O "espiritismo" brasileiro tornou-se extremamente conservador e igrejista. Virou, risivelmente, um "outro Catolicismo", seguindo o sentido inverso das religiões protestantes, matrizes das crenças evangélicas hoje conhecidas, que surgiram como dissidências da Igreja Católica, portanto, se afastando dela, enquanto os "espíritas" brasileiros buscaram o caminho da aproximação.
Isso é bastante risível e constrangedor, afinal, se já existe o Catolicismo, para que outro? E as alegações de "amor e caridade" não convencem sobre a validade do "espiritismo" que mais parece uma religião de gente frustrada e medíocre: católicos envergonhados, médiuns fracassados, físicos, novelistas e intelectuais medíocres.
O apelo é de um igrejismo primário, pois no cenário de injustiças e retrocessos em que vivemos, falar em "reforma íntima", pelo ponto de vista trazido pelos "espíritas", soa ofensivo: aceitar o sofrimento, abrir mão das próprias necessidades, se conformar com as desgraças e mesmo assim se achar feliz, como se os prêmios do além-túmulo (não seria isso uma concepção materialista do mundo espiritual?) garantissem o insólito e surreal otimismo.
Evidentemente, os indivíduos têm que mudar, mas não na ênfase e na forma imperativa que os "espíritas" dizem, que mais parece um "anti-conhecimento" do que um "auto-conhecimento", ou, talvez, uma "auto-negação". Uma negação da individualidade, algo como "deixe de ser você mesmo em nome das glórias infinitas do céu".
Reproduzimos aqui a mensagem do presidente da Federação "Espírita" Brasileira, José Godinho Barreto Nery, sobre as orientações do ano novo, em artigo publicado no portal UOL. Um aspecto risível é quando ele pede a "indulgência às imperfeições dos outros", o que sugere, subliminarmente, para que sejamos indulgentes à deturpação do Espiritismo, uma atitude feita sempre de propósito, mas que seus praticantes inventam que é "por acidente". Um apelo "em causa própria", digamos.
E, como sempre, a mensagem, ainda que de um profundo apelo roustanguista, usa Allan Kardec - ou melhor, um Kardec desfigurado em traduções bisonhas - para os mesmos apelos vagos da caridade, que soam bastante superficiais e sem aplicação na realidade em que vivemos, pois são apelos que podem ser feitos sem combater as injustiças sociais, mais promovendo o conformismo dos infelizes do que impondo limite de ação aos gananciosos. Vamos ao texto:
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O que eu posso fazer para mudar o mundo? "O primeiro passo é começar consigo mesmo"
Jorge Godinho Barreto Nery - Presidente da Federação "Espírita" Brasileira - Artigo do UOL, 01 de janeiro de 2018.
A máxima "Qual o meio prático mais eficaz que tem o homem de se melhorar nesta vida e de resistir à atração do mal? Um sábio da antiguidade vo-lo disse: Conhece-te a ti mesmo" é destacada na pergunta 919 de "O Livro dos Espíritos". Mas como conseguir isto?, pergunta o codificador Allan Kardec aos Espíritos, que o respondem:
"Fazei o que eu fazia, quando vivi na Terra: ao fim do dia, interrogava a minha consciência, passava revista ao que fizera e perguntava a mim mesmo se não faltara a algum dever, se ninguém tivera motivo para de mim se queixar. Foi assim que cheguei a me conhecer e a ver o que em mim precisava de reforma. Aquele que, todas as noites, evocasse todas as ações que praticara durante o dia e inquirisse de si mesmo o bem ou o mal que houvera feito, rogando a Deus e ao seu anjo de guarda que o esclarecessem, grande força adquiriria para se aperfeiçoar, porque, crede-me, Deus o assistiria. Dirigi, pois, a vós mesmos perguntas, interrogai-vos sobre o que tendes feito e com que objetivo procedestes em tal ou tal circunstância, sobre se fizestes alguma coisa que, feita por outrem, censuraríeis, sobre se obrastes alguma ação que não ousaríeis confessar".
O primeiro passo para mudar o mundo é, portanto, trabalhando a si, "a chave do progresso individual", como nos trazem os Espíritos. A partir deste momento de reflexão e reforma íntima contínua nos tornamos mais próximos à realização de ações que concretizarão o Evangelho do Cristo no nosso dia a dia.
Reformando-nos, agindo pautados no Cristo, é momento de nos unirmos, sendo este, pois, um aspecto de suma importância na transformação do mundo. Como Jesus, nosso Mestre e Guia convida aos que desejam ser seus discípulos à prática dessa união, recomendando: "Meus discípulos serão reconhecidos por muito se amarem". Amemos, pois!
Nesta caminhada de união, a paciência, o respeito, a benevolência, a tolerância se fazem essenciais na prática genuína do bem e no exercício da caridade, conforme questão 886 de "O Livro dos Espíritos": "Benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições dos outros, perdão das ofensas".
Ao exercitar a caridade não apenas material, mas de palavras, pensamentos e ações positivas ao longo de nossa existência, trabalhamos por nosso melhoramento, ao mesmo tempo em que auxiliamos a caminhada de nossos irmãos e a mudança de mundo.
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