sexta-feira, 10 de junho de 2016

Decadente, mercado literário prioriza livros religiosos


Segundo um levantamento feito por várias editoras de livros, em 2015 houve um aumento de 20% da produção de livros religiosos, indo dos 16% registrados em 2014 para 19% no ano seguinte. A literatura para adultos, no mesmo período, teve queda de 22%, de 9% para 7%.

2015 foi o pior ano para o mercado literário brasileiro. Isso se deve não pela rotineira desvalorização do ato de ler um livro, mas por aspectos quantitativos. Sem priorizar a busca do conhecimento, o mercado de livros sucumbiu a temas supérfluos, levando ao exagero a sua função de também entreter as pessoas.

Tudo parecia ser feito para desviar os leitores da busca do conhecimento. Obras de ficção sobre estudantes vampiros, cachorros com nomes de roqueiros, aventuras em jogos de Minecraft, besteirol de astros do YouTube (os vlogueiros ou youtubers) predominaram nas vendas de livros, não bastasse o surreal filão dos "livros para colorir", geralmente com quase nenhum texto e voltados apenas ao "lazer anti-estresse" de colorir árvores, flores e outros desenhos.

Os "livros para colorir" chegaram a estar na lista de mais vendidos no setor de não-ficção (?!). Pelo menos três títulos chegaram a figurar entre os 20 mais vendidos. Para piorar, as obras realmente de não-ficção que dominam no mercado envolvem temáticas relacionadas à Segunda Guerra Mundial.

A que interessa o público brasileiro "conhecer" a Segunda Guerra Mundial? Livros como O Pequeno Príncipe, cujo autor, Antoine de Saint-Exùpery, foi um aviador morto durante o confronto, O Diário de Anne Frank e livros históricos diversos sobre o período são superestimados como se só eles podem figurar entre os livros que oferecem conhecimento que podem ter algum sucesso nas vendas.

Um internauta reclamou que, num portal de escritores independentes, também se priorizam os livros religiosos e de temáticas supérfluas. Tentando lançar alguns livros, o internauta teve apenas um fraco êxito, enquanto bobagens como Lili e Peteco na Disney chegavam à lista dos mais vendidos.

Ele não é o único. Muitos criticam a discriminação de temas diversos. Se um livro denuncia os problemas da cultura brasileira, ele não vende. As pessoas até dizem "sentir simpatia", mas alegam "não ter dinheiro" para comprá-lo. Mas quando é um livro de "lindos exemplos de amor" ligado a algum embuste religioso, este vende como água e até quem "não tem dinheiro" passa a comprar até cinco exemplares para serem distribuídos para a família e os amigos.

O mercado literário já antecipava a crise de valores em que se atola o Brasil, que nos últimos meses permitiu que uma elite de políticos corruptos, aliados a executivos de Comunicação e setores corrompidos do Poder Judiciário tomassem o poder, usando a crise econômica como pretexto para impor medidas nocivas para as classes trabalhadoras ou mesmo a classe média.

É um Brasil contraditório em que a crise de valores é renegada por uma sociedade que, perplexa diante as ameaças às suas "zonas de conforto", cria um bode expiatório para os problemas que atingem seu sossego nos sofás e cadeiras: o Partido dos Trabalhadores, sobretudo Dilma Rousseff e Lula.

Daí que culpam o PT pelas notícias ruins noticiadas pela imprensa, mesmo aquelas sem relação política alguma. Recusam-se a ver a complexidade dos problemas existentes, que poderiam ser explicadas pelos livros que "não têm dinheiro" para comprar.

Por outro lado, quando é o consolo "água com açúcar" das fantasias da fé religiosa, uma sociedade que "não têm dinheiro" para coisas importantes mas torra muita grana em cigarros e tatuagens, não vê a hora de despejar suas centenas de reais para obter os livros religiosos de todo tipo, para o entretenimento vazio das "mensagens de amor".

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