quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Governo Federal sanciona Dia do Evangelho para favorecer igrejas


A presidenta Dilma Rousseff sancionou, ontem, a Lei 13.246, que institui o Dia Nacional da Proclamação do Evangelho, "sem qualquer discriminação de credo entre igrejas cristãs". Já existe um outro Dia Nacional do Evangelho, celebrado em 30 de novembro. A data da nova efeméride, 31 de outubro, coincide com o Dia das Bruxas, conhecido no exterior como Halloween.

Embora aparentemente seja uma ótima notícia, sobretudo para aqueles que estão acostumados com a fé religiosa e com a associação da mesma a tudo de bom que acreditam, o Dia Nacional da Proclamação do Evangelho reflete o lobby da bancada evangélica no Congresso Nacional.

Embora a palavra "evangelho" venha do grego "euangelion", que quer dizer "boa nova", o termo ficou banalizado pelo Catolicismo medieval como um repertório de mensagens mistificadoras na qual se destaca a submissão pela fé aos dogmas e ritos religiosos.

Evangelizar é, portanto, fazer proselitismo religioso, envolver as pessoas num repertório ideológico que envolve mitos surreais, ideias místicas e pregações moralistas. Embora a palavra "evangelho" fascine muitas pessoas, por representar uma ideia que acreditam "boa", como se fosse a "mensagem da bondade", ela tornou-se um processo de manipulação e dominação ideológica pela religião.

COMPETIÇÃO

O grande problema é que, embora haja a promessa de "não promover a discriminação", a iniciativa fortalece a já acirrada competição entre a Igreja Católica, as seitas neopentecostais e o "movimento espírita".

A ideia, portanto, que está por trás disso tudo não é a transmissão da "boa palavra" ou das "mensagens de amor e paz", mas na disputa de "rebanhos" dos três movimentos, como uma forma de estabelecer um poder teocrático no Brasil.

A influência da "bancada da Bíblia", fortalecida com a escolha do deputado carioca Eduardo Cunha para a presidência da Câmara dos Deputados, ele que é membro da Assembleia de Deus, põe as seitas neopentecostais, consideradas "evangélicas", em posição de vantagem na concorrência religiosa.

No entanto, observa-se também o entusiasmo do "movimento espírita", que com sua vocação igrejista sempre pautou pela "evangelização" como forma atualizada do antigo catecismo, aproveitando a influência do padre jesuíta Manuel da Nóbrega, que havia sido mentor de Francisco Cândido Xavier.

É notória a maneira com que Chico Xavier exaltava os dogmas religiosos, e a palavra "evangelho", no sentido em que foi trazido pelo Catolicismo medieval - base ideológica do "espiritismo" brasileiro - , lhe soa como uma música para seus ouvidos.

A própria ideia de "Pátria do Evangelho" inspira a comemoração dos "espíritas" quanto ao decreto da referida data, e imagina quantas palestras "encantadoras" serão feitas nos "centros espíritas" e quantos artigos em nos periódicos dessa doutrina, celebrando a efeméride, que sob a ótica "espírita" seria o primeiro passo para o que acreditam ser o cumprimento da "profecia de Chico Xavier" para o Brasil.

ALLAN KARDEC QUERIA ESTUDAR E NÃO ADORAR

O "espiritismo" brasileiro, no seu discurso ideológico, tenta confundir as ideias de estudo e culto, para garantir seu igrejismo dissimulado por um falso cientificismo. E definem, equivocadamente, o pedagogo Allan Kardec como "evangelizador", sem atentar sobre o verdadeiro histórico de um de seus principais livros.

O livro O Evangelho Segundo o Espiritismo, de 1864, cujo título francês é L'Évangile selon le spiritisme, inicialmente se intitularia Imitation de L'Évangile selon le spiritisme. Embora a palavra francesa "imitation" possa ser traduzida como "imitação", o termo, neste caso, é um falso cognato, por apresentar um outro significado, "interpretação".

Kardec estudava os evangelhos apócrifos do Novo Testamento, a partir de uma tradução francesa, de Leimastre de Sacy, mas considerando também as traduções em grego e hebraico. Ele também dedicava um capítulo para analisar o pensamento de Sócrates e Platão e, além disso, dedica um capítulo, no começo do livro, para o Controle Universal dos Ensinos dos Espíritos.

Portanto, é uma obra de questionamentos e argumentações, e não uma obra de louvor ou uma "Bíblia espírita". Kardec queria estudar, não adorar o Evangelho. O termo "evangelho" pouco tem da forma glamourosa que se conhece, e serve apenas para as análises de conteúdo trazidas pelo pedagogo francês.

Se os "espíritas" passaram a adotar  o termo "evangelho" no sentido igrejista, é porque tomaram como partida a fonte de toda a catolicização do "espiritismo" brasileiro, o livro Os Quatro Evangelhos, de Jean-Baptiste Roustaing, autor que, embora seja visto pelos "espíritas" como se fosse um "bicho-papão", forneceu as diretrizes que a doutrina brasileira adota até hoje.

Portanto, a "evangelização espírita" segue esse princípio de um "roustanguismo sem Roustaing" da fase dúbia do "espiritismo", em que o igrejismo se traveste de ciência para seduzir e ludibriar as pessoas, competindo com católicos e neopentecostais para ver quem promove a Teocracia no Brasil.

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