sábado, 7 de novembro de 2015

"Copacabana Alerta" revela o lado sombrio da Zona Sul carioca


Enquanto Rafael Picciani, secretário de Transportes da Prefeitura do Rio de Janeiro, tenta nos fazer crer que as mudanças das linhas de ônibus que eliminaram a ligação direta entre Zona Norte e Zona Sul foi motivada por "aspectos técnicos" e não pela animosidade da região praiana contra os suburbanos, a realidade mostra o contrário do que o discurso tecnocrático tenta em vão desmentir.

Um portal no Facebook, chamado Copacabana Alerta, poderia, em tese, ser uma iniciativa saudável, para denunciar os problemas vividos pelo bairro. No entanto, segundo revela o portal jornalístico Diário do Centro do Mundo, ele se tornou reduto do reacionarismo elitista que contamina corações e mentes não só dos moradores desse bairro, mas dos demais da Zona Sul carioca.

O portal, que é fechado e conta com 7.451 seguidores, na teoria foi feito para que seus membros denunciassem assaltos e outros problemas urbanos do referido bairro. No entanto, os comentários são de um ódio profundamente antissocial, em que até o Ministério Público é esculhambado:

"Inhangá com nossa senhora, ladrãozinho roubou, correu, mas na esquina deu de cara com a polícia. O povo queria meter a porradaaaa, pena que os canas não deixaram!!"

(Nota: Inhangá com nossa senhora - esquina da rua Inhangá com Av. Nossa Senhora de Copacabana)

"Tinha que ter dado uma massagem nele!"

("Massagem" é gíria para aperto)

"Também acho, mas os canas não deixaram."

"Tem que bater sem os cana (sic) deixar mesmo. Eles não vão prender ninguém pq bateu em ladrão"

"Uma martelada com força na cabeça, pra rachar de vez !!"

"Que pena que não deixaram!"

"Tem que meter porrada em quem não deixou… Depois reclamam."

"Sou a favor que mate logo, pois se baterem ele marca a cara do agressor. Ele amanhã está solto, cruza com você na rua e te mata. Esses filhos das putas não tem nada a perder pois sabem que são protegidos pelos Direitos Humanos e nós cidadãos de bem somos a escória da sociedade na visão do PT, do MP…"

Em muitos momentos, as pessoas não conseguem saber a diferença entre os que realmente são ladrões e usuários de drogas e os que são cidadãos de bem que são detidos pela polícia porque são pobres, negros ou índios e não portavam documentos.

Mas mesmo quando se tratam de usuários de drogas, um membro chegou a dizer uma grosseria: "Esse povo tem que ir para marte!!". As declarações indicam possível incitação ao linchamento e à vingança contra os pobres que aparecem em Copacabana.

Provavelmente a comunidade não surgiu com esse propósito, mas ele foi desvirtuado quando os sentimentos elitistas expressavam ódio e rancor. As elites da Zona Sul se manifestam com ódio higienista, e apesar de, em parte, haver verdadeira indignação contra o banditismo, o ódio não vê diferença entre um bandido e um ladrão e um cidadão de bem na favela.

Se muitos jovens pobres vão sem documentos para as praias, eles têm suas razões. Vários deles são estudantes e trabalhadores e pegavam os ônibus da Zona Norte para a Zona Sul para se divertirem, sem agredir ou ofender quem quer que fosse.

Mas, com as mudanças impostas por Rafael Picciani e pelo planejador Alexandre Sansão, corroboradas por tecnocratas e aristocratas, os jovens das periferias têm que pegar dois ônibus com o dinheiro que têm para chegarem ao local. E isso diante de ônibus cada vez mais lotados. E Rafael Picciani ainda falando que é para "otimizar" o sistema de ônibus...

Já os ladrões também tendem a fazer algo parecido com as baldeações por ônibus. Além disso, têm outros meios para chegar para a Zona Sul, como roubar automóveis e motos. Para eles, basta embarcar num veículo, esperar o momento do assalto e sair no primeiro ponto de parada seguinte. Vários ladrões não chegam a ficar num mesmo ônibus em muito tempo, e eles continuarão agindo nas linhas com percurso reduzido e nas chamadas "troncais" para a Zona Sul.

O higienismo social é uma realidade e retoma o "fantasma" que discretamente ocorreu na Urca, nos anos 80, quando a rentável linha 442 Lins / Urca, considerada tradicional, foi simplesmente extinta porque os moradores do bairro onde fica o Pão de Açúcar não queriam ver gente pobre frequentando suas praias.

O separatismo tentou ser amenizado com a criação da Praia de Rocha Miranda, pequeno piscinão com areia ao redor e uns três chuveirões - chamados de "cachoeiras artificiais" - que fazem parte do Parque Madureira. Era uma tentativa "amiga" da arbitrária gestão do PMDB carioca na Prefeitura do Rio de Janeiro de "compensar" a não ida dos suburbanos para a Zona Sul e Barra da Tijuca.

Há denúncias de que o Rio de Janeiro está virando uma "cidade de brinquedo", criando projetos e medidas sem serventia social, consequentes do autoritarismo do PMDB local, aliado a um jogo de interesses que envolve de tecnocratas a empresários do ramo do entretenimento.

E isso revela o quanto o Rio de Janeiro está sofrendo um grande colapso, com o desvirtuamento dos valores sócio-culturais, com a agressividade e o fundamentalismo das elites, com a cegueira administrativa dos políticos, com a obsessão em colocar o mercado acima dos interesses sociais.

O episódio dos reacionários do Copacabana Alerta só revela o quanto o Estado do Rio de Janeiro está sofrendo retrocessos inegáveis, que não podem ser vistos como "problemas normais", porque já ultrapassaram o limite aceitável para um Estado considerado moderno e cuja capital ainda é vista, equivocadamente, como referência de sucesso para o Brasil.

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