segunda-feira, 28 de março de 2016

Excesso de religião permite a ignorância que favorece a incompetência

SÉRGIO MORO, O "TODO-PODEROSO" JUIZ DA OPERAÇÃO LAVA-JATO.

A crise que vive o Brasil e o clima de ódio que atinge uma parcela reacionária de brasileiros - como os chamados "coxinhas" ou "revoltados" que adotam uma postura anti-PT - , acreditam os religiosos, sobretudo "espíritas", que é por falta de fé religiosa que essa situação não só permanece como está caminhando para um desfecho ainda mais dramático.

Não é isso que se nota. A verdade é que é o excesso de religião, e a forma religiosizada com que a sociedade encara certas coisas - uma grande gafe, por exemplo, é a divinização de logotipos de prefeituras estampados em ônibus, diante do endeusamento da pintura padronizada que esconde as empresas de ônibus dos passageiros e complica o direito de ir e vir - faz com que o país se encontre no desastre em que está.

A perspectiva religiosa faz com que as pessoas esperem de braços cruzados as coisas melhorarem e atribuem a uma parcela de políticos, tecnocratas, jornalistas, intelectuais etc o "poder divino" de resolver as coisas.

As pessoas acabam perdendo a noção de suas próprias necessidades e riscos. Se elas são capazes de aceitar pegar ônibus errado, sobretudo no Rio de Janeiro em que um ônibus para o Lins e outro para a Penha exibem rigorosamente a mesma pintura, com resignação bovina, então são capazes de tomar como "imparcial" uma cobertura rancorosa e irresponsável da grande mídia corporativa.

Os jornalistas, mais preocupados em ver Dilma Rousseff fora do poder, Luís Inácio Lula da Silva preso e o Partido dos Trabalhadores com registro cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral, elegeram um juiz de médio nível hierárquico, Sérgio Moro, como "herói absoluto" e atribuíram a ele poderes que a lei não permite a ele exercer.

Sérgio Moro não é um homem acima do bem e do mal, e, ainda por cima, é casado com uma funcionária do PSDB, e sua atuação mostra falhas legais profundas, além de ameaçar quebra hierárquica se achando acima do Supremo Tribunal Federal.

O ministro do STF, Teori Zavascki, determinou que Moro terá que devolver à entidade a responsabilidade de investigação do suposto envolvimento de Lula no esquema de corrupção da Petrobras. A grande mídia reagiu espumando de ódio.

Diante desse clima de exaltação, em que a figura de Moro se transforma num "messias", num "salvador da humanidade", as pessoas ignoram deslizes das leis e não têm ideia do que são ou não são competências e seus respectivos limites.

Se Sérgio Moro investiga com pressa e de forma imprudente a suposta corrupção do PT, ouvindo apenas os acusadores e sem dar chance à defesa - sendo que o direito à defesa dos acusados é garantido pela Constituição - , as pessoas não ligam e até ignoram, e pensam que ele está cumprindo a missão com extremo rigor e absoluto respeito às leis.

O que esperar de um país desses? Pessoas que fazem algo meio certo, mas com muitos erros, gente que tenta enrolar para dizer que não é incompetente para tal coisa, são um fenômeno comum no Brasil. Desde o próprio "espiritismo", que adota ideias que contradizem o pensamento de Kardec, a um veículo de mídia como a FM carioca Rádio Cidade, que quer ser "rádio de rock" sem ter pessoal competente para isso, as pessoas pouco estão ligando se alguém sabe fazer algo ou não.

E isso cria uma crise imensa que vai desde a bagunça do Poder Judiciário até o mercado de trabalho, em que uma geração de patrões se desenvolveu nos últimos 40 anos através do compadrio e dos conchavos e, por isso, não aceita contratar pessoas inteligentes e de talento diferenciado, procurando outros critérios aberrantes, como o do "calouro-veterano" (pouca idade e muita experiência) e o do "funcionário-comediante" (que costuma brincar com os colegas).

Ninguém quer competência e todos acham que inteligência é fácil de obter como uma folha de capim. Daí que dizem que a inteligência é o "capim dos burros". Até o mercado literário foge da missão de transmitir conhecimento, sempre criando um modismo "água-com-açúcar" para anestesiar os leitores, evitando que "aqueles títulos incômodos" apareçam nas listas dos mais vendidos.

É por isso que as pessoas preferem não raciocinar criticamente, com medo de ameaçar suas zonas de conforto. As próprias religiões ficam temerosas com os conflitos e divergências, acreditando numa "fraternidade" criada do nada, que não combatem privilégios das elites e forçam algozes e vítimas a "se darem as mãos" para resolver uma crise cujas soluções são divergentes.

A vida é complexa e muitas vezes os problemas são resolvidos quando a necessidade é forçar que o privilegiado ceda de seus privilégios e, quando ele resiste a essa urgência, os conflitos surgem e frequentemente são muito violentos e tensos.

Querer a mera solução de "dar as mãos" é simplório, e parte de uma fé religiosa que nada resolve diante da complexidade da vida, uma "bondade" que é boa nas palavras e nos atos superficiais, mas que em nenhum momento resolve desigualdades nem injustiças. É por causa da overdose de fé que faz com que as pessoas estejam cegas para pensar melhor a crise e tentar buscar soluções fora dos "paraísos pessoais" de suas zonas de conforto.

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