sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Mercado de trabalho agora quer contratar piadistas


O mercado de trabalho, em sua maioria, tem sempre medo de contratar o profissional certo. Cria critérios um tanto confusos e contraditórios, buscando evitar aquele empregado dotado de muita inteligência e talento, mas considerado "excêntrico" para os padrões de muitas empresas.

Se o mercado dos últimos anos foi marcado por um critério esquizofrênico de exigir pessoas que ao mesmo tempo tivessem pouca idade e muita experiência profissional, a tendência agora adotada pelas empresas é simplesmente a do profissional-palhaço, a do piadista, do comediante.

É isso que anda se observando nos ambientes de trabalho. Profissionais que se destacam mais porque são piadistas com colegas e até com fregueses. Embora tenham que cumprir os procedimentos profissionais estabelecidos pela respectiva empresa, a ênfase no "senso de humor" tornou-se o modismo que faz pessoas se ascenderem mais por serem brincalhões do que fazer um bom trabalho.

Isso é uma distorção exagerada da visão de que se deve ser amistoso e cordial com frequeses e colegas de trabalho. Infelizmente, a chamada Teoria Organizacional cria modismos que influem na realidade das empresas, que mais uma vez erram ao contratar os profissionais nem sempre mais criativos, mas atendem a exigências profissionais da moda.

Há uma grande injustiça nas entrevistas de emprego, que servem de termômetro para o que exigem as empresas. Como ficou muito marcado, de forma negativa, exigir que profissionais tenham menos idade e mais exigência, quando a mídia começou a denunciar casos de desprezo e preconceito com pessoas de mais idade.

Os sádicos entrevistadores de empregos sempre criavam armadilhas para evitar contratar as pessoas certas (ou seja, inteligentes e criativas), mas que não tinham o estereótipo do "bom profissional". O próprio ritual das entrevistas de emprego se revela pouco eficaz na procura do profissional certo para determinada instituição ou empresa.

Perguntas como "qual a diferença entre líder e chefe?" ou "o que você define como espírito de equipe?" causam constrangimento em candidatos que o entrevistador ignora que estejam bem mais preparados para assumir um emprego e dar à instituição ou empresa uma contribuição dinâmica e admirável.

Enquanto isso, os entrevistadores simplesmente aceitam candidatos extrovertidos, piadistas, conversadores e espertos que, no entanto, se tornam insossos funcionários ou empregados, Rapazes bonitões que não são muito inteligentes, mas que sabem "obedecer às normas", ainda que de forma "flexível" e "criativa" (dentro do que os empresários entendem como "flexível" e "criativo").

Atualmente, os critérios se voltam para o humor. O empregado-palhaço, o funcionário comediante e o colega-de-trabalho bonachão se tornaram os ideais de profissional nos últimos anos. Sem representar necessariamente um diferencial de profissional, ele se destaca mais por compensar um desempenho profissional "correto" com uma habilidade de "brincar" com colegas e fregueses.

O grande problema na questão não é o humor, mas a supervalorização do comportamento piadista que comete injustiças com profissionais de personalidade mais reservada mas com potenciais bem maiores do que muitos "palhaços" no mercado de trabalho que se destacam mais pela "interação" com o público do que com o que ele faz em prol da empresa.

O mercado de trabalho ainda não procurou o profissional certo. Depois da gafe de exigir o "experiente mirim", uma aberração que, utopicamente, combinaria pouca idade e muitos anos de trabalho, as empresas e instituições dão novamente um tiro no pé ao contratar profissionais que valem mais pelas brincadeiras e piadas do que pelo trabalho que fazem, geralmente apenas correto.

O profissional brincalhão serve para dar uma imagem positiva da empresa ao público, mas não é a fórmula ideal para um profissional mais criativo e eficiente. Em muitos casos, é apenas uma forma de compensar o profissional que não vai além de cumprir o que "deve fazer" com uma habilidade de parecer um pouco com um showman, com aquele "gancho" para criar uma piada ou brincadeira.

Desta forma, o mercado de trabalho não consegue encontrar os profissionais certos. As empresas e instituições já tiveram um histórico de contratação e promoção de pessoas que nem sempre se destacam pela competência e apenas estão de acordo com determinados contextos e critérios subjetivos.

Daí que, quando ocorrem crises e impasses, os desempenhos profissionais costumam emperrar ou, quando muito, os profissionais "da moda" encontram muito mais dificuldade de contornar os problemas e situações desafiadoras, o que desgasta muitos modismos como o "experiente de pouca idade" e, agora, o "profissional-comediante". O mercado precisa repensar seus critérios.

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