quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Chico Xavier não morreu pobre. E era tratado como um aristocrata


Há um forte mito de que Francisco Cândido Xavier morreu pobre. Ele, de fato, teve origem pobre, mas, na medida em que se tornou um popstar da religião, nas dimensões de um Michael Jackson, ele se tornou um aristocrático, se não na vida de luxo e posses materiais, pelo menos no tratamento que era recebido.

Ele apenas não tocava em dinheiro. Consentiu que o lucro dos seus livros fosse para a Federação "Espírita" Brasileira e aceitou que seu tutor Antônio Wantuil de Freitas, então presidente da instituição, se enriquecesse às custas de seu pupilo.

Quando esse escândalo veio à tona, em 1969, Chico Xavier tirou o corpo fora. Fingiu estar "muito triste" com o uso do dinheiro dos livros vendidos para a fortuna da cúpula da FEB e, tendenciosamente, passou a editar seus livros em outras editoras. Mas, a essas alturas, Wantuil, doente, começava a deixar o comando da FEB, o que fazia seu protegido ficar "órfão" de seu "empresário" e descobridor.

Há muitos pontos sombrios na biografia de Chico Xavier, e é lamentável que livros esclarecedores como O Enigma Chico Xavier Posto à Clara Luz do Dia, de Attila Paes Barreto, estejam condenados ao esquecimento. Enquanto isso, bobagens em torno de "datas-limites" são publicadas e geram livros que geram documentários que geram livros de livros que geram documentários de documentários de livros etc etc etc.

Chico Xavier não morreu pobre porque nunca houve notícia de que ele havia sido abandonado na penúria, sem ter o que comer, vivendo em casa fedorenta rodeada de moscas e mosquitos, com baratas passeando pelo chão, e ignorado ou sendo jogado no chão de um hospital público qualquer.

Há relatos de fim de vida pobre, sim, em relação a outros nomes, como o cantor Lúcio Alves, a vedete Wilza Carla, o intelectual Luiz Carlos Maciel e o ex-baixista da Legião Urbana, Renato Rocha, o Negrete ou Billy. Estes sim encerraram a vida na pobreza e no abandono, em muitos casos desprezados pela sociedade.

Chico Xavier, não. Ele era bem tratado, como um aristocrata britânico. Era tão bem tratado quanto a Rainha Elizabeth, da Inglaterra, por exemplo. Ele apenas não tocava em dinheiro, mas viveu em situação de conforto, sim, e um conforto significativo. Chico é que buscava, como ídolo religioso, um aparato de simplicidade, mas dizer que ele faleceu na mais absoluta pobreza é um absurdo.

Ele recebeu os prêmios e os aplausos e, postumamente, ainda recebe as palmas e a adoração pública, como um astro pop, como uma celebridade, como um afortunado. As fortunas de Chico Xavier podem ser simbólicas, mas nem de longe espiritualistas, pois as paixões religiosas, pela qualidade de suas manifestações emocionais, se equiparam às orgias do luxo e do dinheiro, com tantas adulações, devoções, mistificações e privilégios.

Os "médiuns espíritas", pelos prêmios que recebem, pelas boas relações com os ricos e poderosos, podem ser considerados aristocratas da fé, se equiparando com os sacerdotes que eram duramente criticados por Jesus de Nazaré. Embora associados a uma aparente imagem de suposta humildade, eles se equiparam aos privilegiados da sorte e, com certeza, devem se satisfazer com a luminosidade artificial das paixões religiosas e as recompensas que recebem na Terra.

No mundo espiritual, porém, não há essas ilusões e, como os "médiuns espíritas", como Chico e Divaldo Franco, deturpam o legado espírita original, numa atitude que em si já é leviana e desonesta, suas condições de pretensos "espíritos de luz" se encerram com o desencarne (Chico já sentiu o drama disso tudo), pois no além-túmulo mesmo as ilusões religiosas que aqui parecem perenes e eternas lá se dissolvem como um castelo de areia engolido pelo mar.

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