domingo, 1 de março de 2015

"Rádios rock", rebeldia juvenil e "crianças-indigo"


Muitos leitores estranham por que um blogue que analisa os problemas do "movimento espírita" se estende a comentar assuntos aparentemente alheios ao seu universo. No entanto, eles têm a ver, indiretamente, com o estado de espírito de um país que quer ser o "coração do mundo".

São aspectos culturais, decisões políticas, procedimentos humanos que correspondem ao nível de relações hierárquicas, jogos de interesses e manipulações da vontade humana - incluindo a sujeição das classes populares a muitos sacrifícios, como o simples fato de terem que diferir uma empresa de ônibus de outra por causa da pintura padronizada - típicas do "astral" que hoje domina o país.

E se descrevemos, por exemplo, as chamadas "rádios rock" 89 FM e Rádio Cidade, certa vez, é que até elas se encontram nesse contexto de manipulação do inconsciente coletivo, visando o foco da rebeldia juvenil que o "movimento espírita" já enquadra no discriminatório "fenômeno" das "crianças-índigo".

É claro que, se Francisco Cândido Xavier anuncia, na sua fantasiosa "profecia" que virou livro, Não Será em 2012, e documentário, Data-Limite Segundo Chico Xavier, que o Brasil passará por um brilhante processo de transformações sociais, Isso puxa os mais diversos assuntos e as mais diversas distorções que acontecem no Brasil.

Nos círculos especializados em radialismo e cultura rock, os problemas referentes às emissoras 89 FM, transmitida em São Paulo, e Rádio Cidade, no Rio de Janeiro, são conhecidos. As rádios nem de longe representam a realidade vivida pelos apreciadores da cultura rock, adotando um perfil de programação que trata os ouvintes como se fossem crianças mimadas de oito anos de idade.

A falta de noção, dos radialistas dessas duas emissoras, da realidade vivida pelo público de rock, o qual as duas emissoras dizem se dedicarem, é tanta que as duas emissoras têm até programas de futebol, um esporte que não é o forte da cultura rock, independente dos roqueiros gostarem ou não de futebol, pois a maioria admite que futebol e rock são duas coisas totalmente diferentes uma da outra e a maioria dos jogadores de futebol nem quer saber de rock.

As duas rádios surgem como "reguladoras" do comportamento rebelde juvenil, eliminando dos jovens o que eles têm de questionador, mobilizador e ativista, limitando os impulsos rebeldes à forma, estimulando nos jovens o desenvolvimento de um pensamento conservador, com muitos aspectos bastante reacionários.

Esse trabalho vem sendo feito há uns 20 anos, e as duas rádios, no contexto da espiritualidade brasileira, fazem o trabalho complementar ao "movimento espírita", que já discrimina gerações dotadas de inteligência, grau elevado de discernimento, coragem e vontade de mobilização, ao rotulá-las pelo segregatório nome de "crianças-índigo" ou, em certos casos, "crianças-cristais".

Se levarmos em conta que a cultura rock encontrou seu melhor momento nos anos 1960, quando o ritmo passou a se associar às manifestações da Contracultura em várias partes do mundo, e que no Brasil sua tradução tardia teve como maior expressão midiática a emissora niteroiense Fluminense FM, os casos da 89 FM e Rádio Cidade representam preocupantes retrocessos.

As duas rádios passaram a promover um estereótipo de jovem rebelde que odeia ler livros, vive de intolerância social, é inconstante (por exemplo, num dia bajula o petista Luís Inácio Lula da Silva, noutro chama de "fascista mafioso"), não questiona os abusos do poder dominante, e se limita a usar o rock como válvula de escape para seus instintos juvenis, usando a catarse para extravasar as mentes e recuperar o conformismo e o conservadorismo ideológico.

Numa época em que o reacionarismo dentro do rock é simbolizado pelo músico Lobão, a 89 FM e a Rádio Cidade vão mais além das posturas obscurantistas do músico carioca, autor de músicas como "Me Chama", "Cena de Cinema", "Vida Bandida" e "Corações Psicodélicos", antes amigo de cantores como Cazuza e Júlio Barroso, hoje amigo do ideólogo neo-medieval Olavo de Carvalho.

É coisa para se preocupar. A falsa valorização que as duas "rádios rock" fazem da rebeldia ativista do punk hardcore, juntando aspectos sombrios nos seus bastidores, como o fato dos donos da 89 FM terem sido historicamente ligados à ditadura militar, nos faz prevermos que o jovem que é "aculturado" por essas rádios soará como uma versão formalmente punk do jovem medieval.

Já se observou isso na Internet, com jovens ouvintes das duas rádios pregando a extinção do Poder Legislativo e a demolição do Congresso Nacional, em clara afronta à democracia representativa, cujo império das leis é necessário para o equilíbrio social de um país caótico como o Brasil. Além disso, é um grande desrespeito para uma obra de uma pessoa admirável como o saudoso Oscar Niemeyer.

O único ativismo que os jovens "roqueiros", fanáticos por essas duas rádios, fazem é tão paliativo quanto a filantropia defendida por Chico Xavier. Certa vez, após o seu retorno em 2012, a 89 FM fez uma promoção relacionada a doações de sangue, algo que as emissoras de televisão fazem e que nem por isso as faz virarem "santas" ou "revolucionárias" por causa disso.

No entanto, a 89 e a Cidade se empenham para eliminar dos jovens qualquer tipo de senso de discernimento e contestação, promovendo neles uma catarse cuja única revolta admissível é tão vaga que se volta quase que unicamente para os vilões de revistas em quadrinhos da Marvel e da DC Comics.

À sua maneira, a 89 FM e a Rádio Cidade acabam seguindo as mesmas recomendações de Chico Xavier e seu mentor Emmanuel, recomendando aos jovens que não questionassem. A catarse seria uma versão das duas rádios ao "silêncio da prece" xavieriano, e, quando muito, as músicas das bandas brasileiras tocadas fazem questionamentos tão genéricos que não se sabe sequer do que seus músicos estão falando.

Assim, essas duas emissoras e seu perfil e linguagem que nem de longe lembram sequer o mais banal estigma roqueiro - os locutores falam como se estivessem na Rádio Disney - acabam contribuindo em parte para o atraso mental que contamina o Brasil como um todo, e que faz o país estar longe das condições mínimas de qualquer ascensão na comunidade das nações.

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