segunda-feira, 16 de março de 2015

A histeria juvenil da "religião do rock" da Rádio Cidade


Movimentos de fanatismo e fundamentalismo não costumam apreciar a essência original da causa que dizem seguir. Eles pegam a causa deturpada e trabalham sua defesa cega, eliminando a razão e apenas se submetendo a fé e a histeria mística da qual só a "sua causa" é a "salvadora", só ela é que é a "melhor" e "mais perfeita".

O que observamos no "fenômeno" Rádio Cidade, no Rio de Janeiro, é uma demonstração disso, uma histeria coletiva que acha que o "rock", pelo menos aquilo que eles supõem como tal, é a "única doutrina louvável", "única crença possível", mesmo sem que se compreenda a natureza original da causa que seguem.

Os fundamentalistas islâmicos, por exemplo, não costumam compreender quem realmente foi o profeta Maomé. Os católicos medievais foram os primeiros a deturpar drasticamente os ensinamentos de Jesus. Há formas de marxismo que se tornaram anti-marxistas, explorando interesses contrários aos trabalhadores. O capitalismo "iluminista" nunca seguiu a essência original do Iluminismo.

Da mesma maneira, vemos que o "espiritismo" brasileiro rompeu com a essência original de Allan Kardec, em prol de um igrejismo medieval e moralista que se encaixa no contexto brasileiro de ideais originais serem deturpados para que o "novo" só se consolide se respaldado por bases velhas. E isso influi vários setores da sociedade.

Observando a Rádio Cidade e seus seguidores fanáticos, nota-se uma histeria digna das piores seitas religiosas. Uma "religião do rock" que nada tem de roqueira e que não obstante vai contra a essência da cultura rock, associada à rebeldia e ao ativismo.

São jovens que não sabem direito o que é realmente o som do rock, apenas entendem como uma combinação barulhenta de guitarras base distorcidas e solos virtuosos. Nenhum ideal, nenhum discernimento, nenhuma coerência. Eles só ouvem a "Rádio Cidade" e têm uma compreensão de "cultura rock" restrita às suas vaidades pessoais e suas incompreensões.

Isso é terrível. Porque a histeria de seus ouvintes, uma cegueira que defende o fanatismo do rock sem saber a diferença entre thrash metal e punk hardcore, por exemplo, os faz temperamentais e reacionários, como em todo grupo fundamentalista. E seu fanatismo "roqueiro", não muito diferente do fanatismo dos religiosos, poderá causar efeitos danosos no futuro.

No Rio de Janeiro, houve outras emissoras que abordavam a cultura rock com muito mais realismo, veracidade e abrangência que a Rádio Cidade cuja programação mostra locutores de estilo pop sem qualquer intimidade com o rock, programas de besteirol nada roqueiros e até futebol, um esporte que no Brasil nada tem a ver com a cultura rock.

Eldo Pop,Federal AM,  Fluminense FM, Estácio FM, a comunitária Progressiva FM e a Tribuna FM de Petrópolis exploraram a cultura rock sem sucumbirem à fórmula hit-parade, evitando locutores animadinhos e abordando a cultura juvenil sem estereótipos caricatos de rebeldia, que em muitos momentos beira ao ridículo.

No entanto todas elas desapareceram e a Rádio Cidade, que explora esses estereótipos preocupantes, criando uma massa de fanáticos fundamentalistas (de tal forma fundamentalistas que gracejam quando são assim qualificados; já que o reacionário costuma confessar através do riso) que podem representar um futuro preocupante para nossa sociedade.

Porque a histeria juvenil que não admite a realidade, jogando ela para abaixo de suas convicções pessoais, porque não conseguem compreender o mundo a não ser por suas fantasias e desejos. É geralmente constrangedor conversar sobre algum assunto sério com um ouvinte da Rádio Cidade.

Eles querem o fechamento do Congresso Nacional, o fim do Poder Legislativo, condenam os movimentos sociais, aprovando apenas "movimentos" como o "Fora Dilma". Até quando o assunto é marca de guitarra, eles nem querem saber, porque o que importa para eles não é estilo nem cultura, mas tão somente a "catarse pela sonzeira".

O comportamento desses jovens é "bovino". Eles não querem combater o "sistema". Querem usar uma roupagem de rebeldia, apostando em gestos banalizados e nada rebeldes como botar a língua para fora e fazer o sinal do demônio com as mãos, apenas como catarse e roupagem para esconder o perfil altamente conservador e reacionário dessa juventude, mais próxima de Jair Bolsonaro do que do Jello Biafra (conhecido ativista do punk hardcore).

Como toda religião ou movimento fundamentalista, para eles pouco importa a História do Rock. Pouco importa se a cultura do rock no mundo inteiro é completamente diferente da que eles acreditam de baixo de seus umbigos. Eles são do tipo de pessoas que acham que não entender uma causa nova é o mesmo que adaptá-la ao contexto local. Mas não é.

É como se vê no "espiritismo" brasileiro, em que a ignorância das lições essenciais de Kardec geraram uma prática "à moda da casa" em que o que poderia ser especulativo em torno de mediunidade ou compreensão da vida espiritual é visto como "certo" e "comprovado" sem que pesquisas sérias fossem realizadas para verificar essa tese.

A ascensão da histeria coletiva dos ouvintes da Rádio Cidade, com sua rebeldia amestrada que desvia o potencial impulsivo para o reacionarismo, pode representar sérios danos para o futuro, porque são pessoas que não toleram questionamentos, só veem o mundo como querem seus interesses e crenças pessoais e assim poderão agir em outros ramos da atividade humana.

Imaginamos os jovens generalizadamente como revolucionários, audaciosos, vanguardistas, progressistas e voltados a interferir na realidade não com fantasias e incompreensões, mas com novas ideias. Eles existem, mas não são a totalidade. Há o outro lado sombrio, de uma juventude reacionária, fundamentalista em diversos aspectos e formas, que quer o retrocesso.

Na vida adulta, isso fará uma diferença negativa. Pessoas que não admitem a realidade fora de seus interesses pessoais são os que promoverão injustiças futuras, se comportarão de maneira autoritária e prepotente, reagindo com repressão às manifestações contrárias a seus desígnios.

E isso já é grave no contexto em que o Rio de Janeiro, com seus 450 anos de existência, vive hoje, com o autoritarismo manifesto a partir de seu grupo político, vide as medidas de urbanismo e transportes que são impostos sem consultar a população.

E como o Rio de Janeiro, apesar de viver uma crise de valores e práticas que a faz longe de virar "modelo" a ser seguido pelo resto do país, ainda assim é usado como referencial, o Brasil pode decair muito se copiar e imitar as aberrações que surgem por decisão de políticos, tecnocratas, executivos de mídia e outros detentores de poder.

Portanto, não há como ver no Brasil um país pronto ou preparado para comandar o mundo nos próximos anos. Os fundamentalismos e reacionarismos aqui e ali e os estragos causados no país nos últimos 50 anos não deixam.

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