quarta-feira, 20 de maio de 2015

"Espiritismo" usa moral para desviar o foco de suas responsabilidades


O "espiritismo" que se faz no Brasil perde muito tempo sendo um receituário moral, já que no fundo a doutrina se desenvolve em completa ignorância à Ciência Espirita e ao pensamento original de Allan Kardec.

A crise sofrida pelo "movimento espírita" faz mobilizar alguns palestrantes que agora falam em "coerência de conduta", remetendo às "bases" de 1975, quando a crise do roustanguismo fez a cúpula do "movimento" criar um padrão ideológico aparentemente estável e "equilibrado".

Em tese, o "espiritismo" brasileiro se fundamenta no suposto equilíbrio entre Ciência, Filosofia e Religião. Kardec pregava o equilíbrio entre Ciência, Filosofia e Moral. No seu malabarismo discursivo, porém, os "espíritas" não conseguem esconder a preferência da Religião sobre os outros dois âmbito da vida humana.

A crise motivada pelas críticas que se faz aos desvios graves da doutrina fazem até mesmo com que internautas tentem minimizar os erros, perguntando "Quem nunca erra?" que, sabemos, não passa de uma apologia malandra do erro, em vez de uma autocrítica ou uma consciência de algum defeito.

Os líderes então, nem se fala, eles tentam salvar a doutrina como podem, sem poder mais recorrer as extravagâncias que até recentemente corriam incólumes nos meios "espíritas", quando toda sorte de qualidades surreais ou procedimentos exagerados acontece na doutrina.

Por exemplo, a interpretação do sonho de Francisco Cândido Xavier em 1969 que faz setores do "movimento espírita" classificarem o anti-médium mineiro como uma espécie de "Nostradamus moderno", um cruzamento de "profeta", "cientista" e "estrategista político" não é unanimidade entre os "espíritas".

Vários setores não admitem que Chico Xavier seja promovido a qualidades subliminares, e preferem que ele seja visto tão somente como mensageiro, filantropo e (suposto) médium. Alegam que aquilo que entendem como "doutrina espírita" precisa trocar a "aventura" pelo "equilíbrio".

NÃO HÁ, EM VERDADE, EQUILÍBRIO

E o que é esse "equilíbrio"? É evitar que o "espiritismo" brasileiro se queime com posturas consideradas polêmicas. Daí um padrão que procura, na teoria, manter a doutrina com os "pés no chão", mas, como é de praxe, apenas mantém um ponto de estabilidade, evitando polêmicas.

Isso porque o "equilíbrio" consiste apenas em manter as atividades e pontos de vista considerados inócuos e aparentes. Algo que não provoque "escândalo". Daí, por exemplo, evitar a ênfase no pedantismo científico ou apostar em visões subliminares, a favor ou contra sua doutrina.

Essa corrente "equilibrada", por exemplo, não é capaz de atribuir seguramente a André Luiz qualquer pioneirismo científico, como também não aposta em profecias ou em atribuições fantásticas a seus membros, limitando-se a "rigorosamente" seguir o que a bibliografia brasileira oficial e os exemplos e atividades aparentes já mostram.

Daí o grande medo que os "espíritas" têm de ver uma mensagem espiritual atribuída a Chico Xavier. Há até mesmo um suposto médium especializado nisso, e outros supostos médiuns que alegam terem recebido mensagens de um suposto espírito do anti-médium.

Mesmo o "código secreto" que Chico Xavier deu a três amigos - uma mulher já morreu - , entre eles o filho adotivo Eurípedes Higino, é encarado com apreensão, pois há quem diga que o "maior código" do anti-médium é a sua "filantropia".

Daí a preferência de um "ponto de equilíbrio", adotando o que entendem como uma postura "equilibrada" e "realista" da "doutrina espírita", alegando estarem apenas seguindo a "mais absoluta fidelidade" a Allan Kardec, o que, sabemos, não passa de conversa para boi dormir, porque, em verdade, esse equilíbrio não existe.

CONTINUAM OS DEFEITOS

Afinal, o que eles alegam manter não é um equilíbrio entre Ciência, Filosofia e Religião / Moral, mas a prevalência da Religião sobre outras duas esferas. É reduzir o "espiritismo" a um receituário moralista, um misticismo religioso e um arremedo de filantropia que mantém toda a distância ao pensamento científico de Allan Kardec, apesar da tão alegada "fidelidade".

O que se observa é que o aspecto "moral" é um desvio de foco das responsabilidades originais do Espiritismo, que o "movimento" nunca se interessou em seguir no Brasil. O desconhecimento da Ciência Espírita continua e se admite as supostas psicografias de seus pretensos médiuns como "verdadeiras", sem muitas delongas.

Descartam-se práticas "escandalosas", como a materialização, as "profecias" e outras atividades "mais ousadas". Silencia-se sobre o assunto, para evitar os tais "dissabores". Mantém-se apenas a legitimação das "psicografias" de Chico Xavier, focalizando apenas os livros e as cartas.

Essa corrente "equilibrada" prefere descartar nomes polêmicos como Jean-Baptiste Roustaing, Amauri Pena, Otília Diogo, "Data-Limite", "crianças-índigo" e histórias surreais envolvendo Bezerra de Menezes se "materializando" para chamar a polícia e prender um grupo de estupradores que assediavam uma jovem ou  para guiar caminhões de comida para dar aos pobres.

Evitando o "fantástico" que se torna por demais polêmico, isso não quer dizer que a postura "sóbria" desses setores do "movimento espírita" esteja em conformidade com o pensamento de Kardec, Pelo contrário, o distanciamento ainda é completo.

A ênfase continua sendo num religiosismo de herança católico-medieval, com seus ritos e dogmas, numa valorização exagerada e materialista dos assuntos envolvendo a instituição Família - tema associado à maioria esmagadora das palestras nos "centros espíritas" - e ao mesmo assistencialismo aparentemente terapêutico e filantrópico que se sabe.

Dessa forma, o que se vê, na verdade, não é um Espiritismo trabalhado em níveis saudáveis e equilibrados, mas apenas uma forma organizada e estável de deturpação, em que uma doutrina totalmente diferente da de Allan Kardec, ainda que usando o mesmo nome, adota uma postura estável e uniforme, muito mais para evitar polêmicas do que para criar algum tipo de coerência.

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