domingo, 31 de maio de 2015

O medo do esclarecimento


Nos últimos tempos, os questionamentos que se multiplicam na Internet, principalmente nas mídias sociais, andam amedrontando as pessoas. Elas se recolhem e evitam encarar textos que mostram abordagens que ameaçam suas zonas de conforto, ou então reagem com ódio e intolerância.

Que é muito comum, nas mídias sociais, acreditar no mundo da fantasia, isso é verdade. Há pessoas que desmentem crises, bastidores, realidades, e fazem a sua realidade conforme suas convicções pessoais. Expressam suas opiniões fantasiosas, quase sempre defendendo o "estabelecido", e de repente surgem uns dois, três ou cinco amigos que escrevem concordando com ele.

Muito fácil. Cria-se uma falsa unanimidade, ou algo próximo disso, porque uma "panelinha" vai defendendo a "realidade" em que acreditam, se julgando dotados de uma visão "objetiva" que na verdade só afirma aquilo que o poder da mídia, da política e do mercado impõem como "verdade", com todas as incoerências e absurdos relacionados.

Quanto, por outro lado, blogues e alguns portais informativos passam a mostrar um ponto de vista diferente do oficial e do oficioso, os internautas reagem. Quando podem argumentar, tentam usar desculpas para dizer que a versão oficial é que vale, mas quando não conseguem, partem para gozações ou xingações.

No "espiritismo" brasileiro, a manifestação de medo e desnorteamento diante das denúncias e questionamentos aprofundados faz com que os seus líderes se recolham nos "centros espíritas", para "amaldiçoar" a Internet e o "veneno" dos "irmãozinhos incomodados" que "despejam palavras maldosas" contra o "trabalho de amor" que a doutrina "realiza".

Sem poderem explicar direito as irregularidades que cometem, eles tentam desqualificar blogues e portais de Internet que questionam seus dogmas e ritos, enquanto a realidade mostra claramente que o "espiritismo" se valeu por retrocessos e procedimentos retrógrados ou fraudulentos diversos.

O que eles querem fazer ignorar é que eles não são denunciados por causa de reações de rancor ou perseguição aos "bons servidores da fé e da fraternidade", mas por conta da lógica que aponta sérias irregularidades cometidas pelo "movimento espírita", que demonstram não serem erros pontuais, mas erros cometidos pelo conjunto da obra, da cúpula às unidades regionais menores.

A época de questionamentos profundos, em diversos âmbitos, faz as pessoas verem a insegurança de suas zonas de conforto. Essa insegurança é a novidade que põe em xeque uma ilusão que prevaleceu incólume durante pelo menos 25 anos, em que pesem eventuais abalos ao longo do tempo.

Isso porque nos anos 1990, época da euforia do mercado, da mídia e da tecnocracia, da qual prevalece a visão oficial de ser uma "época de ouro" para o Brasil, diante da farra consumista, da folia do entretenimento pleno e do prestígio alto de tecnocratas e políticos que prometem o "novo eldorado" com praças embelezadas e tudo.

Tudo às custas da privatização de empresas públicas para grupos estrangeiros que demitem milhares de pais de família e cujo dinheiro vai para as contas pessoais dos políticos, "compensada" com o mascaramento de empresas de ônibus particulares com a nefasta pintura padronizada que acoberta a corrupção política e empresarial.

Claro, investe-se no pior da iniciativa privada (privatização de empresas) e no pior da iniciativa pública (intervenção "branca" nas empresas de ônibus através de um visual que destaque o poder das secretarias de Transporte), dentro de um padrão de Política e Economia que promove o desemprego e degrada os serviços de Educação e Saúde que vivem situações caóticas.

Junte-se a isso uma mídia que concentra ainda mais o poder comprando emissoras de rádio, transmitindo um jornalismo mais conservador, se atrelando a dirigentes esportivos e usando o rock como mero gancho para criar parcerias com poderosos empresários ligados a eventos internacionais.

A farra das elites, dos "senhores" do nosso dinheiro e dos nossos desejos, cria uma realidade a qual questionamentos são necessários, mas também são combatidos de uma forma ou de outra pela "patrulha do estabelecido" nas redes sociais. Ás vezes dá até a impressão que o internauta tal, por mais que pareça ser uma pessoa "comum", age como se fosse assessor de alguma instituição ou autoridade.

E isso faz com que blogues que apostam no questionamento tenham baixa frequência na Internet. E que, no mercado literário, livros que mostram profundas investigações, exceto aqueles cujos autores já possuem visibilidade suficiente para transmitir informações que contrariam as oficiais, são quase sempre discriminados e sofrem baixíssimas vendas.

Em compensação, numa sociedade em que as pessoas agora usam smartphones e tablets para "patinar" com os dedos polegar e indicador em páginas inofensivas no Facebook, uma perda de tempo que ganha a adesão assustadora de pessoas que usam a Internet para curtir o superfluo e o abertamente inútil e menos divertido do que parece.

Os livros mais vendidos envolvem religião, auto-ajuda, inexpressivas ficções de aventura e misticismo, diários sobre futilidades e frivolidades, e até mesmo trajetórias inócuas sobre cachorros que têm nomes de músicos consagrados. Nada que esclareça, palavras que se perdem em uma média de 230 páginas para nada dizer e apenas adoçar as vidas das pessoas.

O grande medo de esclarecer e de sair da zona do conforto assola a sociedade brasileira e faz com que muitos permaneçam assustados com as transformações e as graves crises vividas no Brasil. Talvez estivessem esperando por livros que falem sobre cachorrinhos chamados Cazuza e Renato Russo para se recolherem felizes nas suas confortáveis zonas, isolados na sua literatura "água com açúcar".

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