sábado, 23 de abril de 2016
O constrangimento familiar nas supostas mensagens espirituais
O "espiritismo" brasileiro é marcado por irregularidades. E elas são ou foram cometidas até por gente "gabaritada", o que faz dessa doutrina um movimento religioso pouco confiável. A mediunidade de faz-de-conta, que mais parece uma propaganda religiosa, chega mesmo a causar constrangimentos até mesmo na histeria de quem acredita nelas.
Imagine uma mãe de um jovem que morreu cedo por algum motivo e que recebe, num "centro espírita" considerado "conceituado", uma mensagem atribuída ao filho, que faz ela acreditar na sua veracidade, e depois se revela que essa suposta psicografia foi uma farsa, forjada pelo "médium" tido como de grande credibilidade, mas de práticas que, na verdade, são muito duvidosas.
Quanto constrangimento deve haver, quantas ilusões derrubadas.
Quanta vergonha e quanto remorso devem haver entre as famílias, prolongando suas dores e tragédias diante de um sentimento confuso de esperança e desespero, em que um simples recebimento de supostas mensagens espirituais é algo tão incerto e pouco confiável!
Mediunidade, no Brasil, tornou-se uma prática desmoralizada. Virou uma piada na qual qualquer um põe a mão na testa, fecha os olhos e rabisca qualquer coisa num papel. Como prática, virou uma mensagem qualquer nota em que o suposto espírito diz que sofreu, mas está bem, cita alguns familiares e depois faz propaganda religiosa.
A coisa está tão ruim que não adianta o simples conhecimento teórico da teoria lançada por Allan Kardec. Há quem leia O Livro dos Médiuns, na tradução de Herculano Pires, entenda bem a teoria, é capaz de expô-la de maneira correta e exemplar e, mesmo assim, não conseguir praticar a mediunidade.
As pessoas são ludibriadas pelas figuras sensacionalistas e espetacularizadas de Francisco Cândido Xavier e Divaldo Franco, ídolos religiosos que inspiram nos seus seguidores um apego doentio, sobretudo quando eles se passam por pretensos filósofos (mesmo postumamente, no caso de Chico Xavier). A partir deles, a mediunidade acaba sendo muito mal ensinada e mal compreendida.
Tomadas pela emoção, as pessoas se deixam levar por muita confusão, e perdem a vigilância diante de mensagens duvidosas que, apenas por algumas semelhanças banais e, às vezes, algumas mais sutis, são tidas como verídicas,
quando nelas se ocultam diferenças que contradizem a natureza pessoal do falecido.
No caso de Ryan Brito, a justificativa dada pela mãe, a atriz Márcia Brito (a Flora Própolis da Escolinha do Professor Raimundo, versão anos 90), era de que o "médium", Fernando Ben, investia em "caridade". Virou lugar comum justificar o "espiritismo" irregular pelo bom-mocismo, pode-se até mentir visando o "pão dos carentes".
Tudo isso nem de longe segue as precauções dadas por Allan Kardec. Nenhum conselho dado por ele, para verificar, com muita cautela, a autenticidade ou não das mensagens ditas "espirituais". Em vez disso, a primeira mensagem que aparece e que traz "palavras de amor" é tida como autêntica, mesmo se apresentar irregularidades em relação aos aspectos pessoais do falecido.
Isso causa uma grande frustração, porque, no Brasil, o que se pratica é uma "mediunidade" de faz-de-conta, com o "médium" fingindo que recebe um morto e escrevendo uma mensagem qualquer, contanto que apareça sempre as tais "palavras de amor" e transmitam "mensagens positivas" e não raro de propaganda religiosa, que servem para dissimular a fraude e não despertar desconfianças.
Num dado momento, alguém aponta a irregularidade na mensagem "espiritual", comparando, sobretudo, com outras mensagens "psicográficas" transmitidas, refletindo não os diferentes estilos de personalidades dos finados, mas tão somente o estilo pessoal do suposto médium. Daí a frustração que não raro causa desentendimentos entre as famílias.
A péssima escola de Chico Xavier criou essa bagunça toda, reduzindo a mediunidade a uma atividade sem a menor confiabilidade. E, para piorar, da forma como ela é feita estimula o sensacionalismo, a ostentação das tragédias familiares e os desentendimentos entre crédulos e desconfiados numa mesma família. Com isso, a religião que diz unir, o "espiritismo", provoca, de propósito, a desunião.
Daí a ilusão que todo o verniz de "bondade" traz ao "espiritismo". Uma doutrina malfeita não vira boa por causa da "bondade". O bom-mocismo é o recurso dos calhordas para obter credibilidade. E os que não conseguem seguir com rigor, na prática - é inútil dizer e caprichar no discurso - , as lições de Kardec, usam dessa alegação de "bondade" para tentar convencer as pessoas e desviar o foco de uma finalidade nunca alcançada.
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