sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

"Correio Espírita", como o "espiritismo" em geral, apoiou o golpe político de 2016

MONTAGEM ENFATIZANDO MATÉRIA DE "CORREIO ESPÍRITA" QUE DEFINE AS PASSEATAS DO "FORA DILMA" COMO "CAMINHO PARA A REGENERAÇÃO".

Tido como religião "progressista", o "espiritismo" brasileiro sempre foi conservador, desde que preferiu montar suas bases doutrinárias não com os ensinamentos de Allan Kardec, mas com os do deturpador Jean-Baptiste Roustaing, para, em seguida, recuperar não os postulados espíritas originais, mas o conteúdo do Catolicismo jesuíta medieval, que dominou no Brasil-colônia, que foi totalmente repaginado e agora constitui a essência do que oficialmente se conhece aqui como "doutrina espírita".

Várias demonstrações neste sentido comprovam que os "espíritas", que já apoiaram o golpe militar de 1964 - segundo o historiador Jorge Ferreira, "kardecistas" participaram da Marcha da Família Unida com Deus pela Liberdade - , também apoiaram o golpe político-jurídico de 2016, que abreviou o mandato de Dilma Rousseff e pôs o vice e traidor Michel Temer no poder.

Várias publicações "espíritas" definiam a Operação Lava Jato, conhecida por sua truculência jurídica e suas ações feitas ao arrepio do Direito e da Constituição Federal, como "um processo movido pelos guias espirituais para combater a impunidade histórica no país".

Em seguida, os "espíritas" passaram a definir as raivosas passeatas do "Fora Dilma", nas quais se pedia até a "intervenção militar" (eufemismo para golpe militar) e se exibiam símbolos nazi-fascistas, como "despertar político da juventude" e "preparação para o caminho da Regeneração".

Mais tarde, os "espíritas" apoiaram Michel Temer como o "líder designado a promover o fim do conflito entre irmãos" e passou também a apoiar as "reformas" trabalhista e previdenciária como forma de "reeducação econômica" das pessoas, sob a desculpa de "moderação no apego materialista do 'ter'".

Quanto às alegações do "combate à corrupção", o "Correio Espírita", periódico que circula no Rio de Janeiro, deixou vazar sua postura favorável ao "novo momento" que se desenhava a partir da crise do governo Dilma Rousseff.

Enquanto a sociedade via com apreensão a chega do governo Michel Temer, o traidor da República - por ter implantado o projeto político do titular da chapa rival da corrida presidencial, Aécio Neves - , os "espiritas" em geral encararam o período com muito otimismo, embora "com dificuldades".

O discurso que predominou é que o Brasil, segundo os "espíritas", se "prepara para um grande momento", e o crescimento de textos apelando para a aceitação do sofrimento - "ame o sofrimento", "aceite perdas e desgraças na vida", "ore em silêncio, não reclame" e até o perverso "combate o inimigo que está em você mesmo" - sinalizam também o apoio ao projeto político reacionário de Michel Temer.

 

As edições do "Correio Espírita", de julho de 2016 e janeiro de 2017, mostram indícios fortes desse apoio ao governo Temer, no primeiro caso exaltando as passeatas do "Fora Dilma" como "caminho para a Regeneração", no segundo caso repetindo o discurso da mídia hegemônica sobre a "corrupção política", correto mas tendencioso e levianamente atribuído ao esquerdismo.

Trechos revelam o quanto os "espíritas" passaram a apoiar o cenário político surgido em 2016, a retomada conservadora, os movimentos reacionários e as políticas socialmente excludentes. Ignoram os "espíritas" que o "excelente período" trouxe também um gancho para pessoas expressarem seus preconceitos e perversidades sociais, que iam de humilhações racistas a crimes de feminicídio.

Na edição de julho de 2016, referente às passeatas de 13 de março de 2016, o "Correio Espírita" escreveu:

"O crescimento da participação ativa dos jovens na política pode ser um grande passo do Brasil no caminho do Planeta de Regeneração".

A alegação está fora da realidade. Afinal, a "participação ativa dos jovens" era definida pelos mais renomados jornalistas e cientistas políticos do Brasil como demonstrações de "preocupante analfabetismo político", enquanto a opinião pública atribuiu a seus manifestantes adjetivos pejorativos como "coxinhas", "sociopatas", "fascistas verde-amarelos", "devotos do Pato da FIESP", em alusão a um grande boneco de borracha, plágio de uma obra holandesa, colocado nas passeatas da Av. Paulista.

Na edição de janeiro de 2017, por sua vez, revela um texto que parece muito correto, mas pelo contexto da mensagem se remete à Operação Lava Jato e à acusação de que a corrupção política só existe entre os esquerdistas e alguns direitistas solidários:

"Os escândalos financeiros, diariamente relatados pela imprensa e pela televisão, na qual assistimos criaturas na ânsia irrefletida de aumentar o patrimônio material para ter mais e mais poder, sem se importar com as injustiças e as iniquidades que produzem, estão chegando ao fim".

A mensagem do "fim dos escândalos financeiros" foi divulgada anos antes de novos escândalos envolvendo o presidente Michel Temer, apoiado pelos "espíritas" como o "pacificador da Nação" - o "médium" Robson Pinheiro chegou a falar num "arcanjo Miguel" (os primeiros nomes de Temer são Michel Miguel) que iria "salvar o Brasil" - , viessem à tona, como a compra de deputados e a escolha tendenciosa de juristas para favorecer os interesses pessoais do presidente.

CONSIDERAÇÕES A TODOS?

Os "espíritas", oficialmente, se consideram "de centro". Dizem que não estão à esquerda nem à direita, e que tratam com consideração "todos os indivíduos de todas as crenças e tipos ideológicos". Mas em muitas ocasiões eles se revelam bastante conservadores e reacionários, como o histórico apoio de Francisco Cândido Xavier, o Chico Xavier, à ditadura militar, diante de milhares de espectadores, no programa Pinga Fogo da TV Tupi de São Paulo, em 1971.

A imagem de "progressista" dos "espíritas" é falsa, construída em dois discursos. Um é a alegada "fidelidade absoluta" aos ensinamentos originais de Allan Kardec, que, se sabe, é uma mentira descarada: o conteúdo do "espiritismo" brasileiro é uma traição explícita aos postulados espíritas originais, por apelar para um igrejismo místico e um moralismo retrógrados impróprios à doutrina original.

Outro discurso é a construção, em doses dramatúrgicas, da imagem "humilde" e "caridosa" dos "médiuns espíritas", uma pegadinha que pegou até mesmo as esquerdas desprevenidas, transformando Chico Xavier e Divaldo Franco em pretensos ativistas sociais e falsos progressistas, através da supervalorização do Assistencialismo, uma "caridade" feita mais para impressionar as pessoas do que resolver realmente a pobreza, mais parecendo propaganda pessoal dos "benfeitores".

Entre 2016 e 2017, os "espíritas" sinalizaram apoio a Sérgio Moro, conhecido como o algoz do ex-presidente Lula, e exaltaram as manifestações do "Fora Dilma" mesmo quando um dos grupos organizadores se chama Revoltados On Line, pois é praxe do "espiritismo" brasileiro condenar os sentimentos de revolta e de ódio. E havia muito ódio nessas passeatas "a caminho da Regeneração".

"Médiuns espíritas" passaram a posar ao lado de Michel Temer, João Dória Jr. e ACM Neto. Um deles, o latifundiário goiano João Teixeira de Faria, o João de Deus, manifestou seu desejo de ver Sérgio Moro presidente do Brasil. Divaldo Franco homenageou João Dória Jr. no momento em que ele se demonstrava decadente e em crise de popularidade. Os "médiuns" são blindados pela mesma Rede Globo e Grupo Abril que blindam os políticos do PSDB.

Daí que o "espiritismo" brasileiro revelou sua verdadeira face, a de uma religião ultraconservadora, reacionária, cujo único compromisso é dizer aos sofredores que têm que aguentar desgraças em silêncio, orando calados para não incomodar o sossego dos privilegiados. Porque são os privilegiados e bem de vida que sustentam os palestrantes e "médiuns" do "espiritismo" brasileiro e garantem a estes todos os prêmios terrenos feitos "em nome da caridade".

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