sábado, 30 de novembro de 2013

Por que o Espiritolicismo dá margem a energias negativas?

 
O "espiritismo da FEB" é só amor e fraternidade? Nem sempre. Em muitos casos, a "doutrina" do chamado movimento espírita brasileiro traz energias negativas, muitas vezes pela ênfase de rituais de desobsessão que não raro podem servir de mero teatro de espíritos zombeteiros impressionarem os presentes.

A presença de velhos jesuítas no comando do "espiritismo à brasileira" influi que as energias pesadas sejam sentidas por pessoas que não compartilham dos princípios conservadores e conformistas determinados por essa dita "doutrina espírita".

Como um equivalente brasileiro à cientologia - breve falaremos mais a respeito - , o espiritolicismo é carregado de um moralismo ao mesmo tempo paternalista, esotérico e mistificador. E quem não compartiha de tudo isso acaba sofrendo energias pesadas que se intensificam nos chamados "tratamentos espirituais".

Assim, as energias só são boas para quem se condiciona em seguir esses valores conservadores. Hierarquia familiar, misticismo religioso, muita pieguice na fé "raciocinada" a menos raciocinada (e muito menos raciocinante) possível, adoração aos astros da "doutrina", respeito aos ritos e até às musiquinhas mais cafonas tocadas pelos cantores e músicos espiritólicos.

Se não compartilhar desses valores conservadores, a vida pessoal se torna comprometida. As doutrinárias - "missas" espiritólicas que supostamente "estudam" temas previamente escolhidos - tornam-se sem efeito, mas os "tratamentos" tornam a pessoa bem mais vulnerável às adversidades da vida.

Isso se deve porque o dito "espiritismo brasileiro", ao ser comandado por almas de antigos jesuítas - é impressionante o número de "padres", "madres", "sorores", "irmãs", "irmãos", "freis" etc neste "espiritismo" - , herda todo um sistema de valores dessa fase do catolicismo que o próprio catolicismo não adota mais.

É como se a Igreja Católica tivesse se livrado de um monte de entulho juntado durante a Idade Média e parte da Idade Moderna - é bom deixar claro que os jesuítas de Portugal ainda adotavam procedimentos medievais até mesmo no começo do século XIX - e o suposto espiritismo no Brasil acabou tomando para si esse material jogado fora.

Os jesuítas que operaram no Brasil foram autoritários, escravistas, machistas, racistas, violentos, gananciosos. Ainda vamos detalhar como foram os "soldados" da Companhia de Jesus que buscaram escravizar índios e negros e que, na "pátria espiritual", tentam distorcer e deturpar as lições preciosas do professor Allan Kardec.

Isso influi muito. De repente alguma pessoa de perfil mais diferenciado, cuja vida rumava para realizações e prosperidade, se torna espiritólica e, de repente, as coisas sofrem um revés violento, quando muitas coisas não saem como o esperado, falsas oportunidades surgem escondendo graves armadilhas e até eventuais desavenças surgem trazendo uma ameaça séria à vida.

A própria linha de atuação de vários centros espíritas, que não bastassem a gororoba religiosa do Espiritolicismo, sofrem pela vaidade pessoal de sua cúpula e pelos conflitos de interesses de seus membros, influi muito para o péssimo atendimento a muitos frequentadores, muitos potenciais "pacientes" de "auxílios fraternos" e "tratamentos espirituais" que se tornam corrompidos.

É como um hospital que sofre uma infecção bacteriana que atinge mortalmente muitos pacientes. A infecção dos centros espíritas vem do orgulho ainda restante de muitos espíritos "orientadores", da vaidade dos dirigentes aqui da Terra, da própria natureza precária do Espiritolicismo e outros problemas sérios.

O próprio Espiritolicismo já junta energia negativa demais através da maior mentira que comete, que é a de TRAIR o rigor científico das lições de Allan Kardec. Considera-se isso não por uma questão de maldição, mas de desonestidade mesmo.

Afinal, o Espiritolicismo torna-se desonesto, quando diz seguir fielmente às lições de Allan Kardec - que colocava a busca do conhecimento lógico acima da fé, embora defendesse a prática da fé desde que sem o exagero da mistificação - , porque na prática trai de forma violenta tais lições, enxertando elementos do catolicismo medieval no "espiritismo" feito no Brasil.

Portanto, essa "espiritualidade" que se revela materialista, ritualista, moralista, ideologicamente confusa, cheia de graves erros, torna-se perigosa para quem quer seguir essa "doutrina espírita" achando que sua vida irá melhorar. Só mesmo tendo estômago forte ou fazer o jogo do "clero do além" para ter algum benefício dentro dos limites ideológicos do Espiritolicismo.

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Espiritolicismo e o arremedo de ciência

DIVALDO FRANCO É UM DOS QUE MAIS ADOTAM ARREMEDOS DE CIÊNCIA NO SEU DISCURSO ESPIRITUALISTA.

Como numa doutrina marcada pela canastrice ideológica, o Espiritolicismo - conhecido também como "movimento espírita", que no Brasil mantém distância das rigorosas lições do mestre Allan Kardec - é muito carregado de misticismo e pieguice, mas também sabe usar um verniz de ciência para tentar disfarçar seu ranço católico-apostólico-romano.

Muitas palestras espiritólicas adotam um discurso científico. Há seminários que mostram até silhuetas humanas, dessas que os livros de biologia utilizam, para dar uma impressão de falsa ciência

O discurso é engenhoso, e sabemos que as palestras espiritólicas mais parecem sermões católicos enrustidos, mas carregados de uma pretensão de "objetividade" que seduz e confunde a todos, porque mistura fé com ciência, que parece um avanço diante da negação que o catolicismo medieval fazia aos fenômenos científicos.

No entanto, não é um avanço. A confusão entre fé e ciência, a falta de discernimento mesmo quando, em tese, se admite um suposto discernimento, é clara, e o que se vê são cientistas sendo adorados como se fossem totens religiosos, desculpas científicas tentando "justificar" processos mediúnicos e ritos espiritólicos confusos, etc etc etc.

Um dos maiores exemplos de quem se habitua a fazer arremedos de ciência no seu discurso é o médium baiano Divaldo Pereira Franco. Ele fala como se fosse um padre franciscano, mas tenta fazer uma erudição retórica nos moldes dos velhos oradores aristocráticos.

Com um saber aparentemente enciclopédico, Divaldo mistura o misticismo religioso com o verniz de "objetividade" científica, narrando fatos históricos como alguém que lê um almanaque. Seus sermões dão a impressão de palestras científicas ou aulas, mas são apenas sermões.

Mas existem também outras enrolações. Espiritólicos falando de fenômenos psíquicos como leigos se passando por sábios, palestrantes misturando citações científicas com pregações piegas e moralistas, e até mesmo os chamados "tratamentos espirituais" buscam um aparato de supostos tratamentos hospitalares, como se os "do além" fossem brincar de médico conosco.

O arremedo de ciência é grave, porque não há uma preocupação séria com a ciência. Há a preocupação em parecer sério, só para impressionar os fiéis. Enquanto isso, ritos, procedimentos, alusões são feitos sem qualquer tipo de critério ou pesquisa, com muitos "espíritas" de valendo de sua vaidade, de suas vontades pessoais, de suas imaginações férteis.

Mistura-se fé religiosa - dos moldes do velho catolicismo do Brasil colonial - com uma fingida inclinação à ciência, que vai desde as ilustrações de cartazes ou textos "espíritas" até mesmo a apropriação de vultos científicos, do próprio Allan Kardec ao médico brasileiro Carlos Chagas, sem escrúpulos de misturar misticismo piegas com falsa ciência.

Será que os espiritólicos são cientistas frustrados? Ou será que pretendem se autopromover com uma sabedoria que na verdade não têm? Ou querem se aproveitar para seduzir as pessoas com muita facilidade? Ou então são aventureiros da fé?

Em todo caso, o espiritolicismo nada ajuda com esse verniz de ciência que esconde essa doutrina confusa, carregada de misticismo piegas e moralista, que herda a essência do catolicismo medieval que hoje nem o próprio catolicismo adota mais. E como o mistério da fé encontra terreno fértil no mistério de "outras vidas" e "outros mundos", nada se esclarece de verdade.

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Espiritolicismo e a indevida apropriação dos personagens ilustres

O MÉDICO CARLOS CHAGAS É USADO POR ALGUMAS CORRENTES ESPIRITÓLICAS COMO A SUPOSTA IDENTIDADE DO ESPÍRITO ANDRÉ LUIZ.

O "Espiritismo à brasileira", sem recorrer a qualquer tipo de pesquisa científica, tem como uma das manias atribuir supostos personagens em suas encarnações e reencarnações, ou fazendo outras apropriações a outros personagens.

Virou uma grande bagunça. Tem livro ditado por um suposto Eça de Queiroz que narrava a vida espiritual de um suposto Getúlio Vargas. Tem Helil, que no livro Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, aparece como supostamente mais evoluído que um Jesus Cristo caricato, e ainda é atribuído ao Infante D. Henrique, militar português engajado nas expedições marítimas.

O próprio Coração do Mundo, Pátria do Evangelho tem autoria atribuída a um suposto Humberto de Campos, figura culta que, mesmo num contexto de intelectualidade aristocrática da época, nunca iria escrever uma obra dessas. E tem um suposto Olavo Bilac, em Parnaso de Além-Túmulo, que deve ter "esquecido" na Terra sua capacidade de fazer versos métricos.

Enquanto isso, a torcida do Flamengo, que hoje torce para a vitória na Copa do Brasil 2013, já havia perdido o campeonato da Taça André Luiz. Faustino Esporel, o ex-presidente do Clube, perdeu a chance de ser atribuído como o "verdadeiro (sic) André Luiz" para o médico Carlos Chagas, que teve um grande lobby na cúpula da FEB.

E o suposto Oswaldo Cruz, outro "possível" André Luiz, teria sido, segundo o suposto Humberto de Campos, o suposto Estácio de Sá. E ainda vieram livros caricatos atribuídos a Ayrton Senna e Raul Seixas. E teve Irineu Gasparetto fazendo uma imitação malfeita de John Lennon querendo se passar pelo espírito do próprio.

Muitas vezes são suposições, vindas de imaginações férteis, que andam manchando a mediunidade brasileira. O processo mediúnico virou um vale-tudo sem qualquer tipo de critério nem responsabilidade, e mesmo a "disciplina, disciplina, disciplina" que Emmanuel teria dito simplesmente não é seguida por muitos ditos médiuns.

Talvez por ser um dos poucos a apresentar caraterísticas bastante específicas e comparáveis, até pelos seus métodos e conceitos, Emmanuel é um dos poucos que podem ser considerados em atribuições reencarnatórias.

Emmanuel teria sido o Padre Manuel da Nóbrega, até pela habilidade de manipular crenças alheias para impor seu catolicismo medieval, sendo a indígena nos seus tempos de jesuíta, sendo a kardeciana, nos seus tempos de "orientador" de Chico Xavier.

Fora isso, o que se nota é um recreio de espíritos fanfarrões, seja na Terra - sobretudo a patota da FEB - , seja no além, que se divertem em dizer quem teria sido fulano, quem teria sido sicrano, etc, sem fazer uma verificação séria, isenta e imparcial.

Isso é muito grave, porque muitas famílias haviam recebido mensagens mediúnicas supostamente atribuídas a entes queridos que se foram, e que muito provavelmente não teriam sido de tais entes, mas de espíritos zombeteiros capazes de imitar algumas caraterísticas particulares de determinados desencarnados.

No século XIX, Allan Kardec era muito cauteloso com as mensagens mediúnicas. O grande professor nunca esqueceu de sua vocação científica, mesmo quando passou a codificar a Doutrina Espírita, e talvez até intensificou seu faro cientista com ela.

Quando colheu mensagens mediúnicas, Kardec sempre recorreu a diferentes médiuns, em diferentes locais, para verificar se a mensagem que recebia era realmente da identidade que o espírito supostamente atribuía.

Naquela época, os meios de comunicação eram mais precários que hoje. A fotografia mal começava a ser um fenômeno na sociedade mundial. Kardec escrevia no Livro dos Médiuns que a identidade do espírito desencarnado podia ser provada, mas não havia certeza absoluta de sua comprovação.

Hoje a tecnologia avançou muito, mas infelizmente a farra mística do espiritolicismo travou qualquer preocupação séria em levar a comunicabilidade com espíritos desencarnados - processo que é possível de ser realizado - para a pesquisa científica, na busca de técnicas e tecnologias para possibilitar esse contato com os espíritos do além.

Em vez disso, há vaidades e delírios que muitas vezes se apropriam indevidamente de espíritos do além. Até mesmo Bezerra de Menezes foi atribuído como o antigo cobrador de impostos Zaqueu, que havia recebido Jesus Cristo em sua casa, conforme registram os textos bíblicos.

Joana de Angelis, a "orientadora" de Divaldo Franco, também havia dito que teria sido Joana de Cusa, que vivia nos tempos cristãos. Ela também diz ter sido a Joana Angélica conhecida na História do Brasil. Já alguns lunáticos tentam dizer que ela teria sido também Joana d'Arc, pode?

O próprio Emmanuel tentou também dizer que foi um senador romano, usando o nome de Publio Lentulus só para dizer que esteve com Cristo. Pegou uma colinha num documento medieval, a Epístola Lentuli, que nem o catolicismo medieval admite autenticidade, mas o "nosso espiritismo" assina embaixo. Quanto à encarnações antigas, todo mundo queria ter vivido no período cristão.

Emmanuel acabou sendo desmascarado por historiadores sérios, porque cometeu gafes muito sérias no seu livro Há 2000 Anos, ao registrar em seu livro sua ignorância geopolítica, geográfica e sócio-cultural do Império Romano, inclusive o total desconhecimento das regras relacionadas às castas familiares dos políticos romanos.

A apropriação indevida de personagens passados, assim como suposições quanto a encarnações anteriores ou autoria de mensagens mediúnicas, desmoraliza todo o processo de divulgação da Doutrina Espírita. Sem ter cautela, tudo é feito na base do delírio, da imaginação fértil, ou mesmo de uma mediunidade imprudente, incapaz de avaliar quem realmente está falando "do lado de lá".

Isso, em vez de honrar os diversos personagens antigos, faz muitos deles ficarem preocupados lá no além, porque o festival de falsidades ideológicas acaba criando sérios problemas. Da mesma forma quando alguém viaja para bem longe e seus vizinhos ficam inventando coisas que esse alguém nunca fez nem teria sequer pensado em fazer.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

André Luiz pode nunca ter existido


O "espírito" André Luiz, figura conhecida da "falange" de Emmanuel, o dito "orientador" de Chico Xavier, pode na verdade nunca ter existido. O "narrador" do livro Nosso Lar, obra mística e surreal da literatura espiritólica, teria sido um personagem fictício.

Nos meios espiritólicos, há até mesmo "apostas" sobre quem teria sido o suposto espírito. E como no páreo das supostas encarnações anteriores há até mesmo um ex-presidente do Flamengo, há três torcidas correspondentes a cada suposta encarnação anterior de André Luiz.

Antes de mais nada, supõe-se que André Luiz teria sido um médico que, num jantar com sua esposa, por volta de algum ano da década de 1930, teria sofrido um mal-estar que culminou numa parada cardíaca e encerrou sua vida na Terra.

André teria sido um médico que teria tido uma vida promíscua, principalmente com excessos relacionados à bebida, ao tabagismo e ao uso de remédios, principalmente contra a depressão. Há três personalidades atribuídas por diferentes correntes espiritólicas sobre quem teria sido André Luiz.

A primeira corrente toma como personalidade o médico Oswaldo Cruz, conhecido sanitarista brasileiro. A hipótese foi reforçada por uma mensagem "parapsicológica" do padre Oscar González Quevedo, o "padre Quevedo".

No entanto, as informações se contradizem ao se constatar que, enquanto André Luiz se dizia filho de um comerciante, Oswaldo Cruz era filho de um médico militar que havia participado da Guerra do Paraguai.

Num de seus delírios historiográficos, o livro Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho diz que Oswaldo Cruz teria sido, em outra encarnação, o militar português Estácio de Sá, primeiro governador-geral da Capitania do Rio de Janeiro.

A segunda hipótese corresponde ao médico Carlos Chagas, talvez a mais festejada nos meios espiritólicos, por tais informações terem sido difundidas por Waldo Vieira, quando era médium da FEB e parceiro de Chico Xavier, e por Carlos Baccelli, membro da cúpula da FEB.

Waldo teria feito o desenho da foto acima, com traços "parecidos" com os de Carlos Chagas, atribuindo a ele a aparência que teve André Luiz em sua última encarnação. Alguns centros espiritólicos chegam a divulgar André Luiz usando imagem de Carlos Chagas, conhecido por pesquisar a doença transmitida pelo inseto barbeiro e que ganhou o sobrenome do cientista.

Já a terceira hipótese foi difundida pelo escritor e jornalista Luciano dos Anjos, um dos principais divulgadores da vida e obra de Jean-Baptiste Roustaing no Brasil, com livros especializados sobre ele. Luciano teria "descoberto" que André Luiz teria sido Faustino Esporel, médico carioca que teria sido também dirigente esportivo, tendo sido presidente do Clube de Regatas Flamengo.

No entanto, nesse "campeonato" a hipótese que de alguma forma inclui um time de futebol foi a mais perdedora. A maior torcida espiritólica ficou mesmo com Carlos Chagas, por conta da visibilidade e situação de poder de quem a difundiu.

FICTÍCIO

O que se observa é que André Luiz "aparece" como suposto autor dos livros mediúnicos entre 1944 e 1968, através da chamada "Série André Luiz", quando o médium Waldo Vieira era parceiro de Chico Xavier. Um e outro alternavam as tarefas de supostamente psicografar o "espírito", a partir da famosa obra Nosso Lar, de 1944.

Existe até mesmo um livro, lançado em 1955, chamado Nos Domínios da Mediunidade. Pobre professor Allan Kardec!! Como se suas lições precisas e seguras do Livro dos Médiuns não fossem suficientes para serem seguidas, e aí vem o livro "psicografado" lançado sob o pretexto de complementar o livro kardeciano, mas na verdade o renega em sua essência, distorcendo os ensinamentos do professor francês.

André Luiz "desaparece" em 1968, dois anos depois de Waldo Vieira se desligar do espiritolicismo e fundar uma seita bastante esotérica, Projeciologia e Conscienciologia, bem nos moldes das seitas modernas de verniz científico e psicológico, vide a famosa Cientologia. Waldo até hoje está à frente dessa seita que se apoia nesses dois nomes integrados.

O "último livro" da "Série André Luiz" foi E a Vida Continua..., atribuindo a psicografia a Chico Xavier. Teve uma adaptação cinematográfica em 2012. Depois o "espírito" André Luiz supostamente anuncia como "cumprida" a sua missão literária.

No entanto, com tantas especulações, sobretudo pela apropriação da imagem de cientistas, sobretudo Carlos Chagas, o que provavelmente pode ter acontecido é que André Luiz teria sido uma criação de Waldo Vieira, respaldada pela FEB e por Chico Xavier, e portanto um personagem tão fictício quanto, por exemplo, Harry Potter.

A contradição quanto aos dados biográficos - se confrontados com as supostas encarnações atribuídas em suas respectivas hipóteses - e a fértil imaginação mística de Waldo Vieira, que havia também inspirado Xavier, podem ter sido os ingredientes para a construção do "espírito", um dos supostos autores do espiritolicismo que possuem títulos com sucesso de vendas e de adaptação para o teatro e o cinema.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

O mistério acerca dos dois Bezerra de Menezes


Um ponto que é pouco discutido nos meios religiosos é a ligação existente entre dois famosos personagens com o sobrenome Bezerra de Menezes.

Um deles é prestigiado nos meios espiritólicos, que foi o médico e deputado federal cearense Adolpho Bezerra de Menezes, que viveu entre 1831 e 1900 e teria sido um parlamentar abolicionista. É tido como um dos espíritos que se manifestam em situações mediúnicas dos ambientes espiritólicos.

Outro é prestigiado nos meios católicos, o advogado niteroiense Geraldo Bezerra de Menezes, que viveu entre 1915 e 2002, que também foi um importante acadêmico, professor universitário e que chegou a ser Secretário de Educação e Cultura do Estado do Rio de Janeiro, ainda nos tempos em que Niterói era sua capital.

Sobre o perfil católico de Geraldo, o sítio do Colégio Brasileiro de Genealogia escreveu a seguinte passagem:

"Religião -Católico praticante, integrou a Sociedade Brasileira de Filósofos Católicos e o Centro Dom Vital. Presidente, em vários períodos, da Confederação Nacional das Congregações Marianas. Representante do Brasil no I Congresso Mundial de Apostolado dos Leigos (Roma-1951), tendo integrado a Comissão que presidiu o Conclave. Representante do Brasil no Congresso Mundial das Congregações Marianas (New Wark, Estados Unidos 1959). Presidente da Delegação brasileira ao I Congresso Latino-Americano do Apostolado Leigo (Buenos Aires-1967). Representante do Brasil no I Encontro-Latino Americano de Dirigentes da Ação Católica (Bogotá-1968) e no Congresso Latino-Americano de Dirigentes Marianos (Medelin-1968). Recebeu do Papa Paulo VI a Comenda de São Gregório Magno".

Aparentemente, a família do dr. Adolpho Bezerra de Menezes, o pioneiro das crenças espiritólicas - em detrimento do seu opositor, o hoje esquecido Angeli Torteroli, o italiano radicado no Brasil que reivindicava fidelidade às lições de Kardec, enquanto Bezerra dava preferência às distorções difundidas por Roustaing - tornou-se bastante numerosa, com inúmeros descendentes ilustres.

No entanto, quase não se fala das relações entre o "Bezerra de Menezes espírita" e o "Bezerra de Menezes católico", como são conhecidos nos seus meios. Não há informações sobre seus parentescos. Na busca do Google praticamente não se localizou um texto relacionando ambos.

Para piorar, o próprio Bezerra de Menezes teve formação católica, que o "espírita" nunca havia largado por completo sobretudo por causa da influência de Jean-Baptiste Roustaing, e conforme pôde expressar numa carta-livro endereçada ao irmão, que não compreendia as "novas crenças" do dr. Bezerra:

"Agora que V. já conhece as minhas idéias, vou dizer-lhe o meu credo. Creio em Deus Pai, Todo Poderoso, Criador do Céu e da Terra. Creio em Jesus Cristo, seu dileto Filho, Nosso Senhor e Redentor. Creio que a Igreja foi instituída por Ele para ensinar sua santa doutrina e que é assistida pelo Espírito Santo nesse santíssimo mister. Creio na comunhão dos Santos, na ressurreição da carne, na vida eterna. Não creio na lenda dos anjos decaídos, porque crer nisso valeria por negar a onipotência e a onisciência do Senhor. Não creio que o mal possa triunfar do bem, eternizando-se, como este, no reino de Satanás. Não creio que um espírito criado pelo Senhor possa fazer-lhe frente, resistir-lhe e destruir-lhe os planos e nem que o Senhor permita isso, servindo-se do rebelde para castigar o rebelde, porque, nesse caso, Deus não criou o homem para o bem, para a felicidade. Não creio na 'vida única, porque o homem é perfectível. Não creio nas penas eternas, porque Deus é pai. Não creio na infalibilidade do papa, porque assim teríamos um Deus no Céu e outro na Terra. E a comunicação dos santos significa, para mim, a comunicação dos espíritos. E a ressurreição da carne significa a reencarnação dos espíritos. Eis o meu credo e digo-lhe: que tenho fé viva e esperança firme de subir com ele à sociedade de Deus na eternidade."

Portanto, cabe analisar muito bem essas ligações, porque o sobrenome Bezerra de Menezes é muito peculiar para que dois de seus ilustres membros se limitassem a ser analisados de forma separada. Até para resolver as dúvidas a eles relacionadas.

sábado, 23 de novembro de 2013

Imagem de demônio apresenta semelhanças com "espírito" Emmanuel


Coincidência ou não, uma irônica curiosidade pode causar espanto nos espiritólicos. Na busca do Google, procurando a palavra-chave "demônio", chegou-se à imagem que aqui se vê à direita, que apresenta traços idênticos com a imagem atribuída ao "espírito" Emmanuel, posta ao lado para comparação.

Emmanuel teria sido o padre jesuíta Manuel da Nóbrega, português que atuou no período do Brasil colonial e que teria tido uma personalidade autoritária, escravista, machista e racista, tendo sido educado num catolicismo que, na Portugal do século XVI, ainda guardava valores e métodos medievais, inclusive com punições cruéis a hereges.

Emmanuel é oficialmente conhecido, na doutrina espiritólica, como o "orientador" do médium Chico Xavier, tendo expresso nesta experiência a mesma índole autoritária e a mesma habilidade "aculturadora" que "Ermano Manuel", como era conhecido o padre jesuíta, havia feito com os indígenas.

Como Nóbrega, Emmanuel procurava se apropriar da cultura do "outro" para inserir nela os seus valores, como um meio sutil e gradual para destruir valores culturais alheios e impor neles os valores do velho catolicismo medieval, extremamente místico, punitivo e ritualista.

O "iluminado orientador" do médium mineiro também havia utilizado o mesmo método, de se apropriar de uma doutrina alheia, no caso da Doutrina Espírita lançada pelo pedagogo francês Allan Kardec, para nela inserir ritos, valores e procedimentos do catolicismo medieval e enfraquecer e eliminar, aos poucos, as lições de cunho científico, filosófico e moral do professor de Lyon.

A aparência "demoníaca" até faz sentido, se percebermos o que o livro As Vidas de Chico Xavier,  escrito por Marcelo Souto Maior e publicado pela Editora Planeta em 2003, publicou uma sombria passagem, na página 190. Nota-se que Souto Maior foi escalado para fazer a biografia oficial do médium mineiro e que o autor nutre alguma simpatia por este.

O diálogo abaixo se deu quando Chico Xavier, doente e muito cansado, pediu para seu "orientador" para encerrar as atividades mediúnicas e os compromissos com seu público.

  - Devo trabalhar na recepção de mensagens e livros até o fim da minha vida atual?
  - Sim, não temos outra alternativa.
    O autor dos cem livros insistiu.
  - E se eu não quiser? A doutrina espírita ensina que somos portadores do livre-arbítrio para decidir sobre nossos próprios caminhos.

    Emmanuel sorriu e deu o veredito:

- A instrução a que me refiro é semelhante a um decreto de desapropriação, quando lançado por autoridade na Terra. Se você recusar o serviço a que me reporto, os orientadores dessa obra de nos dedicarmos ao cristianismo redivivo terão autoridade para TIRAR VOCÊ DE SEU ATUAL CORPO FÍSICO.


Sim, isso mesmo. É como se, numa linguagem mais ou menos rude, Emmanuel tivesse dito "Se você não fizer o que eu mando, vai acordar com a boca formigando em calda". O que destoa completamente de qualquer conduta de espíritos desencarnados que seriam considerados "superiores".

Segundo a verdadeira Doutrina Espírita, com base nas lições originais de Kardec, o espírito superior não é autoritário. Ele não dá ordens, apenas, quando muito, dá bons conselhos necessários ao desenvolvimento da prudência e de outras habilidades de quem está encarnado.

Além do mais, um espírito superior não faz ameaças, compreende as limitações físicas do encarnado e respeita. O respeito aos direitos humanos de repouso ou mesmo do encerramento de atividades quando as condições físicas não permitirem mais é que é uma atitude superior, não o autoritarismo de quem exige "disciplina, disciplina e disciplina" para os outros e não para si.

Portanto, já a partir do suposto "espírito-guia" do "espiritismo à brasileira", a suposta "doutrina espírita" promovida pela FEB (a federação roustainguista do Brasil) tem seu mérito totalmente comprometido. E que o "superior" Emmanuel, na verdade, não teria sido muito diferente do "Demonuel" encontrado na busca do Google.

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Humberto de Campos não teria escrito Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho


Embora o espiritolicismo credite como "verídica" a autoria de Humberto de Campos (1886-1934) atribuída ao livro Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, reforçada pelo aparente fracasso do processo judicial movido pelos herdeiros do escritor contra o médium Chico Xavier, há fortes indícios de que o notável escritor não teria, como espírito, feito a referida obra.

Acredita-se que a família de Humberto de Campos, em especial a viúva do escritor, teria tido pouca cautela na escolha de um advogado habilidoso para enfrentar o "popstar da FEB", que a essas alturas se ascendia na mídia através do tendencioso livro.

Para quem não sabe, Humberto de Campos, nos seus breves 48 anos de vida, foi um intelectual importante na primeira metade do século XX no Brasil. Era maranhense de Muritiba - cidade depois rebatizada com o nome do escritor - e era um notável jornalista, cronista e poeta.

Seu livro mais famoso é de poesia, Poeira, lançado em 1910. Chegou a viver no Pará, onde iniciou sua carreira jornalística em periódicos locais. Mudando-se para o Rio de Janeiro, torna-se um importante intelectual, fazendo parte de um movimentado círculo social ao lado de nomes ilustres como Coelho Neto e Olavo Bilac.

Humberto tem suas crônicas publicadas em vários periódicos do Rio de Janeiro (então Distrito Federal), São Paulo e outras capitais brasileiras. Em várias delas, escreveu usando o pseudônimo de Conselheiro XX.

Ele toma posse na Academia Brasileira de Letras em 1919, na cadeira do amigo Emilio de Meneses, falecido um ano antes. Em 1920 ingressa na política, tornando-se deputado federal pelo Maranhão, exercendo mandatos que eram renovados até a Revolução de 1930, quando foi cassado.

No entanto, como Getúlio Vargas e seus pares admiravam o talento de Humberto de Campos, o presidente do então "governo provisório" (o que durou até 1945, incluindo o Estado Novo) tentou consolá-lo oferecendo o cargo de Inspetor de Ensino do Rio de Janeiro e, depois, como diretor da Casa de Rui Barbosa.

Nos útlimos anos, já doente, lançou o livro Memórias (1886-1900), em 1933. Não pôde completar o segundo volume, pois faleceu em 1934 já com a falência urinária e problemas de visão agravados, sofrendo uma síncope durante uma cirurgia. Com o que já foi escrito, o volume foi lançado postumamente com o título de Memórias Inacabadas.

Depois de tantas coletâneas póstumas, Humberto de Campos causaria polêmica com a publicação, em 1950, do livro Diário Secreto, que revela anotações em sua vida particular, devido aos comentários um tanto indelicados em relação a personalidades como Vargas, Bilac, Machado de Assis e outros contemporâneos.

Em todo caso, a situação não é mais ridícula nem preocupante como a do caso do livro Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho. O processo judicial foi movido pela viúva do escritor, Catharina Vergolino, junto a dois dos três filhos que participaram da ação (Henrique e Humberto Filho; a irmã Maria de Lourdes se absteve da questão)

A ação movida contra o médium reivindicava o pagamento dos direitos autorais a Catharina e os filhos, herdeiros declarados do escritor, mas sofreu derrota - a juíza o julgou improcedente - e tal derrota foi comemorada por muitos por favorecer a ascendente figura de Chico Xavier, mitificada pela sua personalidade aparentemente humilde e simples.

No entanto, deve-se levar em conta que Humberto de Campos já havia feito, no final da vida, duas crônicas a respeito do livro Parnaso de Além-Túmulo, suposta psicografia de Chico Xavier. Mesmo de forma um tanto educada, Humberto, embora reconheça a semelhança do estilo dos textos mediúnicos com a produção que os poetas a eles atribuídos fizeram em vida, aponta um certo ceticismo.

No texto Poetas do Outro Mundo, ele chega a ser gentil com o conteúdo do livro: "Eu faltaria, entretanto, ao dever que me é imposto pela consciência, se não confessasse que, fazendo versos pela pela do Sr. Francisco Xavier, os poetas de que ele é intérprete apresentam as mesmas caraterísticas de inspiração e expressão que os identificavam neste planeta. Os temas abordados são os mesmos que os preocuparam em vida. O gosto é o mesmo e o verbo obedece, ordinariamente, a mesma pauta musical. (...) sente-se ao ler cada um dos autores que veio do outro mundo para cantar neste instante, a inclinação do senhor Francisco Xavier para escrever 'à la manière de...' ou para traduzir o que aqueles altos espíritos soprarem ao seu ouvido".

Mas, demonstrando preocupação com o filão de textos mediúnicos, dos quais ele temia uma concorrência desleal com a obra produzida pelos autores atribuídos quando eram vivos, além da sua dúvida quanto à autoria dos poemas aparentemente psicografados

Escreveu ele, neste sentido: "Se eles (os mortos) voltam a nos fazer concorrência com seus versos perante o público e, sobretudo, perante os editores, dispensando-lhes o pagamento de direitos autorais, que destino terão os vivos que lutam, hoje, com tantas e tão poderosas dificuldades? Quebre, pois, cada espírito a sua lira na tábua do caixão em que deixou o corpo".

Em seguida, o escritor chegou a lançar um desafio aos supostos espíritos dos "poetas do além-túmulo": "venham fazer concorrência em cima da terra, com o arroz e o fejião pela hora da vida. Do contrário, não vale".

Já no segundo texto, Como Cantam os Mortos, publicado no Diário Carioca em 12 de julho de 1932, dois dias após o anterior, também no mesmo jornal, Humberto parece ainda mais cético com o conteúdo do livro e pede para que outros autores averiguem melhor seu conteúdo, para verificar o que tem de sobrenatural ou de mistificação.

No entanto, já em 1935, preparando o "livro" que seria publicado na FEB em 1938, Chico Xavier inclui um texto supostamente atribuído a Humberto, um ano após o falecimento deste, na segunda edição de Parnaso de Além-Túmulo. Chico havia dito que "sonhou" com Humberto e resolveu ao longo dos anos publicar obras com mensagens atribuídas a seu espírito.

OBRA RISÍVEL

A obsessão por Humberto de Campos por parte de Chico Xavier se consagrou com o livro Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, lançado em 1938 e cujo conteúdo não trazia surpresas em relação à compreensão um tanto mitológica e ufanista dos fatos históricos brasileiros, dentro da perspectiva oficialesca dos falsos heróis.

Nota-se que, nessa mesma época, já surgia, na França - a pátria de Allan Kardec - uma nova corrente historiográfica que, aproveitando também conceitos da Antropologia e da Sociologia, substituía a abordagem histórica que apenas glorificava políticos, militares e famosos pela abordagem dos fatos sociais em si, inclusive de personagens anônimos, multidões ou hábitos sócio-culturais, independentes de se focalizar algum personagem.

Essa abordagem é a História das Mentalidades, fundada pelo historiador Marc Bloch - morto por tropas nazistas em 1944 - e que constituiu numa transformadora disciplina que revolucionou o processo de pensar a História no mundo inteiro.

Logo quando se lê o livro Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, nota-se que sua narrativa é risível. Parecendo um conto de fadas, o livro mostra um Jesus Cristo infantilizado e meio pateta, que, orientado pelo "anjo" Helil - tido como "superior" a Jesus - a conhecer o Brasil, suposta pátria matriz de uma "nova civilização".

Helil teria sido, segundo o livro atribuído a Humberto de Campos, o Infante D. Henrique de Avis, o Infante de Sagres, militar e navegador português que ajudou nas expedições para o Brasil (oficialmente consideradas "descobertas" pela historiografia oficial). Como em toda mediunidade patrocinada pela FEB (Federação Espírita Brasileira), esta informação também é muito duvidosa.

Como se não bastasse o livro estar muito aquém do estilo literário de Humberto de Campos e que, em que pese o espírito do tempo mostrar o falecido escritor como um intelectual aristocrático, dificilmente ele escreveria um livro desses, sua suposta autoria é simplesmente derrubada com um fato ocorrido nos bastidores do espiritolicismo e ainda pouco conhecido.

O livro Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho teria sido, na verdade, uma reformulação de um texto originalmente escrito pelo palestrante Leopoldo Machado, intitulado Brasil, Berço da Humanidade, Pátria dos Evangelhos, para uma conferência da FEB registrada na revista Reformador, periódico oficial da FEB, edições de 03.10.1934, página 519 e 01.11.1934, página 575.

Aparentemente, não consiste num plágio, desses em que um texto que imite outro gere algum problema de ordem jurídico, mas uma alteração da forma de escrita que mantém o sentido da mensagem do texto da palestra e da obra supostamente mediúnica. O texto do blogue Obras Psicografadas traz mais detalhes sobre o caso.

AUTORIA DUVIDOSA

A viúva e os dois filhos de Humberto de Campos que decidiram processar Chico Xavier e obter, na hipótese de reconhecimento da autoria do espírito do escritor, o pagamento dos direitos autorais, ao verem a causa ser perdida, por declaração de improcedência dada pelo juiz João Frederico Mourão Russell, recorreram de sua decisão.

Baseando-se na tese de que o que vale para os direitos autorais é o que o autor produziu em vida, Mourão Russell julgou o processo inepto, sem deixar claro a questão de autenticidade ou não da autoria atribuída.

No entanto, a família perdeu as ações judiciais, e como protesto chegou a queimar exemplares dos textos psicografados. O advogado da família, no entanto, mostrou argumentos que hoje se mostram convincentes quanto à dúvida sobre a autoria de Humberto de Campos.

Disse o advogado: "Não só está eivada de imperdoáveis vícios de linguagem e profundo mau gosto literário, como é paupérrima de imaginação e desprovida de qualquer originalidade (...) O que é aproveitável não passa de grosseiro plágio, não só de ideias existentes na obra publicada em vida do escritor, como de trechos inteiros, o que é de fácil verificação".

Mais tarde, diversos críticos literários bastante conceituados fariam críticas severas sobre a qualidade de diversos textos atribuídos a escritores famosos aparentemente psicografados por Xavier. Um deles identificaria até mesmo a falha da métrica poética do "espírito" Olavo Bilac, contradizendo o rigor métrico que o poeta parnasiano fazia em vida.

A conclusão que se tem é que Humberto de Campos não teria escrito mesmo Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, uma obra de um ufanismo caricato, tosco e infantilizado, de muitas falhas historiográficas, uma aberração até mesmo para os tempos de intelectualidade aristocrática e predominantemente conservadora como a que foi no tempo do escritor maranhense.

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Irineu Gasparetto imitou John Lennon em programa de TV


O espiritolicismo brasileiro tem dessas tosqueiras. O médium Irineu Gasparetto, da conhecida família que, embora seja ligada ao espiritolicismo, rompeu com a FEB (por interesses meramente pessoais, diga-se de passagem), havia aparecido tempos atrás no programa Jô Soares Onze e Meia, quando o conhecido humorista, hoje à frente do Programa do Jô da Rede Globo, era contratado do SBT.

Irineu havia dito que "recebia" espíritos de músicos falecidos, e havia feito uma demonstração com um suposto contato mediúnico com o músico inglês John Lennon, ele mesmo, um dos integrantes dos Beatles.

O resultado é risível. Nota-se, de cara, que Irineu faz uma imitação tosca do ex-beatle, com um inglês que parece ter sido aprendido num recém-terminado curso de inglês da esquina, uma imitação tão malfeita que está abaixo do que qualquer imitação satírica feita por um humorista de stand up comedy.

Quem acompanhou as entrevistas de John Lennon sabe que ele falava de uma forma peculiar, com seu carregado sotaque de Liverpool e seu timbre próprio, com a dicção própria de um cidadão inglês.

Comparando com a "mediunidade" de Irineu Gasparetto, nota-se que tudo não passa de uma mera imitação, pois Gasparetto não consegue sequer fazer uma imitação convincente de Lennon, e, quando canta, além de parecer piegas, soa extremamente caricato.

Até Liam Gallagher é capaz de fazer uma imitação melhor de Lennon, se comparado com a fraude de Gasparetto, além disso, o ato deve ser questionado levando em conta alguns aspectos da comunicação mediúnica.

Em primeiro lugar, é difícil que espíritos desencarnados estejam disponíveis a qualquer momento para qualquer um. E mais difícil ainda é qualquer um chamar um espírito sem motivo. Alguém acharia que John Lennon, com sua personalidade um tanto desconfiada, iria aparecer assim à toa para demonstrar uma suposta mediunidade num programa de TV?

Nem em sonhos. John Lennon está a mil léguas longe disso. E, se ele fosse realmente convidado para uma demonstração dessas, ele simplesmente diria não. Lennon não aceitaria embustes como este, ele que, numa de suas entrevistas conhecidas, afirmou seu ceticismo até mesmo com sua antiga banda, os Beatles.

Portanto, não valeu. Neste caso, não houve mediunidade. Houve, sim, uma pegadinha. E o vídeo está aqui embaixo para vocês conferirem a enganação.

domingo, 17 de novembro de 2013

Jean-Baptiste Roustaing, o homem que deturpou o Espiritismo


Uma das raízes para a deturpação das lições espíritas do professor Allan Kardec, com toda a certeza, está na publicação do livro Os Quatro Evangelhos, que o advogado Jean-Baptiste Roustaing, também francês, havia publicado em 1866, e que havia sido a obra matriz do "espiritismo" à Brasileira, desde a fundação dos primeiros centros espíritas a partir de 1865.

Aparentemente vinculado a Kardec, pela aparente declaração do codificador de que a obra "não apresenta contradições" com o que Kardec ensinou em O Livro dos Espíritos e O Evangelho Segundo o Espiritismo, o livro passou a ser uma das peças chave para a fundação da Federação Espírita Brasileira, FEB.

Para mim, acho que houve uma tradução mal-interpretada em relação à declaração de Kardec. Aparentemente, Kardec "não vê contradições" entre seus dois livros e o de Roustaing, mas aponta algumas falhas de método e abordagem no livro. Não sou conhecedor de francês, e seria melhor que algum especialista pudesse detalhar melhor essa questão.

O que se sabe é que Roustaing fugiu da essência científica da doutrina de Kardec e publicou Os Quatro Evangelhos - que tem o tendencioso subtítulo de A Revelação da Revelação - se servindo apenas de uma única médium, a madame Emilie Collignon, que havia recebido mensagens atribuídas aos quatro evangelistas do Novo Testamento, Mateus, Marcos, Lucas e João.

Segundo o que afirma Roustaing, os quatro evangelistas teriam ditado as mensagens assistidos pelos apóstolos de Jesus Cristo e pelo profeta Moisés, e o advogado francês teria supervisionado os trabalhos a partir do que madame Collignon registrava de sua mediunidade.

O método foi questionado por Kardec porque o trabalho mediúnico se deu apenas através de uma única médium. Adepto do método cético de René Descartes, famoso matemático, físico e filósofo francês, Kardec recomendava que se consultasse mais de um médium para verificar se as mensagens são realmente dos espíritos declarados, e ainda assim sob a maior cautela possível.

Além disso, Os Quatro Evangelhos têm o mérito comprometido por apresentar uma visão mística e moralista católica, e, entre outros equívocos, investe na tese de que os seres humanos podem reencarnar até como animais, vegetais e vermes, contrariando a linha evolutiva do espírito.

Outro aspecto é que o livro de Roustaing afirma que Jesus não era um homem encarnado, mas um "fluído", o que traz um grave equívoco, porque transforma Jesus em um ente sobrenatural e que, não tendo um corpo físico, teria apenas fingido sofrer o que sofreu, principalmente quando recebeu a condenação ao martírio da cruz.

Apesar das polêmicas, o livro de Roustaing teve receptividade no Brasil pelos primeiros líderes considerados "espíritas". O maior propagandista de Roustaing foi o deputado abolicionista e médico Adolfo Bezerra de Menezes, um dos primeiros a ler os originais franceses do referido livro.

A primeira tradução brasileira só viria 25 anos depois da fundação da FEB. O livro Os Quatro Evangelhos foi editado em três volumes na edição de 1909 traduzida por pelo militar e escritor Francisco Raimundo Ewerton Quadros.

No entanto, a edição definitiva só veio em 1920, quando o engenheiro Luiz Olímpio Guillon Ribeiro traduziu o livro de Roustaing e o dividiu em quatro volumes. É esta a tradução que se encontra no mercado, até hoje, através da editora da FEB.

A polêmica causada pelo livro, que gerou uma reação enérgica dos adeptos do espiritismo científico, que achavam absurdas as ideias difundidas no livro, fez com que o conflito entre roustanguistas (ou rustanistas, num aportuguesamento simplificado) repercutisse de forma problemática nos bastidores do chamado movimento espírita.

Com isso, mesmo com a FEB mantendo Os Quatro Evangelhos como um dos livros básicos de sua "doutrina", aos poucos se esforçou em ocultar a figura de Roustaing, tão misteriosa que não se tem sequer alguma foto que o identificasse.

A enigmática figura de Roustaing, que na França havia tido desavenças com Kardec - que, educadamente, se esforçava em questionar os erros de Roustaing com paciência e habilidade filosóficas - e que, de sua parte, fez do professor lionês seu desafeto, hoje é esquecida e pouco difundida pelo espiritolicismo, apesar de suas ideias continuarem valendo.

Afinal, descontado o absurdo da reencarnação em forma de vermes, animais ou vegetais, a FEB manteve o legado de Roustaing que, na sua "doutrina espírita", contribuiu sobretudo no desenvolvimento de ritos inspirados no Catolicismo - como a "água fluidificada" para a "água benta" católica, o "auxílio fraterno" para o confessionário, os médiuns "sacerdotais" etc.

Além disso, a herança de Roustaing - dissimulado hoje pela memória espiritólica como um moleque que quebrou o vidro da casa de alguém e foge - se estendeu também pelas visões moralistas, pelo misticismo extremo e surreal e pela verborragia pseudo-científica que o espiritolicismo utiliza nos nossos dias.

Hoje os ideólogos do espiritolicismo tentam, erroneamente, atribuir as ideias de Roustaing a Allan Kardec, já que é de praxe a FEB forçar o vínculo definitivo entre esses dois autores, de abordagens completamente diferentes e opostas do conhecimento espírita, com a vantagem real para Kardec, cujo trabalho científico é praticamente ignorado pelos "espíritas" do Brasil.

sábado, 16 de novembro de 2013

Chico Xavier pode não ter psicografado todos seus livros

CHICO XAVIER TINHA COMPROMISSOS DE VERDADEIRO POPSTAR, COMPARÁVEL AO DO ÍDOLO POP MICHAEL JACKSON.

O médium Chico Xavier, católico promovido a "astro" do "movimento espírita" pela FEB, pode não ter psicografado rigorosamente todos os livros atribuídos à sua contribuição nesse processo. É certo que Chico foi, de fato, médium, mas ele apenas psicografou uma parte da sua bibliografia oficial, principalmente os seus primeiros livros.

A constatação é desagradável para muitos fãs de Chico Xavier, mas é bastante provável. Isso porque seria impossível que, para uma personalidade que o médium mineiro se tornou, ele tenha realmente lançado uma enorme quantidade de livros em um só ano. Só em 1988. foram atribuídas 15 obras à sua autoria como médium.

Não se escreve livros com a velocidade de um relâmpago. Nossa matéria física não permite isso. As limitações do peso do corpo físico não permitem que livros sejam escritos como se fossem num apressado rabisco em cada página.

Livros geralmente levam pelo menos dois ou três meses para serem lançados, incluindo o processo de escrita, revisão e edição. Isso quando são publicações simples, de pelo menos 150 páginas. Seria preciso um ano de 48 meses para que, dentro dos parâmetros de um trabalho menos sobrecarregado, fosse lançada a quantidade de livros atribuída anualmente a Chico Xavier.

Além disso, Chico Xavier havia se tornado uma celebridade, e como tal precisava receber centenas de pessoas por dia, dar entrevistas, participar de cerimônias, reuniões e palestras, entre tantos outros compromissos.

A agenda de Xavier era sobrecarregada demais para que ele tenha realmente publicado rigorosamente todos os livros de sua autoria. Os compromissos de Xavier o faziam um ídolo comparável ao de um popstar como Michael Jackson. Com toda a agenda em que era submetido a cumprir.

É verdade que, no auge de sua popularidade, antigos astros como Elvis Presley e Carmem Miranda sobrecarregavam suas agendas com turnês fatigantes. Mas será mesmo que Chico Xavier poderia dar conta de tantas gentes a receber, tantos compromissos para marcar presença e produzir centenas de livros em cada ano de apenas 365 ou 366 dias?

Não será a fé a dar respostas para isso. A lógica torna discutível que Chico Xavier, com sua agenda já suficientemente sobrecarregada, tenha realmente produzido 100% do que lhe é atribuído na bibliografia. Ele era um ser humano, não uma criatura sobrenatural. E, repetimos, não se produz um livro como um relâmpago.

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

FEB distorceu as lições do professor Rivail


A Federação Espírita Brasileira, embora oficialmente seja a mais representativa entidade do espiritismo no Brasil, simplesmente traiu os princípios originalmente transmitidos pela doutrina sistematizada pelo professor Hyppolite Leon Denizard Rivail, através de seu pseudônimo Allan Kardec.

Isso porque a FEB, embora em seu estatuto assuma supostamente sua fidelidade às lições de Kardec, corrompeu seus ensinamentos inserindo neles elementos do catolicismo medieval, que havia sido vigente no Brasil colonial e que, ainda no final do Segundo Imperio (1884, quando a FEB foi fundada), havia influenciado seus membros fundadores.

Através dessa trajetória de distorcer os ensinamentos espíritas oficiais em prol de um "cristianismo redivivo" - levando em conta o termo "cristianismo" sob a perspectiva do catolicismo punitivo da Idade Média - , a FEB fez distanciar as lições espíritas do estudo científico para submetê-las a ritos e valores do misticismo católico mais antiquado.

As distorções variam desde a banalização de obras mediúnicas sem que haja qualquer disciplina no processo de mediunidade - que, distante dos procedimentos de cautela recomendados por Kardec, se sujeitou, não raro, a fraudes e "trotes" espirituais - até mesmo a promoção de um moralismo familiar mais retrógrado.

Em contrapartida, foram deixados de lado os estudos científicos para a comunicação com espíritos falecidos ou as pesquisas em torno do Magnetismo de Franz Anton Mesmer, teoria científica que influiu o professor Rivail, notável pedagogo francês, no seu interesse por fenômenos espirituais.  Infelizmente, não há uma obra de Mesmer traduzida no Brasil.

Ao longo do tempo, mostraremos as distorções que aconteceram e acontecem no "movimento espírita" comandado pela FEB ou promovido até mesmo por dissidentes que ainda sofrem a influência dessa visão distorcida da doutrina espírita.

O que se sabe é que, desde a fundação da FEB, em 1884, e o lançamento do Pacto Áureo - documento que estabeleceu as diretrizes atuais desse "espiritismo" deturpado, conhecido como "espiritolicismo" - , em 1949, muita coisa foi feita para pôr abaixo a essência verdadeira das lições do professor Rivail, incluindo traduções deturpadas da obra kardequiana a partir da própria FEB.

Este blogue procurará esclarecer as irregularidades da doutrina, embora, eventualmente, mostre também algumas postagens satíricas, como há momentos de humor nos jornais.
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