terça-feira, 31 de outubro de 2017

Depois de Divaldo Franco, João de Deus busca sintonia com plutocratas

AFINIDADE DE SINTONIA - MICHEL TEMER FOI VISITADO POR JOÃO DÓRIA JR., GILMAR MENDES E JOÃO DE DEUS.

O "espiritismo" prova que está sintonizado com a chamada plutocracia, da qual, no fundo, sempre fez parte. É uma religião de elite, um sub-Catolicismo de valores medievais e moralismo ultraconservador, que é tolerado até nos seus piores erros mas, mesmo assim, seus membros reclamam de "intolerância religiosa" pegando carona nos infortúnios que não sofre, mas que atinge religiões de origem afro-brasileira, como a umbanda, há muito confundida com "espiritismo".

Depois do apoio que Divaldo Franco deu à "farinata" do prefeito de São Paulo, João Dória Jr., ao consentir que este apresentasse o suspeito produto no evento Você e a Paz, fato que a imprensa brasileira fez que não viu - o que indica que os "médiuns" brasileiros superaram, em blindagem, os políticos do PSDB - , desta vez foi o goiano João Teixeira de Faria, o João de Deus, visitar o presidente Michel Temer.

Nota-se que o "espiritismo" brasileiro vende uma imagem de "progressista" e alega "ter muita consideração" com políticos de esquerda. Vide o próprio João de Deus e sua aparente gentileza com ex-presidente Lula e sua esposa Marisa Letícia. Só que, quando a ex-primeira dama sofreu um AVC e havia alguma chance de recuperação, foi João de Deus dizer que "rezava por ela" que Marisa faleceu.

Serão as tais "energias" que os "médiuns" trazem que, para certas pessoas, soam malignas? Francisco Cândido Xavier também transmitia energias tão sombrias quanto as de João de Deus. Chico Xavier, que teve uma foto de 1935 com semblante maligno publicada na capa de O Globo, exercia uma estranha maldição em boa parte de seus seguidores: estes perdiam algum filho prematuramente, depois que manifestavam apreço ao "médium" mineiro, espécie de Aécio Neves da religião.

Voltando à "consideração à esquerda", isso é apenas uma formalidade. João de Deus foi cordial com Lula da mesma forma, por exemplo, William Bonner foi. Uma questão de formalidade, apenas, o que não é um problema em si. O problema é que os "espíritas" sempre omitem sua inclinação conservadora, quando se sentem mais à vontade com políticos conservadores.

Daí a afinidade de sintonia de Divaldo Franco com ACM Neto, na Bahia, e com João Dória Jr. em São Paulo. Nota-se a diferença de tratamento. Com os esquerdistas, os "médiuns" são apenas diplomáticos, com aquela cordialidade formal, correta mas não muito à vontade. Já quando os políticos são de direita, a cordialidade é mais calorosa, a "afeição" vai além dos protocolos de formalidade, mesmo quando estes protocolos apelam para uma "afeição mais sincera".

João de Deus, latifundiário e "curandeiro", figura festejada do "espiritismo" mas que não teve coragem de fazer a autocirurgia que, em 1961, em circunstâncias piores e arriscadas, o médico Leonid Rogozov havia feito, se autopromove recebendo celebridades e políticos de "diversas correntes ideológicas", contrariando o ensinamento kardeciano de que um médium não poderia viver do culto à personalidade.

Só no Brasil os "médiuns" vivem do culto à personalidade. Isso é uma grande aberração, mas quase ninguém percebe isso porque os "médiuns" estão associados a apelos ideológicos comparáveis aos "mundos encantados" das fantasias infantis. Mas a verdade é que ser "médium", no Brasil, acaba sendo romper com a função intermediária dos médiuns autênticos dos tempos de Kardec, substituindo-a pela forma espetacularizada que se observa no nosso país.

Michel Temer foi visitado pelo próprio João Dória Jr. e pelo ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, figuras eminentes do Brasil reacionário que as elites defendem. A exemplo de João de Deus, são personalidades apoiadas pela mídia hegemônica e por setores conservadores da sociedade.

João de Deus, dono de uma área equivalente a 18 Parques do Ibirapuera - ironicamente, foi neste parque que ocorreu o "histórico" Você e a Paz que lançou oficialmente a indigesta "farinata" - , encontra afinidades de sintonia com Temer, que, apesar de ter declarado "nunca ter frequentado um centro espírita", foi o mais "espírita" dos presidentes do país.

O "médium" de Abadiânia é investigado por duas mortes ocorridas por causa de seu método duvidoso de "curas mediúnicas", desprovido de higiene e feitos ao arrepio da ciência médica. Ele é acusado de exercício ilegal da Medicina, de lesão corporal por objetos cortantes e sujos e por charlatanismo. Apesar disso, João de Deus goza da mais alta popularidade, devido à blindagem da grande mídia e do mundo das celebridades das quais o "médium" se promove para obter visibilidade e prestígio.

"ESPIRITISMO" RENDEU MAU AGOURO A JUSCELINO KUBITSCHEK

Isso porque a sintonia "espírita" não beneficia necessariamente seus simpatizantes, mas aqueles que se afinam com ideais conservadores defendidos pela doutrina igrejeira. Juscelino Kubitschek tratou o "espiritismo" com muita consideração em 1960 e, depois disso, só sofreu uma maré de azar que culminou no estranho acidente de carro em 1976, que nunca foi devidamente investigado ou reconhecido como um atentado. Os "espíritos de luz" protegem os assassinos de JK?

A "urucubaca" contra JK foi tanta que vários relacionados a ele sofreram infortúnios. João Goulart foi presidente, mas sofreu um golpe militar e teria sido envenenado num hospital, durante o exílio. O marechal Henrique Lott não conseguiu ser eleito sucessor de JK e teve uma filha assassinada por um ex-amigo. Márcia Kubitschek, filha biológica de JK, morreu prematuramente (56 anos). O azar chegou até José Wilker, que interpretou JK numa minissérie da Globo, e morreu de infarto justamente quando começava a fazer consultas num "centro espírita".

Já Fernando Collor de Mello nunca foi um grande fã de Chico Xavier e, do contrário de JK, nada tinha de progressista. Mesmo assim, Collor, ao ser apoiado pelo "médium", não só ganhou as eleições mas, embora tenha enfrentado um escândalo de corrupção e um impeachment, voltou "inteiro" à vida política nacional, sendo hoje senador. Aqueles que o poderiam dar detalhes sobre o envolvimento de Collor na corrupção, como o irmão Pedro e o rival deste e ex-tesoureiro do outro, Paulo César Farias, morreram.

JOÃO DE DEUS E MICHEL TEMER - "ALMAS GÊMEAS"?

Michel Temer, que deixou o hospital ontem depois de se recuperar de uma cirurgia na próstata, não é propriamente um adepto do "espiritismo", mas seu programa de governo sempre foi apoiado com gosto, mas de maneira nunca oficialmente assumida, pelos "espíritas".

As ditas reformas do governo Temer estão de acordo com o moralismo retrógrado do "espiritismo" brasileiro, que se fundamenta na Teologia do Sofrimento. A perda de direitos sociais pela reforma trabalhista é vista pelos "espíritas" como uma oportunidade de exercer o "desapego material", na ótica conservadora deles.

Por sua vez, a reforma previdenciária é defendida pelos "espíritas" para "testar a paciência e a perseverança do trabalhador" e a proposta de terceirização total para atividades-fim é vista como um modo de "estimular a humildade humana". A prevalência do negociado sobre o legislado nas relações de trabalho é vista pelos "espíritas" como uma "oportunidade de promover o diálogo fraternal" entre patrões e empregados.

Daí que a sintonia espiritual dos "espíritas" com Michel Temer é bastante afinada. E a visita de João de Deus a Michel Temer mostra o quanto os "médiuns espíritas" podem parecer "grandes amigos" para políticos progressistas, mas a amizade se torna mais sincera e profunda com os políticos mais conservadores. Porque aí não é questão apenas de cordialidade, mas de cumplicidade e afinidade de ideias e interesses.

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

"Médiuns espíritas" já são mais blindados do que políticos do PSDB


O caso de João Dória Jr. mostrando a camiseta do Você e a Paz que praticamente ninguém viu provou a seguinte constatação: a de que os "médiuns espíritas" chegam mesmo a serem mais blindados do que os políticos do PSDB, conhecidos como "tucanos".

Nem a imprensa de esquerda viu a camiseta usada por João Dória Jr., e ninguém perguntou se ele deveria, ao invés de exibir a blusa do referente evento "espírita", exibir a da Arquidiocese de São Paulo. O "médium" Divaldo Franco apoiou tudo e consentiu com o lançamento oficial da "ração humana" em pleno Você e a Paz e saiu imune de todo o incidente.

A blindagem é tanta que ser "médium espírita" virou garantia de proteção absoluta. Nem a imprensa de esquerda, normalmente um contraponto à mídia hegemônica e capaz de desqualificar seus "heróis", mexe com "médiuns espíritas".

O caso de Divaldo Franco lembra dois incidentes com seu amigo Francisco Cândido Xavier. O próprio Chico Xavier foi beneficiado pela seletividade de nossa Justiça, em 1944, quando a evidente usurpação do nome de Humberto de Campos para obras que fogem do estilo original do autor maranhense resultou em impunidade.

Em 1970, mesmo com fotos - feitos por gente solidária, Nedyr Mendes da Rocha - mostrando Chico Xavier acompanhando todos os bastidores do espetáculo ilusionista da farsante Otília Diogo (uma das fotos mostra Chico observando a jaula), com o "médium" comunicativo e ficando por dentro de tudo, o mineiro foi oficialmente tido como "enganado" por Otília, depois que ela foi desmascarada pela imprensa investigativa.

Só sendo tolo para acreditar que, sabendo que Chico Xavier acompanhou tudo, com desenvoltura e muita atenção - as fotos de Nedyr provam isso - , é impossível que ele tenha sido enganado por Otília Diogo. Ele foi cúmplice de toda a farsa, o que mostra essas imagens que, antes de Suely Caldas Schubert divulgar cartas de Chico Xavier "vazando" que Parnaso de Além Túmulo era feito por editores da FEB, representam o "fogo amigo" dentro do "movimento espírita".

O logotipo do Você e a Paz exibido por João Dória Jr. não por acaso. Não foi uma camiseta de banda de rock destas que os fãs exibem quando vão a festivais de música. Aquilo foi um compromisso de vínculo de imagem, e é evidente que Divaldo Franco consentiu que o prefeito de São Paulo exibisse uma camiseta com o crédito do nome do "médium" e do evento idealizado por este.

Isso significa que a "ração humana" não teve no arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer, seu único defensor religioso. Divaldo demonstrou que apoiou também a "ração", uma "farinata" feita com restos de comida cujo valor nutricional e procedência duvidosos motivou a reprovação de entidades de saúde pública mais conceituadas, de movimentos sociais e até da ONU.

O episódio só não virou escândalo porque a blindagem da mídia a um "médium espírita", associado a um mundo de "cor e fantasia", foi completa. Mas o apoio de Divaldo Franco, que consentiu com o uso de seu nome e da marca do Você e a Paz por João Dória Jr. para divulgar o alimento suspeito.

Isso não é uma cobrança de responsabilidade, mas uma informação do efeito que o vínculo de imagem pode causar. Isso é um processo próprio da publicidade, o vínculo a uma marca e um nome. Mas ninguém reparou, nem a mídia de esquerda. Ser "médium espírita" parece garantir invisibilidade até diante de evidências.


Atualmente, os políticos do PSDB já começam a virar "vidraça" na Internet, embora continuem sendo blindados pela Justiça e tratados com moderação pela mídia hegemônica, ainda que sob críticas e notícias negativas.

Mesmo voltando ao cargo de senador, do qual estava afastado devido a um processo no Judiciário contra ele, acusado de crimes políticos, Aécio Neves pode deixar a presidência do PSDB e também já não é, há tempos, um político carismático ou um presidenciável em potencial, estando ele com uma imagem bastante desgastada, se não por conta da grande imprensa, pelo menos por parte das redes sociais.

Um "médium" da mesma geração de Aécio Neves, o baiano José Medrado, foi acusado de uso de terreno sem alvará (a chamada "invasão de colarinho branco"), irregularidades são identificadas em suas pinturas e esculturas "mediúnicas", acusado de confinar crianças alojadas na Cidade da Luz durante as palestras dele e ninguém investiga sequer. Pelo contrário, juízes, advogados, juristas e policiais só se aproximam de José Medrado para cumprimentá-lo e posar para fotos.

Isso significa que os "médiuns espíritas" já gozam de blindagem superior a dos tucanos. Nunca foi fácil seguir uma carreira de aparente mediunidade, acrescida de palestras de auto-ajuda religiosa e atividades de Assistencialismo. É como viver de sombra e água fresca, e os "médiuns" ainda podem excursionar pelo mundo, se hospedar nos melhores hotéis e ainda ganhar prêmios pelo Assistencialismo e pelas mensagens piegas trazidas em livros "psicográficos" e palestras.

Com essa novidade, sugere-se que os tucanos, se quiserem manter a blindagem absoluta que recebiam há até pouco tempo, aproveitem a mudança dos nomes de partidos para alterar o seu nome para ESPÍRITAS. Com este nome, os tucanos podem fazer das suas que ninguém pega.

domingo, 29 de outubro de 2017

A "farinata" de João Dória Jr. manchou Divaldo Franco e o "espiritismo" brasileiro

DIVALDO FRANCO NÃO TEM CONDIÇÕES DE RESPONDER SOBRE O CASO DA "FARINATA" DE JOÃO DÓRIA JR..

A situação de Divaldo Franco, maior deturpador vivo da Doutrina Espírita e definido como "roustanguista convicto" por ninguém menos que o jornalista espírita José Herculano Pires, se complicou pela segunda vez.

Depois de, numa entrevista após um evento "espírita" na Espanha, acusar os refugiados do Oriente Médio de terem sido supostas reencarnações de tiranos colonizadores, alegando que eles "queriam retornar a Europa para recuperar seus tesouros", o que soa uma ofensa grave às famílias e aos cidadãos que apenas queriam fugir de nações em conflito na África e Ásia, o "médium" baiano dificilmente sairá imune no caso da "farinata" do prefeito de São Paulo, João Dória Jr..

Isso porque Divaldo Franco, com toda a sua fama de "sábio", "vidente", "ativista" e "líder", nada fez para impedir o lançamento, em pleno evento Você e a Paz, da "ração humana" feita com restos de comida de procedência duvidosa, valor nutricional desconhecido e condenada por entidades de saúde pública das mais diversas - inclusive nutricionistas - e movimentos sociais, que veem na "farinata" um meio desumano de combater a fome, tratando os pobres como se fossem animais de rua.

Divaldo deixou até mesmo que o chamado prefake - apelido pejorativo dado a João Dória Jr. pela sua falta de carisma e de interesse social - , já considerado um político decadente antes se ser homenageado pelo Você e a Paz, divulgasse o duvidoso alimento no próprio evento e divulgando o encontro através da camiseta, exibida em várias fotos fartamente publicadas na imprensa.

Ninguém percebeu a estranheza e, quando um ídolo religioso era criticado, limitava-se a ser o arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer, responsável pela Arquidiocese de São Paulo. Mas nenhum jornalista sequer perguntou por que João Dória Jr. não poderia ter divulgado o evento vestindo a camiseta com o logotipo da Arquidiocese em vez do evento organizado por Divaldo.

Sim, Divaldo tem uma parcela de responsabilidade, e sobretudo das mais altas. Se observarmos bem, Divaldo apoia até a Escola Sem Partido, o projeto pedagógico que não permite debater a realidade, mas estimula a preservação de crenças e fantasias religiosas. Divaldo personifica o perfil antiquado do orador verborrágico e detentor de um pretenso saber, de nível hierarquizado.

Juntamente com Francisco Cândido Xavier, popularmente conhecido como Chico Xavier, Divaldo Franco é o maior deturpador dos postulados espíritas, reduzindo o legado kardeciano a um sub-Catolicismo de valores medievais. Chico e Divaldo sempre foram católicos, e suas obras são dotadas do mais carregado igrejismo, que não raro apresentam ideias contrárias aos ensinamentos espíritas originais.

A sintonia de Divaldo Franco, tido como "progressista", a uma figura conservadora e decadente como João Dória Jr. - antes do Você e a Paz, já era noticiado que Dória tinha baixa popularidade até entre aqueles que o elegeram, era hostilizado por abandonar São Paulo e criticado por muitas medidas de "choque" (como acordar moradores de rua com jato d'água), diz muito sobre a que veio realmente o "médium" baiano, o "maior filantropo do Brasil" que não ajuda sequer 1% da população brasileira.

Isso significa que Divaldo Franco é, no fundo, uma figura muito, muito conservadora e não dá para entender o silêncio da imprensa de esquerda, porque o vínculo de imagem de Divaldo e do Você e a Paz à pessoa do prefeito de São Paulo é notória. Divaldo, pelos atos que fez ou que deixou de fazer, acabou apoiando e associando sua imagem à "farinata" de João Dória Jr..

Se até a ONU condena o "alimento" de João Dória Jr., por que o Você e a Paz deixou-se ser o palco de lançamento desse produto, contra o qual há até denúncias sombrias, de pacientes que morreram por ter sido usados como "cobaias" do "composto alimentar"?

Muitos seguidores de Divaldo Franco se apressam em dizer que ele "não sabia" do produto e "deve ter sido informado em última hora". Isso não procede. Divaldo teve condições, pois é considerado uma pessoa "lúcida e consciente de seus atos" - daí que continua fazendo palestras - , para ser informado do estranho produto e, se ele tivesse sido ético, deveria ter evitado a divulgação do mesmo apenas pela falta de informações precisas a respeito.

Mas Divaldo consentiu com tudo isso e permitiu toda a divulgação e o alarde da imprensa (que, por sorte, apenas não notou que a "farinata" foi divulgada num evento "espírita") e, com isso, se manteve num impasse que, independente da resposta, o põe em xeque-mate na sua reputação de "líder e pensador espírita".

Se "agiu sem saber", como acreditam seus seguidores, isso contraria toda a sabedoria atribuída a ele e que resultou em vendas expressivas dos dois volumes da série Divaldo Responde. É certo que um verdadeiro sábio nunca se acharia nas pretensões de responder tudo, mas, nos padrões rasteiros das redes sociais, onde o conceito de "filosofia" se resume a umas poucas frases de efeito moralistas, ele goza desse aparente prestígio.

Se Divaldo Franco "agiu sabendo", o que é mais provável, então ele é uma farsa como "líder espírita" porque permitiu que, em seu evento, fosse divulgado um projeto alimentar não só desprovido de informações confiáveis, mas também condenado pelos movimentos sociais e pelas mais respeitadas entidades de saúde pública e nutrição do Brasil e do mundo.

Divaldo, um sujeito que muitos acreditam estar na sala de espera para ir definitivamente ao "céu", imaginando anjos cantando, autoridades lhe concedendo prêmios e Jesus pessoalmente o acolhendo para levá-lo a um assento nobre no "reino dos puros", despencou ao consentir que a "farinata" fosse divulgada usando a marca do Você e a Paz e do nome do "médium".

Isso diz muito sobre o quanto o "espiritismo" brasileiro se afunda em contradições, omissões e erros da mais extrema gravidade. E isso tudo se deve às suas raízes roustanguistas, que não podem ser renegadas, porque é inútil definir o sobrenome Roustaing como um palavrão, se o legado que este deixou em Os Quatro Evangelhos se espalha na totalidade do "movimento espírita", inspirando as atividades de suas "casas", de seus palestrantes, de seus tarefeiros, de seus "médiuns".

A "farinata" é um alimento indigesto, pela natureza de suas caraterísticas. Mas a indigestão maior ela causou - por sorte, sob o silêncio da imprensa - no "movimento espírita" como um todo e no seu "maior médium", um homem que se julga capaz de "responder tudo", mas que não consegue explicar o equívoco de uma "ração humana" que envolve uma série de problemas da mais alta gravidade.

sábado, 28 de outubro de 2017

Análise de argumentos que blindam Divaldo Franco no caso "farinata"


A "farinata", o alimento feito de restos de comida de procedência e valor nutritivo duvidosos, desgastou o prefeito de São Paulo, João Dória Jr., de tal forma que ele é mal visto até pelos seus colegas de partido, o PSDB.

A sucessão de agravantes contra o prefeito é tanta que a ONU desmentiu o apoio ao projeto "Allimento", do programa "Alimento para Todos". A título de comparação, a mídia conservadora fala tanto que o Movimento dos Sem-Terra é "criminoso", pela abordagem leviana que a imprensa faz de seus protestos, mas o projeto alimentício do MST é dotado da mais absoluta dignidade e com o aproveitamento pleno dos alimentos gerados pela natureza.

O apoio religioso à "farinata" não se reduz à Arquidiocese de São Paulo, na pessoa do arcebispo dom Odilo Scherer. A ostentação da camiseta da edição paulistana do encontro Você e a Paz, idealizado pelo "médium espírita" Divaldo Franco, diz muito sobre o apoio deste à "farinata", fato infelizmente ignorado por quase toda a imprensa.

Afinal, os "médiuns espíritas" estão associados à imagem dócil, a cenários de céu azul, jardins floridos, passarinhos voando, que lhe dão uma reputação tão adocicada que os compara ao Papai Noel do imaginário infantil. Ninguém iria acusar o Papai Noel de apoiar comida estragada.

Mas a exibição da camiseta do Você e a Paz por João Dória Jr. expressa, sim, vínculo de imagem. E o lançamento oficial da farinata no Você e a Paz mostra que Divaldo está ao lado de dom Odilo Scherer, já que o "médium" tem formação religiosa católica, fala como padre e sempre está cortejando figuras católicas.

Muitos ficam assustados com a associação de Divaldo Franco à "ração humana" de João Dória Jr. que não são raros os argumentos que tentam blindá-lo, dentro daquela falácia de "perseguição a um homem de bem" que tentou defender até a catolicização do Espiritismo praticada pelos "médiuns". Vamos analisar os principais argumentos.

"MALDADE FICAR DIZENDO QUE DIVALDO FRANCO APOIOU A 'FARINATA'. COITADO, ELE NÃO SABIA DA FARSA, DEIXOU O PREFEITO FALAR E DIVULGAR O PRODUTO".

Em primeiro lugar, não é maldade criticar um erro grave cometido por um "médium". Usar o prestígio religioso para acobertar esse erro é, sim, e contra a humanidade. Além disso, a reputação que oficialmente se atribui a Divaldo Franco sugere que ele poderia ter cancelado a homenagem a Dória Jr., proibido a divulgação da "ração humana" e até proibido o prefeito paulistano de exibir a camiseta do Você e a Paz, optando, por exemplo, por uma camiseta com o logotipo da Arquidiocese de São Paulo, parceira oficial do "alimento".

Como um suposto "sábio", "ativista" e "líder", Divaldo, supõe-se, poderia ter sido alertado por espíritos superiores para fazer as prevenções necessárias. Se houvesse algum conflito dele com os católicos, isso não seria uma ameaça à paz, mas antes a atitude de um "líder espírita", com fama de "ativista", para se necessário enfrentar os outros para evitar alguma atitude que prejudicasse os mais necessitados. Mas nada disso aconteceu. Divaldo consentiu o tempo todo com Dória e sua "ração".

"DIVALDO FRANCO NÃO TEM CULPA. ELE FEZ SEM SABER".

Isso não procede. Divaldo Franco soube bem de João Dória Jr. e sua "farinata", teve toda oportunidade para se informar, antes de realizar o evento, da imagem decadente do prefeito e do produto que ele previamente anunciou, e impedir toda essa gafe. Vale informar, para todos, inclusive jornalistas, que o lançamento da "farinata" se deu no próprio evento Você e a Paz, e Divaldo estava ali, ao lado, acompanhando tudo. Sabia do que estava fazendo, até porque Divaldo é responsável pela realização do evento e não seria tolo de não acompanhar todas as atrações do evento.

"FALTA DE PIEDADE CULPAR ASSIM UM VELHINHO DE 90 ANOS".

Essa argumentação também não procede porque, apesar de Divaldo Franco ser bem idoso, apresenta lucidez suficiente para saber muito bem do evento de que é responsável. Até porque, se ele estivesse frágil, não estaria fazendo palestras, não é mesmo?

Outras pessoas com mais de 85 anos também são questionadas sem que isso soasse "falta de piedade". Fernando Henrique Cardoso, Paulo Maluf e José Sarney têm mais de 85 anos de idade e nem por isso viraram "santos".

"O VOCÊ E A PAZ NÃO TEM RELAÇÃO NENHUMA COM A RAÇÃO DO DÓRIA"

Tem, sim. A "farinata" foi oficialmente lançada no evento Você e a Paz. João Dória Jr. exibiu a camiseta do evento, com o crédito do nome de Divaldo Franco, e sob o consentimento deste. A exibição da camiseta em situações assim não é coincidência, não é uma questão de fã exibindo blusa de ídolo religioso ou algo a ele relacionado.

Aquilo foi um compromisso de vínculo de imagem. Dória divulgou a "farinata" exibindo a marca do Você e a Paz e o nome de Divaldo Franco, com quem aliás posou para fotos. E, pelo que parece, Divaldo nada fez contra isso, consentindo que a pessoa dele e o evento que ele promove em várias cidades do país tenha vínculo de imagem, sim, com a "farinata" do prefeito de São Paulo. Isso significa que Divaldo Franco apoiou a "ração humana", sim.

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

"Espiritismo" reduziu-se a uma "farinata" religiosa


O "espiritismo" brasileiro disse a que veio quando um de seus maiores ídolos religiosos, o "médium" Divaldo Franco, apoiou a "ração humana" de João Dória Jr., episódio que deve repercutir mesmo sob o silêncio absoluto da imprensa (até da de esquerda). E mostra que a própria doutrina brasileira, cada vez mais afastada dos postulados originais, reduziu-se hoje a uma farinata religiosa.

O "espiritismo" brasileiro vive sua grande erosão doutrinária, rebaixando-se a um engodo que mistura diversas crenças místicas e esotéricas de gosto duvidoso ou na forma de arremedos. Hoje o que vemos é, nas suas bases, um mero receituário moral conservador, práticas de Assistencialismo (caridade de resultados pouco expressivos) e igrejismo.

No conjunto da obra, o "espiritismo" brasileiro tornou-se um clone do Catolicismo, o que é risível. Afinal, se temos a Igreja Católica, para que outra Igreja Católica? O "espiritismo" virou, assim, um sub-Catolicismo "de chinelos", nos quais seus devotos são autorizados a acreditar em Astrologia e são dispensados de formalidades como os sacerdotes (no caso os "médiuns") usarem batina e as pessoas fazerem ginástica do senta-e-levanta das missas (no caso as "reuniões doutrinárias").

Isso não quer dizer que, ideologicamente, o "espiritismo" virou progressista ou moderno, com tais licenciosidades. Muito pelo contrário. Se o "espiritismo" brasileiro dispensou batinas, ginástica nas missas e decoração de ouro nas igrejas ("centros espíritas"), seu conteúdo moral é extremamente conservador, aproveitando do que o Catolicismo jogou fora, como a Teologia do Sofrimento.

A "farinata" religiosa com que se reduziu o "espiritismo" brasileiro vive de restos. Vive dos restos descartados pelo Catolicismo, de conceitos genéricos a crenças e filosofias orientais (sobretudo Índia e China), de elementos de Astrologia, Psicologia, e até mesmo de terapia familiar, sem que haja uma necessidade real de ser fiel aos postulados kardecianos originais, apesar do disse-me-disse apelar para este sentido.

Daí a sintonia de Divaldo Franco a um político conservador como João Dória Jr. e que está em decadência vertiginosa. Essa sintonia já diz muito sobre a decadência do "espiritismo" igrejeiro que prevalece desde os primórdios da FEB. E a "farinata" do prefeito de São Paulo, projeto de alimento feito com restos de comida de procedência e valor nutricional duvidosos, também diz muito sobre o que é o "espiritismo" praticado no Brasil, mas já exportado para Portugal, Espanha e França.

Desde que a "mediunidade" resultou num processo fraudulento no qual os "médiuns" inventavam mensagem da própria mente, parodiando o morto de sua escolha, e faziam mershandising religioso para evitar desconfiança, o "espiritismo" caiu seriamente de conceito e se encontra no plano mais baixo das religiões, até abaixo das retrógradas seitas neopentecostais.

Isso porque, por mais que seitas que têm como pregadores maiores nomes como Edir Macedo, Silas Malafaia, Marco Feliciano, Valdemiro Santiago e R. R. Soares, defende a permanência e supremacia de pautas sociais antiquadas e obsoletas e é capaz de apoiar políticos como Jair Bolsonaro, pelo menos, com todos os defeitos preocupantes que essas seitas apresentam, elas possuem vantagem entre os "espíritas": não vivem de dissimulação nem de desonestidade doutrinária.

Os "espíritas" deturpam o legado de Allan Kardec - de forma agravante, se percebermos que o pedagogo francês penou para lançar e divulgar seus postulados - e dizem dele seguir "fidelidade absoluta" e cumprir "rigoroso respeito". Balelas. O que se observa é um igrejismo, um moralismo familiar retrógrado, um esoterismo falsamente científico, uma gororoba doutrinária cheia de palavras dóceis e apelos piegas.

O mais grave é que o "espiritismo", que se diz "ecumênico", também se transforma numa "torre de Babel" que alimenta o arrivismo de palestrantes e "médiuns". O que piora ainda mais as coisas, que já estão bem piores, é que cada palestrante ou "médium" pensa o que quer, crê no que quer, mas isso não é feito no sentido da liberdade de crença, mas na descaraterização de uma doutrina e no choque de abordagens diversas que mancha ainda mais o já desfigurado "espiritismo" brasileiro.

Tem palestrante que admite virtudes em Jean-Baptiste Roustaing, outro que acha o sobrenome Roustaing um palavrão, tem palestrante defendendo a Teologia do Sofrimento, outro defendendo a Teologia da Prosperidade (meritocracia religiosa) dos neopentecostais. Tem gente que acredita na "profecia da data-limite" de Francisco Cândido Xavier, tem gente que acha isso ridículo e tem gente que trata Chico Xavier como um deus e outro que diz que ele é "só um homem simples e bom".

Isso tudo criou uma bagunça doutrinária que hoje vemos. E a coisa ainda chega ao nível deplorável dos "espíritas" não aceitarem críticas, reivindicarem a posse da verdade até quando tentam dizer que "ninguém é dono da verdade". Querem a privatização da bondade humana, como uma franquia na qual "todos podem obter" mas cujo vínculo ideológico tenha que estar associado aos "médiuns espíritas".

O choque de abordagens diferentes, o igrejismo rumando para valores medievais, a erosão doutrinária na qual a quase totalidade das atividades "espíritas" nada têm a ver com o Espiritismo, tendo mais receituário moralista, predições esotéricas, atrações musicais cafonas, tudo isso permitido porque a doutrina reduziu-se a um "vale tudo" ideológico, que só falta formalizar o divórcio com as bases de Kardec, pois na prática esse divórcio já foi, há muito, declarado.

E assim vemos o "espiritismo" brasileiro alinhado a João Dória Jr.. A exemplo deste, o "espiritismo" tornou-se ideologicamente conservador, se moldando para ser o Catolicismo jesuíta e medieval redivivo, atualizando a velha religião que dominou e oprimiu os brasileiros no período colonial.

Quanto à "farinata", o "espiritismo" de hoje não é mais do que uma combinação de restos que vão de velhos conceitos descartados pela Igreja Católica, arremedos de crenças orientais, Astrologia, terapia familiar conservadora e auto-ajuda convencional. Depois seus membros tentam jurar de pés juntos que são "rigorosamente fiéis" ao legado original de Allan Kardec.

quinta-feira, 26 de outubro de 2017

Omissão da imprensa de esquerda em analisar caso Divaldo Franco-João Dória Jr. pode trazer efeitos ruins ao Brasil

JOÃO DÓRIA JR. ESTEVE O TEMPO TODO VINCULANDO O VOCÊ E A PAZ E DIVALDO FRANCO À SUA IMAGEM, MAS NEM A IMPRENSA ESQUERDISTA VIU.

Pode custar caro para a mídia esquerdista a omissão em relação à necessidade de investigar a relação do evento Você e a Paz e do "médium" Divaldo Franco com a "farinata" do prefeito de São Paulo, João Dória Jr.. Mais uma vez o silêncio da chamada mídia alternativa e dos sites progressistas pode fornecer arsenal para a reação direitista, o que pode ser bem pior para o país.

Sabe-se que a "farinata" de João Dória Jr. foi oficialmente lançada no evento Você e a Paz. Embora seja um evento ecumênico, ele é idealizado pelo "médium espírita" Divaldo Franco. Em várias e várias fotos, o prefeito da capital paulista aparece exibindo a camiseta, com o logotipo do evento e o nome do "médium" destacado abaixo da referida marca.

Várias fotos da Internet mostram Dória Jr. com a camiseta e isso não é coincidência. O prefeito de São Paulo não exibiu a camiseta porque foi a única disponível para ele vestir, já que ele é conhecido por usar, na maioria das vezes, paletós e camisas sociais. Ele também não exibiu a camiseta do Você e a Paz porque gostou do logotipo azul tal qual um adolescente usa a camiseta do Iron Maiden por ela ser "muito radical".

Aquilo é um compromisso de divulgação, que sugere vínculos de imagem. Isso não é invencionice nossa, são regras da publicidade. É como ocorre quando jogadores de futebol exibem a marca do patrocinador enquanto fazem entrevista coletiva, isso ocorre não porque o jogador achou o logotipo do anunciante "muito maneiro", mas porque tem o compromisso de divulgar sua marca.

A imprensa progressista, normalmente investigativa, não questionou sequer o porquê de João Dória Jr. vestir a camiseta do Você e a Paz e não a da Arquidiocese de São Paulo, cujo arcebispo dom Odilo Scherer foi, até agora, o único alvo da mídia de esquerda quando criticava o apoio de alguma figura religiosa ao alimento suspeito chamado "farinata", que, sabe-se, é feito de restos de comida.

O absoluto silêncio da mídia de esquerda a certos totens, aparentemente associados a uma imagem supostamente feliz do povo pobre, lembra a omissão que foi dada diante do fenômeno do "funk", ritmo musical que faz apologia da pobreza de forma glamourizada e traveste valores retrógrados como se fossem "progressistas", como o endeusamento das mulheres-objetos sob o pretexto de "empoderamento feminino".

O apoio da mídia de esquerda ao "funk" - ritmo que, na verdade, é apadrinhado pelas Organizações Globo e, segundo denúncias, é financiado por órgãos da CIA (entidade ligada ao governo dos EUA), como a Fundação Ford e a Soros Fund Management) - representou a queda em uma armadilha, o que abriu caminho para as pregações ideológicas dos reacionários da grande imprensa, que impulsionaram até o nascimento de páginas brasileiras de fake news.

APOIO DAS ESQUERDAS AO "FUNK" AJUDOU NA QUEDA DE DILMA ROUSSEFF

O apoio do "funk" pelas forças progressistas foi tão grave que muitos começam a desconfiar se o "baile funk" ocorrido na manifestação pró-Dilma Rousseff em Copacabana, em 17 de abril de 2016, não teria sido um "presente de grego" dos oposicionistas anti-PT, já que o organizador do "baile", o DJ e empresário Rômulo Costa, tem relações com o mesmo PMDB carioca do deputado Eduardo Cunha e havia escolhido o direitista Luciano Huck como divulgador maior do "funk" no Brasil.

E mesmo os "rolezinhos" e o "funk ostentação" (cena paulista cujos intérpretes exaltam bens de consumo supérfluos e caros) foram também armadilhas que deixaram as esquerdas confusas, e que depois abriram caminho para a ação de grupos como o Movimento Brasil Livre, de tendência fascista, do qual se destacam figuras que deveriam ser desprezadas de tão medíocres, como Kim Kataguiri e Fernando Holiday.

A pregação intelectual que se observou na mídia esquerdista em favor do "funk" acabou deixando este setor midiático em situação ridícula. A influência de intelectuais vindos da mídia hegemônica para serem contratados em veículos esquerdistas - inclusive o funkeiro MC Leonardo, redescoberto por um cineasta ligado à Globo e à organização direitista Instituto Millenium, que virou colunista do periódico esquerdista Caros Amigos - abriu caminho para a réplica direitista.

Enquanto esquerdistas ficavam complacentes com o processo de idiotização cultural que transformava o povo pobre em caricatura de si mesmo, a mídia mais reacionária elevava comentaristas normalmente medíocres e mesquinhos, como Reinaldo Azevedo, Rachel Sheherazade e Rodrigo Constantino, passaram a levantar a bandeira da "cultura popular de verdade".

Isso criava uma situação surreal. Intelectuais que tinham compromisso autêntico com as classes populares passaram a defender expressões musicais de valor duvidoso e patrocinadas pela mídia hegemônica. Já comentaristas de visão elitista que normalmente desprezam de forma cruel as classes populares passaram a se queixar de que elas eram vítimas de imbecilização cultural.

O que aconteceu, então? Os comentaristas de esquerda foram desqualificados. As classes populares, influenciadas pela pregação intelectual, deixaram o ativismo social em prol do entretenimento popularesco, sobretudo com o "funk". Os comentaristas reacionários, no entanto, passaram a ser levados a sério e, com isso, tiveram moral de sobra para esculhambar o PT e reivindicar a saída de Dilma Rousseff do poder.

"FUNK" É APRECIADO POR ELITES E ATÉ POR SOCIOPATAS ANTI-PT

Depois da saída de Dilma Rousseff, os funkeiros deram seu "beijinho no ombro" (gesto de desprezo) para os esquerdistas. Mesmo quando havia funkeiros "apoiando" Lula quando ele discursava contra a Operação Lava Jato, eles se comportavam como se fossem "olheiros" a serviço de anti-petistas.

Um episódio de estupro coletivo de uma jovem por fãs de "funk proibidão" passou "despercebido" pela "feminista" Valesca Popozuda, que foi para a Disney World passear com uma campeã do Big Brother Brasil (programa da Rede Globo já criticado pela mídia de esquerda). Funkeiros apareciam à vontade em programas da Rede Globo de Televisão e até na elitista revista Caras.

Tudo isso aconteceu já com Michel Temer no poder, embora na condição de interino. E o "funk" mais parecia estar à vontade no establishment da mídia hegemônica, a ponto de vários intérpretes do gênero organizarem festas de aniversário milionárias. As elites sociais, hostis às forças progressistas, também recebem bem o "funk", criando "bailes funk" em condomínios de luxo ou em casas noturnas de grande porte. Sociopatas com profundo ódio ao PT também contam com muitos fãs de "funk".

HOJE É TEMER, AMANHÃ PODE SER BOLSONARO

A lição amarga disso foi que o apoio das forças de esquerda ao "funk" e outras formas de idiotização cultural, baseado no pretenso estigma da "felicidade dos pobres", deu no efeito contrário: ao defender essas formas postiças de "cultura popular", as esquerdas fizeram com que o povo pobre fosse desviado para esse tipo de entretenimento, alienante e consumista, esvaziando os movimentos populares e abrindo caminho para os movimentos de direita, como as passeatas do "Fora Dilma".

Além disso, já havia o silêncio da imprensa investigativa ao "funk", e a mídia de esquerda nunca preencheu a lacuna deixada por Tim Lopes, que, apesar de ter sido jornalista da Globo, destoava dos interesses editoriais da emissora, atuando como se fosse repórter independente. Tim foi assassinado em 2002 por um grupo de criminosos depois que investigava denúncias de exploração sexual de menores num "baile funk".

Diante dessa lacuna deixada em aberto, o que se viu na mídia esquerdista sobre o "funk" foram só textos apologistas, muito bem escritos, mas ideologicamente tendenciosos, que só exaltavam uma imagem idealizada da "periferia feliz" e daquilo que os críticos chamam de "orgulho de ser pobre", sendo muito mais textos de propaganda travestidos de reportagem, monografia e documentário do que de textos de caráter informativo e investigativo.

Essa complacência das esquerdas ao "funk" se deve à inclinação fácil das forças progressistas que, apesar de serem solidárias às classes populares, ainda mantém preconceitos de ordem paternalista e elitista. São, majoritariamente, ativistas e intelectuais de classe média, que ainda vem como "santo" qualquer oportunista que se apoie numa visão idealizada de pobreza popular.

O silêncio em relação ao envolvimento de Divaldo Franco e seu Você e a Paz na perigosa "farinata" de João Dória Jr. - da qual especialistas apontam risco de intoxicação alimentar fatal e os movimentos sociais definem a iniciativa como ofensa à dignidade humana - lembra a antiga complacência ao "funk".

Afinal, em relação aos "médiuns espíritas", assim como no "funk", repousa, no imaginário dos esquerdistas mais complacentes, a imagem dócil desses dois fenômenos como supostos paladinos das classes populares, mesmo quando os dois apelam para processos de domesticação social das classes populares, seja através da idiotização cultural do "funk" ou do suporte religioso do Assistencialismo que trata os pobres de maneira meramente paliativa e paternalista.

A falta de investigação na imprensa sobre o caso Divaldo Franco-João Dória Jr. pode refletir num futuro dano à democracia. Assim como a complacência das esquerdas ao "funk" favoreceu a queda de Dilma Rousseff e a ascensão de forças políticas reacionárias que só agravaram os problemas já vividos pelas classes mais pobres, o silêncio em relação ao apoio de Divaldo Franco à "farinata" pode favorecer ainda mais as seitas evangélicas de tendência neopentecostal.

Com isso, os evangélicos mais reacionários podem se aproveitar do caso para desqualificar os movimentos sociais, complacentes com os "espíritas" que "apoiam comida estragada", e daí para Silas Malafaia, Marco Feliciano e Edir Macedo crescerem ainda mais em popularidade é um pulo. Pior: pode sobrar até mesmo para o crescimento de forças fascistas que já espalham panfletos em várias partes do Brasil e de um obscurantismo social que se manifesta nas redes sociais.

Aumentam manifestações de racismo, machismo e outros preconceitos sociais, e Jair Bolsonaro, mesmo com suas gafes e encrencas, consegue se ascender como um presidenciável viável. Os setores fascistas da sociedade se acham triunfantes e se sentem fortalecidos, pela omissão dos progressistas, em se tornarem alternativas à crise política de hoje, diante da complacência fácil e do coração mole das esquerdas.

Hoje o Brasil está perdendo muito com Michel Temer, por causa da aceitação fácil da imbecilização cultural do "funk". Amanhã o Brasil pode perder mais com Jair Bolsonaro, por causa da complacência fácil com a imagem de "contos de fadas" dos "médiuns espíritas" que não são sequer questionados pelos seus erros e atitudes estranhas.

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Só no Brasil os "médiuns" fazem o que querem

CHICO XAVIER E DIVALDO FRANCO - PRÊMIOS NA TERRA E CULTO À PERSONALIDADE.

No Brasil em que os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário mostram suas irregularidades no trato com as leis e com o interesse público, o "espiritismo" também segue o, vejam só, "espírito" do lugar e também mostra suas grandes aberrações.

O Brasil deixou que a deturpação do Espiritismo, alertada por Allan Kardec em seu tempo, fosse bem sucedida e, como se não bastasse isso, prevalecesse até mesmo sobre o Espiritismo original. Os "espíritas" brasileiros cometem graves traições ao legado deixado por Kardec, mas juram de pés juntos que a ele mantém "rigoroso respeito" e "fidelidade absoluta".

A figura aberrante do "médium" ocorre de tal forma que surge até um dado irônico. Os médiuns que viveram no século XIX, na França, eram aristocráticos e de boa posição social, mas superavam em humildade, discrição e despretensão aos "humildes médiuns" do Brasil, que vivem da ostentação, do culto à personalidade e na busca de prêmios na Terra a pretexto de serem homenageados pelo "trabalho do bem", eufemismo para o Assistencialismo que fazem por promoção pessoal.

Ser "médium" no Brasil acabou significando fazer o que quer. Comete traições graves ao legado kardeciano, lançando livros ou palestras de apelo igrejeiro e medieval, mas cria malabarismos discursivos para dar a falsa impressão de que "aprendeu direito" as lições do professor francês.

Os "médiuns" dizem falar com os mortos, mas a verdade é que eles produzem mensagens apócrifas, já que elas nem de longe refletem o estilo original que os mortos se notabilizaram em vida. Com suas pretensas mediunidades, dão a falsa impressão de que, ao morrer, as pessoas perdem a personalidade e viram funcionários de igreja, uma ideia agradável para muitos, mas que não tem pé nem cabeça.

O grave disso tudo é que os "médiuns" sofrem o culto à personalidade, se sobrepondo até às ações aparentemente filantrópicas que dizem fazer. Rebaixam a ideia de "bondade humana" a um subproduto de suas imagens pessoais, como se a "bondade" pudesse ter um copyright de propriedade dos "médiuns" e, fora isso, tal virtude só é admissível para qualquer outra pessoa como se fosse uma franquia na qual a marca dessa qualidade fosse controlada pelos ídolos "espíritas".

Em outras palavras, em tese qualquer um pode praticar bondade e caridade, mas o vínculo ideológico que o "espiritismo" quer inserir nas pessoas é que essa bondade é uma franquia cujos "direitos autorais" devem estar vinculados aos "médiuns", estando a bondade "acessível a todos" mas de propriedade intelectual dos referidos religiosos.

A blindagem que a sociedade brasileira deu aos "médiuns" é tal que nem a camiseta do Você e a Paz que o prefeito de São Paulo, João Dória Jr., exibiu para divulgar sua "ração humana", condenada por entidades nutricionais e pelos movimentos sociais por oferecer risco à saúde e tratar o pobre de maneira desumana, chamou a atenção do mais dedicado jornalista investigativo.

Não houve escândalo, e nem mesmo quando Divaldo Franco posou ao lado de João Dória Jr. se deu qualquer interrogação. Até que ponto um "médium espírita" pode apoiar um alimento condenado pelos movimentos sociais, mesmo quando o religioso é considerado "ativista" e, tido como "humanista", até que ponto ele pode apoiar um projeto considerado desumano para os pobres? Ninguém teve coragem de responder.

Os "médiuns" gozam de uma imunidade tal que supera até mesmo a que beneficia políticos do PSDB. A coisa chega ao ponto da permissividade, podendo-se criar mensagens fake se valendo do prestígio religioso e de boas relações com a sociedade.

Se alguém, por exemplo, ter um suposto projeto assistencial conhecido, realiza palestras com mensagens dóceis de auto-ajuda e diz conversar com padres e freiras falecidos, e decidir, por exemplo, lançar uma mensagem da própria mente, mas atribuída ao espírito do ator Domingos Montagner, as chances de êxito na farsa chegam a ser totais.

Os "médiuns" brasileiros apresentam, de forma explícita, caraterísticas que haviam sido reprovadas com firmeza por Allan Kardec, em várias de suas obras. Mas é em O Livro dos Médiuns que essa reprovação se torna mais evidente, apresentando, como aspectos negativos, aqueles relacionados até mesmo aos "renomados" Francisco Cândido Xavier e Divaldo Franco: textos rebuscados, ideias truncadas, uso de nomes ilustres para impressionar o grande público etc..

O "espiritismo" brasileiro só está deixando de ser o "PSDB das religiões" porque o próprio PSDB está, aos poucos, deixando de ser blindado. O cacófato do jargão "solta o cano que não cai" ("só tucano que não cai") está dando lugar ao "só espirre, tá, que não cai" ("só espírita que não cai").

A situação atingiu níveis insustentáveis. Afinal, já era de extrema gravidade as traições que os "médiuns" fizeram aos postulados espíritas originais. A inserção de ideias meramente especulatórias, como as do "mundo espiritual" feito ao capricho das paixões materialistas - servindo de desculpa para a apologia do sofrimento humano, herança da Teologia do Sofrimento defendida por Chico Xavier - , é um exemplo gritante de como os "espíritas" brasileiros fugiram das lições originais.

Os "médiuns" foram beneficiados por uma campanha ideológica que fabricou consenso entre os brasileiros. Os "médiuns" podem fazer o que querem na vida, se algo errado é notado entre eles, atribui-se responsabilidade a "incômodos irmãozinhos do além", como se o "médium" não pudesse ser responsável pelos próprios erros. Aos "médiuns" só se atribui "decisão própria" quando seus atos são reconhecidamente positivos; quando negativos, a culpa é dos "espíritos inferiores".

Essa malandragem, associada à carteirada religiosa, faz com que os "médiuns" virem donos da verdade, donos dos mortos, senhores da opinião pública. Se as ideias transmitidas por eles contrariam o bom senso e a coerência, põe-se o bom senso e a coerência no lixo. Se as mesmas vão contra a realidade dos fatos, que se acredite na falácia de que "existem certas coisas que fogem da compreensão racional humana".

É preocupante saber que os "médiuns" se julgam acima de tudo, e que a sociedade consente que a eles se conceda a posse da verdade e da bondade. Todos "podem ser bondosos", desde que a partir da influência deles, "não precisando" seguir a religião deles, mas de uma forma ou de outra "sendo sempre bons" sob a sombra dos "médiuns" considerados "proprietários da verdade humana".

E é muito fácil adotar esse status "sobrehumano", ser visto como "decidido" só quando acerta, mas, quando erra, ser visto como "manipulado por outrem". Os erros cometidos pelos "médiuns" são de decisão própria deles e mesmo admitir que eles são falíveis não é o bastante, porque em muitas vezes os "espíritas" admitem isso para obter a moratória e evitar pagar pelos erros cometidos.

O que se fez no "espiritismo" brasileiro com a deturpação é da mais extrema gravidade. O que está em jogo é a traição cometida em relação ao legado original de Allan Kardec, que nada tinha a ver com os devaneios igrejeiros, esotéricos e pseudocientíficos cometidos pelos "espíritas" a partir dos "médiuns" deturpadores.

O pedagogo francês penou para divulgar os postulados originais. Pagou os custos de viagens e outras contas com o próprio dinheiro, divulgou praticamente sozinho seu trabalho, sem receber patrocínio e ainda foi duramente criticado e até humilhado por suas ideias científicas.

Daí ser terrível que, no Brasil, pessoas que distorceram, ao sabor das ideias influenciadas pelo deturpador pioneiro J. B. Roustaing, agora vendam a falsa imagem de "kardecistas", a ponto de desmoralizar esse termo, que hoje nada tem a ver mais com Kardec.

"Kardecismo", hoje, é um eufemismo para um engodo doutrinário que mais parece um "catolicismo de chinelos" dotado de Astrologia, ideias medievais, moralismo social e Assistencialismo. O termo "kardecista" está tão desmoralizado que os espíritas autênticos o substituíram por "kardeciano".

As pessoas põem tudo debaixo do tapete, para proteger os "médiuns" alvo de sua idolatria obsessiva. Mas até isso contraria os ensinamentos kardecianos originais. O próprio Kardec, estimulando o questionamento aos deturpadores do Espiritismo, recomendou que é melhor cair um do que cair uma multidão. No Brasil, o que se pensa é o contrário: melhor cair um país inteiro do que caírem os "médiuns espíritas".

terça-feira, 24 de outubro de 2017

O silêncio da imprensa que revela a complacência aos "médiuns espíritas"

JOÃO DÓRIA JR. DIVULGOU A "FARINATA" MOSTRANDO O TEMPO TODO A CAMISETA DO ENCONTRO VOCÊ E A PAZ, DE DIVALDO FRANCO.

Uma grande pauta escapou dos jornalistas, mesmo os da mídia de esquerda, quando o prefeito de São Paulo, João Dória Jr., divulgou seu duvidoso projeto alimentar, o "Programa Alimento para Todos", apresentando um pote com bolinhas granuladas feitas a partir de restos de alimentos de procedência e valor nutricional duvidosos.

Ele passou o tempo todo exibindo a camiseta da edição paulista evento Você e a Paz, o encontro idealizado pelo "médium" Divaldo Franco, de forma bastante ostensiva. Isso foi registrado por inúmeras fotos e, em várias delas, se vê claramente o nome de Divaldo Franco creditado no evento. Muitos, ingenuamente, viam na camiseta como mera coincidência, mas evidentemente não é.

João Dória Jr. não estava mostrando a camiseta como, por exemplo, moradores pobres circulam pelos subúrbios e favelas vestindo a camiseta do Iron Maiden, banda que dificilmente sequer ouviram falar. O prefeito de São Paulo estava divulgando um evento e vinculando sua imagem ao evento Você e a Paz e à figura pessoal de Divaldo Franco, sob o consentimento deste, afinal o prefake foi homenageado pelo encontro e não foi sequer notificado pelo uso ostensivo da camiseta.

Foi um grande furo jornalístico que não houve. O silêncio da grande mídia, que chegou a fazer coberturas elogiosas à "farinata" - nome dado ao granulado - , é até compreensível, porque o status dos "médiuns espíritas" se equipara a "sacerdotes sem batina" blindados pela Rede Globo de Televisão, que deles difunde paradigmas religiosos e filantrópicos que mais parecem enredo de novela de tão fantasiosos e conservadores (a "caridade" defendida é claramente paternalista).

O problema surge quando o silêncio também existe na mídia de esquerda, que geralmente faz contraponto às concepções ideológicas da mídia hegemônica e não tem medo de enfrentar totens consagrados da sociedade conservadora. A mídia de esquerda foi, por exemplo, a primeira a apontar os malefícios do governo Michel Temer, quando oficialmente a sociedade apostava alguma esperança ao então presidente interino.

A mídia de esquerda se limitou, nas críticas religiosas, a apenas citar o apoio do arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer, à "ração humana". No entanto, o apoio de Divaldo Franco foi decisivo, porque ele organizou o Você e a Paz que serviu para o lançamento oficial da "farinata" de João Dória Jr.. Foi como um anfitrião que abriu espaço para um convidado divulgar seu produto, mesmo diante dos riscos que este representa.

Imagine se, no Rock In Rio, fosse escalada uma banda de rock que havia lançado uma canção que faz apologia ao fascismo. Isso não vai acontecer, acreditamos, mas digamos que isso ocorreu. Por mais que a banda tenha responsabilidade pessoal pela iniciativa, o organizador Roberto Medina teria que se responsabilizar pela organização, por ter deixado o "incômodo convidado" entrar.

Divaldo não pode estar isento de culpa pela "farinata" que depois se revelou nociva. Divaldo tem reputação de "sábio", "vidente" e "líder ativista", e poderia ter cancelado a homenagem se realmente tivesse sido avisado pelos "benfeitores espirituais". Poderia ter entrado em conflito com a Arquidiocese de São Paulo, se fosse realmente um "líder ativista" e se houvesse sentido no seu status de "humanista".

O consentimento dele era para ser alvo de investigação da imprensa de esquerda. Que a Globo, a Folha, a Abril, o Estadão e a Isto É atuem em silêncio, embora até alguns de seus veículos tivessem publicado notícias polêmicas sobre o "movimento espírita". Mas que a mídia de esquerda adotasse o mesmo silêncio é algo bastante duvidoso.

O silêncio acaba se tornando bastante cúmplice e motivado com a mitologia que os "médiuns espíritas", associados a imagens dóceis como paisagens floridas, céus azuis e crianças sorrindo, como se fossem fadas madrinhas dos contos infantis, não podem responder por seus erros. O "médium espírita" faz o que quer, sobretudo reduzindo o legado de Allan Kardec a um sub-Catolicismo de moldes medievais, mas não são responsabilizados por essa traição escancarada.

Que oficialmente o que se conhece como "espiritismo" mais parece um conto infantil, com o professor Kardec descobrindo fenômenos espirituais e os brasileiros temperando a sua doutrina com ideias católicas, isso é verdade. As pessoas conhecem mal o Espiritismo e ele é tão mal ensinado que a deturpação idealizada por J. B. Roustaing e desenvolvida pela FEB se espalhou pelo mundo a ponto de haver deturpação espírita em Portugal, Espanha e até na França!

Ninguém investiga e o que se observa é que o "espiritismo" brasileiro é mais blindado que o PSDB. Numa época em que ídolos de diversos setores, do rock aos esportes olímpicos, das novelas da Globo ao Poder Judiciário, estão sendo desmascarados, há um medo enorme de sequer apontar um questionamento sequer a um "médium espírita". Mesmo os piores escândalos, se são noticiados, são claramente abafados.

Pelo menos a imprensa de esquerda deveria investigar as relações de Divaldo Franco com a "farinata" de João Dória Jr.. O prefeito de São Paulo não usou a camiseta do Você e a Paz como um moleque de dez anos que aprende skate usa a camiseta do Pearl Jam.

Houve um grande propósito daquilo tudo e é função da imprensa como um todo informar as coisas, mesmo que seja sob o preço de caírem ídolos religiosos, pondo em xeque suas imagens "divinizadas". O "médium espírita" não pode estar acima da lógica, do bom senso, da ética, de coisa alguma!

segunda-feira, 23 de outubro de 2017

E se Aécio Neves fosse um "médium espírita"?

AÉCIO NEVES: O LÍDER QUE CHICO XAVIER SONHOU PARA COMANDAR O "CORAÇÃO DO MUNDO E PÁTRIA DO EVANGELHO"?

Na semana passada, Aécio Neves escapou de ser afastado do Senado Federal e continuar sendo investigado pelo Supremo Tribunal Federal por acusações de corrupção e outros crimes de ordem político-financeira. No entanto, ele saiu tão desgastado que as chances dele voltar a assumir a presidência de seu partido, o PSDB, se tornam cada vez menores.

Aécio Neves, neto do político Tancredo Neves, não tem a mesma trajetória digna do avô. É certo que Tancredo cometeu erros e tinha defeitos, mas nada comparável com o apetite desmensurado pelo poder de seu neto, que, derrotado nas eleições de 2014, articulou um golpe político com o deputado federal Eduardo Cunha e o vice-presidente da rival Dilma Rousseff, Michel Temer, para tirar a presidenta do poder.

Aécio Neves é acusado de envolvimento em diversos esquemas de corrupção, seja no âmbito local de Minas Gerais, seja no âmbito nacional, seja específico do PSDB, como a compra de votos para a emenda da reeleição do então presidente Fernando Henrique Cardoso, nos anos 90, seja nos esquemas tucanos do "mensalão" e do "petrolão" (este alvo de investigação da Operação Lava Jato).

Apesar disso, Aécio Neves sempre foi beneficiado pela blindagem da Rede Globo e da sociedade plutocrata em geral, sempre ávida em procurar um perfil de político "bonitão" e considerado "moderado" (eufemismo para "conservador") para assumir no futuro a Presidência da República.

Depois de Fernando Collor de Mello, as elites encontraram problemas para defender futuros "moderados", de 1990 para cá, dois possíveis candidatos a políticos "moderados" que poderiam ter algum carisma, como Luís Eduardo Magalhães, filho de Antônio Carlos Magalhães, e Eduardo Campos, ex-governador de Pernambuco, morreram prematuramente, em 1998 e 2014, respectivamente.

Sob a ótica do "espiritismo" brasileiro, Aécio Neves se encaixa nas expectativas que o "médium" Francisco Cândido Xavier expressava sobre o governante do "Brasil futuro", definido pelo religioso como "coração do mundo e pátria do Evangelho". Aécio Neves é profundo admirador de Chico Xavier, e é possível que a recíproca ocorresse. Se estivesse vivo em 2014, Chico Xavier apoiaria Aécio Neves para a Presidência da República.

Chico Xavier também é alvo, mesmo postumamente, de forte blindagem da grande mídia e da sociedade. Só foi hostilizado pelas Organizações Globo até os anos 1960, quando a corporação da família Marinho era respaldada por católicos ultraortodoxos (devemos nos lembrar que Chico era católico ortodoxo, mas dotado de aparente paranormalidade). Mas a partir da década de 1970, Chico Xavier virou um protegido da Rede Globo.

Desde então, os "médiuns espíritas" passaram a ser blindados, sustentados pela mesma mitologia que se construiu para Madre Teresa de Calcutá a partir do documentário Algo Bonito para Deus (Something Beautiful for God), do inglês Malcolm Muggeridge. O roteiro de Muggeridge, que sugeria um padrão conservador de "bondade humana", que estabeleceria o domínio social sobre as populações pobres, praticamente sustenta o bom-mocismo dos "médiuns" brasileiros.

Recentemente, o "médium" Divaldo Franco se envolveu numa enrascada. Organizando o encontro Você e a Paz em São Paulo, ele decidiu dedicar o evento ao prefeito de São Paulo, João Dória Jr.. Só que Dória, além de não ser carismático, estava sofrendo uma grave decadência política, e no evento decidiu lançar, sob o consentimento da organização do Você e a Paz, um alimento de valor nutricional, ético e social duvidoso, a "farinata", depois denunciada pelos movimentos sociais.

A adesão de Divaldo Franco a esse alimento, condenado por entidades nutricionais sérias, foi uma postura gravíssima e potencialmente fatal para os "espíritas", o que poderia ter causado um escândalo de grandes proporções. Mas a blindagem da grande mídia a Divaldo, como seria a qualquer "médium", é de fazer inveja a qualquer figurão do PSDB, devido ao silêncio absoluto que se fez à sua participação no evento.

Nem o fato de João Dória Jr. ter divulgado o perigoso alimento (que, feito de restos de comida de procedência duvidosa, podem causar desnutrição e intoxicação alimentar, com consequências que podem ser fatais) ostentando o tempo todo a camiseta do Você e a Paz, com o crédito do nome de Divaldo Franco e tudo, despertou a atenção dos jornalistas.

Mas, ainda que essa blindagem partisse da Globo, da Folha ou da Abril - que, novamente, tenta vender a encalhada edição especial de Superinteressante com Chico Xavier - , é compreensível, porque a mídia conservadora protege os "médiuns espíritas" como se fossem "sacerdotes sem batina", num esforço de neutralizar a ascensão das seitas evangélicas de tendência pentecostal, que já contam também com uma parcela de veículos midiáticos de propriedade direta (Record) ou indireta (arrendamento de espaços).

O problema é quando a imprensa de esquerda, que serve de contraponto para o discurso oficial da mídia hegemônica e é capaz de investigar os bastidores do circo político-midiático conservador, sem medo de desafiar totens consagrados, torna-se, no entanto, impotente diante dos "médiuns espíritas", por mais que estes sejam blindados pela Rede Globo e representem um padrão de "bondade humana" que está mais próximo da teledramaturgia "global" do que da realidade em que vivemos.

Imagine uma festa na qual algum convidado, que recebe as maiores homenagens, apresenta uma ideia absurda que depois se reconhece prejudicial a um grande número de pessoas. É certo que esse convidado tem culpa pelo seu ato, mas o anfitrião não pode ser inocentado, porque ele mesmo decidiu homenagear o convidado, mesmo tendo condições prévias de conhecer o embuste e cancelar a homenagem por isso.

O agravante do apoio de Divaldo Franco a uma comida potencialmente estragada é que o "médium" mantém uma reputação, ainda que postiça, de "sábio", o que sugeria que ele pudesse ser advertido pelos benfeitores espirituais da farsa alimentícia do prefeito da capital alimentícia, o que o faria decidir pelo cancelamento da homenagem.

Mesmo que isso fosse causar um conflito com católicos e evangélicos, sobretudo a Arquidiocese de São Paulo, na pessoa do arcebispo dom Odilo Scherer, isso seria compreensível para os seguidores de Divaldo, se fizesse realmente sentido a imagem de "líder" que o "médium" exerce não só entre os "espíritas", mas também entre os que não seguem essa religião. Seria criada uma polêmica, mas com efeitos bem menos danosos do que o consentimento de Divaldo à "ração humana".

Com o consentimento, Divaldo Franco foi para os mais baixos planos de sintonia espiritual, derrubando de vez a imagem de "sábio", "ativista", "pensador espírita" e outras qualidades "iluminadas". Como um "humanista" vai apoiar um projeto alimentar que trata o pobre faminto de maneira desumana, equiparado a um cachorro de rua?

Vêm à tona até mesmo as lembranças de que o espírita autêntico, o jornalista Herculano Pires, certa vez definiu Divaldo como um "impostor", episódio hoje abafado pelo "espiritismo" brasileiro. Mas a blindagem da grande mídia a Divaldo Franco agora espera que a "farinata" caia no esquecimento e o "médium" volte à imagem "divinizada" que sempre o consagrou.

Só que o silêncio dado ao episódio acaba expressando também a decadência da sociedade que prefere proteger ídolos religiosos do que a humanidade como um todo. As esquerdas acabam sendo cúmplices, e essa complacência a pessoas ou instituições que, em sua propaganda, apresentam imagens de pobres sorridentes, revela o quanto as esquerdas são vulneráveis a certas armadilhas.

O caso do "funk" mostra o quanto as esquerdas morderam a isca e deixaram o governo Dilma Rousseff ser ceifado de graça. A ilusão de que o "funk" é "progressista" pela suposta associação à "felicidade do povo pobre", mesmo quando o gênero não passa de um subproduto do poder midiático, apoiado abertamente pela Rede Globo, fez os movimentos sociais serem esvaziados, porque a população pobre deixou o ativismo social para "descer até o chão".

A imagem dos "médiuns espíritas" acaba sendo dominadora e isso é terrível. A imagem associada a crianças negras e pobres sorrindo, paisagens floridas, céu azul com nuvens brancas e sol, nas quais se inserem retratos do respectivo "médium" e suas frases, todos esses apelos dóceis acabam seduzindo as pessoas como se fossem cantos-de-sereia modernos.

Ficamos imaginando se Aécio Neves, que é da mesma geração do "médium" José Medrado, conterrâneo de Divaldo, tivesse sido um "médium espírita", mesmo com toda a atividade política que exerce.

Imagine Aécio lançando livros "mediúnicos", dizendo frases de efeito sobre "lições de vida", associado a imagens "amorosas" e exercendo atividades supostamente filantrópicas, mesmo que elas sejam também fonte de seu conhecido esquema de corrupção. Talvez a blindagem de Aécio se tornasse completa e a execração popular, num país em que "médiuns" fazem o que querem e nem de longe respondem por seus atos, fosse bastante minimizada. É triste, mas é a nossa realidade.

domingo, 22 de outubro de 2017

A mais baixa sintonia vibratória de Divaldo Franco


É da mais extrema gravidade o consentimento de Divaldo Franco em oferecer o evento Você e a Paz para não só homenagear o decadente João Dória Jr., mas também deixá-lo lançar um duvidoso projeto alimentar, feito de restos de comida, sem informação nutricional conhecida e potencialmente sujeito a causar intoxicação alimentar, desnutrição, desidratação e até morte.

Divaldo Franco entrou num impasse. Como o homem que diz ter respostas prontas para todos os assuntos não desconfiou da tal "farinata", um potezinho com bolinhas que mais parecem lanche industrializado ruim, mas promovido sob a falsa ideia de ser um "alimento completo" a ser distribuído para as classes pobres.

Se ele fosse o "líder" que muitos acreditam ser, Divaldo teria desafiado até dom Odilo Scherer. O conflito, neste caso, atuaria em favor da paz, ao perceber a farsa de um alimento prejudicial para a população. Em vez disso, Divaldo aceitou tudo, e nem a idade avançada justifica tal omissão, porque, mesmo com 90 anos, Divaldo parece estar lúcido e consciente de seus atos e decisões.

Um aspecto que deve ser levado em conta é tão baixa sintonia vibratória que teve Divaldo Franco em acolher um prefeito já em decadência vertiginosa, que é o prefeito de São Paulo. Pois João Dória Jr. nunca teve carisma, foi apenas um apresentador de TV voltado para as elites, e só foi eleito por causa do modismo das elites reacionárias em eleger um candidato conservador associado à imagem de "político não-tradicional".

Mas João Dória Jr. só fez coisas ruins em seu governo. Nada justificava ele ser o maior homenageado do Você e a Paz. Divaldo Franco, tido como "grande sábio" e sempre "em contato com benfeitores espirituais", poderia ter sido avisado pelos "amigos do além" sobre a decadência retumbante de João Dória Jr., evidente até mesmo na imprensa que havia sido solidária ao prefake.

Vale lembrar que não se deve confundir decadente com injustiçado. João Dória Jr. é um representante das elites ricas, um membro da classe dominante, apoiador do golpe político que derrubou Dilma Rousseff e garoto de recados das elites empresariais, através de sua empresa Lide. Não é um sujeito que se possa equiparar, por exemplo, a Nelson Mandela e Martin Luther King.

Além disso, a imagem de João Dória Jr. já estava decadente quando Divaldo o acolheu. Dória havia até brigado com políticos do PSDB, trocado farpas com o veterano Alberto Goldman e criando uma discreta divergência com seu padrinho político, o governador paulista Geraldo Alckmin. Além disso, Divaldo cometeu o equívoco de homenagear João Dória Jr. como se o prefeito estivesse em alta, se esquecendo que o tucano estava em crise de reputação.

Isso mostra quem é o alvo da sintonia vibratória de Divaldo Franco. Ele tenta soar imparcial, acolhendo políticos de direita e esquerda, mas o apoio a João Dória Jr. mostra que a imparcialidade, no caso, é apenas uma cordialidade formal, mas a preferência que os "médiuns espíritas" expressam, com maior entusiasmo, sempre se volta a políticos conservadores, ideologicamente de direita. Sobre tal sintonia, lembremos de Jesus: "Diga com quem tu andas que eu te direi quem és".

A coisa é tão grave, como se não bastasse Divaldo Franco ter sido um dos maiores deturpadores do Espiritismo - coisa que ele admitiu como "acidente", devido à "falta de tempo", uma desculpa que só convence os complacentes - , é que ele aceitou a "farinata" sob o pretexto de ser uma "opção a mais" para "matar a fome dos necessitados".

Só que isso colocou Divaldo Franco numa situação bem baixa, para alguém considerado "ativista", "filantropo" e "sábio". Isso porque Divaldo Franco aceitou apoiar um alimento de procedência duvidosa, sem informações nutricionais e que, segundo especialistas em saúde, oferece grave risco de provocar intoxicação alimentar e morte por diversos motivos.

Isso coloca Divaldo Franco abaixo até mesmo do produtor cinematográfico Harvey Weinstein. O produtor de Hollywood fez coisas vergonhosas, deploráveis, grosseiras, imorais e altamente ofensivas. Mas o propósito dele era o "entretenimento sexual", ato do mais cínico egoísmo, do mais arrogante machismo e desprezo ao ser humano, um abuso cometido sob o véu do status quo.

Mas isso não se compara com o apoio e o consentimento a um alimento que não trouxe informações confiáveis de usa comida reaproveitável, e segundo muitos não garante a nutrição completa prometida e constituem em bolinhas industriais que são comparadas a comida de cachorro e à lavagem de porco.

Isso coloca Divaldo Franco em xeque mate, agravando ainda mais a crise que o "espiritismo" brasileiro, de raiz roustanguista, está sofrendo. A crise atinge níveis insustentáveis, e não é o prestígio religioso dos "médiuns" que vai resolver o problema ou que se deixe tudo para lá para proteger a imagem adocicada dos "médiuns".

Voltando a Weinstein, ele usou seu status quo, seu poder de rico e premiado produtor para assediar mulheres. Pagou por ter abusado demais de sua imunidade. Os "médiuns espíritas" são a mesma coisa, abusando do prestígio religioso para subestimar a inteligência do povo e cometer também os seus abusos de ordem doutrinária, filantrópica - como usar a grana da caridade para fazer turismo com palestras milionárias - e de outra natureza.

O "médium espírita" não pode ser o caloteiro moral a fazer o que quiser, a errar feio e não ser responsável por isso. Ele tem responsabilidade, sim, e deve pagar pelos erros, se eles são muito graves. E do jeito que os "médiuns espíritas" erram, não raro com extrema gravidade, isso faz o "espiritismo" brasileiro ir para o nível mais baixo das religiões, favorecendo as seitas neopentecostais que acabam lucrando com os erros dos deturpadores do Espiritismo.

sábado, 21 de outubro de 2017

Grande mídia e esquerdas fazem silêncio diante da participação de Divaldo Franco no caso "farinata"


O prefeito de São Paulo, João Dória Jr., exibiu o tempo inteiro a camiseta do evento Você e a Paz durante uma entrevista coletiva de lançamento do seu "granulado nutricional", dentro do programa "Alimento para Todos". O granulado é também conhecido como "farinata" e usa o nome de fantasia de "Allimento", com "l" duplo, um trocadilho com a expressão "all", referente a "todos".

O "Allimento", por sua procedência duvidosa e pelo discutível valor nutricional, já causou repercussão negativa de grandes proporções. O consentimento do "médium" Divaldo Franco, que ofereceu o evento "Você e a Paz", organizado por ele, para homenagear o prefeito paulistano e para este lançar seu produto, também pode se tornar um dos maiores escândalos envolvendo o "movimento espírita" no Brasil.

Muitos não conseguem perceber o lado sombrio do "espiritismo" e seus "médiuns", que têm a imagem falsamente associada a ideia de meiguice e humildade e são tidos como acima de qualquer suspeita.

Mas os "espíritas" já apoiaram o golpe de 1964 e a ditadura militar (mesmo na sua pior fase), apoiam o governo Michel Temer e grupos como o fascista Movimento Brasil Livre (definido como um dos paladinos da "regeneração do Brasil" e na construção da "Pátria do Evangelho") e fizeram juízos de valor acusando pessoas humildes de terem sido tiranos em vidas passadas.

O "espiritismo" também aposta no "fiado moral" como princípio para espíritos atrasados só pagarem por erros graves e crimes na próxima encarnação, cabendo a eles receber o indulto e o perdão complacente de suas vítimas, e investe na sua concepção de meritocracia, pois a "meritocracia espírita" alega que os ricos são beneficiados porque, em outras vidas, eram "pobres que viraram bons" enquanto que os pobres são beneficiados por terem sido "ricos que cometeram faltas graves".

Apesar disso, os "espíritas" são vistos como "caloteiros morais", beneficiados pela crença incoerente de que, quando acertam, agem por consciência de seus atos, mas, quando erram, supostamente agiram por influência alheia, sendo isentos de qualquer responsabilidade. Imagine, por exemplo, um "médium espírita" apedrejar a vidraça da casa de alguém e ser isento de pagar pelo prejuízo? É como se assim fosse.

MÍDIA EM SILÊNCIO

Muito se critica das posturas do arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer, de ter apoiado a "farinata" ou "Allimento" e até se sentir "ofendido" quando se referiu o produto como "ração humana", mesmo com pareceres de entidades nutricionistas sérias quanto aos riscos de um alimento como esse, de origem, qualidade e valor nutritivo bastante duvidosos e que mais parece um lanche de uma marca menor que, já pelo seu aspecto, nunca traz ideia de um "alimento completo".

Mas o fato do "Allimento" ter sido lançado no evento "Você e a Paz", organizado por Divaldo Franco - o evento envolve lideranças católicas e evangélicas, mas é comandado pelo "médium" baiano - , deveria chamar a atenção de todos, sobretudo quando o prefeito de São Paulo, ao lançar o produto numa entrevista coletiva, usou a camiseta do evento e não da Arquidiocese de São Paulo.

Apesar dessas evidências, a grande imprensa reagiu em silêncio absoluto. Quando citava o evento "Você e a Paz", claramente conhecido por ser um acontecimento "espírita", se limitavam a se referir, vagamente, como um evento "religioso" ou de "várias religiões".

A terrível omissão, na chamada imprensa hegemônica, é acompanhada pela abordagem positiva com que o "complexo alimentar" foi descrito por veículos jornalísticos da TV Bandeirantes e da Rede Globo de Televisão. Mesmo quando a Folha de São Paulo admite alguma polêmica em relação ao "Allimento", há um esforço de fazer prevalecer a imagem positiva da iniciativa.

Isso é compreensível, quando se leva em conta que os "médiuns espíritas" são protegidos da Rede Globo de Televisão e de um bloco de veículos midiáticos que não estão religiosamente vinculados a seitas evangélicas de tendência pentecostal, como a Assembleia de Deus, a Igreja Universal do Reino de Deus e a Igreja Internacional da Graça de Deus.

De forma bastante explícita, Francisco Cândido Xavier, Divaldo Franco e João Teixeira de Farias, o João de Deus, são blindados pela Rede Globo de Televisão e tratados como se fossem "sacerdotes sem batina". O trocadilho do nome "médium" com "mídia" não pode ser subestimado. E a Globo Filmes já fez vários filmes baseados na vida e na obra de Chico Xavier.

O problema é quando esse silêncio é acompanhado pelo silêncio dado à mídia de esquerda, considerada alternativa e independente, mesmo adotando uma abordagem diferente e bastante crítica ao "Allimento" de João Dória Jr.. As esquerdas midiáticas se limitaram a criticar as posturas do arcebispo Scherer e não fizeram uma menção a respeito de Divaldo Franco.

É como se criticassem uma festa pelo bolo estragado e culpasse os convidados, inocentando o anfitrião que consentiu e apoiou tudo isso. Vamos imaginar se, no Rock In Rio, fosse contratada uma banda de rock que lançasse uma música com apologia ao fascismo. Roberto Medina seria inocentado por ter deixado contratar uma atração como esta e por "não saber" a natureza ideológica de tal banda?

A omissão diante de Divaldo lembra a postura complacente da mídia no caso Otília Diogo, quando se falou que Chico Xavier foi "enganado" pela "médium" farsante, que fez fraudes em supostas materializações.

A verdade é que Chico Xavier sabia de tudo e foi cúmplice da grande farsa, e foi salvo por receber forte blindagem da mídia e da ditadura militar que o "médium" defendia com muito entusiasmo. E quem acha que a acusação de cumplicidade com Otília Diogo é desaforo de detrator, imagens trazidas por Nedyr Mendes da Rocha, solidário ao "médium", registram ele participando ativamente e com alegria dos bastidores da farsa, acompanhando todos os detalhes.

A complacência das esquerdas com o "espiritismo" brasileiro segue o mesmo paradigma de sua complacência com o "funk": como o "espiritismo", o "funk" é um fenômeno patrocinado pela mídia hegemônica alinhada ideologicamente com a direita, sobretudo as Organizações Globo. No entanto, a aparente abordagem que corteja uma ação paternalista aparentemente em prol do povo pobre faz com que haja a adesão das esquerdas, sem observar o que está por trás de tudo isso.

O "funk" apela para a glamourização da pobreza e o "espiritismo" faz apologia ao sofrimento humano. São dois fenômenos bastante conservadores e que não podem ser considerados progressistas, pois por baixo de suas aparências, há valores retrógrados e rigidamente moralistas em jogo, por trás da exploração falsamente "positiva" da pobreza humana.

Apesar desses alertas, as esquerdas atuam de maneira extremamente complacente, como um "corno manso" que, ao ser noticiado pelos amigos de que sua mulher lhe está traindo, ele afirma que ela "foi apenas visitar um primo".

A complacência gerou uma gafe, quando uma blogueira que se dizia "comunista" e mantinha uma página esquerdista se assumiu adepta convicta de Chico Xavier e reclamou que o filme As Mães de Chico Xavier era "boicotado pela grande mídia".

A gigantesca gafe se deu porque o filme é produção da Globo Filmes, das Organizações Globo, e seu enredo é encenado à maneira bastante similar das novelas da Rede Globo. E se a blogueira visse a entrevista do Pinga Fogo (TV Tupi, 1971) com seu ídolo condenando severamente o comunismo, ela teria morrido de tanta vergonha.

Quanto ao "Allimento", ele está sendo investigado pelo Ministério Público de São Paulo. O episódio complicou o "movimento espírita" e desgasta a imagem do "médium" Divaldo Franco, que, com uma imagem de "sábio" e "conhecedor das coisas", nunca agiu para evitar a homenagem ao prefeito de São Paulo, oferecendo seu evento para a divulgação do terrível alimento que é comparado à comida de cachorro ou a lavagem de porco.

Desse modo, o "espiritismo" só não tem uma crise grave porque a religião é mais blindada pela sociedade do que o PSDB. O "espiritismo" comete irregularidades gravíssimas mas ninguém tem coragem de questionar nem investigar. Até as traições aos postulados kardecianos originais são aceitas sem críticas, os "espíritas" traem Kardec o tempo todo e ainda se autoproclamam "fiéis a ele".

Assim, uma boa sugestão que se deve dar ao PSDB é que ele mude de partido, evitando esta palavra na nomenclatura e usando uma expressão solta como um novo nome: ESPÍRITAS, com a sigla ESP. Os tucanos, usando o nome ESPÍRITAS, recuperariam a blindagem que agora começam a perder. E Aécio Neves poderia, em vez de ser execrado pela opinião pública, ser carregado por uma multidão de devotos.

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Divaldo Franco não é isento de responsabilidade pelo apoio à "ração humana" de João Dória Jr.


Existe um péssimo hábito da sociedade brasileira em acreditar que os "médiuns espíritas" só têm consciência dos seus atos quando eles são positivos. Quando negativos, acreditam as pessoas que os "médiuns" só agiram por "influência de outrem", "não sabiam o que faziam", "foram enganados" ou "tentaram ser manipulados por espíritos inferiores".

Não, não é assim. Ainda mais se o "espiritismo" que temos no Brasil, reduzido a uma atualização do antigo Catolicismo jesuíta, é praticamente divorciado dos postulados espíritas originais. Os "médiuns" devem ser responsabilizados pelos graves erros que cometem e pagar por eles, porque em muitos casos eles assumiram riscos e contribuíram para as consequências.

No caso da "farinata" ou "granulado nutricional", o engodo alimentar que o prefeito de São Paulo, João Dória Jr., pretendia lançar a partir de um processado industrial de restos de comida - em tese, com prazo de validade próximo ao vencimento - , o fato do indigesto alimento (semelhante a bolinhas granuladas que parecem lanche de baixa categoria), cujo nível nutricional é duvidoso, ter sido lançado oficialmente durante o evento "Você e a Paz", em São Paulo, devia chamar atenção de todos.

O prefeito de São Paulo - cuja reputação decadente lhe vale o apelido jocoso de prefake - estava exibindo o tempo todo a camiseta do "Você e a Paz", e ninguém percebeu a coisa. Mesmo a mídia de esquerda, que costuma perceber as armadilhas mais sutis dos bastidores político-midiáticos, ignorou o respaldo do "movimento espírita" à gororoba "nutritiva" de João Dória Jr..

Pois o lançamento oficial do produto foi feito em 08 de outubro, no Parque do Ibirapuera, durante a edição paulistana do movimento "Você e a Paz" que, embora seja um evento ecumênico, é idealizado pelo "médium" Divaldo Franco. O evento decidiu homenagear o prefeito da capital paulista, mesmo quando ele já era visto como um político decadente em boa parte das páginas da Internet.

ALIMENTO CONDENADO, EM TODOS OS SENTIDOS

O "granulado nutricional" se revelou um grande engodo, comparável a uma "lavagem de porco". Ele é muito mais do que um preparado de comida ruim, condenado pelas mais conceituadas entidades de nutrição e saúde do país. É também um ato ofensivo de elitismo e discriminação social, direcionado supostamente a alimentar as populações mais carentes da maior cidade da América Latina.

Isso porque ela se baseia na suposição, bastante preconceituosa, de que os pobres não têm acesso aos alimentos surgidos na natureza, como verduras, legumes, frutas, cereais e carnes. A realidade mostra que os pobres são os que mais têm acesso a esses recursos alimentícios. As elites é que, tomadas de profundo preconceito e ignorância social, acham que os alimentos naturais "brotam" em supermercados.

A recomendação do Guia Alimentar da População Brasileira recomenda que a ênfase de uma alimentação saudável deve ser dada aos alimentos próximos ao estado em que se encontram na natureza, deixando os alimentos industrializados como opção secundária e nunca exclusiva de uma dieta alimentar.

Segundo especialistas, uma dieta regular, variada e constante de verduras, legumes e frutas é capaz de prevenir os efeitos do câncer, além de ajudar no seu tratamento e no de outras doenças. Cereais como feijão e arroz são considerados básicos para preservar as funções vitais do organismo, ainda que sempre acompanhados de variadas opções de saladas e alimentos dotados de proteínas.

A comida processada de João Dória Jr. não apresenta informações sobre a composição alimentícia - que pode vir de restos de comida de restaurantes, churrascarias e lanchonetes de fast food que trabalham com lanche processado (como McDonald's) e também de comida de hospitais, contaminada pelo contato de consumidores enfermos - e ainda é alvo de denúncias ainda mais sombrias.

Consta-se que surgem notícias de que um abrigo ligado à Arquidiocese de São Paulo, a Missão Belém, está sendo investigado pelas 14 mortes de ex-dependentes químicos e ex-moradores de rua internados no estabelecimento, num curto intervalo de tempo, em junho passado.

A Missão Belém funciona sem alvará e é parceira da Plataforma Sinergia na produção da "ração humana". Os pacientes mortos tiveram sintomas semelhantes de diarreia, vômito, desnutrição, desidratação e intoxicação alimentar. Suspeita-se que eles teriam sido testados como "cobaias" do "complexo alimentício" fornecido por João Dória Jr..

O episódio suspeito já começa a ser comparado com campos de extermínio nazistas. O caráter duvidoso do alimento, se for comprovado seu uso na Missão Belém, seria um agravante que demonstraria o teor nocivo da "ração humana", lançada oficialmente num evento comandado por um "renomado médium espírita", muito amigo dos figurões católicos ligados ao prefake.

CONSCIÊNCIA DOS ATOS

Há muito falamos que Divaldo Franco e Francisco Cândido Xavier, o Chico Xavier, não são inocentes de seus atos. Eles deturparam o "espiritismo" brasileiro de propósito, não por acidente ou falta de tempo para estudar a doutrina kardeciana. Pelo contrário, o longo período, a grande repercussão e o enorme alcance de público revela o quanto Divaldo e Chico tinham plena consciência de seus atos ao decidirem transmitir conceitos que contrariam os postulados espíritas originais.

A crença de "espíritas" ou mesmo de leigos de que os "médiuns" não têm culpa pelos erros que fazem, só agindo conscientemente quando se tratam de acertos ou atos positivos, é uma falácia e uma fantasia que não tem pé nem cabeça e que, confrontado com argumentos lógicos, é de fácil demolição, sobretudo diante da suposta imagem de "sábios" oficialmente associada aos "médiuns".

Divaldo Franco agiu com plena consciência de seus atos. O entusiasmo com que João Dória Jr. vestiu a camiseta do "Você e a Paz", quando divulgou a "farinata", não foi um ato do acaso, havendo também um propósito de divulgar o evento e, portanto, há um vínculo de imagem da "farinata" com o "Você e a Paz" e a pessoa de Divaldo Franco. Essa a mídia de esquerda ignorou completamente, preferindo apenas questionar a figura do arcebispo paulista dom Odilo Scherer, defensor da "ração".

Divaldo não pode dizer que foi desavisado ou não sabia sobre o "alimento". Ele teve responsabilidade no apoio a João Dória Jr.. Ou então Divaldo é um desinformado completo, o que derruba de vez a postura de "sábio" tão associada a ele a ponto de haver até mesmo os livros pedantes da série "Divaldo Responde". Seus seguidores chegam a exagerar chamando Divaldo de "filósofo" e "cientista".

Quando Divaldo decidiu homenagear João Dória Jr., o prefeito da capital paulista já vivia um desgaste político profundo, por diversas razões. A violência policial a dependentes químicos na cracolândia, a liberação de velocidade que aumentou as mortes no trânsito e o descaso com moradores de rua, além das viagens constantes e sem motivo de João Dória Jr. contribuíram para o desgaste de sua imagem e a redução de chances de êxito na corrida presidencial de 2018.

A organização do evento também se deu após as denúncias de que a "farinata" de João Dória Jr. tinha valor nutricional duvidoso e que potencialmente ofereceria riscos à saúde da população carente. Antes do "Você e a Paz", entidades de nutricionistas e movimentos sociais alertaram para a ameaça que o "composto alimentar" pode trazer à população carente, apontando riscos de subnutrição e intoxicação alimentar que podem ser fatais.

Os defensores de Divaldo Franco definem ele como "sábio". Se basearmos nessa hipótese, suporíamos que o "médium" teria sido avisado por "benfeitores espirituais" sobre a figura nefasta de João Dória Jr. e retirado a homenagem. Pela imagem de "grandeza", "firmeza" e "coragem" tão associadas ao "médium", tido também como suposto ativista social, ele seria capaz de convencer os parceiros católicos e evangélicos a retirar a homenagem, diante do desgaste de imagem do prefeito.

Mas não. Divaldo levou tudo adiante e deve ter elogiado o "alimento", naquela sua crença de que "tudo é válido para matar a fome dos necessitados". Consentiu que João Dória Jr. divulgasse o produto exibindo a camiseta do evento e demonstrou, com isso, apoio à iniciativa.

A própria aliança entre Divaldo Franco e João Dória Jr. revela também uma sintonia vibratória. É a chamada "lei de afinidade". Divaldo pode até dizer que "acolhe todos independente do nível ideológico" e que o "Você e a Paz" existia quando o petista Fernando Haddad era o prefeito paulistano. Só que os "espíritas", quando acolhem esquerdistas, é por mera formalidade cordial, enquanto que os direitistas são acolhidos com mais calor e maior entusiasmo, indicando preferência.

Portanto, foi um ato de muita responsabilidade. E isso, com certeza, é mais um escândalo envolvendo um ídolo "espírita", que pode repercutir negativamente em breve. A crise do "movimento espírita", que construiu suas bases traindo Allan Kardec, entra em mais um e gravíssimo capítulo, quando um "médium" badalado apoia um político decadente e assina embaixo no lançamento de um projeto alimentar de gosto duvidoso e que pode representar consequências nefastas para a saúde alimentar.
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