quarta-feira, 27 de maio de 2015

O preocupante narcisismo provinciano do eixo RJ-SP

UMA RODOVIA, A VIA DUTRA, LIGA DOIS REDUTOS DE REACIONARISMO E SUPREMACIA DAS ELITES NO BRASIL.

Recentemente, as regiões metropolitanas do Rio de Janeiro e de São Paulo passaram a viver uma realidade estranha: redutos de visões provincianas, de manifestações reacionárias na Internet e da supremacia decisória das elites em todo o Brasil.

O Rio de Janeiro torna-se o caso ainda mais preocupante, pois o surto de provincianismo da cidade faz com que prevaleça um cenário sócio-cultural que envolve do baronato midiático à contravenção, passando pelo fisiologismo político e pela supremacia tecnocrática nas decisões feitas na região.

Focos de extremo reacionarismo, representados principalmente pela revista paulista Veja e pelo fenômeno carioca de Jair Bolsonaro - apesar dele ser paulista, tem domicílio político no Rio - , também preocupam, assim como o narcisismo em geral de cariocas e paulistas que não aceitam questionamentos a respeito do "estabelecido".

Isso é claro quando se vê, no Facebook, a regra megalomaníaca e um tanto egocêntrica que diz "se eu estou bem, tudo está bem". Pessoas que veem a realidade a partir de seus umbigos, e que não aceitam que outros apontem alguma crise aqui e ali.

Para cariocas e paulistas, o que um grupo de tecnocratas, empresários da Comunicação (sobretudo rádio e TV) e do Entretenimento e autoridades dotadas de algum projeto megalomaníaco - como o grupo político de Eduardo Paes, prefeito carioca, para reurbanizar o Rio - sempre têm razão nas suas decisões, ainda que prejudicassem muitas pessoas.

Questioná-las sempre significa provocar a reação um tanto irritada de uma "panelinha" de internautas que acham que o "estabelecido" sempre é bom. Desde a década de 1990, predominou essa visão ligada a objetivos meramente "pragmáticos", que combina projetos, ideias e fenômenos que representam o atendimento a "necessidades básicas" e um potencial de alta rentabilidade.

Culturalmente, isso se reflete desde o rock comercial divulgado pelas rádios 89 FM e Rádio Cidade até o "funk carioca", passando por outros fenômenos, símbolos e valores que, como os dois exemplos citados, levam, respectivamente, o rock e o folclore suburbano apenas ao atendimento de "necessidades" que, de tão "básicas", se tornam abaixo do básico.

Com o nivelamento de valores sociais, políticos, econômicos e culturais por baixo, durante a Era Collor, valores "pragmáticos" foram criados que passaram a decair conceitos e procedimentos de forma a combinar a mediocrização cultural com a alta rentabilidade.

E isso é feito com o respaldo de internautas tomados de complexo de superioridade. Afinal, só porque são cidadãos do eixo Rio-São Paulo, se acham com razão para tudo, se irritando quando alguém aponta algum defeito. Os empresários têm razão, os políticos têm razão, os tecnocratas têm razão, e nós temos que ficar quietos para evitar a fúria dos "cães de guarda" do "estabelecido" nas mídias sociais.

Existe a desculpa inicial de que "não é aquela maravilha, mas é melhor do que nada", que depois evolui para "até que está bom demais, pensando bem", indo para "se você não gostou, caia fora" até que venham as esperadas xingações e ofensas.

As duas regiões metropolitanas ainda são consideradas referências em todo o país. Mas as duas áreas sofreram retrocesso por assimilarem, do Norte, Nordeste e Centro-Oeste marcados pelo coronelismo dos anos 1970-1980. Isso foi dos anos 1990 em diante, quando valores midiáticos e sócio-culturais trazidos pelo coronelismo usaram a "vitrine" do eixo Rio-São Paulo para se reciclarem.

Esses valores coronelistas, que nivelavam a diversidade cultural a um nível de mediocridade para fins "pragmáticos", ameaçavam se desgastar nas capitais nordestinas, centro-ocidentais e nortistas. e por isso as elites locais, se aproveitando das relações econômicas com seus pares no Sudeste, relançavam como "novidade" esses valores desgastados que passaram a valer para todo o país.

Rádios segmentadas desapareceram e deram lugar a rádios convencionais que de forma superficial assumem relativa diferenciação. Grandes artistas perderam espaço para fetiches musicais controlados por empresários habilidosos. O jornalismo decai com veículos cada vez mais inócuos, vazios de conteúdo mas eventualmente sujeito a surtos reacionários constrangedores.

Os espaços culturais continuam, mas boa parte deles se sujeita agora ao entretenimento mais comercial, e mesmo a sofisticação cultural regrediu a conceitos "dinheiristas" de 60 anos atrás. Ver que a chamada música de qualidade hoje é um apanhado de sucessos musicais qualquer nota rearranjados com acordes de lounge ou bossa-nova, é humilhante.

O Rio de Janeiro, com a supremacia do "funk" que ameaça tirar o samba de cartaz (ou isolá-lo na apreciação privada da "galera Zona Sul") e um projeto de Urbanismo e Transportes digno de ter sido feito no período do general Emílio Médici, o provincianismo é tão grande que ídolos pop comerciais decadentes se apresentam na cidade como se fossem "coisa do outro mundo".

A Economia do Rio de Janeiro decaiu tanto que o abastecimento de produtos no mercado deixou de ter o zelo logístico de antes, causando constante falta de produtos não por conta de circunstâncias acidentais, mas por puro desleixo dos gerentes e administradores que parecem mais terem vindo de alguma zona rural de uma cidade perdida na Amazônia, dessas que não passam de satélites do poder latifundiário local.

São Paulo tem uma grande imprensa dotada de visões medievais, como a revista Veja, o jornal O Estado de São Paulo e a Jovem Pan. Rio de Janeiro tem um grupo político com ideias medievais, representados por Eduardo Paes, Sérgio Cabral Filho, Luiz Paulo Conde, Alexandre Sansão, Carlos Roberto Osório, Luiz Fernando Pezão, José Mariano Beltrame, entre outros.

O provincianismo é tanto que o Rio de Janeiro anda condenando a diversidade sócio-cultural de várias formas, através de ônibus com pinturas padronizadas, "rádio rock" com linguagem pop (Rádio Cidade) e "cultura popular" terceirizada e controlada por empresários-DJs espertos, como o "funk".

E isso com o fanatismo futebolista regulando as relações humanas, justamente quando o futebol carioca se reduziu a um "brinquedo" para os interesses de dirigentes esportivos. Quem não gosta de futebol é socialmente discriminado no Rio de Janeiro.

Tanto nas duas regiões metropolitanas, ocorrem mais manifestações de reacionarismo nas mídias sociais, com os ataques racistas ou homofóbicos de alguns internautas e as gozações e comentários irritados de pessoas que não gostam de ver qualquer questionamento contra o "estabelecido" no ramo do Entretenimento, na Política e na Mídia.

O mais grave é que essas regiões podem influenciar o resto do país, com esses pontos de vista bastante retrógrados, mas defendidos por combinarem projetos "pragmáticos" e esperança de alta rentabilidade para os envolvidos. A farra política, financeira e tecnocrática que mediocriza as sociedades dessas regiões preocupa pela prevalência e pela blindagem sócio-midiática nas redes sociais.

É certo que o Norte, Nordeste e Centro-Oeste começam a reagir a muitos desses arbítrios. Cansados de tanta supremacia coronelista, eles repetem o que houve, há cerca de 150 anos, com a escravidão, que começou a ser extinta nos Estados do Norte e Nordeste enquanto ainda se ampliava no "moderno" Sul e Sudeste.

Agora se observa os Estados do Rio de Janeiro e São Paulo tomados de surtos provincianos de fazer qualquer acreano ficar boquiaberto. E os demais Estados do Sudeste e Sul também contagiando na onda provinciana de cariocas e fluminenses, que entre tantas aberrações faz Niterói, a antiga capital do Estado do Rio de Janeiro, se contentar com sua postura subordinada e humilhante em relação à famosa cidade vizinha.

Como é que as duas maiores regiões metropolitanas do Brasil são tomadas de enormes surtos provincianos e ainda se impõem como referenciais para todo o país? E como é que a crise de valores nessas áreas ainda não pode ser questionada nas mídias sociais, sem o risco de serem duramente contestadas por internautas cariocas e paulistas que, no entanto, se comportam como se fossem jagunços do interior do Pará? Que prosperidade nacional se esperará de um contexto destes?

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