quinta-feira, 3 de março de 2016

"Espiritismo" instrui muito mal os pais de família


OS PAIS DE FAMÍLIA SÃO ESTIMULADOS PELO "ESPIRITISMO" A VER SEUS FILHOS DESTA FORMA.

O "espiritismo" brasileiro infantiliza os adultos, criando neles perspectivas exageradas sobre a vida. Através de um conteúdo ideológico cheio de mitos, dogmas, pretensiosismos e fantasias, o "espiritismo" cria nos adultos um modo atrofiado de ver a vida, mesclando ideias conservadoras, fantasias infantis e uma série de falsos argumentos pretensamente racionais.

Os pais acabam tendo expectativas exageradas aos filhos, achando que eles são super-heróis e capazes de resistir a tudo, com isenção emocional e capacidade descomunal de jogo de cintura para aceitar qualquer coisa e enfrentar qualquer dificuldade.

Os pais são induzidos ao envaidecimento da experiência material do tempo cronológico. Se acham simbólicos detentores da verdade, da sabedoria e de uma experiência de vida que nem sempre foi acertada. E ainda mais num contexto muito complicado em que o Brasil vive hoje, sem grandes mestres para dar serenas lições de vida.

MEIA-IDADE INSEGURA

É chocante e nem sempre aceitável, mas bastante verídica a situação de que pessoas chegam aos 60 anos praticamente impotentes de dar, da forma organizada, constante e segura de gerações anteriores, lições definitivas de vida e de experiência.

Pessoas chegam aos cabelos brancos, à experiência profissional à beira da aposentadoria, em vários casos passando por cargos de liderança, e ganham seus primeiros netos, mas são tão inseguros em passar uma lição de vida quanto adolescentes de 15 anos. Chega-se à meia-idade com a insegurança que só se imaginava nos tenros anos da adolescência.

Isso parece estranho, mas tem seu contexto histórico que escapa aos limites simplórios da religião. Afinal, quem está na casa dos 60, 65 anos nasceu na primeira metade dos anos 1950 ou no começo da segunda metade. Quando entraram na faculdade, o Brasil viveu a pior fase da ditadura militar e essa geração era proibida de expressar suas ideias e sonhos.

Daí que eles tiveram um ensino superior que só lhes ensinava a saber trabalhar e ganhar dinheiro. Na época era impossível estimular e desenvolver um idealismo humanista e os projetos de realização pessoal se limitaram tão somente a obter um emprego, se casar e ter filhos.

No atual estado de incompreensão das coisas, dizer que as finalidades da pessoa são apenas ganhar dinheiro e formar família parecem satisfatórias e perfeitas, mas a verdade é que a vida tem outras necessidades, outras questões, que o período ditatorial havia proibido aos brasileiros de desenvolverem, sob pena de serem presos, torturados e até mortos.

Com essa castração, os jovens de 1969-1978, época de vigência do Ato Institucional Número Cinco (AI-5), perderam todo o período de trabalhar seus ideais e se transformaram em pais caretas, em trabalhadores workaholic, e chegaram já aos 50 anos, cerca de dez anos atrás, bastante confusos e apressados. Queriam ter 50 anos com bagagem mental de 75, para compensar a juventude perdida.

CONFUSÃO DIANTE DAS TRANSFORMAÇÕES DA VIDA

Os pais de família acabam se tornando confusos, e hoje as pessoas na casa dos 60 anos, em vez de serem impelidas a ensinar a experiência de vida, estão reaprendendo a viver. Pessoas grisalhas e dotadas de cargo de comando são hoje obrigadas a repensar o lazer e até a alimentação, e, em vez de transmitir valores mais antigos, são obrigados a repensá-los e adquirir valores novos.

Os "coroas" são cada vez mais obrigados a "rejuvenescerem", um processo que era considerado doloroso, desagradável e repulsivo para as pessoas de meia-idade. Ter 60, 65 anos e, em vez de ter a bagagem mental de 75, 80, ter que apreciar referenciais de 25,30 anos, tornou-se a regra que deixa os "coroas" ainda mais transtornados.

Eles são aconselhados não apenas a atualizar seus equipamentos eletrônicos e outros utensílios como passam a repensar gostos e hábitos. Um homem que hoje tem entre 62 e 65 anos, que na juventude ouvia Eagles e Led Zeppelin e, aos 50 anos, "descobriu" Frank Sinatra, terá que seguir seu começo de velhice redescobrindo Renato Russo e trocar as festas de gala pelos festivais de rock.

Para quem tem entre 50 e 65 anos, ter uma bagagem de pessoa idosa é uma grande tentação. É como um adolescente testando a direção de um automóvel ou ganhando o ingresso para ir a uma casa noturna pela primeira vez. Mas o processo acaba sendo desvantajoso, ainda que os "coroas" achem que "têm direito" de parecerem "velhos de verdade".

O risco de doenças relacionadas à gordura e ao uso de cigarro e álcool, as dores nas articulações provenientes no uso excessivo de sapatos "elegantes" - como as sandálias de salto muito alto que fazem as mulheres se sentirem como se estivessem na corda bamba e os sapatos de verniz com solas duras que fazem os homens preferir a vaidade pessoal ao conforto dos pés - , além de outras frescuras adultas, andam causando decadências e até mortes entre as pessoas de meia-idade.

Até falar sobre política em festas infantis, algo que era considerado normal na vida adulta, acaba sendo doloroso para as pessoas de meia-idade, que "queimam demais" as mentes para forçar uma inteligência versátil falsa para ser mostrada em relatos sobre o que viram na televisão, nos jornais e nas revistas dos dias anteriores.

Se o contexto geral revela uma insegurança nas pessoas de meia-idade, que se mostram bastante confusas diante da transformação de valores da sociedade nos últimos anos, dentro do "espiritismo" a situação se torna ainda mais caótica.

PAIS SONHADORES DEMAIS

Os pais de família de inclinação "espírita" não conseguem perceber a complexidade de um "mundo cão" em contraste com a "bondade" de sua religião. São dois mundos que acreditam serem separados, com a desconfiança exagerada na sociedade comum e na credulidade extrema na sua seita religiosa.

Perdidos entre necessidades espiritualistas de equilíbrio moral e comportamental, e a eficiência materialista de "vencer na vida" e deixar "tudo em ordem", eles passam a ver nos seus filhos criaturas extraordinárias, dotadas de todas as capacidades de lidar com os problemas da vida.

Isso cria nos pais uma conduta ao mesmo tempo moralista, exigente demais e sonhadora, além de ter incompreensão sobre os problemas complexos da vida. Acham que os filhos deveriam ser felizes apenas porque têm casa, comida e cama para dormir, mas não percebem que os filhos também têm outros problemas que lhes angustiam.

Quando os filhos estão desempregados, os pais se perdem quando às vezes querem que os filhos trabalhem nas tarefas de casa e lutem para ter um emprego. Ficam indecisos em desejar se os filhos têm que trabalhar em casa ou trabalhar fora, e em seus surtos de cobranças extremas exigem demais dos filhos.

Pais e mães desconhecem que filhos têm vocações específicas, têm necessidades próprias, escolhas particulares. Através dos pais, o "espiritismo" transmite essa noção de vida humana "qualquer nota", em que tanto faz um sujeito com vocação para ser um intelectual se transformar num faxineiro de um hotel decadente.

Existem dificuldades pesadas, que as más energias as tornam ainda mais graves, e os filhos é que se tornam culpados por não superar essas dificuldades, pouco importando os obstáculos e outras adversidades.

Fica fácil para os adultos exigir que os mais jovens abram mão de seus talentos, de suas vocações e de seus princípios, que se sujeitem a patrões incompetentes e tirânicos e lutem demais por pouca coisa, pegar um cônjuge que estiver ao alcance imediato e levar uma vida "qualquer nota".

Os pais acabam obtendo um idealismo tardio e confuso, eles que na juventude foram proibidos de desenvolver desejos e necessidades. Eles foram educados num contexto de pesada hierarquização familiar, em que o tempo biológico, material, condiciona o nível hierárquico que não se vale necessariamente pela experiência espiritual e social, mas pela certidão de nascimento.

Daí que as energias confusas sobrecarregam os mais jovens. De vez em quando, um pai ou mãe "espírita" vê um filho morrer de repente, muitas vezes de uma tragédia de fácil prevenção. E aí os pais ficam confusos, transtornados, pois apostaram todo o futuro neles e não sabiam de suas limitações, transtornos e tudo o mais.

Aí aparece o lado sombrio do "espiritismo", que pelas suas contradições doutrinárias - é uma das poucas doutrinas que desobedece os conselhos do próprio precursor, Allan Kardec - traz energias traiçoeiras, já que as contradições acabam atraindo a ação de espíritos levianos.

É por isso que a religião "espírita" costuma sacrificar os jovens e travar o novo em detrimento da preservação dos mais velhos. Mas isso vem da própria essência doutrinária da religião brasileira, marcada pelas suas ideias ultraconservadoras e seu misticismo e moralismo medievais.

Com isso, os pais de família não são preparados pelos "ensinamentos espíritas" para promover uma família saudável, prevenir tragédias e rever seus valores adultos de vez em quando. Apegada a hierarquias familiares e desconhecendo o fato de que a família é uma instituição material e transitória, a moral "espírita" se perde no obscurantismo de seus valores antiquados e se mostra impotente em encarar as transformações do tempo de cabeça erguida.

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