Brittany Murphy só é lembrada por sua tragédia

CENA DO FILME FLASHES DE UMA PSICOSE, UM DOS ÚLTIMOS DE BRITTANY MURPHY.

Triste sina. Não bastasse Brittany Murphy, que faria 38 anos hoje, não merecer ter morrido tão cedo, pelo fato de buscar novos caminhos para sua carreira de atriz e de cantora, ela só é lembrada por sua tragédia, sem que haja uma lembrança digna dos trabalhos que ela deixou.

A impressão que se tem é que a estrela estadunidense poderia ser apelidada de Rippany Murphy, porque a única coisa que se menciona dela é a expressão R. I. P. (Rest In Peace, "descanse em paz"), e aqui sabemos que o espírito não descansa.

A imprensa sensacionalista simplesmente fez um "churrasco" com a tragédia da bela atriz, que iniciou seu sucesso como a nerd Tai de As Patricinhas de Beverly Hills (Clueless), de 1995. Ela foi atriz da Disney, contracenou com atores como Michael Douglas, Angelina Jolie, Ashton Kutcher, Drew Barrymore e Dakota Fanning e trabalhou como produtora de filmes e cantora.

Ela também foi dubladora e seu mais longo trabalho foi fazendo a voz de Luanne Platter, do seriado O Rei do Pedaço (King of the Hill), produzido entre 1997 e 2010, mas cuja participação de Brittany se deu até setembro de 2009.

Foi muito triste a tragédia de Brittany, que, com todo o mistério que a cerca, tem alguma relação com o casamento infeliz, que parecia "harmonioso", com o produtor inglês Simon Monjack, que antes de conhecer a atriz já era um "garoto-problema" no seu país de origem.

Simon já havia sido preso por passar cheques sem fundos. Tinha fama de mulherengo. Era um produtor pouco atuante, e que tentou participar de um filme sobre Edie Sedgwick, uma bailarina ligada ao projeto multicultural de Andy Wahrol. Era usuário de drogas e também viciado em remédios.

Brittany parecia estar num bom caminho, estava numa ascensão aparentemente tranquila em 2006, quando ela refletia seu êxito no ano anterior, participando do filme Sin City - Cidade do Pecado, com atuação e desempenho elogiados pelo desenhista da obra original, Frank Miller, que também fez a própria adaptação cinematográfica como um dos diretores, produtores e roteiristas.

Tudo parecia bem. Ela estava dublando a pinguim Gloria no filme Happy Feet - O Pinguim, cantando covers de Queen e Earth Wind & Fire na trilha do filme, fazendo uma participação em uma música do DJ inglês Paul Oakenfold e participando de um leque mais diversificado de filmes.

Sem querer fazer julgamento algum, quando Brittany fazia a ponte aérea entre Nova York, Londres e Los Angeles, para a participação do filme britânico Amor e Outros Desastres (Love and Other Disasters), o anti-médium espírita Divaldo Franco estava fazendo uma turnê na Europa e EUA para fazer suas pregações deturpadoras da Doutrina Espírita.

Fala-se nisso porque, em muitos momentos e para muitas pessoas, o "espiritismo" traz azar. Ler um livro de Emmanuel, por exemplo, é pior do que passar debaixo de uma escada. Pessoas que aderem ao "espiritismo" acabam sofrendo infortúnios ou perdem entes queridos, e nos tratamentos espirituais muitos pacientes, em vez de resolver seus problemas originais, contraem outros ainda piores.

Afinal, Brittany havia se tornado solteira, depois que rompeu o noivado com um produtor. Mas aí encontrou o problemático Simon no caminho. Existe um forte indício de que, se não fosse Simon, Brittany continuaria viva, celebrando hoje seus 38 anos com uma carreira consolidada e produtiva. Seria melhor que ela tivesse limitado sua morte precoce ao filme A Garota Morta (The Dead Girl), do qual era protagonista.

Há até suspeitas de que Simon teria envenenado a mulher para obter seguros, e consta-se que nos últimos meses ele havia sacado dinheiro da conta de Brittany para pagar dívidas com vendedores de drogas e também para pagar pensões a duas ex-namoradas do produtor, que tiveram filhos com ele. Simon também estava seduzindo a mãe de Brittany, Sharon Murphy, que morava com o casal, para jogá-la contra a filha.

O casamento de Brittany com Simon parecia até romance "espírita", desses em que uma relação aparentemente amorosa torna-se um pano de fundo para futuros problemas e terríveis tragédias, como folhetins que alimentam seu sucesso na narrativa de tragédias familiares.

Uma relação que parecia um "mar de rosas", pelo menos aos olhos da mídia. Brittany brincando com jogo da Nintendo, diante do marido em risadas animadas, os dois abraçados num desfile da Mercedes-Benz Fashion Week, declarações da atriz sobre sua intenção em se tornar mãe etc.

No entanto, a cumplicidade era só aparência. O casal mais parecia uma dupla de namorados de colégio, a relação nem era para ter ocorrido. A tragédia aconteceu por causa de alguma relação com um aspecto estranho da vida de Simon, que teria se envenenado, em maio de 2010, em circunstâncias semelhantes à da mulher, o que indica suspeita de que ele se matou dessa maneira porque foi assim que teria matado a atriz.

Quanto à religião, Brittany se considerava cristã sem vínculos institucionais. Da parte de mãe, ela era descendente de judeus e nasceu professando a religião batista. Da parte de pai (o mafioso Angelo Joseph Bertolotti, que se separou de Sharon quando Britt tinha só dois anos, em 1979), a influência era católica.

Brittany Murphy chegou a declarar que sentia muita fé religiosa e costumava ir a igrejas e a fazer orações. Ela afirmava acreditar em Deus, apenas não se vinculando a opções religiosas determinadas. Brittany e Simon se casaram em cerimônia judaica.

O que chama a atenção da tragédia de Brittany é que, de repente, a opinião pública se esqueceu do seu brilhante talento. A título de comparação, outro ator talentoso e precocemente falecido, Paul Walker, da série de longas Velozes & Furiosos (Fast and Furious), é muito lembrado pela sua atuação, e recentemente foi mencionada na mídia uma antiga comédia juvenil com o ator.

Brittany era uma mulher à frente de seu tempo, e tinha uma rara e peculiar combinação de graciosidade e sensualidade, uma presença de espírito ímpar e uma alma cativante. Num mundo marcado pela mediocridade, o talento dela fazia uma grande diferença não só em comédias como em filmes de suspense, além de ter sido uma cantora de belíssima voz num meio de vocais "trabalhados" pelo computador. Ela faz muita falta, mas o jeito é admirá-la pelo legado que nos deixou.