segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Caridade: o "Rouba Mas Faz" do "movimento espírita"?


Virou clichê dizer que os "médiuns" do "movimento espírita" deturpam o legado de Allan Kardec com desvios doutrinários sérios, suas obras "mediúnicas" apresentam irregularidades nos aspectos pessoais atribuídos aos mortos e, além disso, há a defesa de ideais moralistas bem conservadores, mas há o tal atenuante da "caridade".

A "caridade" virou uma desculpa para relativizar os "médiuns espíritas" de qualquer coisa. Alegações de "bondade verdadeira" ou "caridade genuína" são ditas de maneira vaga, sem provas. E isso blinda Francisco Cândido Xavier, Divaldo Franco e similares, fazendo com que o "médium espírita" fosse mais blindado do que os tucanos, como são conhecidos os sortudos políticos do PSDB.

Esse é um problema do senso comum nos últimos anos. Assim como se fala que o ex-presidente Lula "roubou os brasileiros", assim de maneira vaga, sem base em provas e pela catarse emocional, fala-se que Chico Xavier e Divaldo Franco "praticam caridade", sem perceber se realmente essas ações trazem resultados profundos e definitivos.

Na verdade, ambas as alegações, nos dois casos sem provas consistentes e baseadas apenas nos impulsos emocionais, mostram o problema dos brasileiros, em julgar a realidade com o próprio umbigo sem perceber se os supostos fatos alegados são verídicos ou não. Ter verossimilhança, ou seja, parecer-se com a verdade, não significa que seja realmente a verdade.

MITO DE "CARIDADE" FOI "FABRICADO" PELA MÍDIA. CASO LUCIANO HUCK EXPLICA

Não há motivo para usar a "caridade" como suposto atenuante para os "médiuns espíritas", acusados de fraudes psicográficas, deturpação doutrinária e ter opiniões reacionárias sobre muitos aspectos da vida social e política do Brasil.

Primeiro, pela grandeza com que os "espíritas" atribuem aos ídolos Chico e Divaldo, era para essa suposta caridade apresentar resultados REALMENTE concretos, transformadores e definitivos. Desculpas como "eles não têm tantos recursos assim e fazem por onde" não procedem, porque eles são suficientemente adorados pelas elites o que, em tese, garantiria grandes investimentos e resultados até mesmo imediatos de progresso social amplo e surpreendente.

Mas nada disso aconteceu. Pior. Lugares "protegidos" pelos "médiuns", como Uberaba, em Minas Gerais, Abadiânia, em Goiás e o bairro de Pau da Lima em Salvador, na Bahia, sofrem problemas de miséria e violência. Até pioraram nos últimos anos, e não foi desprezo aos "ensinamentos" dos "médiuns", muito pelo contrário. Eles são valorizados até o extremo dos extremos, e mesmo assim ocorrem crimes e miséria que fazem desses lugares verdadeiros umbrais terrenos.

O mito de "caridade" dos "médiuns espíritas", para quem não sabe, foi plantado pela mídia. É um modelo conservador de ajuda ao próximo: uma sutil lógica de cativeiro de pobres e doentes, sem que haja uma ruptura no sistema de hierarquias sociais nem ameace os privilégios dos mais ricos.

Muita gente faz ouvidos de mercador e quer endeusar os "médiuns espíritas" por uma suposta caridade que não traz efeitos sociais expressivos. A "ajuda a muita gente" é um mito transmitido de forma vaga, como um boato solto por aí. Não há provas, não há dados precisos nem consistentes, e há idiotas que, quando falam que "as provas estão aí", apontam para o "médium", deixando claro que setores da sociedade medem a "filantropia" não pelos resultados conquistados, mas pelo prestígio religioso do suposto benfeitor.

Recentemente, temos a Rede Globo desenvolvendo uma imagem pretensamente filantrópica do apresentador Luciano Huck, que originalmente havia sido um colunista televisivo de jovens ricos e um grande divulgador do "funk" no Brasil. Ultimamente se falou que Huck se tornaria candidato à Presidência da República, mas o apresentador do Caldeirão do Huck desistiu, há cerca de uma semana.

Pois o que a Globo faz com Luciano Huck ela havia complementado com Chico e Divaldo. Os mitos "filantrópicos" dos dois foram uma invenção conjunta da FEB com os Diários Associados, como meio para abafar acusações de fraudes mediúnicas. A ideia é criar um discurso, com uma insistência hipnótica (lembrando a frase do lamentável publicitário nazista, Joseph Goebbels, de que uma "mentira reproduzida mil vezes se torna verdade") que faça todo mundo acreditar na falácia exibida.

Ações supostamente filantrópicas expressas em espetáculos comemorativos de instituições "espíritas" revelam isso. Pobres e doentes que, em geral, nunca são assistidos passam a comparecer, poucas vezes por ano, em festas "filantrópicas" bastante ostensivas, que ocorrem raras vezes ao ano e são feitas mais como propaganda dessas instituições e dos respectivos "médiuns".

Atividades filantrópicas são poucas e medíocres e, em muitos casos, servem mais para captar dinheiro público para os "espíritas" - cujas instituições são registradas como "instituições filantrópicas", portanto, sendo livres de pagar impostos - , não raro havendo superfaturamento. E isso sem falar de que tais instituições exercem o culto à personalidade, com a propaganda exacerbada do respectivo "médium" e suposto benfeitor de cada instituição.

A "caridade" é trabalhada como enredo de novela. A "dedicação ao próximo" segue os clichês do paternalismo religioso e conservador. Essa "caridade" é espetacularizada, dotada de uma mistificação e mitificação piegas. Mais uma peça de marketing do que uma realidade. É uma ajuda ao próximo de baixíssimos resultados, não por falta de recursos, mas porque o "espiritismo" brasileiro, que prega a Teologia do Sofrimento, não se interessa mesmo em ir longe e fundo nas ações filantrópicas.

PROMOÇÃO PESSOAL DO "BENFEITOR"

O que se deve chamar a atenção é que a "caridade" acaba servindo não só para a promoção pessoal dos "médiuns", mas também como "carteirada religiosa". Daí as alegações de que os "médiuns" de fato "deturpam o Espiritismo, mas pelo menos praticam a verdadeira (sic) bondade". Isso permite deixar a deturpação como está, pois a "filantropia" acaba permitindo todo tipo de abuso.

Nos anos 1970, o jornalista José Herculano Pires, autoridade do Espiritismo autêntico no Brasil, declarou, em carta para um amigo, fez um comentário sobre Divaldo que chocaria muitos que estão acostumados com a imagem glamourizada do anti-médium baiano:

"Do pouco que lhe revelei acima você deve notar que nada sobrou do médium que se possa aproveitar: conduta negativa como orador, com fingimento e comercialização da palavra, abrindo perigoso precedente em nosso movimento ingênuo e desprevenido; conduta mediúnica perigosa, reduzindo a psicografia a pastiche e plágio – e reduzindo a mediunidade a campo de fraudes e interferências (caso Nancy); CONDUTA CONDENÁVEL NO TERRENO DA CARIDADE, transformando-a em disfarce para a sustentação das posições anteriores, meio de defesa para a sua carreira sombria no meio espírita".

O trecho destacado por nós revela o motivo que devemos questionar a "caridade" dos "médiuns espíritas", porque ela é um artifício para os "médiuns" esconderem seus defeitos e suas irregularidades, não obstante muito graves. A "caridade" não deveria ser usada como "moeda" para calar a boca dos que questionam os desvios doutrinários e mediúnicos desses ídolos "espíritas". Mas, infelizmente, é usada e abusada.

ROUBA MAS FAZ E A "CARIDADE" COMO CRIME ELEITORAL

A analogia da complacência social com os "médiuns espíritas" com o mito do "Rouba Mas Faz" de certos políticos - o termo foi usado para favorecer governantes, no passado, como os paulistas Adhemar de Barros e Paulo Maluf e o baiano Antônio Carlos Magalhães - é certeira.

Esse mito se deu para garantir a mesma blindagem. Era um meio de dizer que, embora os políticos referentes fossem personalidades marcadas pela corrupção, eram aceitas por causa de realizações consideradas pomposas ou paliativas, como construção de viadutos, embelezamento de praças e programas paliativos de fornecimento de merenda escolar.

Recentemente, a Lei Eleitoral estabeleceu crime eleitoral a doação de cestas básicas ou outras vantagens em troca de votos. Isso significa que supostos atos de "caridade" feitos por motivos tendenciosos são considerados crimes, mas infelizmente são medidas similares que protegem os deturpadores do Espiritismo, que, protegidos pelo "escudo filantrópico", acabam abafando as críticas aos erros graves que eles cometem, como a traição ao legado original de Allan Kardec.

A "caridade espírita" tornou-se, então, o "Rouba Mas Faz" do "movimento espírita", porque protege até mesmo as psicografias fake, aquelas que nem de longe lembram as personalidades originais dos autores mortos alegados. Isso é terrível, e a complacência das pessoas acaba se tornando um consentimento muito criminoso.

É fácil um escrevinhador dotado de muita esperteza se passar por um morto, usar o nome de, digamos, da cantora irlandesa da banda Cranberries, Dolores O'Riordan, escrevendo em português bem brasileiro e supondo que o Brasil irá comandar o mundo na próxima década. Ou então um suposto médium que, usando o nome de Marisa Letícia Lula da Silva, apelar para quem for cristão evitar votar em Lula para prevenir de "muitos dessabores" para o país.

Basta ter uma casa e jogar uns pobres e doentes dentro, e criar um projeto assistencial medíocre, embora anunciado enganosamente como "transformador". Se até mesmo em casos como Chico Xavier e Divaldo Franco, vemos irregularidade em tudo, da mediunidade à filantropia, imagine então os mais recentes aventureiros dessa "pseudografia" que pegam os mortos da moda para inventarem mensagens igrejeiras supostamente "em nome do pão dos pobres".

Devemos questionar até mesmo a suposta caridade dos "médiuns espíritas". Sabe-se que as "cartas mediúnicas" de Chico Xavier não foram caridade, mas perversidade, num processo traiçoeiro que combinou fraudes psicográficas, exploração das tragédias familiares e promoção de sensacionalismo na grande mídia, além da própria promoção pessoal do "médium".

É hora de parar de usar a "caridade" para atenuar os erros dos "médiuns espíritas", que devem ser repudiados com muita firmeza, até porque eles se escondem no "véu da caridade" para evitar serem profundamente questionados e para manter o poder que eles têm como ídolos religiosos, que lhe garantem privilégios exorbitantes na sociedade, se não financeiros, mas, ao menos, de dominar as massas populares com um igrejismo medieval e ultraconservador.

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