sexta-feira, 9 de outubro de 2015

O Rio de Janeiro e a mobilidade urbana que desmobiliza

IMAGEM PUBLICADA NAS MÍDIAS SOCIAIS MOSTRA O SECRETÁRIO DE TRANSPORTES DO RIO, RAFAEL PICCIANI, APOIANDO EDUARDO CUNHA E AÉCIO NEVES.

As duas imagens, publicadas nas mídias sociais, começam a dar o que falar. Cerca de uma semana depois da arbitrária "racionalização" das linhas de ônibus do Rio de Janeiro, o secretário municipal de Transportes, Rafael Picciani, de uma família de políticos, aparece em imagens apoiando dois dos políticos mais repudiados do país.

Na foto à esquerda, Rafael, que então fazia campanha para deputado estadual, aparece ao lado de Eduardo Cunha, então candidato ao cargo de deputado federal, que através do qual conseguiu o cargo de presidente da Câmara dos Deputados. Rafael também integrou a ala do PMDB que apoiou o candidato derrotado para a presidência da República, o ex-governador mineiro e senador Aécio Neves, do PSDB.

Eduardo Cunha é conhecido por suas "pautas-bomba", um roteiro de propostas que buscam eliminar várias conquistas sociais, inúmeras delas protegidas pela Constituição de 1988. A degradação do mercado de trabalho, a criminalização de adolescentes pobres, a exploração profissional de idosos e a redução da estrutura familiar ao formato de marido, esposa e filhos são alguns dos projetos defendidos pela visão medieval do deputado Cunha.

Aécio Neves, como político do PSDB, não tem o cuidado devido com a coisa pública e adora privatizar empresas públicas de serviços essenciais - tipo saneamento, saúde e instituições financeiras - para abocanhar o dinheiro dos leilões e levar para suas contas pessoais em paraísos fiscais no exterior.

Neto de Tancredo Neves mas sem o talento político deste - que, com toda sua astúcia e espírito negocista, pelo menos respeitava melhor o ofício de estadista - , Aécio é recentemente denunciado por usar dinheiro público para fazer viagens em seu avião particular e para investir na construção de um aeroporto privativo para ele, familiares e amigos, no interior de Minas Gerais.

Tanto Eduardo Cunha quanto Aécio Neves estão envolvidos no esquema de corrupção de diretores da Petrobras, investigados pela Operação Lava-Jato. Por ser de um partido governista, o PMDB, Eduardo, apesar da oposição pessoal ao governo de Dilma Rousseff, tem sua denúncia divulgada pela grande mídia. Já Aécio, queridinho dos grandes empresários midiáticos e seus porta-vozes, é poupado de qualquer denúncia divulgada pelos veículos jornalísticos de grande porte.

PELO JEITO, RAFAEL PICCIANI ACREDITA QUE OS DOIS POLÍTICOS QUE APOIA IRÃO "RACIONALIZAR" A VIDA DO POVO BRASILEIRO.

Só esses dois apoios mostram a que veio o secretário Picciani. Talvez ele acreditasse que Eduardo Cunha e Aécio Neves possam também "racionalizar" a vida dos brasileiros. Afinal, que diferença social tem reduzir ônibus e eliminar a ligação direta Zona Norte - Zona Sul com a terceirização do trabalho para reduzir salários e eliminar encargos trabalhistas?

Desde 2010 o Rio de Janeiro impôs uma mobilidade urbana que desmobiliza. Uma mobilidade estranha, que dificulta a vida dos passageiros e por isso não mobiliza, no sentido de garantir conforto, comodidade e outras facilitações. A única "mobilização" que se permite é andar mais nas ruas para chegar a um terminal de ônibus e pagar mais de uma passagem - mesmo com a pouco confiável promoção do Bilhete Único - para se deslocar de um bairro para outro.

Pintura padronizada em diferentes empresas que faz os passageiros se confundirem na hora de pegar ônibus. Dupla função de motorista-cobrador que sobrecarrega seu trabalho e traz risco para os passageiros. Redução de trajetos visando a baldeação que obrigam moradores de vários bairros a perder tempo pegando mais de um ônibus, não bastassem os congestionamentos.

Além do fechamento de algumas ruas em torno das praças Quinze de Novembro e Tiradentes, transformadas em grandes calçadões, houve uma proposta de fechamento de um trecho inteiro da Av. Rio Branco, entre a Av. Pres. Vargas e o Aterro do Flamengo. A medida foi descartada porque, com tanta arbitrariedade, agravaria o desgaste político do prefeito Eduardo Paes.

O Rio de Janeiro, só através desse aspecto, sofre retrocessos profundos que o faz, no momento, ser a capital mais atrasada do país e de um Estado também considerado no mesmo nível de atraso. Como se não bastassem também os retrocessos culturais, antes impensáveis numa cidade como o Rio de Janeiro que ainda se impõe como "modelo a ser seguido" pelo Brasil.

Com o rock reduzido ao comercialismo debiloide da Rádio Cidade, a MPB vítima e escrava de seu próprio saudosismo, o Rio de Janeiro que vê livrarias fecharem suas portas e orquestras guardarem seus instrumentos, trocou a Bossa Nova de Tom Jobim, João Gilberto e Sylvia Telles pelo "funk" de DJ Marlboro, Mr. Catra e Valesca Popozuda com seu machismo travestido de "feminismo".

Esse é o Rio de Janeiro que ainda se impõe ao país. É o Rio de Janeiro das elites que, por seus próprios arbítrios e seu reacionarismo agudo - os troleiros (trolls) que se escondem nas mídias sociais fazem ensaios para liderar no futuro políticas autoritárias, mídias prepotentes e movimentos fascistas - , preocupam o país diante de uma decadência que ainda serve de (mau) exemplo imposto para o resto do Brasil.

Daí que o Rio de Janeiro, túmulo das piores ideias e das posições mais retrógradas, tenta realimentá-las com o que resta do prestígio dado à atrapalhada capital de um confuso Estado do Sudeste brasileiro, o que pode fazer com que os retrocessos que começam a ser combatidos em regiões cansadas de tanta humilhação, como Norte, Nordeste e Centro-Oeste, nelas renasçam de vez.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...