sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

O que faz muitos brasileiros se apegarem aos "médiuns espíritas"?


O que faz muitos brasileiros se apegarem aos "médiuns espíritas"? As palavras dóceis? A suposta caridade? O alegado contato com os mortos? A aparente despretensão e suposta humildade? O pretenso intelectualismo?

O "espiritismo" brasileiro representou, mais do que nunca, não a combinação equilibrada das diversas ideias relacionadas à virtude, à bondade e à inteligência humanas, mas a combinação dos mais intrincados artifícios de argumentação falaciosa e manipulação das mentes humanas, às custas de inúmeros apelos emocionais e linguísticos que dificultam a compreensão da realidade, que se torna refém das mistificações desta religião.

Existem desculpas para tudo, até para o "espiritismo" brasileiro deturpar o legado de Allan Kardec. Deturpa-se os ensinamentos originais do pedagogo francês, sob a desculpa de que no Brasil prevalecem as tradições religiosas cristãs. Deturpa-se, mas finge-se "fidelidade absoluta" e "respeito rigoroso" ao legado kardeciano, sob a desculpa de "modernização" ou "adequação à realidade brasileira".

Nunca um fenômeno ou instituição conseguiram ir tão longe na manipulação das mentes humanas e no uso de argumentos tão tendenciosos e hipócritas, porém agradáveis e verossímeis. Até mesmo a valorização de Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco serve para colocar o nome do mestre de ambos, Jean-Baptiste Roustaing, debaixo do tapete.

Os brasileiros vivem um período de profunda crise nas instituições, além da decadência de muitos paradigmas. No entanto, se apega a eles de maneira doentia, a ponto de se abrir mão de ideias e personalidades inovadoras em prol de coisas velhas e obsoletas mas que durante muitos anos foram aceitas e apoiadas por setores influentes da sociedade.

Essa crise não se trata de uma mera tempestade moderada que tratá susto com chuva forte, trovões e raios para, depois, dar lugar a uma noite de céu estrelado. Essa tempestade será devastadora e velhos paradigmas cairão, e eles não serão o Modernismo, a Bossa Nova e nem o Partido dos Trabalhadores, usualmente classificados como "velhos".

Paradigmas associados ao ultraconservadorismo social estão ruindo, e mesmo pessoas que se dizem "progressistas" estão assustadas. Os entulhos de acumulam nos porões mentais das pessoas e elas resistem a se livrar deles.

Só o medo da sociedade brasileira até de ver assassinos ricos morrerem, mesmo doentes ou vulneráveis, mostra o quanto o Brasil não abre mão do cheiro forte de mofo de muitos valores e personalidades. Para pessoas assim, é preferível até que personalidades jovens e inovadoras morram, em detrimento de algozes velhos e doentes.

"ESPIRITISMO" E A MANIA DE TRIUNFALISMO

O "espiritismo" brasileiro vive a mais aguda crise, quando suas contradições diversas vêm à tona. Tido como "progressista", o "espiritismo" sinalizou o apoio ao golpe político de 2016 e o cenário sócio-político dele resultante, fato comprovado em diversas ocasiões.

Mesmo assim, volta à tona a velha combinação de vitimismo e triunfalismo, com os "espíritas" se dizendo "confiantes" com sua vitória em momentos extremamente delicados. Acham que, perto da derrota, os deturpadores do Espiritismo serão mais uma vez beneficiados pela complacência geral e pela retratação dos seus opositores e tudo voltará à mesma estabilidade de antes.

E as pessoas que se apegam aos "médiuns espíritas" mais uma vez se sentem "esperançosas" com o triunfalismo deles, como se eles pulassem um túnel de fogo e saíssem ilesos, sem queimaduras. Eles aprontam com escândalos resultantes de suas decisões arrivistas e, se passando por vítimas, tentam passar por cima pelos obstáculos que eles mesmos criaram para si.

Vendo Chico Xavier com suas frases "cruas" de meros jogos de palavras opostas, mas enfeitadas com ilustrações floridas ou celestes, e Divaldo Franco com sua oratória rebuscada e cheia de pompa, se vê o quanto os apelos emotivos associados a eles e similares entorpecem os instintos humanos, dominados pelas paixões religiosas aos "médiuns espíritas".

A divinização dos "médiuns espíritas" é feita de maneira assustadora, mas é uma ilusão feita pelas paixões terrenas que envolvem o âmbito das religiões que, sabemos, são criações humanas, as quais se sujeitam, com igual ou mais intensidade, aos mesmos caprichos ambiciosos e orgiásticos das paixões do sexo, das drogas e do dinheiro.

APEGO DOENTIO E INSEGURANÇA

O apego aos "médiuns espíritas" é doentio. Ele se serve de uma mistura de transe emocional e êxtase religioso, criando um simulacro de elevação emocional que, do contrário da emotividade saudável, não traz uma sensação natural e forte de serenidade. Diante da menor contrariedade, os seguidores dos "médiuns" explodem em fúria e agressividade, mesmo quando reagem com irônicas poses de falsa calma e aparente diálogo.

Até que ponto as pessoas podem até mesmo aceitar serem prejudicadas na vida, em nome da idolatria cega aos "médiuns"? Que tipo de "caridade" elas defendem para justificar a divinização obsessiva de seus ídolos? A que utilidade terá, realmente, nas suas vidas, o entretenimento das palestras "espíritas", com "médiuns" oradores como Divaldo Franco, destilando mel até na saliva, com sua verborragia de palavras enfeitadas e textos rebuscados e prolixos, cheios de mistificação?

As pessoas chegam a abrir mão de tudo. Da ética, da lógica, do bom senso, da coerência, do respeito a si mesmos, da qualidade de vida, porque para os "médiuns" se deve ter a idolatria cega e submissa. Ainda que a casa de cada pessoa caia mediante um deslizamento, ainda que a fome passe a debilitar os órgãos a ponto de fazer o coração parar, a idolatria aos "médiuns" é a única coisa a ser mantida, como se fosse o único patrimônio de seus seguidores.

Isso é extremamente grave e as pessoas se apegam aos "médiuns espíritas" sem saberem os equívocos em que se metem. Num país onde se dissimula tudo, as pessoas ignoram que, com essa idolatria, elas expressam sua beatitude retrógrada e medieval e se revelam pessoas bastante conservadoras, e não é raro haver pessoas que se dizem "progressistas" que se revelam terrivelmente conservadoras e até reacionárias.

O apego aos "médiuns espíritas" revela, portanto, um inconsciente medieval que prende muitos brasileiros, pela carga emotiva que suas crendices lhes sugerem. A catarse emotiva e a submissão mental das pessoas faz com que elas se apeguem a um "médium espírita" como um pedaço de madeira enferrujada ao qual se agarram num naufrágio.

Mas é uma ilusão considerar que elas se sentem protegidas com isso, porque isso é apenas uma falsa sensação de alívio diante da zona de conforto da submissão a um ídolo religioso. A adoração dos brasileiros aos "médiuns espíritas" revela, com o seu apego obsessivo a eles, um triste defeito que eles não conseguem admitir: a INSEGURANÇA.

As pessoas não conseguem tocar a vida por si mesmas, não sabem o que querem na vida, defendem valores conservadores mas se horrorizam quando alguém lhes aponta essa qualidade, e são tão confusas que querem ser católicas sem encarar seus ritos e sacramentos. O "espiritismo" brasileiro acaba lhes sendo ótimo, porque ele atua como um "catolicismo para preguiçosos".

Se as pessoas não abrirem mão dessa idolatria e encarar com isenção e sem medo os aspectos sombrios dos "médiuns", que no fundo são severos e graves deturpadores do Espiritismo já alertados previamente pela obra kardeciana original, se tornarão escravas da mistificação dos "médiuns", que com seu culto à personalidade usam de todo artifício para se tornarem os semi-deuses aos olhos da multidão na Terra. E isso não é bom.

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