domingo, 15 de novembro de 2015

Os atentados em Paris e a questão do "velho mundo"


Na noite da sexta-feira 13, de novembro de 2015, uma série de atentados ocorreram nos arredores de Paris, seja dentro de uma boate, seja no entorno de um estádio onde se realizava uma partida de futebol com a Seleção Francesa. A tragédia teve um saldo de 129 mortos e causou comoção mundial. Ela aconteceu cerca de dez meses após o atentado que matou, entre várias pessoas, 12 membros da equipe do periódico Charlie Hebdo, espécie de equivalente ao brasileiro O Pasquim.

O grupo jihadista Estado Islâmico anunciou sua autoria nos atos terroristas. O grupo tornou-se uma das maiores facções do chamado fundamentalismo islâmico, e seu potencial terrorista é dos mais violentos. O grupo tem como objetivo combater os valores da civilização, na busca, tanto saudosista quando desesperada, de retroceder a humanidade aos níveis das escrituras consideradas "sagradas" pelos jihadistas.

O problema da civilização e dos atentados terroristas é bastante complexa. No entanto, os "espíritas" não podem ver como a decadênca do Hemisfério Norte, como sugerem as supostas profecias de Francisco Cândido Xavier do sonho de 1969, que supunha que o "velho mundo" iria ser destruído, primeiro por atentados terroristas, segundo por catástrofes naturais.

Quem acompanha este blogue sabe que os relatos de Chico Xavier trazidos por Geraldo Lemos Neto, aparentemente não conhecidos na voz do próprio anti-médium, soam por demais ridículos. Acredita-se que Chico tenha dito realmente o sonho para Geraldo, e os dados conferem com o que Emmanuel teria descrito em A Caminho da Luz, livro de 1938, que haveria uma "reunião" entre os ditos "maiores líderes do universo", espíritos dos quais o único encarnado seria Chico Xavier.

A tragédia francesa, similar às ocorrentes nos EUA, Reino Unido e Espanha e o caso Charlie Hebdo, é apenas um reflexo do fundamentalismo religioso que sonha em ver um mundo regresso aos padrões primitivos da religiosidade do Oriente Médio. Não que os terroristas não se servissem de tecnologias atuais ou de utensílios modernos, mas o que lhes pesa é a volta à essência do que eles acreditam através das crenças obtidas nos livros "sagrados".

Portanto, é equivocado levar em conta a interpretação chiquista de que a tragédia seria uma "punição" contra os arbítrios antigos do "velho mundo", um "castigo" contra o histórico complexo de superioridade das antigas elites da Europa e Ásia. Não se trata de uma "queda do velho mundo" em detrimento do caminho a ser aberto para a ascensão da nação brasileira, mas um outro cenário.

Primeiro, porque o "velho mundo" ainda pode resolver seus problemas e sua longa experiência de tragédias e traumas diversos trouxe experiência para as autoridades poderem negociar o combate a esses problemas de ampla gravidade. Segundo, porque o Brasil é que está sofrendo uma séria crise, além da profunda decadência do Sul e Sudeste desenvolvidos, sobretudo o Estado do Rio de Janeiro, cidade tão vulnerável a atentados quanto Paris, Nova York ou Londres.

As próprias "previsões" de Chico Xavier, cheias de erros graves quanto a aspectos relativos à Sociologia, Geologia e História, são notórios. Supor que, numa hipótese de catástrofes naturais a atingir regiões como Califórnia (EUA) e Japão, o Chile ser poupado, é um erro, porque o país sul-americano seria também destruído na ocasião, até por completo, por fazer parte do Círculo de Fogo do Pacífico.

Por outro lado, supor que estadunidenses fossem migrar para a Região Norte, e não para o Sul e Sudeste que é sua tendência sociológica, também é equivocado. Da mesma forma que a ida dos eslavos para o Nordeste brasileiro, uma região considerada calorenta demais para esses povos.

Só esses aspectos desqualificam a "previsão" que comove tantos fanáticos por Chico Xavier, que rendeu livro e documentário, material demais que foi gasto para uma bobagem dessas. E não é a tragédia de Paris, como não foi a de Nova York em 2001, que simbolizará o declínio do "velho mundo", que poderá dar uma volta por cima mesmo em incidentes trágicos como este.

O que se observa é que o "velho mundo" não cabe no maniqueísmo fácil de Chico Xavier, que contrapõe "tiranos europeus e asiáticos" com a "alegre e fraterna nação brasileira". Europa e EUA vivem um conflito com o Oriente Médio, e não são necessariamente aliados em conflito, em que pese tiranos como Sadam Hussein e Osama Bin Laden terem surgido como colaboradores dos Estados Unidos.

A questão é muito mais complexa para que um suposto médium, em seu sonho comum de quem dorme, se ache na segurança de supor qualquer coisa de caráter geopolítico ou geológico. E se levarmos em conta que outra corrente chiquista, a de Ariston Teles, não legitima as "profecias" da "data-limite", a situação fica mais complexa.

Pior para os "espíritas" comentarem qualquer coisa sobre o trágico atentado de Paris. Mais uma tese maluca de "resgates coletivos" de antigos romanos reencarnados? Mais uma demonstração simplória de "falta de amor no coração"? Queda do "velho mundo" a abrir espaço para a ascensão brasileira?

Não. Simplesmente não. Misturar ciência política malfeita com pregações de moralismo religioso não dá certo. Daí a gafe que um periódico "espírita" fez quando acusou os imigrantes que fogem do Oriente Médio e outros países em guerra, em maioria negros e árabes, de terem sido "tiranos sanguinários" da antiga Europa.

Pegou mal o julgamento de valor de uma doutrina que pede para os outros não julgarem. A "data-limite" deixa muita gente na paciência-limite de aturar julgamentos precipitados e cruéis contra seus entes queridos.

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