quarta-feira, 13 de maio de 2015

Caso de ex-falsificador de quadros é um puxão de orelha nos "médiuns" da pintura


Chuva em Salvador. Não, não é um auto-retrato surreal de Salvador Dali, mas a chuva da capital baiana. Só que, ao lado da tempestade que causou deslizamentos e mortes na famosa cidade (que foi capital do Brasil nos tempos do Brasil colonial até 1763), mostra uma outra "tempestade" que, desta vez, causa "deslizamentos" na Cidade da Luz, no bairro de Pituaçu.

Pois enquanto José Medrado realiza espetáculos de "pinturas mediúnicas", que mostram a mesma caligrafia de assinatura e os mesmos traços toscos que mal conseguem imitar os estilos originais dos pintores falecidos, um alemão que era conhecido como o maior falsificador de quadros do mundo decidiu, depois de deixar a prisão, pintar quadros próprios.

Wolfgang Beltracchi, de 64 anos, faislficava quadros de vários pintores consagrados, como Max Ernst, Heinrich Campendok, Max Pechstein, Fernand Léger, André Derain, procurando imitar os seus estilos com o máximo de perfeição.

Com sua fiel esposa Helene Beltracchi, ou Helen, como era conhecida nos tempos de fraudes, combinavam toda uma farsa que conseguiu até certo momento enganar algumas das mais conceituadas galerias de arte.

Helen chegou a participar de uma farsa em que fez se passar por sua própria avó para inventar a estória de que esta havia comprado uma coleção de quadros do galerista alemão Alfred Flechtheim, na década de 1930. Para isso, Wolfgang e Helen pegaram papéis de cuchê da época e neles imprimiram fotos em preto e branco dela, vestida a caráter e editada para parecer afetada pelo tempo.

A farsa foi desmontada por acaso. Ao examinarem a cópia falsificada do quadro Rotes Bild mit Pferden (1914), de Heinrich Campendonk, constataram que foram utilizados pigmentos de branco titânio, que não existia na época em que a moldura foi produzida.

Com isso, Wolfgang foi detido e condenado a seis anos de prisão, e Helen a quatro. Depois de sair da cadeia, ele decidiu deixar a falsificação para se tornar um pintor de suas próprias obras. Deu seu depoimento ao documentário A Arte da Falsificação (The Art of Forgery), de 2014.

Com seus quadros próprios, em que Wolfgang se desprende da obrigação de copiar os estilos de outros pintores e desenvolver seu próprio estilo, foi montado o repertório para a exposição intitulada Liberdade, em exibição na galeria Art Room 9, em Munique, na Alemanha.

Através desse exemplo, ficamos refletindo o quanto pessoas com alguma capacidade de pintura tentam enganar as pessoas com uma suposta "mediunidade", "recebendo" pinturas na penumbra dos auditórios "espíritas", criando um chamariz sensacionalista para sua suposta filantropia.

Alegando receberem obras inéditas de artistas falecidos, os "médiuns" brasileiros da pintura nem são muito habilidosos, não conseguindo enganar com pinturas que apresentam sérios problemas de estilo em relação aos pintores originais, e das quais os "pictopsicógrafos" não medem escrúpulos em apresentar uma mesma assinatura: a deles mesmos.

Não raro essas pinturas só mostram um mesmo estilo: o dos supostos "médiuns", e José Medrado, de acordo com análises, não consegue trabalhar a diferença entre Monet e Manet, criando um mesmo estilo de pintar de vasos de flores a crianças.

Seria muito mais edificante que, em vez de forjar uma pintura mediúnica que não existe, fossem feitos quadros de autoria própria assumida, obras próprias, sem usar os nomes de ilustres falecidos mas tão somente o de seu modesto autor, porque, embora isso chame muito menos atenção das pessoas, é infinitamente muito mais honesto e sincero.

Usar a fraude para produzir sensacionalismo é algo que nem o pretexto da caridade resolve. Pelo contrário, quadros como esses são leiloados e vendidos com preços caros, adquiridos por colecionadores que levam gato por lebre. Pensam levar um novo trabalho trazido por um pintor do além e levam uma obra mediana que de forma acanhada só expressa o estilo do "médium".

Daí o exemplo de Wolfgang Beltracchi representar um grande puxão de orelha para os supostos médiuns da psicopictografia. Para não dizer um grande soco na barriga dos que enganam as pessoas se passando por recebedores de pinturas do além. A Cidade da Luz estremece.

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