terça-feira, 8 de março de 2016

Por que persiste o machismo das mulheres que "sensualizam" demais?


O Brasil insiste em ser um país machista. O país passa por uma crise de valores em que a "paz forçada" da Era Geisel e da Era FHC, que ofereceram os paradigmas morais, culturais e econômicos de hoje, continuam prevalecendo mesmo sob decadência vertiginosa.

É assustador que o país permita que certas mulheres façam suas carreiras simplesmente só mostrando o corpo, num erotismo tão compulsivo, tão obsessivo, sem contexto e sem interrupção, que se torna sem graça, sem serventia.

Só mesmo a existência de uma demanda machista para cultuar "musas" como Solange Gomes (foto acima), Geisy Arruda, Mulher Melão, Mulher Melancia e tantas outras que só vivem para mostrar o corpo, sem ter o que dizer nem outra coisa para fazer fora desse forçado vínculo erótico.

Mesmo quando outras "musas" como Valesca Popozuda e Aline Riscado tentam "variar" em posturas mais "sóbrias", elas também não fogem muito desse contexto, por mais que esforcem em fazer algo diferente. Elas continuam inseridas num contexto machista, apenas de forma mais moderada, sem porém trazer qualquer superação.

Hoje criticam-se as mídias sociais pelo conservadorismo extremo dos internautas. Umberto Eco havia falado, em 2015, dos "idiotas da aldeia" que se autoproclamam os "possuidores da verdade" a ponto de fazer trolagem contra quem discorda de suas convicções pessoais.

O reacionarismo é tão grande que envolve até mesmo o culto às mulheres como verdadeiros objetos sexuais, e é estarrecedor que mulheres, mesmo uma quarentona com filha crescida como Solange Gomes, aceitem fazer esse papel humilhante da mulher coisificada que se oferece simbolicamente para o orgasmo de jovens desocupados.

ESFORÇO EM VÃO

Tudo acaba sendo em vão. Mulheres sofreram e até perderam a vida para obter conquistas sociais, para mostrar que o sexo feminino também pode desempenhar importantes papéis na sociedade, desenvolvendo e transmitindo ideias, desempenhando atividades valiosas que o machismo só reserva para os homens tidos como "esclarecidos".

E aí surgem mulheres que fazem, felizes, o papel de objetos sexuais. Isso é um horror. Para piorar, elas usam como desculpa o fato de que atrizes, modelos, cantoras e jornalistas "também sensualizam", como se isso bastasse para justificar a dita "liberdade do corpo".

Só que existe uma diferença. Atrizes, modelos, cantoras e jornalistas fazem poses sensuais de vez em quando, conforme o contexto e a necessidade, e isso se torna mais natural e espontâneo. Mas elas não vivem disso e podem aparecer com roupas mais discretas e deixar de lado o apelo sexual quando a situação exigir.

Já as mulheres que "mostram demais" só fazem isso. Pode ser um dia frio, um velório, um baile mais formal, um lançamento de livro, uma feira de automóveis, tudo é pretexto para a sensualidade forçada dessas "musas", que causam estranheza diante de tanto exibicionismo corporal.

Afinal, essas "musas" são feministas? Não, são machistas. Elas desempenham um papel que o machismo reserva para uma parcela de mulheres, que precisam fazer o tempo todo o recreio erótico do público masculino, se limitando radicalmente a mostrar suas formas corporais, que na verdade são infladas pelo silicone e, em certos casos, "ornamentada" por piercings e tatuagens.

O falso feminismo foi até "justificado", pasmem, por outras mulheres "não muito atrativas", ligadas à comunidade acadêmica e supostamente ligadas ao ativismo social. Foram elas que lançaram o mito da "liberdade do corpo" e do "direito ao sexo", para misturar os alhos com bugalhos da libido feminina.

Afinal, a desculpa da "liberdade do corpo", que muitos consideram tão hipócrita quanto a "liberdade de opinião" de jornalistas reacionários, não é mais do que um pretexto para que certas mulheres que não têm o que dizer fiquem só "mostrando demais" os "dotes físicos", enquanto alegam que "as outras mulheres também fazem isso".

Mas existe diferença quando Letícia Spiller e Giovanna Antonelli, por exemplo, se sensualizando de vez em quando, enquanto em outras elas podem aparecer vestindo longos casacos e dando entrevista sem pronunciar uma só palavra sobre sexo.

Já as "musas" que "mostram demais" não ficam um tempo nem uma ocasião sequer sem exibir uma imagem sexual. A "liberdade do corpo" as torna escravas do corpo, suas personalidades se tornam subordinadas a uma imagem de objeto sexual, o que nada tem de feminista.

TRABALHO?

Elas são "feministas" porque não têm maridos nem namorados? Essa desculpa não procede quando se observa que elas são empresariadas por homens, típicos machistas, que faturam com essas imagens "eróticas", que garantem uma "comissão" financeira por cada foto lançada no Instagram.

É risível que essas "musas" falam em "trabalho". "Não namoro porque estou concentrada no trabalho", dizem elas. Que trabalho é esse de "mostrar demais"? Que contribuição para a sociedade isso pode trazer, se o único efeito que provocam é a ejaculação e o orgasmo de internautas com impulsos sexuais desenfreados?

Isso ridiculariza a imagem da mulher. As mulheres que "mostram demais", na medida em que se autoproclamam "feministas" e usam o pretexto da "liberdade do corpo" diante de divagações intelectualoides de outras mulheres sobre a "afirmação do corpo feminino" e "expressão de identidades e simbologias corporais", acabam ridicularizando o feminismo.

É constrangedor que, num país em que a mulher de classe média se preocupe contra o assédio masculino desenfreado a ponto de criar campanhas contra paqueras nas ruas, as mulheres associadas ao "apelo popular" façam o contrário, estimulando sobretudo os impulsos sexuais desenfreados de homens que, potencialmente, estão sujeitos a estuprar mulheres de classe média, das quais não veem diferença alguma com as siliconadas que veem na Internet.

IMAGEM PEJORATIVA DA MULHER SOLTEIRA

Outro aspecto que as mulheres que "mostram demais" é a ridicularização da imagem da mulher solteira existente no Brasil. A exploração da mulher solteira feita por essas "musas" cria uma imagem pejorativa da "vagabunda" que só mostra o corpo, só curte noitadas, só vai a praia e comete gafes intelectuais.

No machismo brasileiro, a mulher é induzida a restringir sua emancipação aos limites tolerados pelo machismo. Se a mulher se preocupa em aprimorar sua inteligência, adota um comportamento discreto, tem muito o que dizer, precisa estar vinculada à figura de um marido, geralmente dotado de alguma posição de poder, seja político, empresário, executivo ou profissional liberal.

Essa é uma maneira trabalhada pela ideologia midiática de que a mulher não pode ir "longe demais" na sua emancipação social e, por isso, precisa do "poder moderador" de um marido "influente" para neutralizar essa independência, ainda que seja um "casamento de comercial de margarina" em que os cônjuges "felizes" só aparecem juntos em festas de gala ou no passeio com os filhos.

Já a mulher que aceita reduzir-se a um mero objeto sexual, cumprindo as imposições ideológicas do entretenimento machista e seguindo todos os estereótipos que os machistas mais radicais atribuem à mulher que consideram "muito atraente", é dispensada do vínculo a um marido ou namorado, porque não precisa, segundo a ótica machista, de um "poder moderador", ela é machista por conta própria.

Essa dicotomia é bastante irônica quando percebemos que mulheres "bem casadas" dotadas de muita inteligência aparecem quase sempre sozinhas nos eventos sociais, e as mulheres "solteiríssimas" são empresariadas por machões que, geralmente, lembram lutadores de UFC ou jagunços de fazenda, e que estão por trás de todo esse erotismo compulsivo praticado por suas subordinadas.

A própria grande mídia, marcada pelo seu reacionarismo e manipuladora não só da formação de opinião do grande público como do seu gosto cultural, usando o pretexto do "popular" para garantir uma suposta "liberdade" da expressão do mau gosto, do pitoresco, do piegas e do grotesco, e por isso permite essas distorções.

ÓRFÃOS DE PAI VIVO

Há também o aspecto "higienista" e "eugenista", já que, com a "liberdade" desenfreada das mulheres que "mostram demais", desmoraliza-se o conceito de família, causando o desequilíbrio de uma instituição que não deve ser superestimada (como fazem os "espíritas"), mas também não deve ser subestimada (como fazem os defensores da bregalização cultural).

Enquanto nas classes abastadas casais com sérias divergências forçam a estabilidade conjugal para garantir a aparente solidez da estrutura familiar, nas classes pobres a mídia tenta pregar a desunião até de casais estáveis e afins.

Na Bahia, o coronelismo midiático marcado por FMs popularescas controladas por "barões" como Marcos Medrado e Cristóvão Ferreira Jr., forçava as moças dos subúrbios a rejeitar homens de personalidade afim só pela desculpa de que eles iam com seus amigos jogar futebol (conhecido como "baba") nas manhãs de domingo.

Em compensação, as moças pobres foram elas mesmas eram impelidas pela perversa mídia "popular" - que conta ainda com a influência da recente Tudo FM e do jornal popularesco Massa e tem o consentimento "neutro" da corrupta Metrópole FM, de outro "barão da mídia", Mário Kertèsz - a assediar homens de classe média, sem medir afinidades pessoais e fazendo elas tornarem-se vulneráveis a traficantes de redes de prostituição, que é o verdadeiro objetivo dessa manobra.

Os filhos das classes abastadas vivem seus cotidianos com o pai, e a mãe deles sempre zela pela manutenção do casamento, por mais que a crise atinja níveis insustentáveis. Já os filhos das classes pobres são "órfãos de pai vivo", num meio em que a mídia quase sempre trabalha uma imagem repulsiva do pai de família, que nas "periferias" tem o estereótipo do marido irresponsável e infiel, que não paga sequer pensão alimentícia depois do (forçado) divórcio.

O aspecto surreal é que, para uma população pobre predominantemente religiosa e impelida a defender valores sociais ultraconservadores, há a contraditória pregação de intelectuais da "cultura popular" que defendem uma suposta "liberdade sexual" para uma população ideologicamente castrada, empurrando valores como "novas estruturas familiares" para pessoas que não conseguem compreender isso, empurrando modelos LGBT até para famílias evangélicas e homofóbicas.

No circo midiático, existe tanto a preocupação de fazer com que "musas" como Valesca Popozuda e Solange Gomes tenham que fazer o papel de "solteironas", enquanto a jornalista de TV que se divorcia de um marido tenha que se apressar a arrumar outro, fazendo assim uma "seletividade" dos papéis sociais e da formação de estruturas familiares na sociedade.

"LIMPEZA SOCIAL"

Desse modo, a "liberdade sexual" que a mídia impõe para a população pobre é um contraste ao "chega de fiu-fiu" da classe média. Nas classes abastadas, a mulher se protege contra o assédio masculino. Já na chamada "periferia", a coisa é inversa.

Nas classes pobres, estimula-se sutilmente até o estupro de moças adolescentes em eventos de "pagodão", "forró eletrônico" e "bailes funk" (elas são apelidadas de "novinhas") e acadêmicos usam como desculpa a "iniciação sexual das jovens das periferias".

Eles também exaltam o "convívio das diferenças" forçando a união de casais sem afinidade em que a moça pobre não entende o homem de classe média e os dois têm divergências extremas, mas são ideologicamente empurrados a uma "relação estável" como induzidos a aceitar falsos mitos de "superação de conflitos" que não condizem à realidade prática do dia a dia.

Daí que isso é forçar a barra, e a "liberdade sexual" trazida pela (coronelista) mídia "popular" na verdade oprime a população pobre e faz prevalecer o impulso dos instintos do que a prudência da razão e do bom senso. A ideia é trabalhada como se fosse "desprovida" de preconceitos, mas cria preconceitos muito cruéis, como submeter o povo pobre ao engodo que mistura valores morais retrógrados e libertinagem sexual.

Isso sugere um processo sutil de "limpeza social". Os filhos "sem pai" tornam-se revoltados diante da mãe sem dinheiro que precisa fazer tudo sozinha. Em famílias de vários filhos, o filho mais velho passa a ser "dublê de pai" para irmãos mais novos. Crianças são empurradas para o mercado de trabalho. A perda da infância causa revolta e a baixa escolaridade pode impelir os pobres à violência.

A "liberdade sexual" e o desejo "sem freios" dos jovens pobres faz com que moças se tornem vulneráveis ao tráfico de mulheres, a "iniciação sexual" das adolescentes das "periferias" pode sujeitá-las a doenças sexuais ou à gravidez indesejada que pode levar à morte até mesmo pelo aborto clandestino.

Daí que a "liberdade" empurra para abusos, delitos e até crueldades que acabam dizimando os jovens pobres, não bastasse a miséria e a fome e a violência policial. Ver que intelectuais "progressistas" da "cultura popular" defendem tudo isso é assustador. Daí o erotismo forçado das "boazudas", daí o espetáculo forçado das "musas" que "têm que permanecer solteiras".

E isso mostra o quanto o Brasil continua retrógrado, medieval, obscurantista. E o machismo se serve a todo esse cenário que, na verdade, busca degradar as populações pobres com a falsa liberdade sexual que cria traumas, impulsos desenfreados, ódios e revoltas, criando uma série de incidentes trágicos que faz eliminar os pobres para a cruel "limpeza social" pregada pelos elitistas. É o holocausto brasileiro.

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