terça-feira, 5 de janeiro de 2016

"Espiritismo" trata "bondade" como um subproduto seu


Um dos maiores problemas do "espiritismo" brasileiro é que, para compensar a sua desonestidade doutrinária, ele se traveste de "doutrina de amor e bondade". Embora pareça bonito, à primeira vista, uma religião usar a caridade e a bondade como princípios maiores, isso é um grande desvio de foco se ela tem como propósito ser a adaptação brasileira da Doutrina Espírita de Allan Kardec.

O "movimento espírita" comeu o pão que o "irmãozinho sofredor" amassou e hoje paga caro pelas escolhas que fez. Tornando-se uma seita igrejista, espécie de arremedo mais flexível do Catolicismo medieval português, base para o Catolicismo adotado no Brasil, o "espiritismo" tenta agora todos os artifícios para contornar sua grave crise, mesmo se mantendo em posturas e procedimentos bastante contraditórios.

É o que se observa em palestrantes e articulistas "espíritas", que se contradizem o tempo todo. Num momento, citam passagens de livros de Allan Kardec, embora se veja claramente uma seleção de trechos bastante agradáveis ou que podem manipular em causa própria.

As denúncias do espírito Erasto sobre os inimigos internos do Espiritismo, por exemplo, são usadas por esses palestrantes e articulistas de maneira tendenciosa, como se estes manipuladores da palavra fossem os "alunos exemplares" da doutrina sistematizada por Kardec.

Num outro momento, "soltam a franga" e colocam trechos de frases de Emmanuel como epígrafes de textos animadinhos sobre caridade, perseverança, amor, bondade, paciência e compaixão.

Ou então eles comemoram, extasiados, mais uma premiação dada a Divaldo Franco por uma caridade que só ajudou 0,08% da população de Salvador ou pela pretensa "sabedoria" de palavras rebuscadas faladas com falsa erudição e voz de padre.

E como é que os "espíritas" permitem esse ciclo vicioso das contradições? De um lado, alegando "fidelidade absoluta" a Allan Kardec, de outro, demonstrando "paixão entusiasmada" a seus deturpadores?

Eles tentam dar a impressão de que as contradições são "sinal de equilíbrio". Acham que não devem investir naquilo que definem como "excesso de ciência" ou "overdose de raciocínio", e falam que o "coração" mereceria um espaço bem maior que a razão e a lógica.

Aí é que entra o bom-mocismo. Os "espíritas" acham que não precisam "se preocupar demais" com o pensamento de Allan Kardec, porque ele analisava no contexto de seu país, a França, e que por isso a "adaptação brasileira" deveria levar em conta a religiosidade predominante no país sul-americano.

Só que isso se torna uma grande desculpa. Acabam fazendo grandes desvios e, imaginando que eles apenas ficaram com a "essência" do pensamento kardeciano, na verdade eles ficaram apenas com a aparência, a fachada, enquanto cometem traições doutrinárias sérias.
Daí que tentam compensar tudo isso caprichando na retórica da "bondade". Ilustram seus textos melífluos com gravuras envolvendo coraçõezinhos, com crianças brincando de ciranda, meninos negros e pobres sorrindo, enquanto alegam que o "amor" e a "solidariedade" é um "diferencial" do "espiritismo" brasileiro.


Só que amor e solidariedade não podem ser diferenciais de coisa alguma. Elas são o princípio geral das relações humanas, ninguém pode usá-las com diferencial de conduta, porque neste caso seria nivelar as coisas por baixo.

Usar o amor e a solidariedade como "diferenciais" do "espiritismo", ou, melhor dizendo, como seus subprodutos, seria uma forma de dizer que a sociedade é ruim, e que o "espiritismo" é que "melhor promove" os ideais amorosos e fraternos da humanidade.

É claro que, no malabarismo discursivo dos "espíritas", eles alegam que amor e solidariedade não devem ficar só na teoria e nem na doutrina que eles professam. Mas a verdade é que eles, na prática, acabam defendendo tais pressuposições.

A própria ênfase que eles dão a tais ideias já dá conta de um desvio de foco. E, com essa ênfase no "amor e bondade" como princípios de diferenciação, o "espiritismo" acaba fazendo publicidade de si mesmo em prol de interesses comerciais e, no fim, transforma as qualidades morais positivas em meras mercadorias, meros produtos alimentados por um festival de retóricas e jogos de aparências.

Afinal, a meta do Espiritismo não é a solidariedade. Se fosse, não seria Espiritismo, seria Solidarismo, se bem que seria melhor qualquer mudança de nome para uma doutrina que, a essas alturas, se afastou demais de Allan Kardec, apesar das recentes juras de "fidelidade e rigor absolutos".

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