O "espiritismo" brasileiro está perdendo adeptos. O preço determinado pela deturpação do Espiritismo original, desfigurado em nome de um igrejismo de matriz roustanguista, e os apelos ao sofrimento humano fez com que os 2% de brasileiros que se declaravam "espíritas", no Censo de 1940, caísse para 1,86%, conforme levantamento recente do IBGE, projetado para 2020.
O Brasil continua sendo predominantemente católico, embora os evangélicos, sobretudo de seitas consideradas neopentecostais - como a Igreja Universal do Reino de Deus, a Igreja Internacional da Graça de Deus e dissidências derivadas da Assembleia de Deus - , estejam crescendo de maneira significativa. De uma população estimada em 204 milhões de habitantes, 123 milhões se declaram "católicos" e 42 milhões, "evangélicos".
O "espíritas" aparecem em terceiro lugar, mas em larga desvantagem em relação aos "evangélicos". Seu número é de 3,8 milhões. Comparada à população total do Brasil, os "espíritas" significaram uma queda em relação ao Censo de quase oito décadas atrás, porque a porcentagem de 2%, que já era bem baixa, sofreu uma queda, correspondendo hoje a 1,86 %, uma queda de cerca de 1,5%.
Embora a queda pareça pequena, ela se torna preocupante, às vésperas do ano de 2019, período que os "espíritas" acreditam ser crucial para o começo de "transformações profundas" na humanidade. O período é considerado "data-limite" de uma suposta profecia atribuída a Francisco Cândido Xavier, sobre um suposto sonho de 1969 divulgado numa conversa com Geraldo Lemos Neto em 1986.
O suposto sonho teria sido durante o sono após o anúncio da chegada de astronautas estadunidenses à Lua, em agosto de 1969. No sonho, Chico Xavier e Emmanuel teriam se reunido com autoridades de vários planetas do Sistema Solar, além de Jesus Cristo, e, temerosos de uma futura Terceira Guerra Mundial, teriam decretado um prazo de 50 anos para a Terra reverter seus ódios governamentais, sob pena de o Hemisfério Norte ser destruído para abrir caminho para o Brasil ser "pátria do Evangelho".
A "profecia", risível por contar com sérios erros sociológicos - o povo dos EUA, por exemplo, migraria para a Amazônia e não para o eixo Rio-São Paulo, como seria de praxe - e geológicos - o Chile, integrante do Círculo de Fogo do Pacífico, não sumiria do mapa como o Japão e o Estado da Califórnia, EUA, atingidos por sérios terremotos e erupções vulcânicas - , definiu 2019 como ano limite, no qual haveria o início de mudanças para colocar o Brasil como "nação-líder" do planeta.
Diante dessa promessa do Brasil ser um "centro político-religioso" - sob o título de "Coração do Mundo e Pátria do Evangelho - , que na verdade se revela um perigoso desejo de supremacia político-religiosa aos moldes do antigo Império Romano e do Catolicismo medieval, o "espiritismo" esperava crescer como religião brasileira, pelo menos empatando, em seguidores, com a Igreja Católica.
No entanto, observa-se que o "espiritismo", que se rebaixou a um clone do próprio Catolicismo, um "genérico" medieval da religião católica, está perdendo seguidores a cada ano, com "centros espíritas" em todo o país perdendo dezenas de frequentadores. Em Salvador, reduto dos "médiuns" José Medrado e Divaldo Franco, houve casos de "centros" perdendo mais de 40 frequentadores.
A situação pode ser ainda pior se observarmos o relativismo da declaração aos recenseadores. Se considerarmos que os que se declaram "espíritas" incluem adeptos de umbanda, candomblé e de crenças orientais tidas como "espiritualistas", o número de seguidores do "espiritismo" brasileiro pode ainda ser menor.
O que se sabe é que os espíritas autênticos, que se voltam aos postulados franceses originais, estão em número bastante menor. Aqueles que não querem ser confundidos com os deturpadores igrejistas, estes que cultuam os chamados "médiuns" - hoje promovidos como "sacerdotes" de um espiritismo deturpado ao sabor de devaneios igrejeiros - podem ainda serem menos que 0,5%, uma vez que o professor Allan Kardec é, na prática, um grande desconhecido entre a maioria dos brasileiros.
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