castro, a Meimei, tida como "protegida" e "assistente espiritual" de Chico Xavier.

A insólita aparição teria deslumbrado Arnaldo Rocha, o viúvo de Meimei, que passou a nutrir uma simpatia por Chico e a aderir ao Espiritolicismo de maneira devota, o que não era difícil, devido às bases católicas com que se construiu o "espiritismo" brasileiro. Arnaldo dá declarações contraditórias sobre o ocorrido, dando informações diferentes sobre a estatura do suposto espírito:

"A materialização de Emmanuel foi magnífica! Emmanuel é um belíssimo tipo de homem. Atlético, alto, provavelmente 1 metro e 90 centímetros de altura. Sua voz clara, forte, baritonada, suave mas enérgica, impressionou-nos muito. O andar e os gestos elegantes, simples, porém aristocráticos. No grande e largo tórax um luzeiro multicolorido. Na mão direita, erguida, trazia uma tocha luminescente e sua presença sempre irradiava paz, harmonia, beleza e felicidade". 
(Chico Xavier - Mandato de Amor)

"Não posso deixar de mencionar as materializações de Nina Ameira, de Meimei, de minha mãe, e a fantástica materialização de Emmanuel, de cujo episódio, aliás, gosto de citar um aspecto científico da manifestação espiritual: como todo mundo sabe, o Chico era um homem baixo, mas, no momento do transe, uma luz começou a projetar um vulto luminoso de um homem de mais ou menos uns um metro e oitenta centímetros de altura, de compleição atlética, bonito, com voz enérgica e doce ao mesmo tempo, a portar uma tocha incandescente na mão".
(Carlos Alberto Braga Costa - Chico, Diálogos e Recordações)

Curiosamente, porém, a suposta aparição de Emmanuel, através de uma aparente voz a um só tempo dócil e enérgica, teria sido a última desse processo, pelo menos da série contemplada por Chico Xavier, uma vez que outras fraudes similares teriam sido feitas, em 1964 (como a que envolveu foto de John Kennedy), 1973 e 1979 (esta usando imagem do então recém-falecido Herculano Pires).

O suposto Emmanuel materializado teria recomendado a Chico Xavier não promover mais as reuniões de "materialização", solicitando para que se encerrasse o processo. Ele teria dito isso com as seguintes palavras:

"Eu não quero! Eu não quero que o Chico sirva de médium de materialização. A sua missão é a missão do Livro! Não é médium com tarefas de efeitos físicos… Amigos, a materialização é fenômeno que pode deslumbrar alguns companheiros e até beneficiá-los com a cura física. Mas o livro é chuva que fertiliza lavouras imensas, alcançando milhões de almas. Rogo aos amigos a suspensão destas reuniões a partir desse momento".

Por que será que veio a ordem de encerrar as sessões? Será um medo de que controvérsias desqualificassem os processos? Naquela época, já havia polêmicas suficientes em torno de Chico Xavier, diante dos herdeiros de Humberto de Campos e dos estudiosos literários que viam grandes fraudes nos livros Parnaso de Além-Túmulo e Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho.

As supostas materializações já seriam uma forma de sensacionalismo e isso comprometeria a reputação de Chico Xavier, já um astro do "espiritismo" da FEB. Sem falar que as falsas materializações são tão grotescas que o "pedido" teria sido feito para prevenir novos escândalos.

Entendemos que Emmanuel se manifesta pessoalmente para Chico Xavier, na sua intimidade. Todavia, sua aparição teria sido falsa, uma vez que alguns aspectos contradizem a sua aparente materialização na forma de um senador romano.

Primeiro, porque o suposto Públio Lentulus que Emmanuel diz ter sido nunca existiu. Havia apenas homônimos de Públio no tempo do Império Romano, nenhum deles relacionado ao suposto senador, personagem baseado num documento apócrifo da Idade Média que, pasmem vocês, nem os católicos medievais lhe davam credibilidade.

Emmanuel também demonstrou, no livro Há 2000 Anos, uma porção de erros e omissões históricas, além de aberrantes erros de abordagem sociológica e desconhecimento da geopolítica da Judeia e de normas específicas de castas familiares adotadas pelas aristocracias romanas.

Segundo, porque a materialização "luminosa" que apareceu foi provavelmente um efeito de neon sobre um boneco construído e com a imagem do desenho do rosto de Emmanuel nele colada ou projetada, talvez um "ponto culminante" para que os envolvidos na fraude tenham que encerrá-la antes que eles tenham que ser convidados a explicar tudo nos tribunais.

Alguém certamente fez um falsete para a encenação "comovente". O boneco recebeu efeitos de iluminação em tons azuis e brancas, como se observa em foto colorizada que aparece na Internet (aqui mostramos a foto publicada originalmente, em preto e branco) e aí apareceu a imagem do rosto de Emmanuel, enquanto uma voz em off se passava por ele.

Parece algo proposital. A brincadeira da FEB que aconteceu há tempos, antes do mito de Chico Xavier, teve que ser encerrada, pelo menos a que contou com a participação do anti-médium. Possivelmente a voz em off representou Emmanuel e traduziu o conselho que o espírito teria dado a Chico na intimidade, mas lançado a público para impressionar os presentes.

Tudo isso foi feito para evitar que a farsa, levada adiante, possa oferecer munição para investigações sérias, sobretudo científicas, que desmascarassem o processo e comprometessem a ascensão de Chico Xavier.

Ele preferiu se concentrar nos livros, que já têm seus problemas, mas sem a "materialização" as coisas se complicariam menos para ele. Se bem que Chico ainda se envolveria em outra "travessura", anos depois.

sábado, 16 de agosto de 2014

Casos de supostos extraterrestres podem explicar hipótese de materialização de espíritos

DOLORES BARRIOS, JOVEM MOÇA QUE SE SUPÕE TER SIDO EXTRA-TERRESTRE E FOI ENCONTRADA NOS EUA, EM 1954.

Há muita coisa a se analisar a respeito de materialização dos espíritos, mas, com toda a certeza, seu processo está longe da farra feita com pessoas encobertas, travesseiros e bonecos de pano com fotos impressas coladas em cima. Nada desses "fantasminhas com cabeça-de-papel" que a FEB divulgou como "espíritos materializados".

Não existem ainda comprovações científicas a respeito de como se deve ocorrer a materialização de espíritos. Tudo ainda é um grande mistério. Mas o que se sabe é que os espíritos, se caso se materializarem, provavelmente apareceriam de forma semelhante à que vemos nas pessoas que, no jargão espírita, continuam encarnadas.

As aparições de misteriosas figuras humanas, que especula-se terem sido extraterrestres, pode dar uma explicação para isso. Os dois casos que relatamos nesta postagem ocorreram na década de 1950, a mesma época das supostas materializações assistidas por Chico Xavier e ocorridas em parte na casa do anti-médium, em Pedro Leopoldo.

No alto se vê a foto da belíssima jovem Dolores Barrios, aparentemente um misto de mulata com loura hispânica, jovem de 1,64m que foi encontrada num congresso de ufologia realizado em Monte Palomar, no Estado da Califórnia, EUA, em 07 e 08 de agosto de 1954.

No congresso, que discutia os contatos com extra-terrestres, destacava-se o cientista George Adamski, que afirmava ter mantido contato com venusianos. De repente, uma moça de comportamento e aparência estranhos se destacava na plateia, e um dos fotógrafos presentes, João Martins, da revista O Cruzeiro, foi solicitado a fotografar a moça.

A moça se assustou com o flash da máquina e decidiu fugir para o pátio próximo ao local do congresso, o Observatório de Monte Palomar. O que muitas pessoas notaram é que uma nave espacial havia decolado na proximidade do local.

A estranha moça foi conhecida como Dolores Barrios porque foi com esse nome que ela assinou a lista de presença, e que se dizia ser uma estilista de moda de Nova York, embora não se tenha conhecimento de uma estilista com esse nome em atividade na famosa cidade estadunidense. Dolores estava com dois rapazes, Don e Bill, que pareciam jovens nerds.

Em outra ocasião, provavelmente no segundo dia do congresso, João Martins havia reencontrado Dolores e teria feito uma entrevista. Ele perguntou se ela e os amigos eram venusianos e ela desmentiu. Dolores disse que ela e os amigos eram apenas interessados pelo tema, e na última pergunta do repórter, sobre a origem dos discos voadores, ela admitiu serem eles de Vênus e depois foi embora.

Além do comportamento estranho de Dolores, nota-se também o formato estranho de seu nariz, além de um prolongamento que forma um "calo longo" na testa, sugerindo que ela seria uma extraterrestre e que seu comportamento reservado seja uma forma de se defender de assédios ameaçadores.

KENIO, O GIGANTE QUE TERIA FEITO PARTE DE UM GRUPO DE EXTRA-TERRESTRES DE ÍNDOLE AMIGÁVEL E EVOLUÍDA, CONHECIDO COMO "W56" OU "AKRIJ"..

O segundo caso (Caso Amizicia, "amizade" em italiano), por sua vez, foi de um homem de grande estatura - cerca de 2,50 m - e outro com um metro e meio que levaram um pesquisador, Bruno Sammaciccia e dois amigos, a conhecer uma base subterrânea de extraterrestres humanoides dotados de uma inteligência muito sofisticada para a época e uma índole amigável.

A base se localizava em Pescara, Itália, e foi encontrada em 1956. Nela haviam, além de adultos, seus filhos crianças e adolescentes que aprendiam tecnologia avançada. Eram conhecidos como "W56" A base foi destruída em 1978 pela ação de supostos extraterrestres rivais conhecidos como CTR, que do contrário dos W56, só defendiam o desenvolvimento tecnológico e não o da ética.

A foto - colorida e em boa resolução, apesar de algumas marcas do tempo - destaca um homem robusto com roupa bastante jovial e moderna, conhecido como Kenio - como Dolores, que também usava trajes modernos - , e os "W56" eram também conhecidos como "Akrij", termo em sânscrito que quer dizer "sábio".

Muitas das informações detalhadas sobre o caso só foram divulgadas a partir de 2003, depois da morte de Sammaciccia. Os W56 faziam questão de divulgar as informações, desde que sejam restritas a especialistas. O relativo sigilo só foi desfeito depois que o ufólogo Stefano Breccia lançou um livro sobre o caso, Contattismi di Massa (em inglês, Mass Contact), em 2007.

Os casos são misteriosos, mas a hipótese de Dolores e Kenio terem sido extraterrestres apresenta teses prováveis de que poderiam ter vindo mesmo de outro planeta. Segundo relatos sobre os W56, os extraterrestres humanoides poderiam conviver com terráqueos comuns até mesmo em ambientes de trabalho.

Se levarmos em conta a presença de possíveis alienígenas na forma de humanoides, é bem provável que a aparição de espíritos de falecidos siga o mesmo modo, e não a forma caricatural e grotesca de pessoas disfarçadas de pano branco ou preto, que mais parecem encenação de fantasminhas de teatro infantil.
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