domingo, 21 de janeiro de 2018

Os "médiuns espíritas" cometem traições e você nem liga. Deveria ligar


Nas relações pessoais, é comum reagir com muita indignação quando antigos entes queridos cometem traições. A sociedade registra casos de traições sérias que geram rompimentos e até crimes, transformando antigas afeições em ódios violentos.

Recentemente, no Canadá, um selfie desvendou um crime bárbaro, em que duas antigas amigas, Cheyenne Rose Antoine e Brittney Gargol, apareciam sorrindo, com a primeira delas, a autora do selfie, usando o cinto que teria servido para enforcar a segunda.

Brittney, que aparece no famoso selfie no lado direito da foto, teria sido esfolada porque as duas estavam bêbadas e dopadas pela maconha e talvez tivessem discutido na ocasião, numa boate. Cheyenne tentou escrever mensagens como "Cadê Você? Não deu mais notícias. Espero que tenha chegado bem em casa", aparentemente para despistar.

A Justiça entendeu como assassinato de segundo grau, mas depois o definiu como homicídio culposo. Cheyenne se arrependeu do ato, de maneira sincera. Mas no calor do momento pode ter sido movida por impulso de uma discussão momentânea e partido para cometer o crime.

Incidentes de poucos minutos resultam também em inimizades declaradas, em feminicídios, em parricídios ou em disputas judiciais por danos morais ou heranças de um genitor falecido. As tensões sociais mostram que as pessoas podem reagir com indignação extrema durante situações de alguma traição ou desavença séria.

CHEYENNE ANTOINE (ESQ.) E BRITTNEY GARGOL.

É claro que trair não é bom, assim como se vingar de uma traição também não. Mas o bom senso deveria ser levado em conta, em vez do sentimento de vingança, ainda que provisório e movido pelo impulso emocional do momento. Embora seja recomendável o diálogo, admite-se impedir que alguém faça alguma coisa se ela tornou-se uma tarefa malfeita.

No "espiritismo" brasileiro, temos dois grandes exemplos de traidores da Doutrina Espírita, com um surpreendente e preocupante grau de gravidade. Os "médiuns" Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco, que se encaixam no perfil de "inimigos internos" que haviam sido descritos, com muita antecedência, por Allan Kardec, são casos de profunda traição que muitos têm medo de admitir, mas que são fatos comprovados.

São traições graves, porque remetem à desonestidade doutrinária e a irregularidades apontadas em trabalhos supostamente mediúnicos. São problemas que não devem ser subestimados, porque seu nível de gravidade envolve o uso de pretextos como "caridade" e "mensagens positivas" como artifícios para mascarar e ocultar essas práticas levianas, e sabe-se que a pior mentira é aquela que se camufla por atitudes aparentemente bondosas e agradáveis.

FORA DA CARIDADE NÃO HÁ SALVAÇÃO, MAS FORA DA HONESTIDADE TAMBÉM NÃO

Embora isso ainda seja chocante para muitos, assim como atitudes que ainda fazem coçar a cabeça - como Chico Xavier defendendo a ditadura militar num antigo programa de TV e Divaldo Franco apoiando a "farinata" de João Dória Jr. -  , as provas de tantas traições são verídicas e contundentes, por mais que a Justiça ou a opinião pública adotem critérios "objetivos" que mais servem para botar tais sujeiras debaixo do tapete.

Usam-se essas desculpas "objetivas" para tudo. Está comprovado que a obra espírita original diz valores e conceitos que nas obras os dois "médiuns" soam divergentes. Juntos, Chico e Divaldo lançaram conceitos anti-doutrinários muito graves, como supor, por paixões materialistas, que o mundo espiritual é "análogo" ao da Terra e discriminar pessoas diferenciadas sob o rótulo duvidoso de "crianças-índigo".

Os dois "médiuns" sempre foram católicos e, na verdade, haviam sido "adotados" pelo "movimento espírita". Chico e Divaldo são considerados traidores da Doutrina Espírita não porque eram espíritas que falharam, mas porque assumiram um compromisso de representar a herança kardeciana na qual nunca tiveram o interesse de cumprir corretamente, só eventualmente expondo corretas teorias espíritas mais para manter as aparências do que mostrar que "aprenderam alguma coisa".

O aparato de "caridade", e "belas palavras", os apelos emotivos "agradáveis" e todo o verniz de "suavidade", "positividade", "humildade" e "despretensão" não podem ser vistos como atenuantes, mas como agravantes da desonestidade doutrinária que os "médiuns espíritas" cometem contra o legado kardeciano.

Essa constatação não é caluniosa nem ofensiva, porque a fidelidade doutrinária deveria vir em primeiro lugar. Não é uma questão de dizer-se "fiel" aos postulados espíritas originais, pois de que adianta seguir a máxima "Fora da caridade não há salvação" se ignora a outra frase: "Fora da honestidade não há salvação"?

Se a "caridade" serve para ocultar a desonestidade, seu sentido de ajuda ao próximo se anula completamente. Se o deturpador do Espiritismo usa a filantropia como artifício para obter a credibilidade que sua traição doutrinária não oferece, mais desgraçado é esse deturpador, mais deplorável é sua figura, mais indigna de credibilidade é sua pessoa, por mais que o açúcar de suas palavras ou de outros apelos emotivos cause sensação de aparente conforto em multidões.

TOLERÂNCIA NÃO É COMPLACÊNCIA

Chico e Divaldo cometeram desonestidades sérias e traições gravíssimas. Ainda que pudéssemos perdoá-los, não podemos admitir que eles possam ter a mínima representatividade no Espiritismo. Há 40 anos, acreditávamos que os dois deturpadores iriam colaborar para a recuperação das bases doutrinárias, mas tudo isso foi em vão. Os dois continuaram igrejistas até o fim, e Divaldo continua sendo.

Como vamos reagir a isso? Com indignação, é claro. Ainda que não pudéssemos reagir com fúria ensandecida, devemos, ao menos, tolerá-los como pessoas mas renegá-los firmemente como pregadoes espíritas. Tolerância não é complacência, não é permissividade.

Devemos ignorar seus textos e palestras totalmente, fecharmos olhos e ouvidos aos dois "médiuns", até porque, se eles eventualmente dizem alguma coisa aparentemente boa ou agradável, há muitas outras pessoas que diriam a mesma coisa com mais propriedade, sinceridade e profundidade.

O apego doentio aos "médiuns", motivado pelas tentações do "bombardeio de amor" - um tipo perigoso de apelo emocional próprio do discurso falacioso - , faz com que a sociedade brasileira adote uma complacência assustadora em relação a esses ídolos religiosos, que acabam exercendo um poder descomunal através de formas graves de obsessão, já previamente descritas na obra kardeciana: a fascinação obsessiva e a subjugação.

A fascinação obsessiva impede as pessoas comuns de abrirem mão dos "médiuns". Em muitos casos as pessoas parecem conviver sem eles, mas é só eles aparecerem na televisão ou em alguma outra imagem que elas se rendem, como se estivessem sido dominadas por um canto de sereias. Os "médiuns" nem bonitos eram ou são, mas parecem estar dotados de um tipo muitíssimo perigoso de sedução e dominação das mentes humanas.

No caso de juízes, jornalistas e acadêmicos que deveriam analisar as traições doutrinárias dos "médiuns", ocorre a subjugação. "Recusamos a investigar pessoas de bem", dizem eles. Fora uns poucos corajosos, não há coragem em verificar as irregularidades cujos indícios sugerem alta possibilidade de comprovação.

O caso de Humberto de Campos é notório. A usurpação de seu nome teria sido leviana - Chico Xavier não gostou da resenha que o autor maranhense deu a Parnaso de Além-Túmulo e por isso o "médium" teria se "vingado" transformando-o num "autor do além" - , comprovadamente irregular (o estilo atribuído ao autor maranhense na "obra espiritual" difere grosseiramente do original) e motivada por interesses comerciais, ainda que sob a desculpa da "caridade".

A seletividade da Justiça é notória. Temos uma justiça tendenciosa que, dependendo do status quo de alguém, pode condenar um indivíduo sem provas de um crime e inocentar um outro cujo crime tem provas comprováveis. 

Se hoje vemos a Justiça cometer o papelão de poder condenar o ex-presidente Lula por um prédio que nunca foi de sua propriedade e foi penhorado em nome da empreiteira OAS, no passado essa mesma Justiça foi capaz de inocentar Chico Xavier mesmo quando há provas claras de que as "psicografias", no caso referentes ao nome de "Humberto de Campos", eram evidentemente fraudulentas.

O caso mais grave, embora muitos considerem "lindo e comovente", foi o assédio religioso que Chico fez ao filho do escritor, o produtor Humberto de Campos Filho. Ele o convidou em 1957, para uma reunião "espírita" em Uberaba, usou de artifício emocional (o perigoso "bombardeio de amor") para dominá-lo durante um abraço e mostrou atividades aparentemente filantrópicas, que indicam Assistencialismo (caridade fajuta que ajuda pouco e promove mais a imagem pessoal do "benfeitor").

Embora oficialmente esse episódio fosse definido como "linda lição de misericórdia e amor", ele foi um ato de extrema leviandade. Chico se aproveitou que a viúva de Humberto, dona Catarina Vergolino de Campos, havia falecido para fazer assédio ao filho dela, também levando em conta que o filho do autor maranhense começava a conhecer o "espiritismo", por influência de amigos e colegas de televisão.

Isso só agrava as coisas e, quando se usa a "caridade" para a promoção de ídolos religiosos marcados por traições doutrinárias, isso se torna mais deplorável e não digno de relativização ou admiração. O assédio a Humberto de Campos Filho só mostra o lado mais grave e mais traiçoeiro de Chico Xavier, um ato de dominação por motivos tendenciosos, feitos para sepultar um processo judicial do caso Humberto de Campos que havia se mantido em sentenças recorrentes após o desfecho de 1944.

Da mesma forma, tão deplorável é o caso da "farinata" de Divaldo Franco. Ele que sempre foi o centro das atenções e o foco primeiro do evento Você e a Paz (é sempre o primeiro a ser procurado para entrevistas e é a pessoa que aparece em todas as propagandas do encontro "ecumênico"), ao decidir homenagear um político decadente (o prefeito de São Paulo, João Dória Jr.) e um produto alimentar de valor duvidoso ("farinata" ou "ração humana"), Divaldo tentou se esconder.

As reportagens sobre a "farinata" mal creditavam o nome "Você e a Paz" e procuravam omitir o nome do seu maior responsável. Mesmo a imprensa esquerdista ignorou Divaldo, que pôde sair de fininho num contexto em que ele personificou um "fantasma às avessas": alguém vivo e encarnado que "desapareceu" das vistas das pessoas vivas. E isso apesar de Divaldo ter aparecido ao lado de Dória nas fotos - uma delas Divaldo é o que olha para a frente - e do nome dele e do evento aparecerem na camiseta do prefeito de São Paulo.

Essa atitude é conhecida como omissão. Divaldo ofereceu seu evento para o lançamento oficial de um alimento condenado por nutricionistas e visto por ativistas sociais como "atentado à dignidade humana", algo vergonhoso para um "médium" tido como "humanista". No entanto, a responsabilidade que ele deveria ter foi omitida e Divaldo pôde depois voltar para dar depoimentos e mensagens faladas ou escritas.

Há muito o que falar das traições dos "médiuns espíritas". Se muitas pessoas são capazes de se indignar com as traições de cônjuges, parentes e amigos de infância, por que logo no caso dos "médiuns" que deturpam o Espiritismo se tem que fazer como aquele marido "corno-manso" que acredita que a esposa que o trai está saindo com os "priminhos"? Isso seria coisa de muita preocupação e cautela. Não nos prendamos à cegueira das paixões religiosas e seus apelos emotivos.

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