domingo, 27 de março de 2016

Se humanidade evoluir daqui a 50 anos, nem assim Chico Xavier teria razão


Fala-se muito nas supostas profecias de Francisco Cândido Xavier relativas às transformações da humanidade na Terra. São pretensas previsões cuja legitimidade deveria ser posta em xeque - afirmamos até um xeque-mate - , porque mostram erros grosseiros de caráter geológico e sociológico, o que praticamente invalidam qualquer credibilidade de tais abordagens.

Entre outras coisas, por exemplo, Chico Xavier disse que o Chile seria poupado de catástrofes naturais que atingiriam áreas como a Califórnia, nos EUA, e o Japão. Isso é geologicamente impossível. Se a Califórnia for soterrada por lavas e maremotos, depois de tantas rachaduras causadas por terremotos, o Chile, por ser da mesma área do Círculo de Fogo do Pacífico, teria o mesmo destino.

Em aspectos sociológicos e geográficos, Chico Xavier também supôs que eslavos fossem migrar para o Nordeste brasileiro, considerado muito quente para esses povos. Chico se esqueceu que as primeiras migrações eslavas no Brasil, ocorridas quando o anti-médium nasceu, se deram em áreas como a Região Sul e o interior de São Paulo.

FALSOS PIONEIRISMOS

Chico Xavier nem de longe pode ser considerado profeta, se é que pode existir mesmo uma figura humana com dons de prever coisas a longo prazo. Allan Kardec já advertiu que tal prática é indício de mistificação, e isso está bastante claro nos livros e artigos do pedagogo francês.

O "movimento espírita" quis transformá-lo num misto de Jesus Cristo com Nostradamus brasileiro, quis fazer de Chico Xavier a síntese da espécie humana, uma coisa tão impossível e tão pretensiosa que se deu de forma inevitavelmente atrapalhada, pedante e frequentemente risível.

Por exemplo, Chico Xavier foi tido como "pioneiro" nas descobertas científicas sobre vestígios de vida em Marte, como canais fluviais artificiais, presença de humanos e civilizações adiantadas. O "pioneirismo" foi atribuído a obras de 1935 e 1939.

Só que isso soou uma grande gafe, pois o pioneirismo cabe a Percival Lowell, astrônomo estadunidense que, na virada dos séculos XIX e XX, portanto, pelo menos dez anos antes de Chico Xavier ter nascido, havia lançado três livros relatando os mesmos elementos: canais fluviais artificiais, presença de humanos e civilizações adiantadas.

Atribuiu-se a Chico Xavier também o suposto pioneirismo sobre a glândula pineal. O grupo de acadêmicos liderado por Alexander Moreira-Almeida, pesquisando apenas referências bibliográficas secundárias, dos anos 1970 em diante, várias relativamente recentes, que supuseram que a bibliografia sobre glândula pineal publicada nos anos 1940 era escassa.

Há vários erros nessa constatação. Primeiro, porque consultaram fontes de terceiros. Segundo, porque alegaram que a discussão do tema nos anos 1940 era "conflituosa" (isso é natural em qualquer debate). Terceiro, porque não verificaram se a bibliografia era mesmo escassa buscando as fontes originais. Quarto, ignoraram que mesmo descobertas recentes equivalem a teses longamente discutidas e elaboradas, com muitos anos de antecedência.

Um autor pouco conhecido, o biólogo alemão Wolfgang Bargmann, já analisava a glândula pineal nos anos 1940, mas ele não era conhecido fora do seu país de origem, e por isso praticamente menosprezado pelo resto do mundo. Daí a presunção dos acadêmicos de Juiz de Fora em supor que "quase nada" era discutido sobre glândula pineal naquela época.

Diante de tantos equívocos, já surgem piadas entre os críticos da deturpação da Doutrina Espírita como as indagações sobre se Chico Xavier previu a extinção dos dinossauros. Já se atribuiu a Chico Xavier, em suposta profecia de 1969, a confirmação de casos de visitas de extraterrestres ocorridos em 1964 e 1967 (?!?!?!?!), portanto, uma "previsão" que "confirmou" fatos antes ocorridos, o que nunca seria previsão, não é mesmo?

Os pontos patéticos da atribuição de falso pioneirismo ao anti-médium, que só encontram validade no Brasil, não encontram eco no exterior, que nunca viu nele um pioneiro em coisa alguma. Não há razão coerente que possa dizer que Chico Xavier confirmou coisa alguma, por mais que se façam relativismos aqui e ali.

E EM 2057?

Há dúvidas fortes sobre as promessas dos "espíritas" de grandes evoluções da humanidade. Há um quê de otimismo fantasioso próprio desses praticantes do igrejismo astral. de que um dia as pessoas irão dar as mãos e todo mundo cantar hinos de louvor a Jesus e, assim, a Terra se transformará num lento, gradual mas seguro de transformação num mar de rosas da humanidade futura.

Em certos casos, há um forte cheiro de oportunismo na atribuição de datas futuras para o progresso humano. Divaldo Franco atribui como 2052 a data da regeneração da Terra porque esta é a data dos cem anos da Mansão do Caminho. E ele corrobora uma segunda data, 2057, a suposta consolidação desse processo, como uma bajulação a O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, que completará 200 anos na ocasião.

É claro que haverá evolução da humanidade e existem pressões da sociedade para isso. As discussões se amplificam e muitos dilemas e questões surgem neste sentido. Suponhamos que muitos dos problemas se resolvam nestes 40 anos que restam até a "data da regeneração" e realmente a humanidade encontre um estágio mais avançado de evolução.

Se isso realmente ocorrer, Chico Xavier terá razão em sua "profecia"? Não. Seguramente, não. E, por uma questão de associação, Divaldo Franco estaria ainda muito menos certo. Eles não teriam razão nas suas "previsões" pelo mero fato de que elas simplesmente não têm muita importância e se guiaram por conveniências e usando critérios e abordagens bastante duvidosos.

Eles, neste caso, se comparam ao jogador da Mega-Sena que só acertou dois números. Até porque a humanidade irá se evoluir, mas nunca da forma como Chico e Divaldo esperam. Marcados por convicções igrejistas, eles estarão errados nas suas "previsões", até porque não serão eles que comandarão a caravana da evolução humana, só vieram de carona em algo que mal entenderam.

Além disso, eles simplesmente expressam aquilo que Allan Kardec reprovou de maneira explícita e firme. A pretensão de prever acontecimentos a longo prazo, que Kardec tão claramente definiu como "indício de mistificação".

Reprovados pelo Codificador, Chico e Divaldo simplesmente perderam o "trem da História" e tiveram anulada, de maneira definitiva, toda a chance de ficar com os louros da "previsão", porque a humanidade se evoluirá, sim, mas sem datas marcadas e de maneira completamente diferente da que supõem os anti-médiuns.

Desta maneira, enquanto os "espíritas" ladram, a caravana da humanidade segue seu rumo, com toda a sua problemática que os preconceitos e convicções da fé religiosa não conseguem avaliar.

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