terça-feira, 5 de maio de 2015

Conduta coerente ou conduta uniforme?


Os líderes do "espiritismo" brasileiro estão criticando os "maus espíritas" e reclamando uma "coerência de conduta" dentro de um padrão que, sabemos, é "meio roustanguista", "meio kardeciano", misturando religiosismo piegas com pedantismo científico.

Só que sabemos que essa atitude, vista como "coerência espírita", nem de longe representa a verdadeira coerência com a doutrina de Allan Kardec, até porque esse aparente equilíbrio doutrinário se fundamenta nas traições conceituais que se faz ao pensamento do professor lionês.

É claro que criou-se um "espiritismo de segunda mão", através de um arranjo ideológico, partindo do Pacto Áureo da FEB de 1949, que à primeira vista sugere um equilíbrio doutrinário, do qual se segue com o máximo de elegância discursiva possível (difícil não se lembrar de Divaldo Franco), mas na verdade é uma conduta uniforme, e não coerente, da Doutrina Espírita.

Existem condutas uniformes como existe a normalidade forçada. São simulacros de estabilidade do qual um ritual de gestos, palavras e atos aparentemente inofensivos se repetem e ocorrem sem criar aparentes conflitos.

Na normalidade forçada, as injustiças e desigualdades existem e não raro são graves, mas a tendência dominante de conformismo, alienação e coerção fazem com que durante anos as pessoas convivam com esses problemas numa aparente tranquilidade, daí a normalidade imposta pelas circunstâncias.

A conduta uniforme é aquela conduta que envolve calma, mansuetude, um aparente equilíbrio emocional, mesmo quando os indivíduos envolvidos nessa conduta apresentam atos duvidosos e ideias inconsistentes, mas eles sempre são tomados de aparente respeitabilidade e uma reputação praticamente inabalável.

Ela parece ser uma coerência de conduta, porque não produz escândalos. As polêmicas são minimizadas e evitadas o máximo possível, pelo menos nos seus efeitos mais fortes. Mas é uma conduta uniforme e não uma conduta coerente, porque em muitos casos ela camufla incoerências terríveis, que, se amplamente divulgadas, poderiam gerar graves escândalos.

No Brasil, conforme os noticiários mostram, todo esquema de corrupção leva em média 15 anos para ser denunciado. Seus envolvidos combinam um esquema organizado de desvio de dinheiro para suas contas pessoais, de forma que ninguém possa revelar publicamente seus processos. As denúncias chegam quando alguém é traído e resolve revelar toda a prática.

Mas até que a corrupção seja denunciada, os envolvidos no esquema passam uma imagem de aparente transparência e honestidade, criando todo um simlacro de poses, gestos, atos que façam convencer de tal simulação.

Em muitos casos, coerência é questão de pose. Acadêmicos como Alexander Moreira Almeida e Jorge Cecílio Daher Jr. capricham nas poses de seriedade, para divulgar teses sobre Chico Xavier baseadas em métodos de pesquisa precários, falhos e duvidosos.

Ficamos imaginando que "coerência" é essa? Coerência de poses, de gestos e de palavras? A capacidade de arrumar uma resposta pronta toda vez que é questionado? A habilidade de criar um discurso transparente para justificar qualquer absurdo?

A conduta uniforme é que ocorre no "espiritismo" brasileiro. Um conjunto de gestos, poses, palavras, retóricas e atos que podem apresentar incoerências e inconsistências muito grandes, mas se exercem dentro de um clima de aparente normalidade, sem causar grandes escândalos e forjando o máximo de equilíbrio aparente.

Mas não se pode atribuir a isso "coerência espírita" porque o princípio que se baseia nessa conduta é justamente a traição ao pensamento de Allan Kardec: a bajulação perseverante ao professor lionês, mas o completo desprezo de seu pensamento, já que o "espiritismo" brasileiro prefere o religiosismo de Chico Xavier e Divaldo Franco, que demonstraram preferir a Igreja Católica ao Espiritismo.

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