domingo, 31 de janeiro de 2016

"Espiritismo" e a manobra ideológica da "união fraterna"


O "movimento espírita", nos momentos em que a discordância e o conflito batem à sua porta e nas ocasiões em que as contestações a ele se tornam mais rigorosas, faz jogo de cena e, sob o pretexto de ser vítima de "lamentáveis campanhas de ódio", pede "união" e "solidariedade" ante "tamanhas tempestades".

Com isso, investe em declarações chorosas, reforçando seu igrejismo, pedindo "mais fé em Deus" e "mais amor em Cristo", e pregam a "união fraterna" e a "solidariedade" como forma de superar tais turbulências.

Só que a gente sabe que esse discurso de "união", tão vago quanto carregado de muita pieguice, é completamente inócuo. Afinal, de que forma nos "uniremos"? Para que causa iremos "nos solidarizar" que não sejam as causas abstratas da "fé em Deus" e do "amor em Cristo"?

Isso os "espíritas" não sabem explicar. É bem provável que não queiram. E, como o "espiritismo" brasileiro é movido por conceitos herdados do Catolicismo português, de herança medieval, a ideia que temos é a "união" no sentido de "juntar o rebanho", de "não deixar o gado se perder".

A ideia de "união", trazida por ideologias manipuladoras e com tendência dominante, esconde, na verdade, um mecanismo de juntar pessoas para obedecerem a alguma causa em jogo, atraindo o maior respaldo possível a alguma causa em jogo, no caso a deturpação "espírita".

Na história do "movimento espírita", campanhas de "união" e "solidariedade" sempre tiveram como propósito a supremacia da tendência religiosista da doutrina, e isso é coisa que vem desde os primeiros anos da Federação "Espírita" Brasileira.

O então presidente da FEB, o médico Adolfo Bezerra de Menezes - que ainda necessita de uma biografia imparcial e realista, despida de deslumbramentos religiosos e idolatrias sem nexo - é oficialmente tido como "unificador", resolvendo as discordâncias de forma que prevalecesse a causa roustanguista que transformou a Doutrina Espírita num engodo igrejista.

Com os incidentes e impasses ao longo dos anos, é risível o decorrer das manobras "unificadoras" do "movimento espírita". Em 1884, um falso Allan Kardec, em mensagem "espiritual" trazida estranhamente em língua portuguesa, pedia para as pessoas se unirem em torno da "Revelação da Revelação", alusão ao subtítulo do livro Os Quatro Evangelhos, de Jean-Baptiste Roustaing.

Na crise do roustanguismo, que se acentuou sobretudo com a aposentadoria de Antônio Wantuil de Freitas, que no começo dos anos 1970 saiu da presidência da FEB e, doente, faleceu em 1974, um falso Bezerra de Menezes, em mensagem também tida como "espiritual", afirmava seu "arrependimento" pela postura roustanguista e pedia para as pessoas se unirem em torno de Allan Kardec e apelava para que todos se "kardequizarem".

Era, na verdade, uma postura tendenciosa. Dr. Bezerra "reaparecia" em mensagens diversas divulgadas por Francisco Cândido Xavier e Divaldo Franco. Roustanguistas, Chico Xavier e Divaldo Franco viram o navio da cúpula da FEB se naufragar e, portanto, tinham que "mudar de barco" e se aliarem aos "espíritas" tidos como "kardecistas autênticos".

Desconfiado, Carlos Imbassahy, o pai, um dos críticos mais enérgicos da deturpação "espírita", havia denunciado esta corrente do "movimento espírita", pelo oportunismo que representavam alguns roustanguistas "dissidentes". Também chama-se a atenção quanto ao verbo "kardequizar" (e não "kardecizar", que sugere um igrejismo sutil, por ser uma corruptela do termo "catequizar".

O verbo "catequizar", que corresponde à educação feita para converter laicos, pagãos e hereges à Igreja Católica, foi uma prática que a História do Brasil registra como o método de ensino dos jesuítas. Um dos jesuítas conhecidos, o padre Manuel da Nóbrega, reapareceu no "movimento espírita" através de Chico Xavier e usando o codinome Emmanuel, referente a "Ermano Manuel" ("Irmão Manuel", em português arcaico) dos tempos coloniais.

Foi a corrente dos "kardecistas autênticos" que passou a prevalecer no "movimento espírita" a partir dos meados da década de 1970. Uma corrente contraditória, da qual seus seguidores e ideólogos juravam a "fidelidade absoluta" a Allan Kardec, mas expressavam um igrejismo evidentemente de influência católica, que seus malabarismos discursivos tentaram, em vão, esconder.

Essa corrente se tornou traiçoeira porque seus ideólogos faziam de tudo para manter a aparência "kardeciana". permitindo que se façam textos com ligeiras abordagens "científicas" e que se até se use, desde que de maneira tendenciosa, os alertas de Erasto contra os "inimigos internos" do Espiritismo.

Essa apropriação era uma amostra da astúcia dos "kardecistas autênticos" que escondiam sua própria condição de deturpadores do Espiritismo. Eles, os verdadeiros inimigos internos, como lobos em pele de cordeiro, se passariam por "fiéis seguidores de Allan Kardec" ao "denunciar" os "outros inimigos", enquanto eles mancham o Espiritismo com seu igrejismo mal disfarçado de "espiritismo de verdade".

E aí é o que vemos na fase atual do "movimento espírita". Prevalece uma abordagem igrejista, de inspiração roustanguista, mas muito mal disfarçada na pretensa combinação entre Ciência, Filosofia e Moral. E, o que é pior, com os espertalhões "espíritas" fingindo "respeito rigoroso ao pensamento de Kardec" e até fazendo que "denunciam" os "igrejismos" e "vaticanizações" da Doutrina Espírita.

E é isso que o "movimento espírita" quer. Que nos "unamos" na deturpação dissimulada que eles fazem. Que aceitemos suas contradições e seus erros, seu moralismo, seu igrejismo, e fiquemos felizes porque eles são "bonzinhos" e ilustram seus textos e palestras com coraçõezinhos, crianças alegres ou ilustrações pseudo-científicas de seres humanos.

Daí que existem armadilhas até no discurso "unificador", em que a demagogia esconde processos de dominação e manipulação. A ideia é "unir as pessoas" como se fosse juntar um gado, um rebanho, para que sofrêssemos "felizes", como "ensinou" Chico Xavier, unidos num mesmo deslumbramento religioso e num modo de vida "qualquer nota".

Fora das felizes alegorias, isso quer dizer que, como na canção de Zé Ramalho, tenhamos que viver uma "vida de gado" da . Povo marcado, povo "feliz".

sábado, 30 de janeiro de 2016

E tudo começou com um mero comércio de livros


Realmente, o "espiritismo" é uma religião cheia de absurdos e as pessoas não percebem isso. Acham que é a "doutrina da solidariedade" ou a "religião da bondade" e se apegam demais a seus mitos e totens, muitas vezes com cego fanatismo. Não sabem o que está por trás das aparências.

A condescendência dos "espíritas" quanto aos erros doutrinários é tanto que muitos incautos acreditam que basta ler melhor Allan Kardec, nas traduções de José Herculano Pires, que irá resolver o problema. Não vai.

Afinal, ler as traduções de Herculano Pires só é o primeiro de uma série muito longa de passos. Se as pessoas leem estas traduções, que melhor correspondem ao texto original de Kardec, mas acreditam como "legitima" a pseudo-psicografia atribuída a Humberto de Campos, isso significa que os erros continuam acontecendo.

As pessoas nem percebem que o mito de Francisco Cândido Xavier foi construído com os interesses comerciais da Federação "Espírita" Brasileira para vender livros. e que ganhou um reforço sob a influência que Malcolm Muggeridge, com seu documentário sobre Madre Teresa de Calcutá, exerceu sobre a grande mídia e o "movimento espírita".

Daí que o mito de Chico Xavier, que fascina tanta gente, não passa de uma armação que veio, primeiro, da ganância dos chefões da FEB, que queriam vender livros "em nome da caridade" e, depois, com a associação dos mesmos com os barões da grande mídia brasileira.

As pessoas deveriam parar de serem ingênuas. Afinal, se há gente que parece empolgada demais quando o lucro que "vai para a caridade" é consumado, é bom estranhar. Ninguém fica feliz demais porque uma grande soma de dinheiro se acumula para os necessitados. Se alguém fica feliz quando vê muito dinheiro em suas mãos, não é para os pobrezinhos que a maioria dessa grana irá se destinar.

Observando bem, a euforia é demais. Diz a anedota que é uma alegria maior que a festa. E se existe tanto burburinho porque os livros de Chico Xavier vendem que nem artigo de liquidação, é porque algo traiçoeiro existe. E, se em muitas atividades filantrópicas, desvia-se dinheiro e bens para o gozo ou o comércio pessoal dos poderosos, na roustanguista FEB não poderia ser diferente.

Chico Xavier era um plagiador de trechos de obras literárias e um criador de pastiches não muito sofisticado, mas correto. Podia elaborar textos rebuscados, com linguagem aparentemente erudita, mas era incapaz de fazer textos que deem prazer de ler, que sejam de fácil entendimento e expliquem muito com poucas palavras.

Pelo contrário, ele escrevia textos que tinham vícios de linguagem, passagens prolixas, narrativas pesadas. É isso que se observou no caso Humberto de Campos e só uma leitura comparativa entre o que este autor deixou em vida e as obras supostamente atribuídas a seu espírito que se desmascara a farsa. O "espírito Humberto de Campos" escreve de forma bem diferente do que o autor maranhense.

A combinação de moralismo religioso, misticismo herege e pseudociência herdados de valores medievais fazia o "espiritismo" se tornar intragável e indigesto, daí que é necessário criar um mito associado ao "amor e bondade" e que personifique, mesmo sob os preconceitos elitistas e paternalistas, uma concepção conservadora de "humildade" e "superação".

E aí o mito de Chico Xavier foi construído, aproveitando os pontos fracos de uma sociedade acomodada e radicalmente conservadora. O mito do "interiorano humilde", que as manobras da FEB tentavam colocar acima de qualquer escândalos, tentando fazê-lo imune a qualquer incidente, foi decisivo para os interesses comerciais da federação.

Chico Xavier era um roustanguista convicto, mas tinha muito medo de assumir esta postura. Na verdade, ele nunca foi "espírita" e, até 30 de junho de 2002, ele nunca foi com a cara de Allan Kardec, o qual o "médium" mineiro, no fundo, achava um "grande chato", cujos livros lhe eram de difícil compreensão.

No entanto, ele foi empurrado ao longo dos tempos para "representar a Doutrina Espírita", e seu mito se agigantou. Houve oportunidades de Chico Xavier ser desmascarado, em 1944 e 1958. Em 1944, os juízes, melindrosos com o estereótipo "humilde" do "caipira inocente", não permitiram levar adiante o processo judicial contra Chico Xavier e a FEB.

Já em 1958, as denúncias de fraude na "mediunidade", trazidas pelo sobrinho Amauri Xavier Pena, fizeram a FEB recorrer a uma campanha difamatória contra o rapaz, com o apoio de vários "espíritas" que escreveram coisas rancorosas contra o jovem, que recebeu acusações infundadas (ele era tido até como "falsificador de dinheiro"), foi maltratado num sanatório "espírita" e teria morrido envenenado, porque é difícil uma pessoa morrer com 27 anos apenas porque "bebeu demais".

Até na crise do roustanguismo quiseram salvar o "midas da FEB", como deveria ser conhecido Chico Xavier. Ele, assim como seu discípulo Divaldo Franco, forjaram falsas mensagens atribuídas ao médico Adolfo Bezerra de Menezes (que teria reencarnado pouco após 1900, como seria de pessoas como ele, provavelmente sendo uma outra pessoa ainda encarnada dos anos 1960 aos 1980, época das supostas mensagens), dizendo-se "arrependido" pelo roustanguismo.

Era uma forma dos ditos "kardecistas autênticos" - termo citado, no sentido contestatório, por Carlos Imbassahy - tomarem o poder, usando Allan Kardec apenas por uma estratégia política, já que a cúpula da FEB, centralizadora e contrária aos interesses das federações regionais, era assumidamente adepta de Jean-Baptiste Roustaing.

Aí foi outro interesse leviano. Os roustanguistas "regionais", com a adesão de Chico Xavier e Divaldo Franco, apenas se opusaram a Roustaing porque ele era o símbolo do anti-regionalismo da FEB, como se este tivesse fundado o Partido de Roustaing e os "regionais" tivessem fundado o Partido de Kardec.

Só que as próprias mensagens do suposto Bezerra de Menezes apelavam para "kardequizar" (e não "kardecizar", como seria de praxe), o que indica uma corruptela do termo "catequizar", o que comprova que o igrejismo de herança roustanguista era mantido em sua essência, com toda a alegação de "respeito e fidelidade absoluta" ao professor lionês.

Até o fato da FEB colocar alguns livros de Chico Xavier para serem publicadas em outras editoras ou, mais recentemente ainda, filmes "espíritas" não muito baratos serem integralmente disponíveis de graça no YouTube, escondem o preço do tendenciosismo, da "livre reprodução" de obras, já que as entidades "espíritas" arrumam outros modos de arrecadação financeira que possam atrair mais gente.

Portanto, são apenas jogos de interesses. E o pessoal feito bobo alegre acreditando que existam pessoas que fiquem felizes porque muito dinheiro lhes chega nas mãos para ser passado para pessoas humildes. Se isso fosse realmente verdade, teríamos sentido a diferença em todo o país, mas o problema é que a pobreza continua havendo e até se agravado nos últimos tempos.

Daí que as atividades do "movimento espírita" são dotadas do mais puro tendenciosismo, e a boa-fé de muitos faz com que não se perceba o "espírito" da coisa. Pois enquanto as pessoas acreditam inocentemente na "bondade mais pura", mal conseguem perceber que essa retórica toda não passou de um apelo para vender mais livros e enriquecer dirigentes religiosos.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Empregadores têm medo de contratar pessoas inteligentes


O mercado de trabalho é cruel. Se existe desemprego em grande quantidade, não é porque há escassez de ofertas. É possível, mesmo em tempos de crises, melhorar as ofertas de empregos e flexibilizar os critérios, mas a desigualdade econômica com a má distribuição de renda e a corrupção dos critérios de admissão para emprego impedem ou dificultam tais soluções.

Numa época em que o mercado de trabalho, a pretexto de permitir um trabalho "mais humano", passou a contratar piadistas para os postos de trabalho, temos que repensar a situação. É o contexto de um país marcado pela mediocridade e viciado em paradigmas que, muitas vezes, vêm desde a ditadura militar, em que as pessoas pensam que retomar o "milagre brasileiro" é a solução para resolver a crise.

O próprio fato de buscarmos velhas fórmulas para novos problemas é um vício, num país que tem medo de verem se romper paradigmas que faziam mais sentido na Era Geisel. Até agora não conseguimos nos desvencilhar das eras Médici e Geisel. Ainda pensamos o Brasil como se estivéssemos em 1970 ou 1974. Até muitos dos heróis e anti-heróis são dessa época ou efeito daqueles tempos.

O mercado de trabalho passou por uma sucessão de contratações marcadas pela incompetência, favorecidos pelo jogo de interesses e pela troca de favores. Talento é o que pouco importa. A rotina de trabalho virou algo "qualquer nota", qualquer idiota aprende o básico de um procedimento de trabalho e fim de papo. São os chamados "macetes".

Infelizmente, já estamos nas terceiras ou quartas gerações de empregados incompetentes, que, como numa doença contagiosa, espalharam o mal para os ambientes de trabalho. Daí que o padrão de trabalho acabou sendo o da mediocridade dissimulada, um "talento" que supostamente é "facilmente adquirido", porque saber fazer, de verdade, não importa, bastando aprender uns "macetes" e estabelecer relações de alianças e conchavos aqui e ali.

E aí, modismos de "profissionais ideais" são criados para evitar que pessoas inteligentes entrem no mercado de trabalho, pelo menos com a frequência e a normalidade que havia antes. Durante muito tempo houve o mito do "experiente de pouca idade", um profissional com idade de estagiário e carreira de veterano, uma insólita ruptura das relações temporais entre atividade e formação biológica.

Como esse mito pegou mal e os noticiários passaram a denunciar os preconceitos do mercado de trabalho às pessoas com mais idade, o mito, sem ser totalmente extinto, reduziu sua frequência de exigência. Mas agora outro mito ridículo começa a surgir, que é a do "profissional piadista".

É aquele profissional que geralmente apenas cumpre corretamente suas funções. Profissionalmente, é um profissional que não fede nem cheira. Mas, no cotidiano do trabalho, é aquele indivíduo que tem sempre uma piada ou brincadeira pronta. "E aí, minha tia? Seu filho está crescido, daqui a pouco vou olhar pra cima para falar com ele", diz o funcionário-comediante para a freguesa. "Você passou por mim e não sorriu, minha gata", tenta dizer o funcionário-comediante para a colega que nem agiu com indiferença, mas estava quieta na sua.

Só quando o patrão canastrão é mais ambicioso e tendencioso é que os critérios de contratar pessoas inteligentes se tornam mais "justos". Na Rádio Metrópole FM, de Salvador, o corrupto ex-prefeito de Salvador, Mário Kertèsz, convertido a um dublê de radiojornalista sem ter formação para tal, faz questão de ter jornalistas autênticos, com diploma de preferência na UFBA, para trabalharem para ele.

É uma manobra que está longe de ser generosa, num mercado jornalístico em que veículos como a Folha e a Abril claramente não aceitam jornalistas autênticos. Afinal, a Rádio Metrópole é tão tendenciosa quanto a revista Veja, e os surtos reacionários do pseudo-progressista Kertèsz, como um Dr. Jekyll do rádio baiano, são de fazer Reinaldo Azevedo cair da cadeira de tanto pasmo.

A diferença é que, como Mário Kertèsz é um incompetente radiojornalista (escreve mal e, não raro, tenta opinar sobre o que não entende), ele precisa se apropriar da inteligência de profissionais competentes e usá-la em causa própria, vinculando o talento de seus subordinados à vaidade pessoal do patrão. Isso é o que está em jogo na emissora, que tem o "espírita" José Medrado como um de seus contratados.

Isso é ruim, porque os profissionais competentes, se encontram alguma oportunidade no mercado de trabalho, é sempre em lugares errados. E como é o Brasil da Teologia do Sofrimento de católicos e "espíritas", os mais talentosos têm que trabalhar em empresas medíocres, enquanto os medíocres exercem funções e cargos que deveriam ser mais exigentes em talento. O "lindo sofrimento" consiste nos melhores talentos se servirem a patrões estúpidos.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

"Espiritismo" quer privatizar a bondade humana

SEGUNDO OS "ESPÍRITAS", POBRES ESTÃO RECEBENDO SEU "ALIMENTO".

O "espiritismo", doutrina marcada por tantas irregularidades, de maneira bem mais traiçoeira que as seitas neopentecostais - que, com todos seus aberrantes erros, pelo menos expressam honestidade doutrinária, não vendem a fé travestida de "ciência" - , se autodefine como a "religião do amor, da bondade, da paz e da caridade". E, por incrível que pareça, isso não é bom.

Isso é muito ruim, porque não faz sentido colocar a paz e a bondade como diferenciais de uma religião, ou mesmo de uma instituição ou pessoa. Se alguém acredita nisso, é porque as pessoas acreditam não em valores bons e solidários, mas consideram como padrão moral a maldade, a corrupção e a avareza.

Poucos conseguem ver os malabarismos de um discurso engenhoso. Se levarmos em conta a aparência do discurso, temos sempre retóricas positivas, boas, admiráveis. E ninguém consegue perceber que mesmo crueldades podem ser justificadas pelos mais belos e necessários motivos.

Passamos por uma ditadura militar que surgiu para "garantir a democracia". Em nome da "liberdade", chegou-se a matar pais de família e filhos estudiosos, apenas porque eram acusados, muitas vezes de maneira leviana, de "atividades subversivas".

Crimes de homicídio eram feitos diante de bandeiras moralistas como "legítima defesa da honra masculina" e "direito à propriedade". Demissões de trabalhadores eram feitas usando a justificativa do "saneamento da empresa" e da "recuperação de finanças".

As pessoas, no seu conforto, não percebem isso. A Teologia do Sofrimento é considerada "linda" porque não é com a própria pessoa. É "lindo" dizer que os outros que sofrem as piores coisas na vida são "beneficiados" e "felizes", porque terão graças futuras, sem perceber o lado cruel da ideia.

E aí, nesse "mundo cão" em que vivemos, as pessoas ficam felizes porque o diferencial de alguém é a "bondade". Infeliz de quem acredita que a bondade é "diferencial", porque toma sempre como padrão a maldade e a bondade só aparece como uma qualidade excepcional.

Isso lembra aqueles comentários esnobes de internautas nas mídias sociais, quando certos rapazes reclamam porque só atraem moças que não têm a menor afinidade com eles. Os internautas, com aquela generosidade típica do Amigo da Onça, recomendam os infortunados a aceitar as pretendentes, porque elas, "pelo menos", são "boazinhas".

No caso do "espiritismo", a sua presunção em afirmar a "bondade" como seu "diferencial" é uma forma de mascarar suas irregularidades. Assim, tem-se a ideia de que, se admitir que a doutrina brasileira não consegue apreciar direito o pensamento de Allan Kardec, pelo menos é "válida" porque promove a  "paz, caridade e solidariedade".

Desta forma, o "espiritismo" tenta privatizar a bondade humana, criando nela seu "proprietário", Deus, e seu "sócio majoritário", Francisco Cândido Xavier, que de um católico esquisito de tendências paranormais foi transformado num vice-deus que escraviza o Brasil.

Embora os "espíritas" tentem dizer que a "bondade" é um "bem de todos", e que "qualquer um pode fazer, até mesmo um ateu", eles tentam argumentar de forma que é o "movimento espírita" que "melhor trabalha" as ideias de "bondade", "paz" e "solidariedade".

O Brasil não consegue entender a retórica. Um país de Educação precária e pouco estímulo à leitura, mesmo da parte das elites, e cujo mercado literário foi recentemente invadido por uma pequena mas perigosa onda de "livros para colorir", não está preparado para analisar um discurso por trás das aparências.

Com isso, os "espíritas" aproveitam disso e adotam técnicas circenses. Se, na mediunidade, eles realizam atividades ilusionistas e usam a prática da "leitura fria" - recurso complementar ao hipnotismo, no sentido de manipular as mentes das pessoas - , nos modos de dizer, afirmar e explicar as coisas eles fazem um verdadeiro malabarismo com as palavras.

É desta forma que eles tentam nos fazer crer que manifestam "fidelidade absoluta" a Allan Kardec, enquanto, por trás dessas mentiras com sabor de mel, fazem traições severas e graves, principalmente quando enfatizam ideias anti-doutrinárias trazidas por Emmanuel através de Chico Xavier.

A ideia de "bondade" como um "diferencial" do "espiritismo" é uma máscara para convencer as pessoas a aceitar suas irregularidades doutrinárias. Se eles apelam demais para a "paz" e para a "união", é visando a aceitação bovina dessa doutrina irregular, que rompeu com a essência de Allan Kardec por mais que tente convencer o contrário.

O problema é que fatos e realidade dizem muito mais o que o malabarismo discursivo tenta negar ou esconder. Aí nós nos lembramos do provérbio popular que diz que as palavras e imagens podem mentir, mas as evidências não.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Teologia do Sofrimento também influenciou o "funk carioca"

APRESENTAÇÃO DE "FUNK CARIOCA" - Ênfase na imagem inferiorizada e caricatural das classes populares.

Sabe-se que a Teologia do Sofrimento é uma ideologia nefasta trazida pelo Catolicismo da Idade Média, que foi popularizada por Santa Teresa de Lisieux e ultimamente defendida por Madre Teresa de Calcutá, além de tomada de empréstimo pelo "movimento espírita" através de Francisco Cândido Xavier.

A Teologia do Sofrimento é uma ideologia que glamouriza os flagelos e infortúnios humanos. É como se alguém dissesse que o outro é "feliz" porque "se dá mal na vida". Essa ideologia, com todos os argumentos "bondosos" trazidos pelos católicos ou legados por Chico Xavier, consiste nos religiosos em sentirem prazer pelo sofrimento alheio, uma espécie de "holocausto do bem".

Pois se muitos ainda coçam a cabeça quando se fala que Chico Xavier defendia a retrógrada Teologia do Sofrimento - que, no exterior, valeu a Madre Teresa de Calcutá a alcunha pejorativa de "anjo do inferno" - , mesmo quando ele dizia para "sofrermos em silêncio", "amarmos o sofrimento" e "não fazer queixumes" mas "aguentarmos calados os infortúnios e desgraças que nos chegam", imagine se alguém lembrar que até essa ideologia traiçoeira influenciou o "funk carioca".

Sim, influenciou, por incrível que pareça. O caráter pagão de certas atividades de entretenimento não as prescinde de abordagem religiosa, pois nos tempos da Idade Média, os festejos do carnevale, origem para o que conhecemos como Carnaval, surgiu por iniciativa da própria Igreja Católica que aparentemente não apreciava a liberdade de instintos.

Mas as festas do carnevale tinham uma perspectiva: a "desgarga" de instintos profanos, como que numa catarse permitida sob prazo determinado, em que as pessoas "invertiam" o rigor moralista para uma liberação de instintos e um provisório apego ao sensualismo e a outras libertinagens.

MC LEONARDO - Funqueiro "divinizado" pela opinião pública e um dos principais ideólogos do "funk carioca".

Isso nos faz compreender o quanto as relações entre moralismo extremo e libertinagem refletem um contraste não conflituoso, mas o convívio de extremos que o conservadorismo ideológico permite, até para forjar uma "liberalidade" de valores, ainda que seja ocasional e tendenciosa.

E aí vemos, no Estado do Rio de Janeiro marcado pela "religiosização" das coisas - em que se diviniza até times de futebol, BRTs e FMs comerciais "de rock" - , um cenário propício para o endeusamento de um ritmo sonoro que seria normalmente visto como um pop dançante comercial sem qualquer valor artístico-cultural, não fosse o pretensiosismo que esteve por trás desse gênero.

O "funk carioca" foi "divinizado" como se fosse um "ativismo sócio-cultural". Tomou-se emprestado até jargões popularizados pelo líder africano Nelson Mandela, como a "ruptura do preconceito", para atribuir ao "funk" uma importância que, na realidade, o ritmo nunca teve.

Afinal, como lembra o jornalista Ricardo Alexandre no livro Dias de Luta, o "funk" excluiu de sua receita a contestação social e contribuía para a manutenção do sistema de classes da sociedade carioca, que variam de seitas neopentecostais até o crime organizado (bicheiros, traficantes e milicianos), vários com relações promíscuas com o poder político e o mercado de entretenimento, como se observa na Assembleia Legislativa (ALERJ) e nas escolas de samba.

A pregação em favor do "funk carioca" começou na mídia claramente reacionária. Veículos como a Folha de São Paulo, a dupla Rede Globo / O Globo e O Estado de São Paulo estabeleceram o discurso de "movimento social" atribuído ao "funk", achando ótimo que um modismo marcado por MCs desafinados e dançarinas com enormes glúteos rebolativos possa virar um "fenômeno etnográfico e ativista" para enfraquecer e neutralizar os verdadeiros movimentos sociais.

Tendo como ideólogos os intelectuais culturais "festivos" - dos quais Pedro Alexandre Sanches e Hermano Vianna se destacam - , mas também o funqueiro MC Leonardo (antigo membro da dupla com o irmão, MC Júnior & MC Leonardo), como ideólogos do gênero, o "funk carioca" forjou um falso discurso ativista para aumentar o seu mercado e enriquecer seus empresários e também DJs.

Uma engenhosa campanha intelectual, confusa em ideias mas de apelo bastante persuasivo, tentou comparar o "funk carioca" a ritmos que iam do samba, maxixe ao mangue bit e passando pelo punk rock, enquanto fazia alusões que variavam da Semana de Arte Moderna à Pop Art de Andy Wahrol e companhia.

O discurso era bolado sob o evidente apoio da mídia reacionária, em especial as Organizações Globo e o Grupo Folha, mais empenhados pela campanha discursiva. Seus intelectuais associados, no entanto, tentaram empurrar a causa para a mídia esquerdista, com o objetivo de forçar o apoio às esquerdas e arrancar, do Governo Federal (petista) as verbas estatais da Lei Rouanet.

RETÓRICA FALSA E PRECONCEITOS TIDOS COMO "SEM PRECONCEITO"

Só que essa retórica toda era falsa, mesmo respaldada por engenhosas teses acadêmicas e habilidosos documentários cinematográficos. Todo um repertório discursivo, que envolvia técnicas e abordagens como New Journalism e História das Mentalidades, foi feito para defender o "funk carioca", sob a desculpa da "ruptura do preconceito".

A farsa dessa campanha intelectual - que ainda apelava para o coitadismo toda vez que o "funk" recebia comentários negativos de toda parte - podia ser desmontada com um toca-CD, já que, ao tocar um CD de "funk", se constata que todas as "maravilhas" que se fala do gênero não passavam de conversa para boi dormir.

Vocalistas desafinados e esganiçados, que mais falavam que cantavam, fundo musical que não era mais que um amontoado de ruídos confusos que imitavam sirenes, galopes de cavalo e batuques de umbanda, além do som de um "MC de apoio" (que depois foi sampleado) fazendo balbuciações, era a tônica do "funk", cujo som era o mesmo em qualquer intérprete, a única diferença estava nos fetiches que cada intérprete funqueiro representava.

Junto aos MCs, havia as funqueiras roliças e "revoltadas", além de grotescas dançarinas com corpões siliconados. A libertinagem pornográfica era estimulada e, nos "bailes funk", até a pedofilia era uma prática aceita pelos intelectuais associados, sob a desculpa de ser "oportunidade de iniciação sexual das jovens das periferias".

Era tudo uma expressão sonora de péssima qualidade e gosto duvidoso. Mas o "patrulhamento" intelectual falava da "expressão do mau gosto" como uma pretensa causa libertária, e criou-se uma complacência com o "funk" tido como suposta "expressão das periferias", uma ideologia tida como "sem preconceitos", mas que escondia graves preconceitos elitistas vindos dos próprios intelectuais.

Afinal, por trás dessa conversa de "expressão das periferias" e "combate ao preconceito", o que prevalecia era a influência da Teologia do Sofrimento para a defesa da apologia à ignorância, da glamourização da pobreza e da complacência com as baixarias e pornografias do gênero, criando um discurso cruelmente elitista vindo de intelectuais que juravam "serem contra o elitismo".

Era a época da intelectualidade "festiva" glamourizar até mesmo fenômenos causados pela exclusão social, como as favelas e a prostituição, que eram alvos de um ufanismo cinicamente defendido por intelectuais influentes, que chegavam ao ponto de defender a preservação da ignorância popular, porque a Educação iria "comprometer" a "admirável e imaculada pureza das periferias".

A apologia à pobreza, à ignorância e ao grotesco, que fazia com que alguns intelectuais exaltassem até mesmo o "proibidão" - facção do "funk" que evoca a criminalidade e as baixarias extremas - como "discurso da realidade das favelas" e atribuíssem as baixarias das mulheres funqueiras como "expressão de discurso direto", como se isso fosse "o autêntico protesto às periferias".

Explorando uma visão caricatural das classes pobres, e glamourizando as qualidades negativas associadas à pobreza, o "funk" traz indícios de alusões ao racismo, diante da imagem caricatural do negro trabalhada, e apresenta um forte vestígio de ideologia machista, através das imagens de "mulher-objeto" simbolizadas pelas funqueiras, seja Tati Quebra-Barraco, seja Mulher Melão, Mulher Melancia e Valesca Popozuda.

Só que o engenhoso discurso da intelectualidade orgânica, que, num empenho que lembra o antigo Instituto de Pesquisas e Estudos Brasileiros (IPES), entidade que tentou transformar o golpismo contra João Goulart em "tese científica", tentava transformar as baixarias do "funk" em um misto de "etnografia, ativismo social e modernismo cultural provocativo", tentava inverter no discurso os preconceitos sociais que já nem eram latentes, mas explícitos.

Se a opinião pública identificava machismo no "funk", os intelectuais atribuíram às funqueiras um (suposto) uso de referenciais machistas para "combater o machismo", dentro do estereótipo brutal do "homem contra mulher e mulher contra homem". Chegava-se a atribuir às funqueiras um falso e forçado feminismo, do qual mulheres que faziam parte da intelectualidade "festiva", como cineastas e antropólogas, não conseguiam dar uma explicação convincente e consistente.

Se era identificado o racismo, os ideólogos do "funk" apelavam para o discurso pretensioso de que o ritmo "combatia o preconceito racial", apelando para o bordão "É som de preto, é som de favelado" para tentar convencer a opinião pública, escondendo, no entanto, os cruéis estereótipos que o "funk" associava ao povo pobre e negro, refém dessa verdadeira escravidão cultural.

Por trás dessa campanha ideológica, desse método IPES e Instituto Millenium de forjar um discurso "etnográfico", havia a Teologia do Sofrimento que, adaptada para o "funk", dizia que a pobreza "era linda", a ignorância "era maravilhosa" e as baixarias "divertidas e alegres".

A glamourização da inferioridade social dos pobres, através da conversão de situações emergenciais como morar em favelas e trabalhar na prostituição, como permanentes, escondia algo bem mais perverso que as "boas intenções" de intelectuais "bem legais": a de "prender" os pobres nessas situações degradantes e fazer das favelas paisagens de consumo de turistas esnobes e transformar a prostituição num recreio sexual para ricos burgueses endinheirados.

Aproveitando a frase de Christopher Hitchens quando questionou Madre Teresa de Calcutá, observa-se que os intelectuais que defendiam o "funk" tinham realmente algo comum com a madre, além da falsa imagem de generosidade e apreço aos necessitados.

É que os intelectuais que fizeram campanha em favor do "funk" eram apenas amigos da pobreza, mas não dos pobres. Para eles, os pobres poderiam sofrer o que sofrem, esperando para a "chuva de dinheiro" de políticos e empresários, que nunca chega plenamente para as periferias.

Para os intelectuais, valia defender o "funk" mais para alimentar as vaidades pessoais fingindo-se solidários com o povo pobre, e é lamentável que tanto prestígio eles tiveram para fazer valer seus pontos de vista "sem preconceitos", porém dotados de profundos e graves preconceitos sociais.

É porque o próprio mercado da visibilidade brasileiro é um dos mais injustos do país. Só obtém fama e prestígio quem não tem um real compromisso com a sociedade e que atue de forma obediente e complacente com as regras do mercado e suas manobras associadas.

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Hipersexualização do corpo feminino, "padrões de beleza" e estupro


"Liberdade do corpo", "direito à sensualidade", "expressão do sexo". O "universo" adocicado de musas "sensuais" que ocorre na mídia dita "popular" apela para ilusões que escondem o lado sombrio da situação, motivo para tantas tragédias e traumas que atingem muitas mulheres no Brasil.

O Brasil registra, segundo dados divulgados ontem na imprensa, uma ocorrência de um estupro a cada três horas, motivo de muitas mortes de mulheres, sobretudo jovens, ou da ocorrência de casos indesejáveis de gravidez, que se tornam um dos motivos aceitáveis para a prática de aborto, um tema bastante controverso na sociedade e radicalmente reprovado pelo "movimento espírita".

Por outro lado, o Brasil, em pleno século XXI, ainda apela para o mercado de "mulheres-objetos", mulheres que, com seus corpos exagerados pelo silicone, vivem somente, e tão somente e de forma repetitiva até a exaustão, para mostrar suas "formosuras". São as mulheres que "mostram demais", como se conhece na mídia do entretenimento dito "popular".

Além disso exprimir uma visão fortemente machista, que trata a mulher como uma mera mercadoria de consumo simbólico de homens sexualmente afoitos, embora essas mulheres tentem se afirmar falsamente como "feministas" só porque não têm maridos ou namorados, isso pode significar um contexto muitíssimo perigoso para a sociedade.

Afinal, esse "sensualismo sem freios" se destina a homens com baixo poder aquisitivo ou baixa consciência moral, se caso for de classe média. São homens com apetite sexual voraz, que acreditam na ilusão de que no Brasil a liberdade sexual é plena e ilimitada.

A própria profusão de "boazudas" na mídia - principalmente na proximidade do Carnaval em que várias delas, patrocinadas até por banqueiros do jogo-do-bicho, desfilam como "musas da bateria" - estimula essa ilusão da "liberdade plena" que a "liberdade do corpo" e o "direito à sensualidade" mostram na mídia "popular" normalmente associada à glamourização do grotesco e do aberrante.

Elas, se dirigindo a um público sem uma educação moral relevante, independente de ter uma boa renda ou não, acabam inspirando neles uma sensação de que eles, sexualmente, "podem tudo", porque é "tudo liberdade", uma visão que se torna bastante perigosa.

Afinal, recentemente tivemos o fenômeno dos troleiros (trolls) na Internet, um subproduto monstruoso da ilusão da libertinagem de opinião sem controle. Pessoas que defendiam o "estabelecido" e se irritavam quando contrariadas, reagindo com ofensas e calúnias a pessoas que questionam valores que os troleiros acreditam como "tradicionais" e "sagrados".

Hoje a liberdade desenfreada de mulheres apelarem para a "sensualidade", só mostrando seus corpos, sem fazer outra coisa ou, quando muito, vinculando outras situações ao seu "apelo sensual", parece não "incomodar" muito a mídia do entretenimento.

No entanto, esse mercado da "sensualidade plena", que impulsiona a busca de um "padrão de beleza" feminino que, no âmbito do "popular", causa uma adesão desesperada de muitas mulheres, já oferece grave perigo e já resultou em várias tragédias.

Várias mulheres morreram por causa de plásticas, uso de substâncias como silicone e hidrogel, por liposapirações em clinicas pouco confiáveis, tudo por causa de um padrão "perfeito" de formas corporais arredondadas e rosto de estátua. Recentemente, uma finalista do concurso Musa do Brasil teria morrido por uso de remédios para o aprimoramento estético.

DESCASO INTELECTUAL

Enquanto isso, há o descaso da intelectualidade de classe média, mesmo de uma parcela de mulheres que são ativistas e feministas, quanto aos problemas no âmbito "popular". Fora o episódio de uma dançarina de "funk" e outra de "forró eletrônico" que foram assassinadas por namorados ciumentos, há na intelectualidade uma ilusão de que tudo "está maravilhoso" nas chamadas "periferias".

A "sensualidade" compulsiva de mulheres siliconadas - Solange Gomes, Mulher Melancia, Mulher Melão, Geisy Arruda, Aline Riscado, Priscila Pires etc - , que impulsionam o culto da "mulher-objeto" por parte de homens sem noção de limites para sua excitação sexual e impõem um padrão de beleza às mulheres das classes populares é ignorada pelas intelectuais que se dizem tão socialmente empenhadas.

Elas só reclamam a "ditadura da beleza" quando ela é difundida por veículos conservadores da grande mídia, como as revistas Cláudia, Boa Forma e Marie Claire, ou quando aparece em comerciais de televisão. Em ambos os casos, o problema só é considerado quando atinge a mulher de classe média, que não pode ser depreciada como mulher-objeto e nem empurrada para seguir padrões de beleza física.

Mas quando tudo é sob o manto do "popular", tudo é permitido. Enquanto mulheres de classe média criam campanhas contra assédio sexual (uma delas se intitula "Chega de Fiu-Fiu" e prega o fim das paqueras nas ruas) e reclamam da "ditadura da beleza" e da imagem pejorativa feita pela mídia, no "popular" se permite que tais coisas aconteçam.

A mulher é vista como mero brinquedo sexual? É a "liberdade do corpo". A mulher é tratada de maneira idiotizada? É a "inocência" da "mulher da periferia". Há a "ditadura da beleza"? Atribui-se a isso a "valorização da auto-estima". E se a mulher de classe média modera na exibição do corpo e se afirma por outras qualidades, a mulher "popular" só se afirma pelos "dotes físicos".

Isso é aberrante. O contraste do Brasil do "Chega de Fiu-Fiu", de classe média, com o Brasil da "liberdade do corpo" e da hipersexualização obsessiva, das "periferias", é tão grande que, se uma mulher de classe média fala uma bobagem nas entrevistas, é vista como "retardada", enquanto que a "musa popular" que diz uma besteira é considerada "divertida" e "bem-humorada".

É a expressão de preconceitos de pessoas de classe média alta - como é o caso dessas intelectuais feministas - que ignoram muitas questões vividas no âmbito das classes populares. As intelectuais querem proteger as mulheres de sua elite, mas acreditam que nas "periferias" tudo é paraíso quanto o assunto é hipersexualização.

Nas "periferias", pedofilia é vista como "saudável iniciação sexual" de meninas pobres. A pornografia é "liberdade do corpo e da sensualidade". Imbecilização é vista como "provocatividade". "Mulher-objeto" é tida como "ideal" de sedução feminina. A abordagem caricatural da mulher de elite pelos comerciais de TV, se fosse no "funk" e dirigida à mulher pobre, é vista como "discurso direto" não como abordagem pejorativa.

O abuso nas "periferias" é "liberdade", a caricatura é "auto-retrato", a idiotização é "livre expressão", e todos os preconceitos que a classe média intelectualizada têm dos pobres é vista como "visão generosa e realista".

A intelectualidade em geral ignora que, no caso das mulheres pobres, a prostituição as deixa vulneráveis a patrões (cafetões) perversos, a fregueses violentos e ao risco de contrair doenças infecciosas. A "ditadura da beleza", maligna quando está nas páginas de uma revista feminina das editoras Abril e Globo, vira "motivação de auto-estima" quando aparece na mídia popularesca, mesmo quando entrega mulheres à morte através de clínicas de estética despreparadas.

A erotização excessiva, vista como "direito à sensualidade", estimula a libido de homens sem noção de limites, que podem se tornar estupradores em potencial. A imagem "positiva" das "mulheres-objeto" que "mostram demais", que no contexto do "popular" sugere a ilusão de uma "liberdade do sexo" sem controles, poderá fazer com que os homens achem que podem sair por aí agarrando qualquer mulher desconhecida para transar em um canto qualquer.

E as próprias mulheres de classe média, pelos seus preconceitos e omissões, se tornam vítimas em potencial desse consentimento todo. Afinal, o jovem afoito não vê a diferença entre uma "mulher-fruta" e uma estudante universitária, e, se ele não é dotado de auto-controle, ele avança sobre a universitária e a estupra, e, se puder matá-la, ele mata, mesmo sendo ele de classe abastada.

As mulheres pregam o "Chega de Fiu-Fiu" visando encerrar as paqueras nas ruas, mas não estabelecem cuidados nas paqueras em bares e boates. Segundo dados registrados a partir de noticiários, a maioria dos crimes de violência conjugal contra a mulher é cometida por homens que as mulheres conheceram na "noitada".

A realidade brasileira precisa ser repensada. Haver mulheres cuja única função é mostrar seus corpos, sem privá-los de exibição e sem mostrar outras qualidades (ou, quando tenta mostrar, cometem gafes) é algo aberrante. Haver uma Solange Gomes, Mulher Melão e Geisy Arruda que só vivem de seus corpos silicondos é um horror e o pior é quando elas são bem-sucedidas e a própria mídia incentiva o culto a essas mulheres.

Isso porque a hipersexualização do corpo feminino, quando dirigida a um público de baixo nível escolar e aquisitivo ou, pelo menos, com baixa formação moral, pode formar estupradores em potencial, iludidos com a ideia de "liberdade sexual plena" que a chamada mídia "popular" (que já castiga as classes populares com programas policialescos que glamourizam a violência) transmite para o chamado "povão".

Ignorar problemas assim e achar que tudo que ocorre no lado de baixo da pirâmide social é "legal" contribui para que a violência continue ocorrendo e cria uma suspeita sobre que interesses a intelectualidade tem em permitir tudo isso. Será uma forma de "limpeza social"?

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

A vida adulta entrou em colapso

BRIGAS NO CONGRESSO NACIONAL ENVOLVEM "SENHORES DE IDADE" COM TEIMOSIAS PIORES DO QUE DE CRIANÇAS PEQUENAS.

A vida adulta está em crise. A etapa da vida tradicionalmente associada à maturidade e experiência entrou em sério colapso, e hoje não há, entre os famosos, uma personalidade com mais de 50 anos que se destacasse como alguém que transmitisse muitos ensinamentos e lições.

Pelo contrário, o que se observa são "senhores de idade" envolvidos em corrupção, em brigas e conflitos diversos, que perdem a cabeça com pouca coisa ou que, na mais positiva das hipóteses, são pessoas que continuam vivendo como sempre viveram.

O cenário atual rompeu com os paradigmas de que, depois dos 40 ou 50 anos e com o embranquecer dos cabelos, a sabedoria e a sensatez chegavam naturalmente, devido a uma perspectiva quantitativa da experiência dos tempos. A escassez de uma geração de intelectuais, artistas e escritores que se destacasse pela combinação de experiência e sabedoria tornou-se a tônica da atualidade.

O Congresso Nacional, com suas brigas e conflitos diversos, demonstra essa crise no "mundo adulto". Homens com mais de 50 anos envolvidos em teimosias, irritações levianas, bate-bocas tensos e até agressões físicas.

Mas a situação não pára por aí. Os três políticos que estão na hierarquia sucessória da presidenta Dilma Rousseff (que, com todos os seus erros, pelo menos governa com o mínimo de compostura possível), o vice-presidente Michel Temer (75 anos), o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (57 anos) e o presidente do Senado Federal, Renan Calheiros (60 anos) tiveram seus chiliques políticos por conta da crise que atinge o país.

No Rio de Janeiro, um grupo político, comandado por Eduardo Paes (45 anos) e que tem ao seu lado Luiz Fernando Pezão (60 anos), Carlos Roberto Osório (49 anos) e Sérgio Cabral Filho (52 anos), além do dirigente olímpico Carlos Arthur Nuzman (73 anos), é responsável pelos piores estragos e por agravar a já preocupante decadência sofrida pelo Estado e sua capital nos últimos 25 anos.

São pessoas que não trazem ensinamento algum, e que não justificam seus cabelos brancos ou grisalhos com coisa alguma. O colapso da vida adulta se dá pelo contexto em que o Brasil viveu nos últimos 50 anos.

Afinal, são pessoas que, quando estavam nas universidades, eram proibidas de manifestar seu idealismo e se limitavam a aprender apenas a serem "animais de trabalho". Estavam mais voltadas a uma compreensão "pragmática" (buscar só o "básico do básico") da vida e que, incapazes de ter uma visão de mundo e uma compreensão ética das coisas, obtém privilégios aqui e ali, não obstante atropelando a lei e até os valores sócio-culturais.

A questão da hierarquia tenta se manter nessa situação, como uma barra de ferro apodrecida que não consegue sair da parede. Valores relacionados ao respeito e às necessidades humanas são revistos e reavaliados acima dos antigos limites estabelecidos pelo "terreno etário" da velhice e dos valores tidos como "tradicionais".

Gerações de médicos, empresários, executivos, economistas e advogados que começaram seus 60 anos de idade nos últimos tempos não conseguem mais se projetarem, mesmo quando caçados com mulheres atraentes e mais jovens do que eles. Mesmo aparecendo em revistas de colunismo social, como Caras, eles não conseguem sair de seu aparato de homens sisudos que não têm muito o que dizer a não ser de seus relativos êxitos profissionais.

O que é a maturidade? Certamente existem questões ligadas à matéria e ao espírito, e não raro espíritos inexperientes nascem primeiro, na esperança de aprender mais rápido as coisas, mas se perdem na vida, uns no naufrágio da corrupção, outros no supérfluo das festas de gala, deixando seus cabelos embranquecerem sem que pudessem eliminar o "branco" que deu nas suas mentes.

Mulheres tornam-se "maduras" sem saber se querem ser velhas ou joviais, exigindo demais dos outros sem que pudessem avaliar seus desejos, suas vontades e suas esperanças, se limitando apenas a ter certeza do que não querem, diante da incerteza do que realmente querem, e uma sucumbem ao fanatismo da religião e até do futebol para compensar o vazio de suas personalidades.

A crise brasileira não consegue ver esse aspecto, de um padrão de vida adulta que desmorona como um velho casarão atingido por um grave terremoto. E a situação de hoje exige uma revisão de valores, em que o equilíbrio social estabelece novas demandas que a hierarquia etária se torna incapaz de responder e apontar soluções definitivas. Cabelos brancos não clareiam as mentes.

domingo, 24 de janeiro de 2016

"Espiritismo", suicídio e aborto em um curta-metragem


O "espiritismo" reprova o suicídio e, embora pareça bem intencionado em alguns aspectos, prefere ver mais as consequências do que as causas dos atos. É muito simplório falar "não se mate, porque você vai se ferrar com isso" do que verificar as causas que motivam alguém a se matar, porque ninguém se mata porque acha o maior barato se enforcar ou perfurar o corpo com uma arma.

Um dos primeiros filmes lançados na grave crise em que vive o "movimento espírita", o curta-metragem Agora Já Foi, dirigido e escrito por Manuela de Oliveira e lançado no ano passado e premiado em duas das quatro categorias indicadas pelo V Festival de Cinema Transcendental de Brasília, tenta ser um dos triunfos da doutrina que hoje apresenta mais irregularidades do que as já atrapalhadas e grosseiras seitas neopentecostais.

É um contexto em que a Rede Record e a Igreja Universal do Reino de Deus empurram Os Dez Mandamentos - O Filme - sem relação com a produção de Hollywood estrelada pelo defensor do comércio de armas, o falecido Charlton Heston (que faltava agir, na pele de Moisés, disparando uma espingarda contra os que endeusavam um velocino de ouro - , que motivou um único cidadão, no Brasil, a comprar 22 mil ingressos (!) para o filme e distribui-los para várias pessoas.

Nele, a "modesta" produção da Federação "Espírita" do Amapá (FEAP) conta a estória de Ana e Eduardo, um casal de adolescentes que, de forma inesperada, espera um bebê por causa da gravidez inesperada da jovem. O casal cogita a hipótese de abortar o bebê.

O aborto é visto como uma alegoria do suicídio, que é um dos fatores de maior mortalidade entre os jovens. O filme termina com o casal admitindo a gestação do bebê, que nasce para cumprir "promessas reencarnatórias".

A mensagem do filme parece boa, a defesa da vida e a oportunidade de deixar que bebês nasçam, dentro de uma condição aparentemente saudável, porque o casal não parece ser portador de algum mal que prejudique o nascimento normal do seu filho.

No entanto, a questão parece simplória e o problema do aborto envolve situações bem mais dramáticas do que isso. E o filme, pela sua essência, é inócuo e fraco, não traz mensagens transformadoras e segue um apelo igrejista não muito diferente das propagandas da católica CNBB (Confederação Nacional dos Bispos do Brasil).

No aborto, há casos em que a gravidez ocorre não pelo ato sexual de dois adolescentes entusiasmados, mas em situações de estupro, quando mulheres são rendidas por homens que querem transar com elas à força, mediante uma ameaça de morte.

Há também casos de mulheres que podem perder a vida se levarem a gravidez arriscada até o fim, e em outros as mulheres doentes podem gerar filhos com anomalias graves. E as mulheres com vírus HIV? E as que utilizam drogas injetáveis? Fala-se em condenar o aborto, mas em muitos casos não se consegue evitar que mulheres pobres deixem de fumar ou se alcoolizar durante a gravidez.

E o suicídio? O "espiritismo" costuma definir o suicídio como um crime pior do que o homicídio. O suicídio é uma espécie de "crime hediondo" dos "espíritas", que se baseiam nos dogmas cármicos da vida carnal, uma "sentença" que precisa ser cumprida e não sonegada pelo ato suicida.

Por comparação, o homicídio é também condenado pelos "espíritas", mas é visto como um "ato menor" e, muitas vezes, como um "mal necessário", diante de suposições de vidas passadas das vítimas que a doutrina brasileira usa sob a desculpa de "reajustes espirituais".

É certo que se deve evitar que a pessoa cometa suicídio, mas não é o bastante afirmar que a pessoa sofrerá efeitos piores ao desistir, de repente, de completar sua vida carnal, apressando o falecimento. Mas o "espiritismo", que professa a Teologia do Sofrimento, que define o sofrimento como "caminho necessário para a evolução", não consegue ver o suicídio à luz das causas que o motivam.

A pessoa não se mata porque "sim". Há motivos que levam a angústias e dramas que fazem as pessoas tirarem suas vidas. Motivos diversos, que envolvem infortúnios, limitações, encrencas, fracassos e tantos outros motivos infelizes.

O que o "espiritismo" se limita a dizer para evitar o suicídio é apenas "aceite a vida". Como doutrina marcada por contradições e irregularidades sérias, o que influi nas suas más energias que são notadas em tratamentos espirituais, onde pessoas que buscam socorro para seus problemas, em vez de o resolverem, atraem novas e graves adversidades, não há como os "espíritas" prevenirem o suicídio.

É curioso que uma das defensoras da Teologia do Sofrimento, Madre Teresa de Calcutá, também condenava o aborto. Para a Teologia do Sofrimento, pouco importa se a mulher espera um filho de um estuprador ou se a pessoa fez um tratamento espiritual para abrir caminho para conquistas sociais e depois contrai violentas trolagens na Internet por conta de debates de pouca importância.

A ideia é a vida "qualquer nota", aceitando as imposições da vida e pouco agindo para superá-la ou, de preferência, só agindo mediante sacrifícios acima da capacidade. E a vida "qualquer nota" não traz a devida qualidade de vida para as pessoas, que em muitos casos veem seus potenciais serem castrados ou limitados, sentem-se frustradas com isso e, deprimidas, pensam em se matarem.

A vida é complexa. Existe a desigualdade dos benefícios humanos, em que muita gente têm demais aquilo que não precisa e outras não chegam a ter sequer o mais essencialmente necessário. E isso é que traz um quadro de suicídios aqui e ali, e lidar com as frustrações têm que vir da raiz do sofrimento que motivas muitos a se matarem, e não apenas lembrando aos potenciais suicidas dos efeitos danosos que o ato poderá causar.

Com isso, o "espiritismo", pelo seu moralismo medieval, não consegue dar respostas confiáveis e eficientes para prevenir as pessoas de se suicidarem. Não bastassem as irregularidades doutrinárias diversas que produzem más energias na doutrina (desonestidade atrai espíritos levianos), o "espiritismo" ainda vê o suicídio como pior do que o homicídio, transformando suicidas em algozes e agravando a situação desgraçada de tais pessoas.

sábado, 23 de janeiro de 2016

Imobilidade urbana e o passe nada livre


As manifestações estudantis contra o aumento das passagens de ônibus, em São Paulo e em outras capitais, apela para os mesmos clichês das mesmas manifestações: causas simplórias e imediatas, e a infiltração de oportunistas mascarados que trazem desordens e servem de isca para a repressão policial.

O Movimento Passe Livre tem seu valor,
os estudantes não aguentam usar o dinheiro de seus pais e, em certos casos, o deles mesmos, para pagar tarifas de ônibus mais caras. A cara e a coragem de se unirem e se organizarem é saudável, mas a pauta de reivindicações é que está presa no pragmatismo.

Nas mídias sociais e nas rodas de debates, uma parcela da sociedade começa a perguntar por que os estudantes não lutam para combater uma medida aparentemente inócua e menor que está por trás de muitos problemas que atingem os sistemas de ônibus no país: a chamada pintura padronizada nos ônibus.

Sim, parece tolo afirmar que uma simples pinturinha seja a raiz de tantos problemas, mas a verdade é que ela torna-se o véu de muitas coisas ruins que já existiam no sistema de ônibus, além de outras coisas ruins que o simples ato de colocar diferentes empresas de ônibus sob uma mesma pintura acaba trazendo.

A pintura padronizada tornou-se a "lona" do circo da corrupção político-empresarial do transporte coletivo, da mesma forma que o estabelecimento circense é definido por sua lona caraterística.

Ela simboliza a imagem imposta pelas secretarias de Transportes, municipais ou estaduais, visando vários critérios, como consórcios, zonas, regiões, tipos de ônibus etc. Diante desses critérios, se diferentes empresas de ônibus tendem a ter a mesma pintura, uma única empresa de ônibus pode ter até dez diferentes pinturas.

Muitos aspectos trazem o caráter nefasto de amarrar ônibus na camisa-de-força da imagem do "poder público". E isso traz diversas desvantagens que motivam os aumentos das passagens, o alto custo e a alta burocratização dos sistemas de ônibus.

O fato em que logotipos de prefeituras ou de governos estaduais se destacam sobre o nome de cada empresa mostra que houve intervenção estatal, por mais que as autoridades desmintam. E isso corrompe a natureza operacional dos sistemas de ônibus, uma concessão pública para prestação de serviços de particulares na qual o poder público concede as linhas mas fica com o monopólio de imagem.

CONCENTRAÇÃO DE PODER E DESRESPEITO À LEI

Quem questiona a pintura padronizada nos ônibus - medida cujo repúdio da população cresce a cada ano - acusa as autoridades de contrariar as leis, violando artigos constitucionais, da Lei de Licitações e do Código de Defesa do Consumidor.

Segundo tais pessoas, não é respeitado o princípio de livre iniciativa empresarial (a empresa vira "funcionária" de prefeituras ou governos estaduais), a licitação acaba mais "escondendo" as empresas do que mostrando, o que contraria a finalidade de transparência, e os consumidores acusam as autoridades de usar a desculpa de ônibus mais longos e refrigerados (considerados mais confortáveis) para forçar o apoio à pintura padronizada.

Há também uma crise de representatividade e atribuições por trás. Embora as autoridades digam que o "novo sistema de ônibus" (inspirado na "filosofia" do político ditatorial Jaime Lerner, espécie de "Roberto Campos" do urbanismo) mantém e "só aperfeiçoa" as antigas relações de concessão de serviço de ônibus, nota-se que a figura do secretário de Transportes passou a concentrar mais poderes.

Na prática, o secretário de Transportes, municipal ou estadual, deixou de ser um fiscalizador do sistema, como deveria ser, para ser um dublê de administrador, agindo com autoritarismo e poder centralizado, como se confundisse as funções de vigilância com as de chefia, que sabemos não serem a mesma coisa.

PINTURA PADRONIZADA NOS ÔNIBUS DO RIO DE JANEIRO - Empresas de ônibus ficaram todas iguais.

Mas o pior aspecto, que é o que deveria despertar as preocupações do Movimento Passe Livre, está em muitos transtornos que a pintura padronizada traz, que vão além até mesmo de uma simples confusão de passageiros comuns a respeito de que ônibus pegar para ir ao trabalho ou instituição de ensino.

O fato de diferentes empresas de ônibus se submeterem a uma mesma pintura traz muito mais do que confusão, algo praticamene inevitável num contexto de correria do dia a dia. Pessoas preocupadas em trabalhar, estudar e pagar as contas precisam dobrar a atenção para não pegar o ônibus errado, mas isso é apenas um aspecto entre tantos negativos que a pintura padronizada traz à população.

No Rio de Janeiro, que tardiamente impôs a medida - decisão autoritária do hoje decadente grupo político do prefeito carioca Eduardo Paes - , demonstrou muitos desastres a respeito de tal arbitrariedade.

Linhas trocaram de empresas. Empresas circulam em linhas de outras. Empresas mudam de nome sucessivamente. Empresas ruins com a mesma pintura de empresas boas. A corrupção político-empresarial aumentou, os passageiros não conseguem mais reconhecer as empresas porque elas ficaram todas parecidas e, com isso, os empresários acabam intervindo até na máquina eleitoral, pela promiscuidade que secretários de Transporte e empresários podem ter com a pintura padronizada que praticamente "partidariza" o sistema de ônibus com o logotipo do governo (municipal ou estadual).

Tudo isso é feito sem que a população, já tonta com a "sopa de letrinhas" das letras de consórcios e números de frotas - que diferença faz um D53509 e um D58609, ou um B28504 e B25604 para quem vive na correria, mais preocupado em pagar uma conta com o talão certo no banco correto e com o dinheiro exato? - que representam o hoje tragicômico sistema de ônibus do Rio de Janeiro.

As promessas de "maior transparência" se revelaram grandes mentiras. A licitação, em vez de permitir mostrar as empresas concessionárias, as escondeu. Nem o fato de algumas cidades permitirem a exibição de pequenos logotipos ou autorizar a exibição dos nomes das empresas em letreiros digitais resolve o problema. Pois, na correria e, quando vistos de longe, os ônibus continuam sendo todos iguais, e o risco de alguém pegar um ônibus errado é altíssimo.

MAIS BUROCRACIA E CUSTOS

Mas a coisa não para por aí. No caso de uma única empresa de ônibus, que serve um município, serve outro, atua em várias zonas de um mesmo município e precisa transferir carros semi-novos de um serviço para outro, também surgem aspectos que deveriam despertar a revolta dos estudantes.

Primeiro, porque, quando as empresas poderiam exibir suas identidades visuais, o processo era mais barato e simplificado. A repintura não era necessária (apenas opcional) e bastava pintar algumas partes do ônibus para substituir o código numérico de uma linha intermunicipal, por exemplo, para uma linha municipal. E bastava apenas registrar tudo na documentação da empresa, e o carro era rapidamente transferido, voltando a circular sob um novo número.

Com a pintura padronizada, o método ficou mais demorado e caro, prejudicando os passageiros que querem maior agilidade na renovação de frota. A repintura torna-se obrigatória, o que representa maior gasto com plotagem ou tinta. A transferência de carro tem maior burocracia porque, além da documentação da empresa, tem que se apresentar à prefeitura ou governo estadual para transferir a documentação, que envolve mudança de consórcio, de natureza de serviço e tudo o mais. Mais documentos, mais custos, o que influi severamente no reajuste das passagens.

Outro aspecto negativo é a poluição visual. Quando havia diversidade visual, a empresa tinha suas cores próprias e bastava apresentar seu logotipo e o número do carro, além da indicação da linha e poucos dados (figura do cadeirante, setas de entrada e saída e citação de velocidade máxima).

Com a pintura padronizada, o nome da empresa se "perde" porque tem o logotipo da cidade ou do Estado, tem o logotipo da paraestatal que administra o sistema, o logotipo do consórcio, o logotipo do tipo de serviço, não bastasse a "sopa de letrinhas" que tem o código do consórcio e o número da frota. Em muitas cidades, o ônibus é emporcalhado com até quatro logotipos, cuja exibição faz os passageiros de ônibus pirarem na hora de escolher o ônibus para embarcar.

Juntando ainda a esses tantos aspectos negativos, há o fato de que as empresas de ônibus se desleixam, porque, sem exibir suas respectivas identidades visuais, também não podem estabelecer relações de consumo com os passageiros, que é o processo de oferecer um serviço e cobrar uma tarifa para isso.

Como agora a secretaria de Transportes é que manda e a imagem, mesmo usando desculpas "técnicas" como consórcio, tipo de ônibus e zonas de bairros, é deste órgão, a empresa perdeu responsabilidades administrativas e, por isso, reage sem exercer a devida manutenção de frota, porque agora a imagem que a empresa exibe não é da mesma, mas a do "poder público", que na prática é mais um poder privado, só que estatal, de agentes políticos dotados de seus interesses particulares.

Por isso é que até empresas de ônibus antes consideradas exemplares - como, no Rio de Janeiro, as empresas Alpha, Braso Lisboa, Real e Matias - estão com as frotas sucateadas e apresentando até goteiras no teto. No raciocínio das empresas, se elas agora exibem a imagem do governo (no caso, a Prefeitura), então é o "poder público" que tem que arcar com a manutenção das frotas de ônibus.

Há mais aspectos negativos. Como é o "poder público" que decide pela renovação das frotas, empresas passam a demorar mais na substituição de carros mais antigos. A Viação Acari, também do Rio de Janeiro, tinha o histórico de ter uma frota com vida útil de no máximo três anos. Atualmente, com a pintura padronizada que "rachou" a empresa em dois consórcios (Internorte e Transcarioca), a vida útil simplesmente dobrou.

O aspecto mais prático de que a pintura padronizada é nociva para a população está no caso da extinta empresa Turismo Trans1000, da Baixada Fluminense. A possibilidade da empresa exibir sua identidade visual permitiu que passageiros denunciassem seu serviço irregular e sua frota velha, sucateada e só "renovada" com outros carros velhos. Se a pintura padronizada tivesse valendo para a ligação Baixada X Rio, seria muito mais difícil denunciar, pois a Trans1000 teria as mesmas cores de, por exemplo, a Viação Nossa Senhora da Penha, que conta com um serviço infinitamente melhor e ritmo ágil na renovação da frota.

Portanto, a imobilidade urbana dos sistemas de ônibus que valem em várias capitais e regiões de cidades, como Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, Niterói, Recife, Florianópolis e Belo Horizonte requer ao Movimento Passe Livre uma mudança na sua pauta de reivindicações.

Afinal, será um "passe nada livre" defender tão somente o congelamento das tarifas ou a concessão de gratuidade para estudantes, se ninguém pensar em combater a pintura padronizada, que traz uma série de prejuízos para a população e agrava os problemas já existentes nos sistemas de ônibus.

Aceitar que essa simples medida, a pintura padronizada, carro-chefe de uma série de arbitrariedades, corrupções e burocracias que encarecem o transporte coletivo e fazem os passageiros pagarem mais caro pelos ônibus errados e até por baldeações (como a tentativa da secretaria de Transportes carioca em extinguir as ligações diretas entre Zona Norte e Zona Sul), seja mantida, é dar um "passe livre" para a imobilidade urbana que representa a perpetuação de um "passe nada livre" vivido pelos que vem e vão das casas ao trabalho e aos estudos e vice-versa.

Enquanto isso, certos governos já "renovam" a pintura padronizada, mudando apenas a estampa, como quem quisesse "mudar" para permanecer o mesmo. Enquanto isso, a demagogia sem freio das autoridades empurra essa obsessão em esconder as identidades visuais das respectivas empresas de ônibus, trazendo mais confusão, mais problemas e mais custos para a população. É hora do movimento estudantil amadurecer e pensar em todos esses aspectos.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

O que pode significar o egoísmo de um "espírita"


O que pode representar e significar a ganância e o egoísmo de um conhecido "líder espírita" que, ao não poder ter sob seu contrato uma pessoa com perfil diferenciado de profissional, rogar pragas de forma que esta pessoa não conseguisse ter um emprego, por mais que se esforçasse?

Muita coisa. É certo que as coisas não caem do céu, que existe crise no país, mas o jovem se queixa que foi amaldiçoado pelo "líder espírita" por causa da incapacidade de obter um emprego, porque, independente de ser uma realidade comum, a realidade é bem mais pesada para esse rapaz.

Afinal, chova ou faça sol, seja na prosperidade ou na crise, o jovem tinha as mesmas dificuldades de obter um emprego, pesadíssimas, que nenhum esforço conseguia superar. Podia haver todo tipo de jogo de cintura, toda compostura, toda dedicação, toda perseverança, nada conseguia. Nada. Nada.

Temos que ver que, se de um lado existe o sacrifício do indivíduo, de outro há as circunstâncias que deveriam condicionar a conquista de alguma finalidade. Se o sacrifício é extremo e muitíssimo habilidoso, mas a finalidade nunca é conquistada, seria simplório dizer que foi o indivíduo que "não soube se esforçar", "faltou fé" ou "não teve perseverança".

É muito fácil culpar quem está embaixo. As barreiras são pesadas demais e o indivíduo, com o máximo de esforço, não consegue realizar suas metas. Culpa dele? Não. Mas é de praxe no Brasil culpar o peixe por não conseguir subir na árvore. Faltou-lhe "mais fé" e "mais esforço".

O jovem que trabalhou numa editora "espírita", que não recebia a devida remuneração - afinal, ele tinha que sobreviver, pagar contas, tocar sua própria vida - , chocou o patrão quando, com apenas três meses de trabalho, decidiu pedir demissão, vendo que muitos colegas de trabalho faziam o mesmo. E ele recusou a oferta do patrão em promovê-lo a redator-chefe de uma revista.

Também, o que ele ia fazer, se ia fazer praticamente tudo sozinho? E ainda mais sem remuneração devida, só recebendo dinheiro para o almoço e "filando" a refeição com wafer, comprado às escondidas, só para segurar mais dinheiro pagando menos?

A sina do rapaz tornou-se um inferno. Familiares e amigos dos pais dele perguntavam por que ele nunca conseguia emprego, perguntava o que ele tinha na cabeça, que problema mental ele tinha, se ele era um bobalhão, um preguiçoso ou um vagabundo. Danos morais vieram.

Enquanto isso, os únicos empregos que apareciam para ele eram em empresas de perfil duvidoso, jornais do interior localizados em áreas perigosas, jornais comunitários em favelas violentas, rádios corruptas de uma capital nordestina. Como ele aproveitaria seus melhores potenciais nesses ambientes horrorosos?

E tudo isso porque o patrão "espírita" estava feliz da vida em ter trabalhando para si uma pessoa dotada de inteligência e talento. Infelizmente, os talentosos só são aproveitados quando o patrão vê neles uma forma de se autopromoverem, como patrões que se "alimentam" dos cérebros de outrem, visando vantagens e vaidades pessoais.

E é o mesmo patrão que manda frases na Internet, é metido a falar de assuntos do cotidiano, diz ser "totalmente fiel" a Allan Kardec. Isso é muito, muito grave. E é um sujeito badaladíssimo, querido pelos seus pares, realizador de palestras bem concorridas, embora não fosse um bom malabarista das palavras como se observa em um Divaldo Franco.

Mas sua reputação é suficiente para nos alertarmos como são certas pessoas, como é o egoísmo de um "líder espírita" que não conseguiu ter um bom profissional sob seu controle. E, como não teve, rogou praga e declarou que ninguém mais o teria como profissional. Coisa muito feia para alguém que usa a "caridade" e as palavras bonitas para se promover.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Doação de livro "espírita" causou mau agouro a serviço de livros grátis


Outra amostra do azar que é causado pelo "espiritismo" brasileiro, por causa de sua desonestidade doutrinária que atrai espíritos levianos e traiçoeiros, se observou há cerca de um ano com um serviço de livros gratuitos bastante arrojado.

A ideia foi dada por um artista plástico e estofador, já relativamente idoso, e conquistou a população de uma cidade vizinha ao Rio de Janeiro. Num conhecido parque público, ele havia instalado um espaço que incluiu uma estante e uma caixa de papelão com muitos livros, que as pessoas poderiam levar para casa de graça, sem a obrigação de devolverem.

Havia também a sugestão para que as pessoas também pudessem doar os livros de sua casa, dos quais não tinham a necessidade de manter, para o ambiente, que havia sido um insólito e admirável serviço de intercâmbio de leitores ou de trocas de livros, estimulando a leitura de livros aos frequentadores do parque público.

Houve um caso de um antigo motorista de São Paulo que encontrou uma série de livros com fotos antigas da companhia onde ele trabalhava, e ficou comovido. Ele conversou com o artista plástico que organizava a mostra e decidiu levar os volumes que faziam parte da série.

A situação corria bem até que uma dupla de irmãos resolveu deixar lá o livro Paulo e Estevão, da lavra do medieval jesuíta Emmanuel trazida por Francisco Cândido Xavier. Os dois deixaram o livro no local, sem qualquer intenção leviana, apenas para doar um livro que não era mais utilizado.

De repente, a coisa sucumbiu. O serviço de livros grátis foi extinto, porque seu organizador passou a ser processado por uma ex-esposa, criando um litígio que impedia o homem de continuar organizando o serviço. E, o que é pior, não houve outra pessoa que herdasse o serviço, e tudo morreu por aí mesmo. Lamentavelmente. E tudo por causa de um livro de Chico Xavier.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Meses após condecorar Divaldo Franco, Assembleia Legislativa baiana sofre ataque hacker

VÍDEO FAZ UMA VERSÃO DA MÚSICA "AQUELE 1%", DA DUPLA MARCOS E BELUTTI, CRITICANDO ACUSADOS PELA OPERAÇÃO LAVA-JATO.

O "espiritismo" pode ter causado mais uma vibração de mau agouro. Desta vez, a vítima foi a Assembleia Legislativa da Bahia. No último domingo, 17 de janeiro de 2016, a página da casa legislativa foi invadida por ataque hacker, que publicou um vídeo humorístico para esculhambar o Legislativo baiano.

Nele, é tocada uma versão da música "Aquele 1%", sucesso da dupla de "sertanejo universitário", Marcos e Belutti, com participação de Wesley Safadão - ícone do "forró eletrônico" da atualidade - , com letras evocando a Operação Lava-Jato, exaltando o "juíz-xerife" Sérgio Moro e critica os políticos enquadrados.

A origem do ataque não foi identificada, mas a forma com que o vídeo aborda a política nacional segue a orientação de direitistas que são muito conhecidos não só nas mídias sociais, através de comunidades como Revoltados On Line, mas também em grupos como o Movimento Brasil Livre e personagens como Marcello Reis e Kim Kataguiri.

Os movimentos simbolizam a jovem direita nacional que se ascende através de passeatas contra a presidenta Dilma Rousseff e o PT em geral. Ele cita um dos ídolos da direita juvenil, o agente da Polícia Federal Newton Ishii, conhecido como "Japonês da PF".

AL-BA DEU TÍTULO NOBRE A DIVALDO FRANCO

O ataque ocorre exatamente cinco meses depois da Assembleia Legislativa dar, ao anti-médium baiano Divaldo Franco, a comenda Dois de Julho, concedida a personalidades consideradas de maior valor para o desenvolvimento social da Bahia.

Na ocasião, Divaldo foi lembrado pelos parlamentares baianos como "o maior orador espírita de todos os tempos", definição que é dada para suas pregações igrejistas em discurso rebuscado e prolixo. Ele também foi lembrado por sua "caridade", a Mansão do Caminho que, em 63 anos de existência, só ajudou 0,08% da população de Salvador com "caridades" meramente paliativas.

Divaldo Franco tem um histórico de graves obsessões. Um espírito apelidado Máscara de Ferro atormentou o baiano durante boa parte de sua juventude. Consta-se que até hoje Divaldo, um dos maiores deturpadores da Doutrina Espírita, está associado a maus agouros, a exemplo do que ocorre com Francisco Cândido Xavier, cuja influência "amaldiçoou" até o político Juscelino Kubitschek.

Através das energias confusas e contraditórias e da herança do Catolicismo medieval, combinando influências tanto do moralismo católico da Idade Média quanto de práticas hereges sombrias, como feitiçarias, o "espiritismo" brasileiro soa como uma "macumba branca" que influi negativamente em pessoas que aderem a ele sem no entanto compartilhar com o rigoroso conservadorismo da doutrina brasileira.

Há rumores de que Divaldo Franco inspirou más energias até para a atriz estadunidense Brittany Murphy, porque ela, por conta de compromissos profissionais - estava no elenco de uma comédia britânica - , estava na ponte aérea entre Nova York, Los Angeles e Londres no momento em que o anti-médium estava em turnê pela Europa e EUA. Foi no ano de 2006.

Brittany, estrela do filme As Patricinhas de Beverly Hills (Clueless), estava em grande ascensão na carreira, no ano de 2006 e iniciava carreira paralela de cantora, com um talento vocal muito raro na atualidade.

Ela estava brilhando também como dubladora, função na qual ela se destacou no seriado O Rei do Pedaço (King of the Hill), como a vizinha da família Hill, Luanne Platrer. Em 2006, ela fez a voz da pinguim Gloria, no filme de animação Happy Feet - O Pinguim, cuja trilha sonora incluiu ainda duas gravações dela como cantora.

No entanto, Brittany passou a viver depois o chamado "pesadelo espírita", em que infortúnios surgem sem que a pessoa tivesse condições de evitar. Ela deixou de se tornar atriz destacada e passou a fazer trabalhos modestos, e ainda foi vetada, mediante um mal-entendido, de fazer a voz de Gloria no filme Happy Feet 2.

Além disso, ela se casou com um "garoto-problema" inglês, o produtor Simon Monjack com histórico de catoleiro, mulherengo e usuário de cocaína e que suspeitas indicam que ele, que deixou sua carreira de aspirante a cineasta a "patinar", teria envenenado a esposa, que em dezembro de 2009 faleceu com apenas 32 anos de idade.

Simon deixou indícios de que usava a conta da esposa para pagar dívidas com traficantes ou com ex-namoradas do produtor, inglesas que tinham, cada uma, um filho com o inglês. Ele também é suspeito de ter tentado assediar a própria mãe de Brittany, Sharon Murphy, para jogá-la contra a filha e, assim que esta morresse, Simon pudesse ficar com a herança. Mas um suposto testamento atribuído a Brittany atribuía a herança apenas à mãe, o que pode ter possibilitado, nesta hipótese, o tal assédio.

Esse drama é o tipo de experiência que muitas pessoas diferenciadas que se envolvem com "espiritismo" costumam enfrentar. E, no caso de Brittany, seria necessário investigar se Divaldo não viajou num mesmo avião que a atriz. Máscara de Ferro continua aprontando.

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Machismo impede sociedade e mídia de se "despedir" de velhos feminicidas


A sociedade brasileira ainda é machista. E muito, muito moralista. Diante de tantas e tão diversificadas tragédias humanas, uma que a sociedade se recusa a admitir é a do feminicida, sobretudo de motivação conjugal, e dotado de algum status quo mais favorável.

Nas conversas de rua e até em mídias sociais, começam as especulações que conhecidos feminicidas idosos estão no final da vida, e podem falecer pelos efeitos naturais de intenso tabagismo e cocaína, ou de overdoses de remédios.

Até aí, nada demais, se não fosse a reação da sociedade, mesmo de homens e mulheres que parecem "modernos", que definem esses rumores como "ofensivos" e "discriminatórios". O mais aberrante disso é que, se em vez de feminicidas fossem descritos músicos de rock pesado, a reação mudava da indignação para a euforia.

O Brasil vive o ocaso do machismo. Ele ainda resiste, tanto pela violência feminicida de estupradores ou de cônjuges masculinos que se julgam "traídos" - até um inocente pedido de divórcio é visto por certos maridos ciumentos como "traição" e motivo para a pobre mulher ser exterminada - , de um lado, e do erotismo forçado e obsessivo das chamadas "musas populares" e siliconadas.

Em ambos os casos, a mulher é vista como objeto. No caso do moralismo da "honra machista", ela é o troféu de machistas abastados e bem-sucedidos, que não estão acostumados com contrariedades. Eles esquecem de amar suas mulheres, apenas se envaidecem de exibir seus "prêmios" em eventos sociais e, quando elas reclamam, eles compram bombons ou fazem outras gentilezas materiais, mais como regra de etiqueta.

Quando elas, porém, deixam de cumprir o papel de submissas e pedem a separação de seus maridos, namorados ou noivos, eles estranham e, tomados de raiva, vão logo perguntando: "está se envolvendo com alguém"? Aí pinta a briga e a vingança homicida e, depois, a fuga dos criminosos, antes definidos como "passionais".

Depois da prisão e do julgamento, vários deles foram beneficiados pelas brechas da lei, que os condenou a prisão, teoricamente, em regime semi-aberto, porque, com o tempo, eles são dispensados até de se apresentar aos delegados para dizer onde estão.

Nos anos 1980 e 1990, vários feminicídios de motivação conjugal ocorreram, como que em epidemia. Basta um caso famoso de impunidade para inspirar práticas semelhantes. Foi uma guerra unilateral na qual centenas de milhares de mulheres acabaram perdendo, e os homens, em tese, sempre triunfantes. Entre 1977 e 2014, o número de mulheres mortas por seus companheiros atinge níveis comparáveis a de missões de guerra.

Desde que um conhecido playboy da alta sociedade - cujo tabagismo inveterado, combinado ao então consumo intenso de álcool e cocaína, deixava os amigos aflitos - cometeu um homicídio contra sua namorada, no final de 1976, o machismo vingativo tornou-se conhecido pela sociedade e fez ceifar vidas de muitas mulheres que poderiam contribuir para o progresso social do país, de alguma forma.

Infelizmente, apesar da revolta do movimento feminista contra muitos casos de impunidade que beneficiaram esses criminosos, a surreal tradição moralista no Brasil permitiu também a impunidade social, quando aquele que foi livre da condenação criminal, apesar do crime que cometeu e de sua gravidade, passa a ser visto com simpatia pela sociedade.

A tragédia passa a ser vista como um processo unilateral vivido pelas mulheres, em muitos casos, com base na visão preconceituosa de que a vítima é a "culpada", porque "fez por merecer", como "gritar pro marido", "largar o conforto da vida conjugal" etc.

"COSTELA DE ADÃO"

E isso sem falar de que a mulher, de acordo com a visão machista mais radical, é vista como "coisa" e a própria mídia contribui para isso. Até na forma de abordar o estereótipo da mulher solteira e da mulher que "deve permanecer casada" a grande mídia trabalha numa campanha sutilmente depreciativa e preconceituosa.

A mulher que "pode ficar solteira" é aquela mulher que se entrega ao entretenimento obsessivo, à curtição e ao sensualismo compulsório. Quanto "mais sensualizar", menos obrigação terá de ter um marido ou namorado. Já a mulher que desenvolve diferenciais culturais e intelectuais precisa viver sob a "sombra" do marido, por mais que possa às vezes aparecer sozinha em eventos sociais.

A mulher se transforma numa "coisa", baseada no mito católico da "costela de Adão", e quando em certos casos ela deixa de se sujeitar ao jugo machista do cônjuge, ele reage a mata, seja com tiros, facadas, estrangulamento ou outro tipo de agressão mortal.

E é compreensível que os feminicidas que deixam a cadeia para viver um "ostracismo tranquilo" recebam mais condescendência da sociedade do que os familiares das vítimas, que têm que conviver com um drama irrecuperável, enquanto os algozes "merecem mais sossego".

Afinal, na sociedade moralista e machista, a mulher é uma "coisa", o homem é que é um "ser". O homem é que é "humano", ele é que "tem princípios", "decisões", é um "ser pensante" e "tem emoções" e "vontades" que "devem ser respeitadas".

E, quando é um homicida de elite, abastado ou rico, e que comete crimes com base em bandeiras moralistas como a "legítima defesa de honra", então ele cometeu um "mal necessário" ou mantém uma respeitabilidade insólita mesmo quando seu ato é visto como "abominável".

E, combinando com a postura "divinizada" do homem de status, isso se torna mais grave. Os feminicidas conjugais, quando ricos e prestigiados, acabam sendo tratados como coitadinhos que deixaram copos de vidro se quebrarem, e não como homens que eliminaram vidas de forma cruel e irrecuperável.

FEMINICIDAS E SUAS PRÓPRIAS TRAGÉDIAS

O grande problema que muitos ignoram é que quem tira a vida dos outros produz sua tragédia pessoal. E, no caso da violência machista, especialistas afirmam que não é prática de um machista em geral, violento ou não, cuidar de sua saúde.

No caso de pessoas com alguma formação moral e sócio-cultural, que sabem do risco que é tirar a vida de outrem, a sensação de contrariar todas as advertências de nunca cometer esse ato e acabar cometendo traz um misto de ansiedade, catarse e raiva que abalam o organismo que, através desse "desafio", sofre um efeito devastador. Para pessoas assim, tirar a vida de uma pessoa tem, no organismo, um efeito comparável a de consumir crack pela primeira vez.

Muitas das tragédias feminicidas são motivadas por álcool e drogas. Os homens que eliminam suas mulheres são bastante temperamentais, e, se perdem a cabeça diante de um simples pedido de encerrar uma relação conjugal, tendem também a ser vulneráveis quando dirigem carros percorrendo longas distâncias. Se usam cocaína, heroína, não é a "defesa de honra" que os poupará de uma overdose fatal.

Conta-se que infarto, câncer e acidentes de trânsito são causas potenciais de mortes de feminicidas conjugais. Recentemente, dois jovens que mataram namoradas morreram, durante a fuga, em acidentes de carro, um em Florianópolis, em 2014, e outro em Brasília, em 2015. Outro feminicida conjugal de 57 anos morreu de acidente vascular cerebral, em São Paulo, também em 2015.

Como todo alguém que fuma demais, que sofre problemas cardíacos, que ingere remédios demais, que contrai vírus HIV, que se atrapalha na direção de um carro diante de uma manobra arriscada, os feminicidas têm tanto risco de sofrerem os efeitos trágicos de qualquer pessoa com tais deslizes, a "defesa de honra" não é desculpa para fazê-los menos vulneráveis que os outros homens.

No entanto, a tradição moralista acha ofensivo e preconceituoso falar, nas rodas pessoais ou nas mídias sociais, que um feminicida mais velho está no final da vida, mesmo quando no passado, recente ou não, ingeriu nicotina em excesso e cocaína ou tomou uma overdose de remédios com tarja preta.

"Deixem o cara viver em paz", é o que costumam reagir os moralistas, que agem assim de forma perigosa. Pois a defesa do "sossego" de pessoas que tiram a vida em nome da "honra" machista ou, fora do femincídio, do extermínio do latifúndio contra ambientalistas, sindicalistas e similares, pode esconder preconceitos e neuroses sociais cruéis, que em vários países impulsionaram a ascensão política de fascistas.

Sem perceber que, morrendo, os feminicidas tenderão a uma reencarnação melhor, recomeçada do "zero", acreditam que eles possam recuperar seus atributos materiais - a chamada "boa reputação" social - prolongando demais a vida, mesmo mediante riscos de graves doenças. Mas o que está em jogo é a "recuperação" de atributos que, de qualquer maneira, desaparecerão com a morte, como sobrenomes ilustres, participação no controle de empresas, prestígio nas colunas sociais etc.

É o mesmo país em que kardecianos autênticos mas um tanto frouxos acreditam que possa se voltar às bases originais de Allan Kardec mantendo Chico Xavier no seu pedestal, como um velho ocioso e dispendioso sendo mantido numa casa de família, sem servir para coisa alguma. Há quem acredite que o Brasil possa avançar no feminismo mantendo velhos feminicidas "arrastando" numa velhice inútil e dolorosa.

O Brasil tem esse cacoete de pensarmos o novo e mantermos o velho. Não nos livramos do bolor que está no alto da parede. Pensamos em novidades mantendo o entulho no porão. Com 30 anos de redemocratização, boa parte dos "heróis" e "ídolos" brasileiros são pessoas que fizeram sucesso na ditadura militar, sejam arquitetos, cantores, dançarinas, políticos que viraram radialistas etc. Muitos brasileiros ainda pensam o país como se estivéssemos sob o governo do general Geisel.

Daí que nem para dar adeus a velhos machistas seus seguidores fazem. Nem os moralistas, nem a grande mídia, conseguem cogitar que feminicidas também morrem. As mesmas pessoas que ficam resignadas quando atores e músicos de grande talento anunciam que estão gravemente doentes, consideram "ofensa" e "desrespeito" anunciar que feminicidas também podem ter enfermidades graves.

O que os feminicidas sofrem não se compara com os sofrimentos das famílias das mulheres mortas. E por que é ofensivo dizer que um feminicida de 80 anos pode estar com câncer, ou admitir que feminicidas podem morrer de infarto até antes dos 50 ou 60 anos, se suas mulheres foram mortas com muito menos idade?

Os moralistas tentam definir como "sofrimentos demais" as tristezas desses machistas vingativos. Mesmo assim, não ignoram a outra tragédia, que mata aos poucos esses mesmos machistas. Não se admite sequer que eles possam deixar testamentos, que possam se despedir da sociedade, que possam também ser "finados" e desaparecer do convívio material de alguém.

Com essa omissão moral, a sociedade moralista remete ao mesmo vício do Brasil insistir no "novo" sem romper com o "velho". Preferem um feminismo que não supere o machismo e que mantenha os velhos machistas intatos como velhos adornos que as pessoas não querem se livrar. Há muito medo de boa parte da sociedade brasileira em mudar de verdade o nosso país.
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