ROUSTANGUISTAS, DIVALDO FRANCO E CHICO XAVIER SEMPRE POSARAM DE PRETENSOS DISCÍPULOS DO ESPIRITISMO ORIGINAL FRANCÊS.
O maior problema, no Brasil, é que as pessoas não sabem medir seus desejos e necessidades. Há pretensão demais e sinceridade de menos, além de uma mania de dissimulação que chega aos níveis da mitomania. Isso, constantemente, é alvo de muitos conflitos sociais, que chegam mesmo a agressões físicas ou a impulsos que fazem muitos escreverem hoje as mensagens que, depois, se apressarão desesperados para apagar.
Desde 2016, o Brasil vive uma profunda crise de valores. De 2013 para cá, abriu-se a caixa de Pandora do inconsciente brasileiro, no qual se via, por exemplo, roqueiros, antes símbolos de rebeldia e ativismo, se tornarem reacionários, e atletas olímpicos seguirem o mesmo caminho, despencando dos "olimpos" da divinização social.
As pessoas, na sociedade contemporânea, não sabem o que querem, e não raro não medem desejos nem necessidades. Isso influi muito mais nas desigualdades sociais do que o simples processo de acumulação de dinheiro, rápida e farta para uns, lenta e trabalhosa para outros.
Até mesmo na vida conjugal se observa a "solidão a dois" de esposas altivas, vibrantes, inteligentes e atraentes e seus sisudos maridos, profissionais liberais, executivos ou empresários, que não passam de casmurros caçadores de fortunas que parecem não tirar satisfação com a vida social e só vivem de acompanhar a esposa nas festas de gala ou nos passeios com os filhos. Fora isso, esposas e maridos aparecem separados, e elas mesmas acabam vivendo quase como se solteiras fossem.
Será que esses maridos precisam realmente dessas mulheres? A obsessão deles é para o sacerdócio da acumulação financeira, nos mosteiros de suas empresas ou estabelecimentos similares, nas missas dos eventos de galas, no celibato de suas ambições sócio-econômicas nas quais o casamento com uma mulher é apenas um adorno, um enfeite para buscar o prestígio social, uma relação forçada muito mal justificada pelo aparato de convívio com os filhos?
Isso é um exemplo de como os desejos e necessidades humanas andam corrompidos. Pratica-se até crimes em nome de obsessões por coisas em verdade desnecessárias. Há uma série de conflitos de ideias, interesses e pontos de vista forjados artificialmente, sem que eles sejam realmente essenciais para seus beneficiados aparentes.
"ESPÍRITAS" TAMBÉM POSSUEM DESEJOS E NECESSIDADES DESMEDIDOS
E quem acha que os "espíritas" não estão nessa, porque eles são justamente os primeiros a condenar os desejos desmedidos dos outros, está redondamente enganado. Isso porque os "espíritas", que tiveram a formação igrejeira com base na combinação entre as ideias catolicizadas de J. B. Roustaing e a tradição do Catolicismo jesuíta do Brasil colonial, insistem na obsessão doentia por Allan Kardec, contra o qual cometem traições doutrinárias graves, mas juram "fidelidade total" a ele.
A obsessão por Kardec torna-se um processo doentio de busca por vaidades pessoais, alimentando um mercado comercial de livros e palestras, às custas de todo apelo sensacionalista paranormal ou de apelos moralistas análogos ao dos best sellers de autoajuda. As lições de Kardec são jogadas no lixo, mas o nome dele desfila nos lábios mentirosos cheios de mel dos "médiuns" divinizados e outros palestrantes "espíritas" com similar intenção, embora sem o "dom paranormal".
Ainda se está a discutir por que os "espíritas" brasileiros renegam tanto o nome de Jean-Baptiste Roustaing, se seguem tanto as suas ideias, descartando apenas dois pontos polêmicos como o "Cristo fluídico" e os "criptógamos carnudos" ("reencarnação" de espíritos humanos em vermes, plantas ou insetos). Fazem práticas de pregação religiosa ou de suposta mediunidade à revelia dos ensinamentos espíritas originais, não raro contrariando os mesmos. Mas juram respeito rigoroso a estes.
Isso é dissimulação, e um cinismo descarado de palestrantes e "médiuns" que se servem do malabarismo de sua oratória ou de outros aparatos emotivos ou discursivos para tentar justificar a defesa de posições que, em vários momentos, contrariam severamente. Ver que dois roustanguistas, Francisco Cândido Xavier e Divaldo Franco, vendam a imagem de "kardecianos autênticos" é muito assustador e vergonhosamente constrangedor.
Chico Xavier e Divaldo Franco deixam claramente seus desvios, não raro de extrema gravidade, em relação aos ensinamentos espíritas originais. A "carteirada" do prestígio religioso e o apelo demagógico das supostas filantropias - feitas mais para promover seus nomes do que realizar benefícios definitivos para os necessitados - viram artifícios tendenciosos para vinculá-los, de graça e sem o menor mérito nem dignidade, ao legado do pedagogo de Lyon.
AS PIORES PRETENSÕES, SOB A MÁSCARA "MODERNA"
Há outros exemplos de desejos e necessidades desmedidos. O "funk", um mero ritmo dançante meramente comercial e feito para puro entretenimento, se vende como "poderoso movimento ativista e artístico-cultural" se usando dos mesmos apelos emotivos de Chico Xavier e Divaldo Franco, descontando as diferenças de contextos.
A pretensão de usar as pessoas pobres - definidas como "periferia", uma expressão que, para desespero das esquerdas complacentes com o "funk", vêm do jargão de Fernando Henrique Cardoso, figura eminente do neoliberalismo brasileiro - como gancho para uma abordagem glamourizada e espetacularizada das classes populares, revela também um processo de desejos e necessidades desmedidos.
O "funk" poderia se satisfizer na sua postura de ritmo dançante comercial, virar apenas um passatempo e um mero entretenimento, mas as pretensões de falso esquerdismo, de pretenso ativismo social e de suposto movimento artístico-cultural, baseado em clichês de falsa subversão comportamental, revelam o quanto se deseja mais do que precisa para obter vantagens acima das normais.
Ele segue o contexto de outros ritmos "populares demais" que, sob a desculpa de lutar pelos próprios espaços, ocupam os espaços alheios da MPB e da cultura alternativa, sufocando as expressões da música brasileira de qualidade e não-comercial.
No âmbito ideológico, o "funk" segue o caminho da confusão de supostas transgressões de comportamento. Tenta ser "feminista" trabalhando valores machistas de sexualização do corpo feminino, usando como desculpa esfarrapada a "liberdade do corpo", uma ilusão que faz as mulheres rebaixadas a objetos sexuais dos homens terem a falsa impressão de que, "mostrando demais", só estão exibindo para si mesmas. A Internet, todavia, não é como o espelho de casa.
Há homossexuais homofóbicos, mulheres que sentem a "síndrome de Estocolmo" (quando a vítima se sente atraída pela força ou pelo coitadismo do algoz) pelos machistas violentos, negros racistas contra si mesmos, e pobres de direita que lutam contra seus próprios direitos. Mas há também esquerdistas com visões de direita, rebeldes obscurantistas, pessoas de visual bem arrojado com ideias tão retrógradas.
Há também empregadores que não sabem o que querem e esperam que o novo profissional seja um cruzamento de Malvino Salvador, Danilo Gentili e Neymar, vendo como requisitos mais o talento de contar piadas e falar de futebol do que da própria competência profissional específica. E há concursos públicos que, até para funções de nível escolar médio ou superior não-científicas, se exige demais conhecimentos de Direito e Matemática.
São vários conflitos de interesses, que às vezes se tornam contraditórios quando envolvem mais de uma causa. É o esquerdista esclarecido que denuncia a grande mídia, mas adora a Seleção Brasileira de Futebol, protegida da Rede Globo. Ou que defende um Chico Xavier que foi reacionário em seu tempo. É a pessoa que diz apoiar o fim das desigualdades, mas defende medidas econômicas que só as fazem agravar.
É isso que faz o Brasil estar em conflitos permanentes, porque as pessoas pensam no arrivismo e no alpinismo sociais, sendo modernas na embalagem e retrógradas no conteúdo, presas nos seus vícios de quererem ser o que não são, obtiverem o que não precisam, e sair por aí desmentindo posições conservadoras que defendem no íntimo de suas almas. Se nada for feito para frear essas ambições, o Brasil mergulhará em retrocessos sociais ainda piores.
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