domingo, 17 de janeiro de 2016

Big Brother Brasil e a mediocrização cultural brasileira


O Brasil anda mesmo muito, muito atrasado. Uma das provas que o país não está pronto para comandar a comunidade das nações está no grande lobby da mediocrização cultural existente no país, que mais uma vez empurra para um público submisso mais uma edição do Big Brother Brasil.

O programa é extremamente chato, só para dar uma avaliação mais subjetiva. Mas, pensando objetivamente, também é isso mesmo, porque é um programa maçante onde pessoas alternam frivolidades pessoais com competições coordenadas pelo mediador, no caso o jornalista e apresentador Pedro Bial, um dos fundadores do reacionário grupo direitista Instituto Millenium.

Mesmo assim, a atração persiste e o grande público se sujeita, o que mostra o quanto o público tende também a ser chato na sua preferência pela mediocrização cultural, ou mesmo pela imbecilização, em graus mais extremos.

A influência midiática e cultural do Estado do Rio de Janeiro, onde se endeusa qualquer asneira decidida por alguém de muito status, acaba refletindo no resto do país. A grande mídia "popular", que se comporta como "satélites" da Rede Globo de Televisão, mesmo quando não vinculadas ao controle empresarial da família Marinho, também contribui para isso.

Evidentemente, os "espíritas", trancados em sua "igreja" imaginária, vão dizer que o BBB é uma oportunidade para as pessoas ensinarem a "solidariedade", mas que infelizmente as pessoas sucumbem às "tentações da matéria", desperdiçando uma boa oportunidade para trazer "mensagens positivas" aos "irmãos" etc.

Seria muito simplório se pensássemos assim. Afinal, o vago apelo para a "fraternidade" e "solidariedade" que o discurso religioso faz é inócuo e sem efeito numa sociedade bastante complexa, com sérios conflitos de interesses em que um simples apelo de perdão, tolerância e união são insuficientes para resolver graves problemas de injustiças.

A mediocrização cultural é um dos graves problemas em que não basta resolver com "solidariedade". Afinal, a tolerância e a complacência permitem que o povo pobre ou mesmo o de classe média sejam tratados pela mídia de forma idiotizada e cretina, e a chamada bregalização cultural corrompeu a cultura popular e a transformou em refém do jabaculê e dos interesses empresariais.

E a própria grande imprensa "popular", que uma parcela da intelectualidade julga como de "autêntica representação popular", mas que é controlada por oligarquias empresariais, nacionais e regionais, influi na manipulação de corações e mentes das pessoas, que passam a querer o que não precisam, e a tentar ser o que realmente não são.

O apego ao fútil, ao retrógrado, ao defasado e ao supérfluo faz com que as classes populares se viciem num mercado de entretenimento que permite o prolongamento de atrações como o Big Brother, que tornou-se extinta em alguns países mais desenvolvidos, em que o programa acabou por conta da baixa audiência.

Aqui, com todas as críticas severas que recebe de alguns articulistas, e de incidentes negativos que repercutem nas mídias sociais, o Big Brother Brasil é mantido por causa de um grande lobby do entretenimento "popular", em que empresários diversos, que a intelectualidade que defende a bregalização definem como "modestos", enriquecem de maneira vertiginosa e surpreendente.

Existem lobbies empresariais desse gênero em vários cantos do país. Na axé-music, por exemplo, a ação empresarial tornou-se tão escancarada que criou-se uma "monocultura" na qual as diversas manifestações culturais só tinham vez quando faziam o papel de coadjuvantes do império dos medalhões do ritmo carnavalesco baiano, espécie de pop dançante sem pé nem cabeça que mistura pastiches de Jovem Guarda, reggae, samba e ritmos sensuais caribenhos.

Uma minoria de empresários se diz "surgida das classes populares", mas eles se assemelham a capatazes de fazendas, ditando o que as pessoas querem ouvir, idolatrar, conhecer e admirar. Eles empresariam desde ídolos de ritmos "muito populares" como "funk", tecnobrega e "sertanejo", até subcelebridades vindas do BBB e mulheres siliconadas que "sensualizam demais".

Esses empresários são mais ricos do que muitos ditos "aristocratas" da MPB pós-Bossa Nova. Um único empresário de "forró eletrônico" tem um patrimônio comparável ao de uma família de latifundiários. Ele apenas tenta passar uma falsa imagem de "humilde" porque está associado ao universo do "popular", usando paletós antigos, jeans desbotados e rasgados e velhos pares de tênis.

Graças a eles, um mercado de entretenimento "popular" promove a mediocrização e a imbecilização. Há o fenômeno aberrante de mulheres que "mostram demais" e não dão uma pausa sequer para a "sensualidade", e nem fazem outra coisa senão esse apelo forçadamente voluptuoso.

A estupidificação através dessa "cultura" torna-se avassaladora na medida em que o povo deixa de ter vontade própria e se submete à sua própria caricatura. E, num fenômeno como os reality shows, espécie de dramaturgia ruim, tosca, precária e canastrona, em que a "realidade" não passa de pura encenação, a caricatura do povo se torna ainda mais evidente.

O povo precisa se reencontrar, fora de todo esse espetáculo de futilidades e frivolidades que é o entretenimento "popular" que alimenta os grandes empresários da mídia, do mercado e das diversões empurradas para as classes populares.

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