sexta-feira, 20 de março de 2015

Faz parte: música caipira também apela para "bastardos de raiz"

CHITÃOZINHO & XORORÓ, AO LADO DO CANTOR E COLEGA BREGANEJO DANIEL - Quando os postiços são vistos como "verdadeiros".

A situação é típica do contexto de nossa crise cultural: na falta de personalidades que pudessem estar vinculadas às raízes culturais, muitos legitimam alguns canastrões, "penetras" de primeira hora que passam a ser vistos como "autênticos" só porque "conheciam" o espírito das festas que invadiam. Na falta do anfitrião, os penetras mais antigos passam a comandar a festa neste Brasil confuso.

A música caipira também padece dos mesmos males do "espiritismo" brasileiro. Se há quem imagine que a Doutrina Espírita vai recuperar as bases doutrinárias de Allan Kardec mantendo as deturpações de Francisco Cândido Xavier e Divaldo Franco, na música caipira fala-se agora em "defender as raízes caipiras" com os canastrões bregas Chitãozinho & Xororó.

Curiosamente, a música caipira está relacionada com o Espiritismo de bases kardecianas, no Brasil, pelo fato de um dos primeiros artistas caipiras, Cornélio Pires, ter sido tio do estudioso espírita José Herculano Pires.

Por outro lado, os pioneiros deturpadores da música caipira brasileira, a dupla paranaense Chitãozinho & Xororó - que no ano passado embarcou num disco-tributo caça-níqueis com composições de Antônio Carlos Jobim - , têm as mesmas iniciais de Chico Xavier, um dos maiores deturpadores do Espiritismo em toda sua história.

Oportunistas, Chitãozinho & Xororó e Chico Xavier sempre promoveram os desvios de caminho às causas originais que diziam defender, mas, tendenciosamente, sempre se passavam por "fiéis" às raízes dessas mesmas causas. Como quem reza para dois senhores, eles deturpavam a causa mas se julgavam "fiéis" às suas origens, como raposas que se dizem zelosas pelos galinheiros.

A dupla paranaense foi uma das primeiras a diluir a música caipira para fórmulas nada regionais e mercadologicamente padronizadas e pasteurizadas, misturando country romântico com mariachis e boleros estereotipados por Hollywood, fórmula que tornou-se conhecida como "tex-mex", por causa das influências da música do Texas, nos EUA, que assimilava elementos do vizinho México.

A dupla começou a carreira misturando música caipira em arranjos politicamente corretos - bem antes do termo virar moda no mundo - com o romantismo comercial estrangeiro, principalmente a partir dos Bee Gees. A dupla também foi uma das que comemoraram a vitória eleitoral de Fernando Collor de Mello, em 1989.

Religiosamente, Chitãozinho & Xororó são católicos, a ponto de gravarem, entre outras coisas, a versão em português de "Ave Maria" de Johann Sebastian Bach e Charles Gounod, além do sucesso do cantor da Jovem Guarda Antônio Marcos, "Homem de Nazaré". A dupla também gravou participações ao lado do Padre Marcelo Rossi.

Mas até Chico Xavier era católico, ele, colecionador de santos, assíduo rezador de preces católicas, defensor do Catolicismo mais convicto e do qual ele sempre foi praticante, tanto que ele se entristeceu quando adotou práticas heterodoxas que causaram estranheza nas antigas lideranças católicas, inflexíveis no mais extremado rigor religioso que fez com que o "espiritismo" de Xavier fosse erroneamente colocado em oposição ao Catolicismo.

E por que os primeiros deturpadores são considerados "autênticos" e supostamente "vinculados" às raízes de determinada ideia ou fenômeno? Porque seus seguidores ainda enxergam neles alguma associação, ainda que falsa e tendenciosa, a essas raízes, já que os primeiros canastrões são aqueles que tentam "sacar" o meio em que tentam, em primeira hora, invadir e dele se apropriarem.

Vivemos uma nivelação das coisas tão por baixo que os canastrões mais antigos parecem "autênticos" e "verdadeiros". No entanto, os antigos canastrões nem se tornaram especialistas ou genuínos como muitos pensam e querem afirmar, mas são apenas os primeiros penetras de uma festa da qual tentaram vagamente compreender.

Chitãozinho & Xororó e Chico Xavier apenas conseguem seduzir o sentimentalismo de seus adeptos e atrair a condescendência dos que reclamam as raízes da música caipira e do Espiritismo em relação a alguns deturpadores mais verossímeis.

No entanto, eles simplesmente foram espertos o suficiente para deturparem as causas em que se envolveram mas, quando as conveniências permitiram, davam a falsa impressão de que "sempre foram fiéis" às raízes. Como os primeiros penetras que procuravam estar a par das festas que desejavam invadir.

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