sábado, 2 de janeiro de 2016

É mais fácil acusar quem está "no lado de baixo"


Quando mencionamos a influência da Teologia do Sofrimento no "movimento espírita" através de frases de Francisco Cândido Xavier e quando relatamos casos de pessoas que sofreram azar depois de investirem em tratamentos "espíritas", os adeptos do "movimento espírita" ficam apavorados.

"Isso não é assim", "É invenção sua!", "Ninguém veio para sofrer", são frases típicas dessas pessoas assustadas diante de tantas denúncias contra o "trabalho de bem" da "religião da bondade". Acham que, se tudo dá errado, é da culpa do próprio sofredor.

Alguns líderes "espíritas", bem mais pretensiosos, achando-se conhecedores de assuntos sobre mediunidade e vida espiritual - áreas em que, na verdade, expressam total desconhecimento - , tentam dizer que fulano foi um tirano ou um algoz na encarnação passada e por isso sofre as consequências pesadas das quais só "um pouco mais de sacrifício e fé" poderá sair.

É muito fácil atribuir erros a quem está no lado de baixo da pirâmide social. A questão não é levar em conta se "só eu estou certo" e "o outro está sempre errado", mas o fato de que os "espíritas", que estão no alto do status quo social, através de critérios "por avesso" atribuídos a uma aparente humildade, sempre preferem acusar os que "não são abençoados" pelo sofrimento que recebem.

Pouco importa se fulano se sacrificou para conquistar uma oportunidade. Pouco importa se ele teve a fé e a perseverança necessários. Pouco importa se ele teve iniciativa e fez tudo com serenidade e esperança. Se ele sofre, é sempre culpa dele. O peixe é culpado por não ter podido pular para o alto de uma árvore.

Em muitos momentos, os líderes religiosos parecem estar mais próximos de Pôncio Pilatos do que de Jesus de Nazaré. O sadismo com que às vezes eles reagem diante do sofrimento dos outros é estarrecedor, embora o malabarismo discursivo sempre crie "desvios" para não assumir tais posturas adotadas na prática.

É no malabarismo discursivo que pessoas fazem o pior mas ficam desmentindo o tempo todo. Se, através de um ato, uma pessoa prejudica outro, alega-se que foi um "mal necessário". Mas se o prejuízo se revela um erro, a pessoa que promove esse prejuízo "errou" e "merece perdão". Se o prejuízo tem seus efeitos danosos mais explícitos, então a culpa passa a ser do outro.

É aquela coisa: quem está no alto da esfera do poder está sempre com a razão. Ou dizem que seus prejuízos são "males necessários", ou então admitem que "erraram" e agiram "precipitadamente", ou, quando não há como saírem imunes, acusam o outro desse prejuízo.

É muito fácil acusar quem não está "no alto" ou "nas esferas médias em ascensão" dos sofrimentos e infortúnios que sofre. É certo que nada cai do céu, mas seria simplório demais atribuir à própria pessoa o fato de que ela não conseguiu aproveitar as oportunidades, se os obstáculos são maiores do que seus próprios esforços, que já não são poucos.

Imagine estudar muito para um concurso público e ver depois que a prova mostrou questões e temas que não estavam no programa anunciado. A culpa costuma ser atribuída ao candidato, sempre o "peixe medroso" que "não tem coragem nem fé para subir em uma árvore".

A religião não entende a complexidade humana. Ela trata seus fiéis como um "rebanho", mesmo. Aliás, não um rebanho de carneiros, porque soa brando demais, mas, sendo mais direto, como um gado bovino, de fato.

E é isso que faz com que as religiões, sobretudo um "espiritismo" marcado pela desonestidade doutrinária - diz-se "fiel" a Allan Kardec mas o trai o tempo todo - , ignorem as individualidades das pessoas e os problemas complexos que elas atravessam. Esse papo de "tenha mais fé e se vira" é muito fácil de dizer, mas a vida apresenta problemas muito diversos e entranhados.

Além do mais, os próprios líderes "espíritas" mostram a que vieram, assim como os demais ideólogos e palestrantes da doutrina brasileira. Eles, dotados de uma vida confortável, não vivenciaram os mais complexos dramas pessoais e problemas complicados, dando aos sofredores sugestões de falsas soluções que nada resolvem. Daí esse lado desumano por trás de retórica "tão fraterna".

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