sábado, 16 de maio de 2015

A ilusão de perfeição e prosperidade dos brasileiros


O Brasil é um país em crise. Desde o golpe militar de 1964, o Brasil acumulou retrocessos sucessivos dos quais as pessoas não percebem, pela ilusão de prosperidade, perfeição e felicidade em que se encontram nas suas "zonas de conforto".

A maioria dos brasileiros ainda vive o país como se estivesse no período do "milagre brasileiro" do governo do general Emílio Garrastazu Médici. Não é preciso imaginar que há também intenso reacionarismo na Internet, com internautas defendendo o "estabelecido" pela mídia, pela política e pelo mercado do entretenimento ou expressando preconceitos machistas e racistas.

Essas pessoas dotadas de muita intolerância são capazes até de criar blogues que publiquem ofensas e calúnias contra quem discordar delas, fazendo de tudo: copiando textos dos desafetos, publicando fotos íntimas ou dos tempos de infância, acrescidos de piadas maldosas e gozações violentas. E ainda ameaçam quando são advertidos.

O Brasil está há 30 anos sob regime democrático, sendo que há 26 anos é permitido ao povo brasileiro votar para presidente da República. Mas o inconsciente coletivo ainda está preso no "milagre brasileiro", para o bem e para o mal, para o conformismo dos acomodados e para a agressividade dos arrogantes e intolerantes.

Só que diagnosticar essa crise, tocar nas feridas que estão há muito tempo no nosso país, incomoda muita gente. Vide, por exemplo, a opção recreativa dos brasileiros de fugir de qualquer questionamento crítico da realidade, um medo de enfrentar os problemas e reconhecer que tudo está errado, até mesmo no lazer.

Até no uso da Internet, parece que a coisa declinou. Em vez de pessoas aproveitando a interatividade no computador para expor ideias e questionamentos, há agora o uso de telefones celulares e computadores tablets, dos quais se limitam a movimentar os dedos para ver o que há, de preferência, de mais inofensivo nas mídias sociais.

É um tal de "curtir" e escrever "kkkkkkkk" (onomatopeia para risadas histéricas) e de submeter ao deus "tecnologia", porque as pessoas mal conseguem substituir o teclado preciso dos computadores de mesa pelo tecladinho do celular em que as pessoas mal se dispõem a teclar com um único dedo alguma frase e acabam sucumbindo ao pobre e primário "internetês", que escreve "flw" e "vlw" em vez de "falou" e "valeu".

As pessoas não saem da euforia consumista e ficam presas em um lazer analgésico, quase narcótico (para não dizer escancaradamente, em casos extremos). Até para ler livros dando preferência para temas místicos, ficções de fantasia, auto-ajudas, diários sobre amenidades feitos por blogueiros da moda, enfim, tudo literatura "água com açúcar".

Há uma ilusão de prosperidade, de felicidade, de perfeição. Questionar isso causa incômodo e mal-estar, as pessoas parecem seguras na sua "zona de conforto", E aceitam bovinamente qualquer retrocesso se ele surgiu de decisões de pessoas dotadas de prestígio da fama, do poder político, da liderança de mercado ou da formação tecnocrática e acadêmica.

É uma ilusão de perfeição que se fundamenta na "perfeição da imperfeição", da apologia dos erros, da vaidade em cometer erros, da satisfação pela acomodação, da falta de autoconsciência das pessoas, que faz com que ninguém saiba o que realmente quer ou precisa, mas tudo fica nisso mesmo.

Por outro lado, porém, há as tensões, os ódios, as raivas, os crimes e violências de pessoas que têm dificuldade de digerir as pressões cotidianas e não aceitam os impasses e problemas que surgem. Ameaçados de deixarem a "zona de conforto", se vingam de uma maneira ou de outra, mostrando seu reacionarismo extremo ou sua violência ignóbil.

Quem é rico parece que não quer dar emprego a quem precisa. Quem é inteligente não se acha interessado em ampliar conhecimentos ou compartilhar questionamentos sobre qualquer coisa trazidos por outrem. Ninguém quer mobilizar-se a não ser impulsionado pela mídia ou pelo mercado. A apatia é geral, mas é uma apatia "feliz" e "tranquila", que em certas pessoas vira raiva quando é contrariada.

É uma normalidade forçada que vem desde os tempos do AI-5. Nem mesmo o golpe militar de 1964 deixou um país tão apático como o que está hoje. E essa acomodação agora atinge em doses intensas o Sul e Sudeste (até mesmo o Rio de Janeiro) antes combativos e evoluídos, agora naufragados num provincianismo de deixar qualquer matuto da Região Norte ficar de queixo caído.

Tudo porque há uma contraditória situação de "zona de conforto", que traz felicidade para quem está acomodado e revolta para quem é tirado de sua normalidade de conveniência. Uma passividade que parece expressar uma estabilidade próspera, mas é apenas uma normalidade aparente que acoberta desigualdades, injustiças, equívocos e arbitrariedades.

E essa situação compromete de forma grave qualquer esperança de ver o Brasil destacado na comunidade das nações, porque esse cenário de acomodação e reacionarismo só mantém o atraso que sempre rendeu uma imagem negativa do nosso país no exterior.

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