sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

SMTR e Rádio Cidade herdaram proposta de Eduardo Cunha

ÔNIBUS PADRONIZADOS E FM COMERCIAL "DE ROCK" - Eduardo Cunha está dentro de tudo isso.

O Estado do Rio de Janeiro se envolveu em uma grande confusão. Tendo defendido a vitória eleitoral do traiçoeiro Eduardo Cunha e tendo aplaudido sua vitória como presidente da Câmara dos Deputados, seus próprios apoiadores tiram o corpo fora e agora o rejeitam como se nunca tivessem lhe dado apoio alguma vez.

Até mesmo a mídia reacionária, que tanto dava apoio a Eduardo Cunha e até se animou quando ele prometeu tirar a presidenta Dilma Rousseff do poder, passou a se opor a ele, quando se tornaram evidentes os escândalos de corrupção que envolvem ele, seus amigos e familiares, entre eles a ex-jornalista da Rede Globo, Cláudia Cruz, esposa do deputado carioca.

Mesmo o clâ Picciani, família de latifundiários que controla o poder político na cidade do Rio de Janeiro - liderados pelo presidente da Assembleia Legislativa estadual, Jorge Picciani, mas também representados por dois de seus filhos, o líder do PMDB da Câmara Federal, Leonardo Picciani, e pelo atual secretário de Transportes carioca, Rafael Picciani - , passou a se opor a Cunha.

A família Picciani, que chegou a fazer propaganda para Aécio Neves na campanha de 2014 - quando o PMDB se dividiu entre os que apoiavam o tucano e a petista na corrida presidencial - , agora "defende" a permanência de Dilma Rousseff, seguindo a orientação do grupo político de Eduardo Paes, visando interesses financeiros.

Afinal, o grupo político realizou uma farra financeira, ao lado de empreiteiros, que causaram a falência do Estado e, por isso, dependem de verbas federais para socorrer financeiramente os cofres fluminenses. Com isso, passaram a "elogiar a tia" para "garantirem a mesada".

Mas a hostilização a Eduardo Cunha é tão tendenciosa quanto a da Rede Globo. Sabe-se que boa parte dos que se dizem "hostis" a Globo seguem seus valores: a gíria "balada", os ídolos "pagodeiros" e "sertanejos" por ela impostos, o figurino das telenovelas, a ótica do Jornal Nacional, a histeria futebolística trazida por Galvão Bueno etc.

No caso de Eduardo Cunha, chama a atenção duas entidades que "nada têm a ver" com o deputado adaptarem, à sua maneira, uma de suas principais "pautas-bombas" (como eram conhecidas as propostas reacionárias defendidas pelo presidente da Câmara dos Deputados): a terceirização.

A terceirização do mercado de trabalho, que se baseava tanto na desestruturação das relações de trabalho, no fim de garantias trabalhistas e na desqualificação profissional, além da declinação do valor de remuneração, foi um dos projetos apoiados por Eduardo Cunha que ameaçavam prevalecer no país, à revelia da Constituição e outras legislações.

Pois o princípio de terceirização, no que se refere às relações de consumo entre fornecedor e consumidor, é, por incrível que pareça, defendido e executado pela Secretaria Municipal de Transportes da Prefeitura do Rio de Janeiro e pela FM "roqueira" Rádio Cidade, também do mesmo município.

SECRETARIA DE TRANSPORTES DA PREFEITURA DO RIO DE JANEIRO

A SMTR impôs um "novo sistema de ônibus", desde 2010, baseado em medidas antipopulares: dupla função de motorista-cobrador (que sobrecarrega os motoristas), pintura padronizada que põe diferentes empresas de ônibus para ter um mesmo visual (que confunde os passageiros), e redução de trajetos para forçar a baldeação e o uso do Bilhete Único (que fazem perder tempo no transporte).

Com esse "novo" sistema, a relação de serviço entre passageiros e empresas de ônibus, conforme denuncia o jornalista Adamo Bazani, da CBN, também destacado busólogo paulista, deixa de ser direta e passa a ser "terceirizada" pela figura do secretário de Transportes.

No sistema implantado em 2010, a figura do secretário de Transportes passou a se dotar de amplos poderes. Como numa situação em que, num condomínio, a figura do vigilante se confunde com a do síndico, o secretário de Transportes deixa de ser um simples fiscalizador, como deveria ser, para ser dublê de administrador das frotas de ônibus e uma espécie de ditador de um modelo de "mobilidade urbana" que remete aos tempos do regime militar.

O secretário de Transportes acaba sendo uma versão "micrão" de Eduardo Cunha, só para citar um jargão da busologia. E, através do sensacionalismo de medidas aparentemente positivas como os articulados BRTs, a implantação de ar condicionado e a construção de pistas exclusivas, o secretário de Transportes decide tudo à revelia de muitas questões enfrentadas pelos passageiros.

A terceirização acaba se expressando pela "intermediação" da secretaria de Transportes nas relações de consumo de passageiros e empresas de ônibus. Com a pintura padronizada, as empresas de ônibus deixam de ter suas respectivas identidades visuais para mostrar o "visual da prefeitura" ou, em outros casos, o do "governo do Estado". A ênfase no nome da cidade ou do Estado comprovam isso.

Nem a parcial exibição de logotipos de empresas adotada em alguns municípios, com pequenos logotipos escondidos na pintura padronizada ou "perdidos" em janelas e letreiros digitais, consegue resolver o problema. E deixam latente a intervenção estatal que é feita nas empresas de ônibus, o que não traz transparência, porque esconde a identidade de cada empresa de ônibus do público.

Nem sugerir para empresas de ônibus renovarem as frotas os passageiros podem mais. Agora, quem decide pela renovação de frotas de ônibus é a prefeitura ou o órgão estatal. Daí que muitas empresas de ônibus que eram ágeis na renovação de frotas passaram a ter um ritmo mais lento, enquanto que empresas sucateadas ficam na mesma, "confundidas" pelo visual por empresas com desempenho melhor ou menos piorado.

A relação de consumo deixa de ser entre os consumidores e a prestadora de serviços, e passa a ser entre consumidores e o poder estatal, o que indica a intervenção estatal num contexto em que secretarias de Transporte, municipais ou estaduais, exercem poder ditatorial sobre os sistemas de ônibus, impondo até mesmo suas imagens governamentais nas frotas de ônibus, através da infame e intragável pintura padronizada, outdoor político que só confunde os passageiros.

RÁDIO CIDADE

Já a Rádio Cidade adota a terceirização na forma da composição de sua equipe. A rádio, visando interesses de cunho turístico e mercadológico, vende a falsa imagem de "rádio de rock" do Grande Rio. Sua equipe não tem qualquer especialização no rock, e demonstra um comportamento, dicção e mentalidade que não condizem ao segmento.

A equipe é coordenada por um ex-locutor de rádio popularesca extinta. Quase todos os locutores trabalharam na Rádio Cidade quando esta ainda usava a franquia da Jovem Pan FM. Programas como "Debate Rock", "DR da Cidade", "Hora dos Perdidos" e "Rock Bola" não passam de clones ou arremedos de programas como "Pânico da Pan" (Jovem Pan) e "Transa Louca" (Transamérica FM), completamente desprovidos de atitude roqueira.

A terceirização se dá não só na desqualificação da programação, prejudicada pela mentalidade hit-parade da Rádio Cidade, que, com todos os seus preconceitos - o roqueiro é tratado como um debiloide pela emissora - , se limita a tocar apenas dois ou três mega-sucessos de muitos nomes consagrados do rock, que possuem uma vastidão de clássicos e "lados B" admiráveis.

Observa-se a terceirização também nas relações de consumo entre rádio e público roqueiro. Os ouvintes de rock não se sentem representados pelos locutores, o público de rock tem os microfones vetados, não podem comandar a rádio, porque tais funções estão nas mãos de gente que nem curte nem entende de rock, mas que adota a postura oportunista de "profissionais do rock", termo considerado pejorativo pelo mercado radiofônico.

O público de rock se limita apenas a "dar sugestões" para a programação da rádio. o que parece algo fácil de fazer e de se realizar. Mas não é. Afinal, os próprios radialistas da Rádio Cidade possuem seus preconceitos anti-roqueiros, e não vão acatar sugestões de maneira espontânea, mas de acordo com conveniências ou quando há garantia de mais pontos no Ibope.

Dessa forma, por exemplo, a programação não vai se voltar para tocar nomes menos conhecidos, nem canções mais obscuras. Nada de rock mais antigo que nunca fez sucesso nas paradas ou músicas instrumentais ou longas de rock. Se não há o gancho do hit-parade, dos pontos do Ibope, da visibilidade da mídia, a sugestão pode ser simplesmente recusada pela Rádio Cidade.

Assim, os roqueiros não têm a sua própria rádio, mas apenas um "serviço" de uma rádio não-roqueira de "só tocar rock". A terceirização ocorre através da representação forçada da cultura rock por radialistas não-roqueiros, que expressam seus preconceitos e juízos de valor que nada têm a ver com a realidade de quem realmente gosta de rock.

CONCLUSÃO

Enquanto muita gente vai dormir tranquila achando que Eduardo Cunha será historicamente enterrado como um político que aprontou confusões para o país, ele deixa seu legado de uma forma ou de outra no cotidiano dos cariocas.

Dessa forma, Eduardo Cunha pode perder os seus anéis do estrelato político nacional, mas, uma vez decadente no plano federal, continua, ainda que em baixa popularidade, bastante influente nas práticas dominantes no Rio de Janeiro, atingindo até mesmo instituições que parecem não ter relações com o deputado das "pautas-bombas".

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