sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Rio de Janeiro e sua submissão à plutocracia e a tecnocracia

HÁ QUEM NÃO AGUENTE A DENÚNCIA DE QUE O SECRETÁRIO DE TRANSPORTES CARIOCA, RAFAEL PICCIANI (SORRINDO), TEM RELAÇÕES COM EDUARDO CUNHA (DE BONÉ AZUL)...

Os cariocas parece que não estão aguentando tanto senso crítico. Fora os desordeiros na Internet que realizam um verdadeiro macartismo digital, produzindo blogues ofensivos e outras calúnias, mesmo sob o risco de serem criminalmente enquadrados - hoje várias leis preveem punições para crimes digitais - , a "boa sociedade" do Rio de Janeiro prefere o medo da "paz sem voz" ao incômodo ocasional do ativismo combativo.

Exemplo disso é que muitos não aguentam sequer que o secretário municipal de Transportes, Rafael Picciani, aquele que disse que queria "otimizar" o sistema de ônibus reduzindo trajetos e frotas nas ruas e falando em ônibus vazios que ninguém viu, tem relações com o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha.

Rafael é de uma família cujo pai, Jorge Picciani, preside a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. É irmão do deputado Leonardo Picciani. considerado protegido de Eduardo Cunha. O próprio Rafael aparece, animado e solidário, junto a Cunha numa campanha eleitoral feita em 2014, no bairro de Sepetiba, Zona Oeste do Rio de Janeiro. Os Picciani também são famosos pelo apoio a Aécio Neves, pessoa muito querida por Eduardo Cunha.

Apesar de tamanhas evidências, há quem se sinta aborrecido diante da comparação das mudanças de linhas de ônibus cariocas com as pautas-bomba do deputado Cunha. O ideal é fingirmos acreditar que pegar mais de um ônibus é vantajoso, perder tempo com congestionamentos, sofrer atrasos todo dia e corrermos risco de demissão por justa causa é ótimo para a "racionalização" do transporte coletivo.

O próprio deputado Cunha usou o mesmo discurso do secretário Rafael. Ele também queria "racionalizar" o mercado de trabalho com a terceirização, que os sindicatos dos trabalhadores, tão sabiamente, definiram como precarização, vide os transtornos dos baixos salários e do fim de garantias de proteção, como assistência médica, licença-maternidade etc.

Isso é só um pequeno exemplo de como os cariocas parecem ainda deslumbrados com o status quo, se subordinando a decisões vindas da plutocracia e da tecnocracia. Essa atitude de subordinação mostra o aberrante provincianismo que empurra o Rio de Janeiro ladeira abaixo para a decadência.

As pessoas parecem pensar que podem sofrer prejuízos e transtornos, achando que eles são necessários para progressos futuros. Pessoas que acham que não sabem o que querem, porque aqueles que estão "em cima" é que "querem de melhor para a gente", por isso "vale a pena sofrer o pior visando o melhor para o futuro".

Essa falácia mostra o misto de baixa auto-estima que nivela os valores por baixo e a subordinação aos arbítrios alheios. Essa atitude é digna do provincianismo coronelista nas mais isoladas roças do Brasil, mas acontece no outrora cosmopolita Rio de Janeiro, ainda visto como referencial a ser seguido pelo resto do país.

As pessoas perdem a consciência de seus próprios desejos e vontades e aceitam qualquer coisa vinda de cima. iludidas com a pretensa superioridade dos diplomas, dos cargos de liderança política e do poder econômico. E essa ilusão atinge graus de submissão e deslumbramento digno da pior histeria religiosa.

O sistema de ônibus foi só ilustrativo desses retrocessos. As mudanças adotadas em 2010, sob o pretexto de eliminar os defeitos anteriormente existentes, não só os mantiveram como os agravou, acrescentando a eles outros transtornos, como dupla função do motorista-cobrador, pintura padronizada nas empresas e redução de trajetos e frotas de ônibus em circulação.

Aceitou-se tudo isso por causa dos diplomas e cargos de liderança de quem decidiu por essas medidas. Divinizamos os poderosos, mesmo sendo prejudicados por eles, esperando, mesmo que seja em vão, que melhorias futuras cheguem. E elas nunca chegam.

Isso virou uma mentalidade dominante e arriscada no Brasil. Acreditamos ter que sofrer prejuízos diversos por causa do status quo de quem decide: acadêmicos, tecnocratas, empresários, políticos, executivos de mídia. O Rio de Janeiro se tornou o reduto dessa mentalidade que pode botar o Brasil a perder, aliás já está botando, para desespero da "gente feliz" que se isola nas mídias sociais.

Aceitamos que o sistema de ônibus decaia esperando que tudo melhore com as ruas cheias de BRTs. Aceitamos que venha o "funk" para "encher os pobres de alegria" e assim amenizar o medo elitista das desordens e dos assaltos com as periferias "distraídas" no seu entretenimento. Apostamos em Eduardo Cunha e Jair Bolsonaro, acreditando que eles iriam moralizar o país.

Não para por aí. Aceitamos até mesmo que uma FM incompetente como a Rádio Cidade represente a cultura rock carioca sem ter pessoal especializado com a esperança de que, com o poder publicitário da emissora (vinculada a grandes empresários de eventos musicais de ponta), tenhamos a chance de ver Iron Maiden, AC/DC e similares se apresentando todo ano em palcos cariocas. Algo parecido com aceitar Silas Malafaia em troca do retorno de Jesus Cristo à Terra.

De repente, trocamos a qualidade de vida pelo sensacionalismo, deixamos a dignidade de lado, permitindo que "mulheres-frutas" sejam donas do "feminismo" brasileiro que parte do exemplo carioca, enquando BRTs ficam superlotados além do admissível, radialistas engraçadinhos ridicularizam artistas de rock e Cunha e Bolsonaro fazem suas desordens em Brasília.

O Rio de Janeiro precisa rever os conceitos, porque passa por um profundo retrocesso de fazer a Bahia provincianista dos tempos de Antônio Carlos Magalhães parecer brincadeira de criança. Aceitar que arbitrariedades sejam impostas porque quem decide é endeusado pelo diploma ou pelo cargo de liderança e em troca de vantagens mirabolantes e talvez supérfluas diante de tantas outras necessidades, acaba estragando o povo do Rio de Janeiro.

O preço do deslumbramento está aí. Os dois políticos "brilhantemente eleitos" estão sendo denunciados e até processados por atos caluniosos e ofensivos. Pessoas estão morrendo por causa dos ônibus mal-conservados e velozes demais. Os roqueiros estão começando a se cansar do rock por causa dos hits repetitivos da Cidade e de sua abordagem depreciativa do jovem rebelde. As feministas estão cansadas desse adjetivo vendo que tudo se reduziu a um ativismo de glúteos e silicone.

E tudo isso fora a queda do comércio, dos serviços, de muita coisa que faz o Rio de Janeiro se tornar uma cidade cada vez mais desigual, deficitária e até isolada do mundo. O Estado e sua respectiva capital acumulam problemas cuja quantidade e gravidade são extremos demais para se atribuir como meros transtornos pontuais de uma metrópole complexa. O Rio caiu cachoeira abaixo.

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