segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Como os "espíritas" podem reagir à crise?


A crise pela qual passa o "movimento espírita" brasileiro é muito séria. Com o acúmulo de suas graves contradições ocorridas, pelo menos, há cerca de 80 anos, mas dentro de um histórico confuso que vem desde 131 anos atrás, o "espiritismo" tornou-se vítima de suas próprias escolhas erradas.

Vários textos "espíritas" se atrapalham nos argumentos e apenas se limitam a dizer que o movimento está sendo vítima de "lamentáveis campanhas de desmoralização". Seus líderes se julgam vítimas de "mensagens venenosas" que se multiplicam "feito praga" na Internet e rezam, entristecidos, para que esse "quadro cruel" se acabe e reine "a tão desejada paz".

Eles adotam sempre as mesmas posturas. Se dizem "fiéis" a Allan Kardec e, ultimamente, recorreram a Erasto para usar as ideias deste para os interesses pessoais e institucionais dos "espíritas", sem perceber que era contra estes que o discípulo de Paulo de Tarso se dirigiu na sua famosa mensagem sobre os inimigos internos da Doutrina Espírita.

No entanto, exaltam sempre os mesmos deturpadores de sempre, sobretudo Francisco Cândido Xavier e Divaldo Franco, portadores de um estereótipo de "bondade e humildade" que sabemos ser muito duvidoso, superficial e falso. Afinal, que "maior filantropo do mundo" pode ser Divaldo se sua Mansão do Caminho só ajuda anualmente 0,08% da população de Salvador?

Como sobreviver usando os mesmos argumentos? Como o "espiritismo" irá se manter usando as mesmas desculpas, as mesmas alegações contraditórias, quando a realidade demonstra que a doutrina brasileira, numa situação bem pior do que as seitas neopentecostais, se naufraga em contradições de décadas e décadas, até de quase um século e meio?

Numa observação bem cautelosa, o "espiritismo" brasileiro seria firmemente reprovado por Allan Kardec. Afinal, a Federação "Espírita" Brasileira preferiu Jean-Baptiste Roustaing e seu igrejismo do que o cientificismo de Allan Kardec, que era visto como "complicado". O Brasil ainda estava amarrado a influências igrejistas trazidas pelo Catolicismo medieval português.

Só nos ultimos 40 anos a postura roustanguista foi formalmente rompida, limitando o autor de Os Quatro Evangelhos a ser apreciado apenas pelo "alto clero" da FEB. Fora dele, reinou uma postura dúbia, uma espécie de "roustanguismo light" ou "roustanguismo com Kardec", um engodo que mistura moralismo religioso, misticismo esotérico, pedantismo científico e ritos ocultistas.

Só que esse engodo criou mais confusão. Antes os "espíritas" tivessem rompido definitivamente com Kardec desde o começo. Só que preferiram deturpá-lo, "domesticá-lo" em traduções malfeitas e estabelecer diretrizes duvidosas e até fraudulentas de mediunidade, de apreciação da vida espiritual e tudo o mais.

Hoje pagam o preço caro de tudo isso. Romperam com Allan Kardec na prática, mas nunca no discurso, e nos últimos tempos ainda fazem juramentos de fidelidade absoluta ao pedagogo francês e mentem quando dizem que cumprem com irrestrito rigor os ensinamentos dele.

Como cães correndo atrás dos próprios rabos, os "espíritas" se repetem, mas acabam por moldar suas estratégias evitando contradições antigas, vide o antigo roustanguismo entusiasmado - que era defendido com entusiasmo por Chico Xavier, Divaldo Franco, Yvonne Pereira, Carlos Baccelli, Waldo Vieira etc - que depois se tornou envergonhado.

Os erros estão nas próprias crenças e práticas. Das crenças, prevalece o moralismo religioso igrejista, herdado de uma tradição de religiosidade, com seus paradigmas de submissão, humildade e bondade que desde o período colonial era influenciado pelo Catolicismo português, que ainda na segunda metade do século XIX ainda mantinha valores típicos da Idade Média.

Um blogue "espírita" português chegou a dizer que "é natural" o conteúdo igrejista do "espiritismo" brasileiro porque muitos dos "espíritas" teriam sido reencarnação de antigos padres. É uma desculpa esfarrapada, uma vez que o blogueiro ainda citava os alertas de Erasto contra os inimigos da Doutrina Espírita.

Ter sido padre não é desculpa para se permitir o igrejismo na Doutrina Espírita, pois é esse igrejismo que Erasto reprovava em seu discurso enérgico. Afinal, é pelo igrejismo que foram inseridas ideias contrárias a Allan Kardec, permitindo a desonestidade intelectual dos brasileiros e sua "mentiunidade", um teatro de falsa mediunidade que fez a sociedade se acostumar mal.

Enquanto os supostos "médiuns" se tornam estrelas com seu faz-de-conta pseudo-mediúnico, camuflando suas práticas irregulares com pretenso bom-mocismo, os verdadeiros estudos sobre mediunidade e contatos com os espíritos se tornam seriamente comprometidos, paralisados e até boicotados, já que o "espiritismo" condena o "excesso de ciência" e a "overdose de lógica".

Para que estudar a Trans-Comunicação Instrumental? Basta um médium-estrela fazer um falsete em sua palestra e dizer que foi uma personalidade antiga que mandou mensagem. Para que estudar a mediunidade mecânica? Basta um médium-estrela escrever uma mensagem da própria imaginação e botar apelos religiosos de "amor e fraternidade" que todos ficam tranquilos e felizes.

Como no "espiritismo" todos "são bonzinhos" - os "espíritas" até admitem que "nem todos são assim", mas botam sempre a culpa em antigos desafetos e em "peixes pequenos" de "centros espíritas" de quinta categoria - , então todas as irregularidades e todo esse lodo doutrinário, de livros que deveriam ser jogados no lixo (inclusive os de Chico e Divaldo) são deixadas para lá.

Esse vale-tudo doutrinário faz os neopentecostais rirem. Afinal, eles são atrapalhados, grosseiros, retrógrados e doutrinariamente defasados e surreais. Mas, pelo menos, eles não se revestem do verniz pseudo-científico nem ficam posando de intelectuais e ativistas como fazem os "espíritas" brasileiros.

O "espiritismo", que prometeu encarar muitas responsabilidades mas nunca as assumiu de verdade, agora se faz de vítima. Apela para que a doutrina seja tolerada com todos os seus erros e que todos nós deixemos tudo como está, bastando apenas o faz-de-conta costumeiro, dos "espíritas" se dizendo fiéis a Allan Kardec e fingindo fazer uma mediunidade que nunca se realiza.

As atividades dos blogues "espíritas" chegam a ser bem mais raras do que as de seus contestadores. Isso diz muito. Afinal, não fazemos calúnias nem desmoralização, mas críticas severas, à maneira do que descreveu Erasto, porque foi no Brasil que esses desvios doutrinários floresceram, cresceram e se tornaram ainda mais intensos e perigosos.

Daí que é melhor que os "espíritas" se acostumem com essas críticas. É o preço que suas contradições doutrinárias estabeleceram. Antes eles nunca tivessem apreciado Allan Kardec, e ficassem com seu Catolicismo convicto, acrescentando a ele apenas alguma paranormalidade.

Os "espíritas" perderam a oportunidade de representar um pequeno e moderado avanço para a Igreja Católica, preferindo compreender mal a vanguarda do pensamento kardeciano e promover retrocessos em torno da Doutrina Espírita lançada pelo pedagogo francês.

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