sábado, 26 de março de 2016

A Via Crúcis, sob o ponto de vista histórico, existiu?


Há muitos pontos obscuros nos fatos da Antiguidade. Muitos dos registros bibliográficos se perderam, entre eles os textos originais da Bíblia, e há muitos mistérios que serão resolvidos não pela força da fé, mas pelas pesquisas geológicas, arqueológicas, históricas e sociológicas, entre outras áreas relacionadas ao Conhecimento.

Especialistas sérios da história do Império Romano procuram, diante dos livros historiográficos que sobreviveram aos nossos dias, traçar o perfil mais realista de suas autoridades, muito diferentes do que a mística religiosa tenta supor, quando nos fatos que envolvem o ativista Jesus de Nazaré.

As autoridades romanas eram curtas e grossas na condenação das pessoas e não davam tratamento diferenciado algum. Não havia julgamento, e os prisioneiros eram condenados à morte em rito sumário, de forma fria e rápida, sem o ritual que a cultura católica atribui ao martírio de Jesus.

Temos dúvidas se a chamada Via Crúcis existiu. Por um motivo bem simples. Se Jesus sofreu esse martírio, então o ritual teria sido bastante comum e muito demorado, o que contradiz ao desejo imediatista dos poderosos romanos de querer ver mortos aqueles que desobedecem suas ordens.

A Via Crúcis, como diz a tradição católica, soa como uma espécie de "desfile macabro" do condenado, exposto ao sadismo da vaia pública de uma parcela do povo e do lamento desesperado dos admiradores, familiares e amigos, algo que, para o padrão das autoridades romanas, seria uma perda de tempo, porque eles simplesmente queriam matar os condenados, não jogá-los num desfile.

CONTRADIÇÕES

Daí haver dúvidas de que a Via Crúcis tenha de fato existido. A narrativa é fabulosa, e parte do julgamento de Pôncio Pilatos que, na verdade, nunca existiu, porque não existe registro histórico algum que confirmasse esse processo, e, pelo contrário, este procedimento contraria a natureza dos políticos do Império Romano, muito cruéis, mas curtos e grossos, rápidos e rasteiros.

Para a humanidade ocidental de hoje, Jesus é considerado uma personalidade especial. Sim, Jesus está associado às qualidades mais evoluídas que se conhece de uma figura humana. Só que, para os políticos do Império Romano, ele era um "entulho social", uma criatura tão ameaçadora, mas também desprezível quanto todos os desobedientes da autoridade romana.

Por isso, é bem provável que julgamento e a dita "via sacra" não teriam existido. O que poderia ter ocorrido a Jesus foi que ele, tornado prisioneiro por ordem de Pôncio Pilatos, foi imediatamente levado para uma cruz já previamente montada, escoltado por centuriões e provavelmente no final da tarde.

E o céu não necessariamente ficaria tempestuoso diante de tamanha condenação. Há céus lindos e maravilhosos que, no entanto, ilustram ocorrências trágicas ou, pelo menos, infelizes. Da mesma forma, existem dias chuvosos e trovejantes que apresentam situações muito felizes, momentos de grande harmonia e descontração, ou, até mesmo, tranquilidade. Depende do contexto e da situação.

Negar a Via Crúcis não é desprezar o sofrimento de Jesus. É verificar que tanto o julgamento quanto o "desfile" em direção do calvário apresentam contradições sérias à natureza dos políticos romanos, extremamente cruéis, mas bastante imediatistas e apressados na hora de punir alguém.

Eles não iriam perder tempo com julgamentos. Jesus foi condenado em rito sumário, sem julgamento nem inquisição. E foi levado imediatamente a uma cruz já montada para ele. Sabemos que essa visão contraria a fé de muitos cristãos, mas ninguém pode inventar fatos contrários ao que já ocorreu, ninguém pode interpretar os fatos de forma diferente ao que muito provavelmente ocorreu.

Não são os cristãos de hoje que, com pouca noção da história do Império Romano, irão dizer, de acordo com suas convicções pessoais, o que as autoridades romanas fizeram ou quiseram fazer. São os registros históricos que mostram como era a conduta dos imperadores romanos, seus prefeitos, senadores e outros cargos, com seus procedimentos próprios, bons ou ruins.

A história do passado não pode ser interpretada ao bel prazer das pessoas, como se elas pudessem interferir sobre o que já ocorreu. Há muito o que ser descoberto sobre a história de Jesus. É preciso defender que historiadores, arqueólogos e geólogos para dizer o que realmente ocorreu.

Dos dados disponíveis, sabe-se que os imperadores romanos não iriam perder tempo julgando e expondo o condenado em praça pública para ser vaiado pelo povo. Não é de seu temperamento. Os políticos romanos eram rápidos na condenação. Extremamente cruéis, imprudentes, intransigentes. Mas rápidos e rasteiros.

Não somos nós que dissemos, são os registros históricos disponíveis que comprovam isso: as autoridades romanas sempre puniram seus condenados de forma apressada e imediata. Era da natureza grotesca de seus políticos, naqueles tempos.

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