quarta-feira, 23 de março de 2016
A origem da fase "dúbia" do "movimento espírita"
Qual a origem da fase "dúbia" do "movimento espírita", na qual os membros alegam "fidelidade absoluta" e "respeito rigoroso" a Allan Kardec, mas continuam praticando a deturpação de raiz roustanguista?
A origem teria sido um livro que o dirigente Luciano dos Anjos, originalmente um roustanguista entusiasmado, publicou, intitulado A Anti-História das Mensagens Co-Piadas. baseado nas primeiras denúncias, em abril de 1962, de plágios cometidos por Divaldo Franco sobre obras de Francisco Cândido Xavier, que já são os pastiches que conhecemos.
A partir de divulgação de panfletos e outras denúncias, levando-se em conta que Divaldo Franco lançou o primeiro livro "mediúnico" em 1959, mesmo os espíritas autênticos, como Herculano Pires e Deolindo Amorim, estavam preocupados com a situação que comprometeria a reputação dos dois "médiuns".
Em uma atitude complacente, os dois espíritas autênticos não conseguiram evitar a crise, que depois foi relatada no livro de Luciano dos Anjos, um dos que divulgaram as mensagens. O escândalo partiu de cartas de Chico Xavier que dizia que Divaldo estava agindo sob influência de "espíritos inferiores" para realizar tais plágios e "atacar o movimento espírita pela retaguarda".
Maiores detalhes podem ser obtidos aqui. A certeza é que, juntando as várias crises e confusões no "movimento espírita" - naquela década de 1960, marcada pela estranha morte do sobrinho de Chico Xavier, Amauri e do referido plágio de Divaldo, haveria depois o escândalo de Otília Diogo - , abalaram a cúpula do "movimento espírita".
Chico Xavier, na referida carta, se mostra bastante perplexo com a atitude de Divaldo Franco e escreve que ele não pode ser inocentado pelo que fez, porque conforme a mensagem, o baiano teria feito isso várias vezes. É claro que Chico vem com sua falsa modéstia, no final deste parágrafo, e faz um vínculo tendencioso pessoal à Doutrina Espírita:
"Por que razão esse propósito deliberado de arrasar com as mensagens dos nossos Benfeitores Espirituais, recebidas por meu intermédio, desfigurando-as, descaracterizando-as, ferindo-as, transfigurando-as? Não posso inocentá-lo, porque isso acontece há muito tempo e ele possui bastante auto-crítica para reconhecer que as entidades que se valem dele para isso estão entrando numa atitude, francamente abusiva por desrespeitosa ao Espiritismo e à Mediunidade, a ponto de sacerdotes católicos-romanos já estarem se manifestando pela imprensa indagando se sou eu ou ele o mistificador. De mim mesmo nada valho e estou pronto a receber por bençãos quaisquer injúrias que seja assacadas contra a minha pessoa, entretanto, no assunto, é a Doutrina Espírita que está sendo desprestigiada e dilapidada".
Infere-se que, pelo fato de Luciano dos Anjos ter feito repercutir o escândalo quando ele, com um certo trabalho, seria abafado dentro de seus bastidores, o "movimento espírita" passou por um impasse que significou uma retomada de posição, não necessariamente favorável às bases doutrinárias originais.
Desse modo, com a vida do presidente Antônio Wantuil de Freitas se encerrando - ele se aposentou em 1970 e morreu em 1974 - , sucessores como Francisco Thiesen e Luciano dos Anjos reforçaram a centralização do poder da Federação "Espírita" Brasileira, em detrimento das federações regionais.
Diante disso, é provável que a origem da atual fase do "movimento espírita" esteja no esgotamento da postura abertamente roustanguista que prevaleceu durante anos, diante do poder férreo da FEB e de Antônio Wantuil.
Contraditoriamente, sem a esperteza de Wantuil, o "movimento espírita" se dividiu entre o roustanguismo mais aberto e outro mais dissimulado. Esta segunda tendência deu origem à atual fase do "movimento espírita", em tese mais "conciliadora e equilibrada", em que supostamente se obtém o "meio-termo" entre o cientificismo kardeciano e o igrejismo da FEB.
A ideia da fase "dúbia" foi romper com o centralismo da FEB com a autonomia dos membros "espíritas", independente de vínculo ou desvínculo com a federação. E o uso do nome de Allan Kardec em detrimento de Jean-Baptiste Roustaing, longe de ser uma apreciação real da obra do professor francês, era apenas uma postura política para se contrapor ao autor de Os Quatro Evangelhos.
No entanto, agora a fase "dúbia" está em crise, porque o igrejismo apaixonado e o cientificismo frouxo e postiço não conseguem se manter em equilíbrio e, cada vez mais, os "espíritas" se contradizem dizendo uma coisa e fazendo ou dizendo outra bem diferente.
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