sexta-feira, 6 de março de 2015

França ignorou lições de Rivail e mantém palmadinha


No último dia 04, o Conselho Europeu de Direitos Humanos condenou o governo da França por não ter uma legislação específica contra as chamadas "punições educativas" feitas pelos pais, através da chamada "palmadinha".

Denominada "gifle", a "palmadinha" é considerada "tradição" entre as famílias francesas, da mesma forma que o tapa no rosto, que pais e mães se acham no direito de dar em seus filhos, durante uma discussão ou uma reprimenda.

Embora a declaração dada pelo Conselho Europeu de Direitos Humanos não influa diretamente em alguma sanção ou punição para a França, só a sua divulgação poderá criar um impacto no país, de forma que o governo francês terá que atualizar suas legislações e estabelecer punições legais contra as surras e os tapas que os pais dão na criançada.

Caso a França não estabeleça leis que punissem tais práticas, o país será condenado pela Corte Europeia dos Direitos Humanos.Existe no país um movimento contra esse tipo de violência, chamado Fundação pela Infância (Fondation pour l'Enfance).

TRADIÇÃO, FAMÍLIA E PALMADINHA

Na tendência neoconservadora das mídias sociais, várias pessoas, umas por boa-fé, outra pela má-fé do moralismo mais punitivo, defendem a volta das palmadinhas como maneira de limitar os abusos cometidos por crianças e adolescentes.

O grande problema é que esse movimento de Tradição, Família e Palmadinha não percebe que muitos dos adultos violentos são justamente aqueles que receberam alguma surra na infância, e que por isso acabam por descontando suas neuroses de alguma forma contra alguém.

É preocupante que nas mídias sociais posturas tão reacionárias como estas e tantas outras - como o direitismo exacerbado de muitos "coxinhas" (reacionários de classe média) - cresçam de forma avassaladora, demonstrando o atraso mental que atinge uma parcela de brasileiros.

ALLAN KARDEC JÁ COMBATIA AS PALMADINHAS

O que os próprios franceses, brasileiros e outros similares que ainda defendem as punições "educativas" - como o Papa Francisco, que se declarou favorável a essa prática - não percebem é que, cerca de 200 anos antes, Allan Kardec, aliás o professor Hippolythe Leon Denizard Rivail, que ainda não havia adotado o célebre codinome, já agia contra a violência doméstica contra crianças.

Em suas palestras e livros, o pedagogo Rivail, discípulo do suíço Johann Heinrich Pestalozzi, já alertava sobre os malefícios da violência "educativa". Com apenas 25 anos, Rivail já propunha soluções de reforma educacional para permitir que crianças crescessem num ambiente familiar mais amistoso e equilibrado.

Isso foi muito antes de Rivail descobrir os fenômenos espíritas, mas já contava com a capacidade de análise científica do plano educacional do pedagogo francês. Rivail estabeleceu ideias que permitissem estimular o desenvolvimento moral e intelectual das crianças, propostas que geraram grande repercussão na França e tiveram apoio popular na época.

No entanto, as autoridades nem sempre davam a devida apreciação à causa de Rivail. Daí seu projeto educacional e, mais tarde, suas ideias da Doutrina Espírita, terem sido deixadas de lado por uma França que, com o tempo, em que pesem suas brilhantes expressões culturais, sucumbir gradualmente a uma crise que hoje atinge pontos críticos.

Ruas sujas, assaltantes nas ruas, crise de valores movida pela "americanização" da cultura francesa, o comercialismo musical que desqualificou o setor, os baixos investimentos às atividades artísticas e, ainda por cima, a falta de segurança que fez com que um grupo de jornalistas e humoristas fosse assassinado por um bando de terroristas.

A França de hoje pode não ter a crise aprofundada do confuso Brasil, tenso e esquizofrênico em muitos aspectos. Mas é uma crise preocupante para seu povo. E a "tradição das palmadinhas" só fará cidadãos mais tensos e violentos, a descontarem as surras "educativas" que receberam pelas barbaridades que eles farão "em nome da moral e da honra".

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