terça-feira, 3 de março de 2015
O circo sensacionalista dos homicidas
Tirar a vida do outro virou um espetáculo, e no Brasil passou a ser um exotismo de um moralismo que, às vezes, age de maneira invertida, "condenando" as vítimas e "endeusando" os culpados. Há várias desculpas até para atos de homicídio serem tolerados na sociedade.
Na ditadura militar, tirar a vida do outro era garantido pelo pretexto do "combate à subversão comunista". No machismo, a morte de mulheres era respaldada pela "legítima defesa da honra" dos homens. No fundamentalismo islâmico, a "defesa do Islã" é motivo "suficiente" para que seus seguidores cometam o atentado que querem em qualquer lugar.
Infelizmente, o próprio "espiritismo" também tem sua desculpa que estimula a impunidade dos homicidas, que é a de "agente de resgates espirituais", como se aqueles que tiram a vida de outrem atuassem como "justiceiros" de um conceito medieval de "causa e efeito" e "dívidas morais".
Ficamos pensando na frase de Renato Russo em "Teatro dos Vampiros", justamente uma crítica à televisão: "Os assassinos estão livres / Nós não estamos". Recentemente, dois envolvidos em assassinatos hoje são transformados em sub-celebridades do mal, alimentando o Ibope de programas televisivos.
Guilherme de Pádua, assassino, juntamente com a ex-mulher Paula Thomaz, da atriz Daniella Perez, que era filha da novelista Glória Perez, recentemente foi denunciado por fazer ameaças a uma outra ex-mulher, que se separou do ex-ator por causa do seu passado sombrio.
Em entrevista à Rede Record, o ex-ator negou que tenha feito ameaças, mas ele já tem no seu "currículo" uma personalidade arrogante que, pasmem, ameaçou processar Glória Perez por ela ter chamado Pádua de "psicopata".
Recentemente, Suzane Von Richthofen, que mandou assassinar os pais com a ajuda de um antigo namorado e uns amigos, deu entrevista no programa de Gugu Liberato, na volta do apresentador à Rede Record, causando grande audiência que fez a Rede Globo pensar em suspender a transmissão de partidas de futebol.
Não estamos aqui para fazer defesa do fanatismo esportivo, já que as transmissões esportivas perturbam o sono de muitos trabalhadores pois, a cada gol de um time local, principalmente no Rio de Janeiro, a gritaria de torcedores em seus domicílios perturba gravemente o sono de muitos trabalhadores que precisam acordar para trabalhar ou ir a outros compromissos no dia seguinte.
Mas a transformação de homicidas em estrelas do sensacionalismo televisivo cria um fenômeno surreal no Brasil, imitando, à sua maneira, o culto a psicopatas como Charles Manson, nos EUA, tratado como se fosse um ator de "filmes B".
Aqui a coisa não chega ao ponto do status cult, mas alimenta e movimenta o sensacionalismo televisivo criando uma contraditória catarse humana, desviando a emotividade humana que deveria se dedicar a temas e causas mais edificantes.
Que Gugu Liberato não é lá grande coisa, isso é verdade. Ele sempre esteve associado à mais cruel decadência cultural na televisão brasileira. É um dos astros de um modelo falido de televisão, sendo Gugu associado ao lançamento da primeira geração de "mulheres-objetos" através de sua perfida "banheira" suja de vulgaridade feminina e imagem desrespeitosa da mulher brasileira, geração das quais tenta resistir a sub-celebridade Solange Gomes.
Gugu Liberato foi um dos maiores artífices da baixaria televisiva e do processo de imbecilização cultural das classes populares, e durante muito tempo estava desgastado depois de tantas denúncias e reações indignadas de telespectadores, internautas e até acadêmicos. E agora ele voltou usando uma moça que matou os pais para atrair audiência.
É esse país que comandará o mundo? Que vanguarda planetária o Brasil que dá audiência a um programa desses irá exercer? Enquanto isso, o Teatro dos Vampiros continua e Guilherme e Suzane, de homicidas, foram promovidos a parasitas da curiosidade de telespectadores desinformados e ingênuos, enquanto Gugu Liberato se enriquece como o "vampiro" da vez.
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